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Uso off label, compassivo e irracional de medicamentos na pandemia de Covid-19, consequências para a saúde e questões éticas

Resumo

Quando a Covid-19 surgiu em dezembro do ano passado, não havia vacina nem tratamento eficaz específico para esta infecção respiratória viral de rápida disseminação e risco de vida. Ensaios clínicos foram planejados e estão em andamento para investigar se os medicamentos usados para influenza, HIV e outros vírus e também anti-helmínticos (ivermectina, nitazoxanida, niclosamida) e antimaláricos (cloroquina, hidroxicloroquina) mostrando atividade antiviral em ensaios in vitro são eficazes e seguros para Covid-19. Até o momento, não há evidências convincentes de que esses medicamentos antivirais e antiparasitários sejam benéficos para a Covid-19. Não obstante a ausência de evidência de eficácia clínica, esses medicamentos são amplamente utilizados fora dos ensaios clínicos (off label) para profilaxia e tratamento dessa infecção viral. A lógica por trás da prescrição de antibióticos macrolídeos (azitromicina) para a Covid-19 também é obscura. A ampla prescrição e uso de medicamentos de eficácia e segurança não comprovadas para a Covid-19 está em desacordo com o uso racional de medicamentos, um princípio fundamental da farmacoterapia promovido pela OMS em 1985. Esse uso irracional de medicamentos é motivo de preocupação, porque alguns deles estão associados a graves doenças cardíacas e mortes.

Palavras-chave
SARS-CoV-2; Eventos adversos a medicamentos; Farmacoterapia; Hidroxicloroquina; Antibióticos

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