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Onde os edifícios têm nome: enunciados aderentes no espaço urbano de São Paulo

Where the buildings have names: adherent utterances in São Paulo’s urban space

RESUMO

Este trabalho investiga a relação entre enunciação aderente e objetos arquitetônicos, discutindo os efeitos de sentido depreendidos pelos dispositivos discursivos de cenografia e ethos na arquitetura residencial paulistana. Com base nos princípios teóricos e metodológicos da análise do discurso e pesquisas na área da toponímia, é estruturada uma pesquisa de recorte geográfico com foco numa área central da cidade de São Paulo sujeita a diversas etapas de construção e em processo de transformação imobiliária crescente, com recorte temático-temporal definido pela afirmação da arquitetura moderna ao lançamento de novos imóveis na atualidade. Após considerações sobre os enunciados aderentes na paisagem urbana e a relação de aderência entre o enunciado e seu suporte, passa-se ao detalhamento do corpus delimitado para análise. Estabelecem-se, em seguida, os parâmetros de observação para o estudo dos enunciados aderentes, analisando-os e caracterizando-os de acordo com a área e a linguagem arquitetônica delimitada. Finalmente, as considerações sobre cenografia e relações interdiscursivas permitem concluir que os enunciados aderentes constituem um lugar privilegiado de observação da arquitetura, das transformações urbanas e dos discursos sobre tais transformações, na área central da cidade de São Paulo.

Palavras-chave:
enunciados aderentes; ethos discursivo; arquitetura; toponímia; São Paulo

ABSTRACT

This paper explores the relationship between adherent utterances in architectural objects and the formation of discursive ethos in São Paulo’s residential architecture. To that end, it uses the theoretical and methodological principles of discourse analysis and research in toponymy and focuses on a central area of the city. Such area was selected because it is experiencing an ever-growing real state transformation process, in which several construction stages can be observed. The temporal-thematic focus of the study was defined by the affirmation of modern architecture, up to the launch of contemporary new properties. The study is carried out by searching for adherent utterances in urban landscape, looking at the adherence relationship between the utterance and its support, establishing suitable observation parameters for the adherence utterances identified, and analyzing and characterizing the utterances in accordance with the architectural language of their supports. The results based on the considerations on scenography and interdiscursive relations suggest that the adherent statements constitute a privileged place for observing architecture and urban changes, as well as the discourses on them, in the central area of the city of São Paulo.

Keywords:
adherent utterances; discursive ethos; architecture; toponymy; São Paulo

1. Introdução

No campo dos estudos discursivos, Dominique Maingueneau (2020aMaingueneau, D. (2020a). Análise do discurso face aos desafios do futuro - algumas reflexões. In Rocha, D., Deusdará, B., Arantes, P., & Pessôa, M. (Eds.), Em Discurso 3 (pp. 26-31). https://www.editoracartolina.com/em-discurso-3 (accessed February 09, 2024).
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) expressa a relevância de abordar as práticas de discurso situadas fora do regime conversacional e dos gêneros instituídos, ainda predominantes nessa área. Algumas das manifestações contemporâneas do discurso às quais se dá ainda pouco relevo encontra-se na relação entre as palavras e as coisas, mais especificamente entre enunciados inscritos em objetos, que proliferam em nosso cotidiano.3 3 Desde os considerados mais eruditos, como o nome de um autor ao lado de uma escultura, aos mais triviais, como frases humorísticas em camisetas ou rótulos de embalagens. Propostas e estudos nessa direção têm sido realizados, de modo sistemático pelo autor agrupados sob a designação de enunciados aderentes (Maingueneau,2020aMaingueneau, D. (2020a). Análise do discurso face aos desafios do futuro - algumas reflexões. In Rocha, D., Deusdará, B., Arantes, P., & Pessôa, M. (Eds.), Em Discurso 3 (pp. 26-31). https://www.editoracartolina.com/em-discurso-3 (accessed February 09, 2024).
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, 2020bMaingueneau, D. (2020b). Os Enunciados Aderentes. DELTA. 36(3), 1-22. Tradução Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva (Les énoncés adhérents, 2020). https://doi.org/10.1590/1678-460x2020360302.
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).

Como seu próprio nome indica, um enunciado aderente caracteriza-se, crucialmente, pela articulação de um enunciado (entendido aqui em sentido amplo: palavras, frases ou textos) e um suporte em uma forte relação de “aderência”; enunciado e suporte afetam um ao outro produzindo uma realidade nova, uma totalidade física (Maingueneau, 2020aMaingueneau, D. (2020a). Análise do discurso face aos desafios do futuro - algumas reflexões. In Rocha, D., Deusdará, B., Arantes, P., & Pessôa, M. (Eds.), Em Discurso 3 (pp. 26-31). https://www.editoracartolina.com/em-discurso-3 (accessed February 09, 2024).
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). Essa totalidade abrange frequentemente objetos inanimados, mas pode também abranger entidades vivas, por exemplo, um corpo humano, ou unidades espaciais complexas, como uma paisagem ou uma rua. Embora existentes como manifestações do discurso desde a escrita, os enunciados aderentes exibem uma presença exponencial na contemporaneidade, registrando-se “(…) a multiplicação de EA4 4 O autor, em suas obras, usa EA como abreviação de enunciado aderente. sobre suportes anteriormente desprovidos de tais EA.” (Maingueneau, 2020aMaingueneau, D. (2020a). Análise do discurso face aos desafios do futuro - algumas reflexões. In Rocha, D., Deusdará, B., Arantes, P., & Pessôa, M. (Eds.), Em Discurso 3 (pp. 26-31). https://www.editoracartolina.com/em-discurso-3 (accessed February 09, 2024).
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, p. 21) o que os torna um elemento-chave para o entendimento do presente contexto sócio-histórico.

2. Enunciados aderentes e texto na paisagem urbana

A presença do discurso na paisagem urbana pode ser compreendida como uma ampla gama de textos inscritos em suportes que caracterizam e participam da vida de uma cidade: arte urbana - do graffiti ao pixo e ao lambe-lambe -, epigrafia, cartazes e outros registos de publicidade, elementos construídos, sinais de trânsito e outros dispositivos de informação, logotipos e pregões; em registros verbais, sonoros, tácteis, audiovisuais e frequentemente multissemióticos. Tais elementos contribuem para formar a identidade de um determinado território urbano e estruturá-lo constituindo georreferências espaciais na cidade (Lynch, 1960Lynch, K. (1960). The Image of the City. The MIT Press.). Contribuem também para a localização e orientação daqueles que circulam no espaço urbano e para a identificação de bens móveis e imóveis que dele fazem parte, participando dos próprios discursos da e sobre a cidade, e permitindo mapeamentos individuais e coletivos, emocionais e percetivos.

Muitos destes enunciados sobrepõem-se a uma situação-suporte existente, dando origem a novos efeitos de sentido, intencionais ou fortuitos (Figura 1). Outras vezes, suporte e enunciado formam, desde o início, uma unidade discursiva indivisível. Exemplos de enunciados aderentes, isto é de textos que formam um todo com um suporte, no espaço público urbano, incluem os bancos de jardim com excertos de Clarice Lispector, encontrados no Instituto Moreira Salles (IMS) do Rio de Janeiro. (Figura 2).

Figura 1
Diversos tipos de enunciados na paisagem urbana de São Paulo

Figura 2
Banco de jardim no Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro.

O conceito de aderência implica uma relação de apropriação do enunciado à materialidade do suporte cuja existência não se restringe apenas à sustentação física do enunciado (no caso de um cartaz publicitário afixado sobre uma parede ou um livro impresso em papel), mas faz parte de uma nova entidade discursiva resultante da interação entre ambos. Suporte e enunciado aderente transformam-se mutuamente, produzindo uma realidade nova (Maingueneau, 2020aMaingueneau, D. (2020a). Análise do discurso face aos desafios do futuro - algumas reflexões. In Rocha, D., Deusdará, B., Arantes, P., & Pessôa, M. (Eds.), Em Discurso 3 (pp. 26-31). https://www.editoracartolina.com/em-discurso-3 (accessed February 09, 2024).
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).

O banco em que se lê a citação “Sentada ali num banco, a gente não faz nada: fica apenas sentada deixando o mundo ser” acompanhada pelo nome de Clarice Lispector, deixa de ser um banco comum de jardim para ser um banco poético que apela aos sentidos e à contemplação, um banco intelectualizado, que torna consciente o ato de parar e observar, que mobiliza referentes literários e artísticos e os deixa a pairar no espaço exterior. Construído em madeira e ferro, o banco é formalmente um dos estereótipos de banco encontrados em muitos jardins públicos, não chamando a atenção para si mesmo enquanto objeto, mas sim para a inscrição em letras de tipo datilografado, gravadas na madeira, semelhantes às produzidas pelas máquinas de escrever que a escritora utilizou.

Carregado com este enunciado aderente, o banco procura desencadear a atividade de observação e reflexão, um transporte poético-literário, uma maneira de olhar em redor que não é a comum, mas o estranhamento que acompanha a criação artística, repensando o ato de sentar ou de circular no jardim, como se aquelas palavras emanassem daquele lugar. Surgindo inicialmente no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que Lispector frequentou e mencionou frequentemente na sua obra, este é parte de um conjunto de bancos, desenhados por Antonio Bernardo com patrocínio da editora Rocco, que prestam homenagem à escritora. Transportados para o contexto do jardim do IMS, os bancos reforçam o seu caráter de refúgio meditativo dentro da cidade, bem como a aura artístico-literária do próprio Instituto, onde sempre se encontram livrarias com curadorias especiais, com grande ênfase na fotografia e outras artes visuais, e estímulo à arte de observar.

Muitos destes enunciados verbais na paisagem urbana, com incidência em suportes arquitetônicos, têm vindo a constituir objetos de estudo no âmbito de duas amplas áreas de estudos interdisciplinares: os estudos de paisagem linguística - campo em crescimento onde se cruzam as disciplinas de linguística aplicada e sociolinguística, semiótica e estudos urbanos, de utilização ampla no campo da educação, com grande foco na múltipla presença de idiomas na cidade-território; e os estudos de toponímia e epigrafia - os quais articulam as disciplinas de linguística aplicada com as áreas de geografia, sociologia, história, bem como as áreas de arquitetura e urbanismo, dentro das quais também se salientam os conceitos de paisagem tipográfica e tipografia arquitetônica (inscrições duráveis em caracteres alfanuméricos, como o nome e o número de um edifício, planejadas e construídas em conjunto com este) conforme propostos por Gouveia et al. (2007Gouveia, A. P., Pereira, A. L., Farias, P., & Barreiros, G. (2007). Paisagens tipográficas - lendo as letras nas cidades. InfoDesign - Revista Brasileira de Design da Informação, 4(1), 1-11. https://doi.org/10.51358/id.v4i1.28
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).

No entanto, apesar de parcialmente objetos de estudos de caráter linguístico, esses enunciados urbanos não foram ainda integrados especificamente sob a problemática da enunciação aderente, focando-se em aspectos semânticos, socio-linguísticos ou outros, diferindo da abordagem proposta pela análise do discurso “(…) que deve integrar as regularidades linguísticas em dispositivos de enunciação historicamente determinados em que o verbal e o não-verbal são indissociáveis.” (Maingueneau, 2020aMaingueneau, D. (2020a). Análise do discurso face aos desafios do futuro - algumas reflexões. In Rocha, D., Deusdará, B., Arantes, P., & Pessôa, M. (Eds.), Em Discurso 3 (pp. 26-31). https://www.editoracartolina.com/em-discurso-3 (accessed February 09, 2024).
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, p.3).

Assim, a relação estabelecida entre texto e suporte é frequentemente pouco abordada de um ponto de vista enunciativo, subsistindo a necessidade de enfrentar, sob a perspetiva da análise do discurso, os enunciados aderentes urbanos, dos quais os nomes de empreendimentos residenciais na cidade de São Paulo fazem parte - discutindo os efeitos de sentido depreendidos pelos dispositivos discursivos de cenografia e ethos mobilizados por tais enunciados, e possibilitando uma leitura crítica e singular sobre a cidade, a arquitetura e os seus discursos.

3. Recorte temático-temporal

Estudar os enunciados aderentes urbanos é o que se propõe neste artigo com ancoragem no dispositivo teórico-metodológico da análise do discurso, mais especificamente, nos conceitos de enunciados aderentes, cenografia e ethos discursivo, propostos por Dominique Maingueneau (2015, 2020aMaingueneau, D. (2020a). Análise do discurso face aos desafios do futuro - algumas reflexões. In Rocha, D., Deusdará, B., Arantes, P., & Pessôa, M. (Eds.), Em Discurso 3 (pp. 26-31). https://www.editoracartolina.com/em-discurso-3 (accessed February 09, 2024).
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, 2020bMaingueneau, D. (2020b). Os Enunciados Aderentes. DELTA. 36(3), 1-22. Tradução Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva (Les énoncés adhérents, 2020). https://doi.org/10.1590/1678-460x2020360302.
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). Recorre-se, ainda, a pesquisas na área da toponímia, mais especificamente sobre classificação tipológica, nomes de empreendimentos, inscrições em arquitetura e estratégias de marketing imobiliário no Brasil (Dick, 1990Dick, M. V. P. A. (Ed.) (1990). Toponímia e antroponímia no brasil: coletânea de estudos. FFLCH-USP.; Kerkhoven, 2017Kerkhoven, R. C. (2017). Toponímia: análise de nomes de edifícios residenciais segundo a taxinomia de Dick. In Martiny, F. M., & Paizan, D. C. (Eds.), Atas do 28º FALE - Fórum Acadêmico de Letras (pp. 152-157). https://dspace.unila.edu.br/handle/123456789/3324 (accessed February 09, 2024).
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, 2018Kerkhoven, R. C. & Seide, M. S. (2018). Os nomes de edifícios em Marechal Cândido Rondon: estudo exploratório. Linguasagem, São Carlos, 28(1), 365-387.; Gouveia et al., 2007Gouveia, A. P., Pereira, A. L., Farias, P., & Barreiros, G. (2007). Paisagens tipográficas - lendo as letras nas cidades. InfoDesign - Revista Brasileira de Design da Informação, 4(1), 1-11. https://doi.org/10.51358/id.v4i1.28
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; Loureiro & Amorim, 2005Loureiro, C., & Amorim, L. (2005). Dize-me teu nome, tua altura e onde moras e te direi quem és: estratégias de marketing e a criação da casa ideal 2. Arquitextos. https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.058/490 (accessed February 09, 2024).
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; Rennó, 2003Rennó, R. (2003). A Cidade das Marcas - Marcas na Cidade. In Moreira, S. V., & Oliveira, I. L. (Eds.) Atas do XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. (pp. 2-6). http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/98098210568038059064709826399439960203.pdf (accessed February 09, 2024).
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).

São Paulo, cidade ímpar no seu acervo de arquitetura moderna não só no contexto brasileiro, mas também internacional, conta com um patrimônio expressivo de edifícios de habitação multifamiliar e de uso misto excepcionais, que se tornaram icônicos, simultaneamente, pela sua arquitetura e por seus nomes. Em alguns destes empreendimentos midiáticos, as designações tornaram-se também referenciais na cidade, sobrepondo-se ao endereço, sendo, muitas vezes, suficiente dizer o nome do edifício para se identificar a sua localização, sem ser necessário mencionar bairro, nome de rua ou número de porta.

Observando-se uma estreita relação entre a inscrição de nomes em edifícios residenciais e a promoção privada de habitação multifamiliar, construída com fins lucrativos, os nomes destes empreendimentos tendem a ser, até meados do século XX, derivados dos nomes de família dos proprietários dos terrenos, ou os nomes e/ou abreviaturas das empresas por eles gerenciadas ou a eles pertencentes: destacando-se, por seu caráter pioneiro e arquitetura moderna, o caso do edifício Esther (sede da Usina de Açúcar Esther, em referência ao nome da esposa do promotor do edifício), em 1938, projeto de Álvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho; do edifício Prudência, de 1948, construído pela Prudência Capitalização, com projeto de Rino Levi, também de grande efeito sobre o público (Vitorino, 2020Vitorino, C. (2020). Uma viagem aos meandros do inferno verde: planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950-1951. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura, 10(19), 298-323. https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.40673
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); e do edifício Copan em 1966, de Oscar Niemeyer, acrônimo da Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo.

A utilização de idiomas estrangeiros em edificações paulistanas em virtude da presença de proprietários investidores de origem italiana, e a menção a nomes de cidades, regiões ou referências artístico-culturais provenientes de outros países - como o edifício Lausanne (1958), de Adolf Franz Heep, o Bretagne (1958), de João Artacho Jurado, o Montreal (1954) e o Eiffel (1954), de Oscar Niemeyer -, tem-se intensificado até à atualidade, verificando-se a concentração da maior percentagem de nomes de edificações em outros idiomas nas áreas centrais e de renda mais alta da cidade de São Paulo - ao longo de um eixo que se estende do centro para sudoeste, diminuindo em anéis concêntricos para a periferia, coincidindo, como nota Rennó (2003Rennó, R. (2003). A Cidade das Marcas - Marcas na Cidade. In Moreira, S. V., & Oliveira, I. L. (Eds.) Atas do XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. (pp. 2-6). http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/98098210568038059064709826399439960203.pdf (accessed February 09, 2024).
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), com uma ocupação das áreas centrais pela elite econômica e consequente periferização das classes menos favorecidas.

Considerando a extensão da cidade, delimitou-se o corpus a um conjunto de 97 enunciados inscritos em empreendimentos residenciais multifamiliares, localizados em um território central de São Paulo sujeito a diversas etapas de construção e em processo de transformação imobiliária crescente. Estabeleceu-se como recorte geográfico a área compreendida pelas estações de metrô Oscar Freire, Fradique Coutinho e Clínicas, delimitado pelos grandes eixos viários da Avenida Rebouças e Avenida Henrique Schaumann e pelo corredor comercial e de transportes públicos da Rua Teodoro Sampaio. Nesta área, a pesquisa incide sobre 6 ruas paralelas de caráter predominantemente residencial, com 1 ou 2 sentidos e, no máximo, 2 vias de circulação de automóvel, compreendendo assim trechos das ruas: Lisboa, João Moura, Cristiano Viana, Alves Guimarães, Capote Valente e Oscar Freire.

A área de estudo incide, portanto, sobre uma parte do bairro de Pinheiros, situado na zona oeste do município de São Paulo, próximo às áreas centrais da cidade e a vias de acesso com fácil acessibilidade ao transporte público. Por ser uma área multifuncional e abrigar diversos tipos de serviços é uma região que, no presente, é objeto de intensa pressão imobiliária, embora com poucas áreas de construção disponíveis, o que torna o valor do metro quadrado um dos mais caros do município. O recorte temático-temporal abrange a arquitetura moderna, pós-moderna e contemporânea, da segunda metade do século XX até à atualidade.

Historicamente, o desenvolvimento urbano do bairro ocorre sobretudo em decorrência do ciclo do café, entre o final do século XIX e início do século XX, e também da expansão da cidade de São Paulo com a construção da Rua Arco Verde (atual Rua Cardeal Arcoverde) e a instalação, na Rua Teodoro Sampaio, da linha de bonde que liga esta área ao centro. A infraestrutura urbana existente (traçados dos arruamentos, construção e divisão fundiária mais antiga) com origem no bairro operário da Vila Cerqueira César, na década de 1910, e do loteamento promovido no extenso terreno de área rural entre a Rua Arco Verde e a Rua dos Pinheiros, composto, inicialmente, por casas geminadas, vilas e sobrados em lotes pequenos construídos, até à década de 1950, para o mercado de aluguel voltado para o público da classe média - com uma presença forte de casas em série, vilas ou conjuntos, alguns dos quais conservam inscrições, como o Jardim Cândida, situado na proximidade da área de estudo.

Atualmente, e ao longo do século XX, observa-se no território em questão um processo de demolição deste primeiro tecido urbano pré-existente - mas ainda visível - e a sua substituição por empreendimentos de muito maior escala, aglutinando vários dos antigos lotes, em condomínios de alto padrão. Os trechos das ruas em análise aglutinam diversas etapas de construção e edifícios de dimensões e características distintas, instalados ao longo de todo o século XX e início do século XXI, registrando ainda a construção de novos imóveis na atualidade (Figura 3).

Figura 3
Diversas épocas e escalas de construção: Rua Alves Guimarães; e Rua João Moura.

Dentro da área delimitada, os critérios para seleção dos enunciados consistiram no levantamento de edifícios/empreendimentos residenciais construídos, em lançamento ou construção, com nome visível e legível a partir da rua (recorrendo para tal à funcionalidade Street View da ferramenta Google Maps, com o registo fotográfico mais recente captado em abril de 2019).

4. Enunciados aderentes: parâmetros de observação

Relativamente à análise discursiva de enunciados aderentes, Maingueneau (2020aMaingueneau, D. (2020a). Análise do discurso face aos desafios do futuro - algumas reflexões. In Rocha, D., Deusdará, B., Arantes, P., & Pessôa, M. (Eds.), Em Discurso 3 (pp. 26-31). https://www.editoracartolina.com/em-discurso-3 (accessed February 09, 2024).
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) coloca em evidência diversos parâmetros de observação, os quais incluem, com particular pertinência em relação ao tipo de enunciados em análise (nomes de empreendimentos residenciais): a fonte de enunciação, a forma de aderência, a acessibilidade, as propriedades de inscrição, as características sociolinguísticas e as propriedades linguísticas do enunciado.

  • A fonte da enunciação, ou o enunciador, refere-se à entidade responsável pela criação do enunciado - o qual, no caso dos nomes de empreendimentos, é determinado, e até por vezes diretamente derivado da fonte enunciadora, da sua designação e dos seus elos afetivos e empresariais, como nos edifícios Martinelli, Esther e Copan -, aqui atribuída em geral à empresa construtora, ou em casos pontuais às sociedades gestoras de condomínios.

  • A forma de aderência implica a relação espacial entre enunciado e objeto, podendo ser direta (caso o enunciado seja fixado sobre o suporte, e o suporte coincida com a entidade a que se refere o enunciado aderente) ou indireta (caso o suporte não abranja a totalidade da entidade a que se refere, ou esteja afastado dela). Em se tratando de empreendimentos residenciais, observou-se, em particular, a localização específica do enunciado verbal sobre o objeto material, no caso, sobre o próprio edifício ou em outro elemento no interior do lote, dentro do limite entre espaço público e privado; sobre a vedação; localizado em outro elemento situado no exterior da vedação ou espaço de utilização pública.

  • A acessibilidade refere-se às condições de visibilidade e decifração-decodificação do enunciado; têm-se, no caso, as inscrições em elementos construídos na paisagem urbana - particularmente dependentes das relações de proximidade e exposição no campo visual permitidas tanto pela localização específica do enunciado sobre o objeto, como por suas características específicas, incluindo as propriedades materiais, visuais e sociolinguísticas da inscrição.

  • Em relação às propriedades da inscrição, são consideradas a materialidade semiótica do enunciado, incluindo o tamanho e o tipo de fonte, as cores, materiais e dimensões e o modo de inscrição (impresso, gravado, colado, etc.), bem como a possível articulação com signos não-verbais. Os enunciados foram também caracterizados quanto à sua grafia: incluindo o tipo de caixa (uso exclusivo de maiúsculas ou minúsculas, misto ou regular), a nomenclatura (identificação da palavra edifício, o seu uso abreviado ou a sua ausência) e ainda a existência ou inexistência de número de porta junto ao nome.

  • As características sociolinguísticas, com relevo para a seleção do idioma do enunciado, foram também objeto de análise do corpus, identificando-se os idiomas de maior expressão quantitativa, em uso singular, ou híbrido (presença de mais de um idioma no nome dos empreendimentos).

  • As propriedades linguísticas correspondem às características lexicais, sintáticas e enunciativas dos enunciados aderentes. Para a caracterização de tais enunciados em nomes de empreendimentos na área em estudo, procedeu-se à sua classificação, observando-se, em particular, os padrões existentes quanto à tipologia do nome de edifício, tomando-se como referência estratégias de classificação toponímica e, em particular, os estudos de Dick (1990Dick, M. V. P. A. (Ed.) (1990). Toponímia e antroponímia no brasil: coletânea de estudos. FFLCH-USP.), de Kerkhoven (2017Kerkhoven, R. C. (2017). Toponímia: análise de nomes de edifícios residenciais segundo a taxinomia de Dick. In Martiny, F. M., & Paizan, D. C. (Eds.), Atas do 28º FALE - Fórum Acadêmico de Letras (pp. 152-157). https://dspace.unila.edu.br/handle/123456789/3324 (accessed February 09, 2024).
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    ) e Kerkhoven & Seide (2018Kerkhoven, R. C. & Seide, M. S. (2018). Os nomes de edifícios em Marechal Cândido Rondon: estudo exploratório. Linguasagem, São Carlos, 28(1), 365-387.), com as adaptações necessárias ao objeto e objetivos específicos desta pesquisa. A metodologia utilizada difere, no entanto, substancialmente, de estudos toponímicos mais tradicionais, de forma a integrar aspectos interdiscursivos dos enunciados, considerando, por exemplo, os idiomas em que estão inscritos os nomes próprios, de personalidades e de lugares, a fim de compreender e interrelacionar os aspetos de materialidade e de composição linguístico-discursiva - verificando-se que estes tipos de enunciados podem frequentemente ser inscritos em mais do que uma categoria, como é o caso por exemplo, do Edifício Lisboa, na Rua Lisboa, que é simultaneamente nome de lugar e nome da rua.

Outro elemento de análise diz respeito às características do próprio objeto suporte do enunciado aderente. Nesse sentido, procurou-se também analisar as características dos edifícios e demais elementos construídos que fazem parte dos empreendimentos, nomeadamente, os seus aspetos materiais, visuais e discursivos, expressos por uma linguagem arquitetônica enquadrada sob três diferentes registros: moderno, pós-moderno e contemporâneo, correspondendo a etapas de construção que se sucedem e sobrepõem.

Decifrar enunciados aderentes, segundo Maingueneau (2020aMaingueneau, D. (2020a). Análise do discurso face aos desafios do futuro - algumas reflexões. In Rocha, D., Deusdará, B., Arantes, P., & Pessôa, M. (Eds.), Em Discurso 3 (pp. 26-31). https://www.editoracartolina.com/em-discurso-3 (accessed February 09, 2024).
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), significa perceber essa entidade material no centro de uma rede de relações, das quais resultam negociações e restrições, pertencendo simultaneamente a um espaço fechado - o seu suporte e o seu ambiente material -, e a um espaço aberto que conecta tais enunciados a elementos diversificados, a discursos e a instituições. A abordagem metodológica proposta pressupõe assim um diálogo entre contextos de enunciação, caracterização formal-semiótica e sociolinguística dos enunciados e das relações estabelecidas com os seus objetos-suporte.

5. Análise e caracterização dos enunciados aderentes

No universo dos 97 enunciados recolhidos na área delimitada, explicitada anteriormente, foram encontrados, quanto à linguagem arquitetônica, 44 empreendimentos de traços Modernos (45%), 32 Pós-Modernos (33%) e 21 Contemporâneos (22%). Atentando aos parâmetros de observação acima descritos - forma de aderência, acessibilidade, propriedades de inscrição, características sociolinguísticas e propriedades linguísticas -, procedeu-se a uma análise geral do corpus, da qual resultou a seguinte caracterização:

  • Quanto à localização do enunciado: no Edifício (60%); no Interior do lote (13%); na Vedação (11%); no Exterior do lote (5%); ou, nos casos de empreendimentos em lançamento ou construção, Não aplicável (11%).

  • Quanto ao idioma: Português (43%); Italiano (12%); Tupi (9%); Francês (8%); Inglês (3%); Alemão (3%); Outro (8%)5 5 Na área de estudo, as ocorrências dos idiomas Alemão, Polonês, Holandês, Wolof e Sírio-Libanês correspondem, quase sempre, a nomes de personalidades, lugares ou organizações. ; ou, quando composto por mais de um idioma, Híbrido (14%) - correspondendo, na área de estudo, à utilização combinada de Inglês e Português ou Francês e Português. Na totalidade do corpus, o Português é utilizado em 55 enunciados, o Inglês em 15, e o Italiano e o Francês, em 12.

  • Quanto à tipologia toponímica: Nome próprio - genérico e não identificativo. ex: Paula (21%); Nome de personalidade - identificando uma pessoa específica de perfil público. ex: Kurt Weill (9%); Nome de entidade espiritual - incluindo divindades e referências religiosas. ex: Santa Marta (5%); Nome de organização coletiva - empresa ou associação ou seu acrônimo. ex: VN, Hemag, Sepal (3%); Nome de rua - em que o imóvel se integra. ex: Lisboa, na R. Lisboa (4%); Nome de outro lugar - em que o edifício não está localizado. ex: Xingu (21%); Nome de outro edifício - geralmente tombado ou com valor histórico-cultural. ex: Chateau D’ Amboise (4%); Nome de elemento natural - formação mineral, planta ou animal. ex: Cristal (4%); Nome de elemento cultural - movimento artístico, título de obra ou personagem fictícia. ex: Art Noveau (2%); Nome abstrato - relativo a conceitos imateriais. ex: Essenza (2%); Sinônimo de residência - ou relativo a tipologia de habitação ou ao ato de habitar. ex: Habitat (1%); Adjetivo. ex: Attuale (2%); e, quando compostos por mais de uma referência, Composto (22%) - encontrando-se, nesse conjunto, referências a: nome de personalidade (1), nome de organização (3), nome da rua (5), nome do bairro - ou área territorial abrangente do edifício. ex: Casa dos Pinheiros (12), nome de elemento natural (2), nome abstrato (9), sinônimo de residência (6), sinônimo de área verde ou arborizada ex: Green Village (4), sinônimo de elemento ou estrutura urbanos. ex: Oscar Ville (4). Entre os nomes compostos, verifica-se que a maioria é também formada por mais de um idioma, como nos casos: Mansão Rimbaud (sinônimo de residência + nome de personalidade), Pinheiros Connection (nome do bairro + nome abstrato) e Boulevard da Alves (sinônimo de estrutura urbana + parte do nome da rua).

Relativamente aos 44 enunciados em edifícios de traços modernos (Figura 4), estes são, na quase totalidade, inscritos sobre o próprio edifício (36), escritos em caixa alta (40), acompanhados do número da rua (24), incluindo a palavra Edifício (25); definem-se segundo suas características sociolinguísticas pelo uso do idioma Português (23), e correspondem, em termos linguísticos, a um nome composto (21), a um nome próprio individual feminino (13) ou a um nome de lugar (13), alguns dos quais situados no Brasil. É também o grupo no qual se regista maior número de enunciados em língua indígena, integrando 7 dos 9 enunciados da área de estudo. Quanto à tipologia, não se registram nomes compostos, nomes de outro edifício ou adjetivos, nem se registra a sobreposição de dois idiomas diferentes no mesmo enunciado.

Figura 4
Edifício Dakar, Edifício Estoril, Edifício Lisy, Paula, Xingu e Ed. Yara.

Nos 32 enunciados em edifícios de estilo pós-moderno (Figura 5), a maioria é também inscrita sobre o edifício de habitação (20) - embora a aderência em outros suportes no interior do lote (5) ou sobre o seu perímetro (4) seja mais significativa. Quanto às propriedades da inscrição, estes caracterizam-se por omitir a palavra edifício ou a sua abreviatura (17) e, ainda, o número da rua (16), sendo, predominantemente, escritos em caixa alta (22), em Português (9), Italiano (7), Francês (6) ou Híbrido (5). Quanto à tipologia toponímica, prevalecem os nomes compostos (8), seguidos de nomes de outros lugares situados na Europa (7). Dentre os nomes compostos, registra-se, principalmente, a utilização do nome do bairro (4), em combinação com vocábulos sinônimos de residência (4), de povoado (2), de estrutura arborizada (2), ou conceitos abstratos (2).

Figura 5
ed. ana carolina, Morada do Sol, Oscar Ville, Van Dick, Pinheiros Boulevard e Villa Adriana.

Quanto aos 21 enunciados em edifícios de estilo contemporâneo (Figura 6), em uma grande parte destes empreendimentos, pelo fato de ainda se encontrarem em construção ou lançamento (11), não foi possível observar a grafia ou a localização. No entanto, nos demais verifica-se que a tendência é de aderência do enunciado na vedação (5), com identificação do número de rua (8), utilização de uma forma de abreviatura da palavra edifício “Ed.” (5), escrito em maiúsculas (4), com grafia corrente (3) ou em um misto de ambas (3). Quanto às características sociolinguísticas, verifica-se o predomínio do idioma Português (10) e a utilização de mais de um idioma (8), entre os quais o Inglês ocupa um lugar de relevo (8), não se registrando nomes em idioma indígena. Quanto à tipologia toponímica, predominam os nomes compostos (12), dentro dos quais é utilizado o nome do bairro (8) ou um conceito abstrato (7) - frequentemente denotando uma referência espacial ou formal, relativa à estrutura urbana ou arquitetônica (por exemplo: core, pod, up side, mobi) -, articulados entre si ou em associação ao nome da rua (4), ao nome ou acrônimo da construtora (3) ou a um sinônimo de estrutura arborizada (3), como terraço, boulevard, jardim6 6 Este último com um duplo efeito de sentido, também se referindo ao nome do bairro adjacente de Jardins. .

Figura 6
define home life Pinheiros, Essenza, Ed. Cristal, Absoluto, Upside Pinheiros, Ed. Kurt Weill.

Na totalidade do corpus, foram ainda observados diversos tipos de relações interdiscursivas, entre as quais se salientam: a) evocação direta de cronografia, topografia e personalidades “exteriores”, b) múltipla referência e referência indireta, c) referências em séries de objetos semelhantes, d) relações de proximidade e séries locais. Por último, foram identificadas diversas inter-relações entre enunciados e suportes, verificando-se que alterações no contexto físico, social e discursivo dos empreendimentos (incluindo o tipo de arquitetura e as relações de espaço público e privado) implicam alterações nos enunciados aderentes

Conforme observado subsiste uma tendência de alterações da localização dos enunciados (forma de aderência e acessibilidade), de suas propriedades de inscrição (materialidade, grafia e visibilidade) e das características socio-linguísticas (idioma e tipologia toponímica), que se materializam ao longo do tempo nas propriedades mais comuns dos empreendimentos residenciais modernos, pós-modernos e contemporâneos. Em conjunto com o tipo de arquitetura e as transformações da sua relação com a cidade e a rua, estas particularidades de localização, inscrição e composição socio-linguística são formas que servem para destacar o enunciado dos demais e dos anteriores. Do mesmo modo, os enunciados aderentes participam da formação da identidade dos seus objetos suporte: se o edifício moderno (e o seu nome) são a norma, o edifício pós-moderno (e o seu enunciado) concretizam a subversão dessa norma - materializando o Outro, e os edifícios contemporâneos (e os seus nomes) procuram se distanciar ou se alinhar com os precedentes.

Quanto à forma de aderência, observa-se que, em um momento anterior, os enunciados tendem a ser diretamente inscritos sobre o edifício, nas paredes e nas fachadas sobre a porta de entrada ou ao lado desta, assinalando a ‘pele’ que separa o edifício moderno do seu exterior, o espaço público urbano, muitas vezes a rua. O nome do empreendimento é depois colocado nos blocos da portaria, nas lajes dispostas nos jardins, nas paredes laterais, coincidindo com o afastamento obrigatório das construções em relação ao limite do lote imposto durante a década de 1970, e o fosso de desigualdade entre classes privilegiadas e marginalizadas tomado de assalto pela insegurança, fazendo retrair o edifício para lá de um espaço intermédio entre o transeunte e o habitante, em condomínios cada vez mais fechados. Por último, os enunciados passam a estar mais frequentemente presentes sobre os muros e no seu exterior, quando as vedações se tornam progressivamente mais opacas e distantes dos objetos arquitetônicos, e os olhares vedados por vegetação e escadas, e a relação do edifício e a sua entrada com a rua e o mundo exterior cada vez menos relevante e mais mediada.

Estas alterações nos enunciados aderentes verificam-se não apenas na localização dos próprios enunciados (isto, é, dos objetos em que estes são inscritos), mas também na sua grafia e nas suas tipologias discursivas, assinalando a progressiva transformação nos nomes aderentes em programas residenciais da paisagem urbana de São Paulo, de edifícios-objetos de arquitetura singulares para recintos, sendo acompanhadas sintomaticamente pela perda progressiva do vocábulo “edifício”.

Os nomes dos edifícios e conjuntos residenciais tendem a assinalar um limiar, a entrada em um determinado espaço que é provido de um ethos definido pela sua composição arquitetônica, urbana e paisagística. Como observado no item referente ao recorte temático-temporal, a totalidade material desses enunciados aderentes transforma-se de edifícios icônicos de arquitetura inovadora, que geram uma auto-referenciação geográfica e tendencialmente possuem uma relação direta com a rua e a cidade, para a multiplicação de produtos em série em um mercado extremamente saturado e competitivo, distanciados física e visualmente da vida urbana.

A cenografia do limiar contemporâneo representado pelos enunciados na área de estudo é evidenciada no caso do “Essenza” (Figura 7), um conjunto habitacional de padrão e preço elevado que ocupa uma vasta área entre a Rua Lisboa e a Rua João Moura. Devido à legislação local estipulando que uma construção apenas possa ter uma frente de rua (isto é, acesso apenas por um dos lados do lote), o condomínio só tem uma entrada pela Rua Lisboa, embora possua um enorme limite com a Rua João Moura. Deste modo, a entrada cenográfica do “Essenza”, onde o seu nome está inscrito - com os seus seguranças, muros revestidos com madeira tratada, vidro blindado e espelhado da portaria, bancos exteriores, paisagismo e pavimentos minimalistas e cuidados -, contrasta com o vasto muro alto das traseiras na Rua João Moura, despido de qualquer glamour, que nem os habitantes nem os funcionários nem os visitantes veem.

Figura 7
Essenza.

As intrínsecas inter-relações entre objeto e enunciado são ainda evidentes no caso do “D’ Alice” (Figura 8), observando-se como uma remodelação do espaço do condomínio leva a uma nova reformulação do enunciado aderente.

Figura 8
Dalice.

O edifício de traços modernos DALICE transforma-se em condomínio D’ALICE através de uma alteração material do suporte do enunciado (adição de cerca em metal e vidro e pórtico de entrada nos limites físicos do lote) e do próprio enunciado, na sua forma de aderência (deixando de estar sobre o edifício para estar sobre a vedação); na sua acessibilidade (aumentando a visibilidade, devido a maior proximidade do limite do lote sobre a rua, e aumento do tamanho das letras); nas suas propriedades de inscrição (utilização de material espelhado e fonte mais formal no enunciado mais recente, em contraste com a utilização de letras em metal discreto, fonte sem serifa e jogo gráfico no seu tamanho no enunciado anterior); e nas suas propriedades linguísticas (a apóstrofe possivelmente acrescentada, expressando um julgamento de valor sobre a forma “adequada” de escrever esse nome em português), atualizando-se globalmente enquanto entidade.

O novo enunciado aderente expressa assim não apenas a modernização do complexo residencial levada a cabo pelos seus condôminos (ou entidade gestora de condomínio) mais recentes, com a provável melhoria nas condições de segurança, acessibilidade a cidadãos com mobilidade reduzida e dos espaços comuns, mas também contribui para projetar um ethos discursivo mais atualizado e ostentatório. Observa-se que semelhante atualização do condomínio não levou a uma modificação do enunciado aderente, no caso do “Edifício Estoril” (Figura 4). Algumas razões possíveis são a já suficiente visibilidade do enunciado anterior e a identidade com o edifício-objeto arquitetônico nas suas características formais diferenciadas (como por exemplo, as varandas de plano diagonal, revestidas a mosaico azul). Por outro lado, no caso do edifício “Kurt Weill” (Figura 6) existe, desde logo da raiz do projeto, uma alteração da forma do edifício de modo a integrar a portaria em um avançado que se projeta quase sobre o perímetro do lote7 7 Esta é uma característica que se observa em mais edifícios recentes, como se pode ver na Figura 6. , aumentando a sua visibilidade e ainda mantendo as características que lhe permitem manter a abreviatura “Ed.” no enunciado.

6. Cenografia e relações interdiscursivas

Os enunciados aderentes instituem uma cenografia, em conjunto com os objetos planejados (vivos e não vivos), aos quais aderem, construindo relações interdiscursivas - que reforçam um determinado ethos intencional ou contingente (programado/não-programado). Estas relações com uma cronografia, topografia e personalidades evocadas na situação de enunciação são frequentes nos nomes de empreendimentos residenciais. Estes estabelecem uma relação com uma topografia alternativa - outros lugares -, quer através da citação direta de paisagens, cidades e geografias distantes ou adjacentes ao espaço urbano em que se inserem, quer através do recurso a línguas estrangeiras ou indígenas, dos seus efeitos de sentido. Estabelecem também relações com uma cronografia alternativa - outros tempos -, através da evocação de personalidades, eventos, estilos, movimentos e obras culturais, entre os quais edifícios históricos de valor patrimonial, com relação a uma cultura passada ou contemporânea - em ambos os casos refletindo um zeitgeist do seu próprio tempo. Estabelecem ainda a identificação com personalidades, organizações e estruturas da esfera do enunciador, ou a evocação de relacionamentos pessoais e privados (nomes próprios, frequentemente femininos) ou de personalidades de notabilidade pública. Algumas dessas referências refletem-se em classificações toponímicas comuns, no entanto, em termos de efeitos de sentido do discurso e de uma análise do ethos discursivo, essas classificações tornam-se problemáticas quando um enunciado aderente se desdobra em mais do que um vetor. No caso por exemplo do edifício “Kurt Weill”, entre outros, essa interpelação é tripla: espaço, tempo e personalidade.

Essa relação com outros tempos, espaços e personalidades expressa no nome do objeto residencial é por vezes articulada com um ethos programado do próprio edifício (Figura 9). No caso dos empreendimentos “Palais des Arts”, “Villa Adriana”, “Marquez da Santa Cruz”, “Ed. Chateau d’Amboise” e até “Mansão Rimbaud” existe uma interrelação reforçada entre enunciado aderente e o historicismo da arquitetura pós-moderna que recupera a utilização de elementos como frontões, frisos e balaustradas com nomes evocativos de antigos edifícios ou de personalidades anteriores ao século XX.

Figura 9
Edifício Marquez da Santa Cruz, Casa dos Pinheiros, Villa Adriana.

Observa-se também neste conjunto de edifícios residenciais a tendência para uma alteração das propriedades linguísticas do enunciado com a omissão da palavra Edifício e a sua substituição por um outro substantivo, sinônimo de uma habitação não-multifamiliar, de caráter mais individualizado e palaciano: Casa, Mansão, Villa; ou ainda a referência direta a um outro edifício de valor patrimonial histórico-cultural europeu (“Chateau d’Amboise”, “Palais des Arts” - monumentos históricos franceses; ou “Villa Adriana” - complexo residencial italiano classificado como patrimônio mundial da Unesco). No caso de “Casa dos Pinheiros”, “Villa Adriana” e “Mansão Rimbaud” também se observa a utilização de fontes serifadas por contraste com as fontes simples sem serifa que são mais comuns nos edifícios de arquitetura moderna.

No caso de utilização de línguas estrangeiras em nomes híbridos, observa-se também a substituição de sinônimos na língua portuguesa por equivalente em outro idioma, com um “valor acrescentado”. A utilização de línguas estrangeiras nestes enunciados é significativa porque, conforme notam Loureiro & Amorim (2005Loureiro, C., & Amorim, L. (2005). Dize-me teu nome, tua altura e onde moras e te direi quem és: estratégias de marketing e a criação da casa ideal 2. Arquitextos. https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.058/490 (accessed February 09, 2024).
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), também constituem estratégias de distanciamento do edifício de apartamentos em relação às conotações pejorativas de coabitação - implícita em empreendimentos de habitação multifamiliar: por exemplo, “villa” procura remeter para um universo de luxo associado às villas unifamiliares italianas, demarcando-se das “vilas” populares.

Verifica-se também em português, a utilização de “Morada”, “Jardim”, “Terraço” e “Habitat”, e em inglês: “Home life”, “Duplex Home” e “Pod” em empreendimentos de traços tanto pós-modernos como contemporâneos. Significativa também é a referência a uma estrutura urbana muito diferente da realidade paulistana, como por exemplo a utilização dos vocábulos “Boulevard”, “Ville”, e “Village”. Observa-se nestes casos a utilização da língua estrangeira como estratégia de valorização - do que é sofisticado, moderno, atualizado, chique, luxuoso, e de qualidade, ao mesmo tempo que se provoca um distanciamento da realidade concreta dos edifícios e da estrutura urbana em que estes se inserem.

As relações interdiscursivas dos enunciados aderentes na arquitetura residencial são também possíveis de depreender quer em relação a uma série mais vasta com a qual o objeto se alinha - por exemplo, edifícios modernos nomeados com nomes próprios femininos na pegada do edifício “Esther”, quer por vezes em relação a núcleos de proximidade imediata - edifícios com nomes de santos na Rua João Moura, Rua Cristiano Viana e Rua Alves Guimarães; ou em referência ao nome da rua ou do bairro - por exemplo, Edifício “Lisboa” na Rua Lisboa, ou “Casa dos Pinheiros”, “Core Pinheiros” e “Pinheiros Boulevard”.

Ainda sobre as referências topográficas implícitas, como forma de adicionar interesse e status, verifica-se conforme a temporalidade dos registos moderno, pós-moderno e contemporâneo, uma maior utilização de referências territoriais exteriores (referentes a outras regiões do Brasil e a outros países, como por exemplo: Xingu, Dakar, Estoril, Chateau D’ Amboise, Villa Adriana) nos dois primeiros - que se alicerçam em um ethos emprestado ou alógeno; e uma progressiva predominância de referências territoriais locais (nome do bairro e da rua), nos últimos, como expressão da consolidação de uma “marca” local - um ethos autorreferenciado - presente nos enunciados Casa dos Pinheiros, Oscar Ville, Pinheiros Connection, Upside Pinheiros, Boulevard da Alves, entre outros.

Os enunciados aderentes no espaço urbano demonstram assim uma complexidade enunciativa e denotam uma multiplicidade de relações interdiscursivas - não só com os respetivos referentes, mas entre diversos edifícios (dentro e fora do mesmo grupo) - que se encontra em permanente mutação e que escapa à categorização, constituindo um objeto de análise que importa observar em continuidade.

7. Considerações finais

Como depreendido pela análise, as inscrições de nomes em empreendimentos residenciais, enquanto enunciados aderentes, modificam a natureza dos objetos dos quais fazem parte e integram-se ainda em um conjunto de atividades socialmente reconhecidas, que lhes conferem, simultaneamente, uma dimensão institucional e uma dimensão ideológica, entendida aqui como o conjunto de práticas e objetos por meio dos quais as pessoas são disciplinadas, organizam o espaço onde vivem e dão sentido aos múltiplos gestos de sua existência cotidiana.” (Maingueneau 2020bMaingueneau, D. (2020b). Os Enunciados Aderentes. DELTA. 36(3), 1-22. Tradução Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva (Les énoncés adhérents, 2020). https://doi.org/10.1590/1678-460x2020360302.
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, p. 18)

Os enunciados aderentes analisados participam de uma atividade social, a habitação, presentemente aglutinada sob uma atividade econômica, de construção e mercado imobiliário, no âmbito da qual o ato de habitar foi transformado em produto de consumo. Enquadram-se especificamente em uma atividade de promoção privada da habitação, em um contexto de intensa construção e especulação, e encontram-se inseridos em um tecido urbano denso, extenso, heterogêneo e pontuado, física e discursivamente, por vários projetos arquitetônicos referenciais no conjunto urbano mais vasto de São Paulo.

Para compreender os vetores de enunciação e as implicações de sentido dos enunciados aderentes, aí consideradas suas alterações ao longo do tempo, é necessário concretizar a natureza multifuncional dos nomes em empreendimentos residenciais. Estes cumprem funções identificativas e informativas - que permitem a sua georreferenciação na cidade, para acesso de habitantes, visitantes e trabalhadores, serviços de entrega e transporte - em articulação com uma função persuasiva muito relevante - associada à comercialização dos apartamentos e a estratégias de marketing e publicidade de lançamento no mercado, planejadas em torno de valores identitários, simbólicos e ideológicos vigentes.

Os enunciados aderentes traduzem e projetam o ethos de cada entidade residencial - o tipo e dimensão dos apartamento, a escala do edifício ou conjunto, as áreas comuns e serviços oferecidos, a localização, aspetos formais e materiais da arquitetura e características do público-alvo - de forma a alcançar os seus potenciais clientes, estabelecendo adicionalmente assinaturas próprias da construtora, procurando simultaneamente criar uma associação com os valores positivos de uma comunidade discursiva específica e destacar-se entre os demais discursos existentes.

No processo de criação dos nomes de empreendimentos, o discurso é coconstruído através dos seus enunciadores (construtoras, incorporadoras, agências de marketing e publicidade, arquitetos, designers e organizações de condomínio) bem como dos seus coenunciadores (compradores, moradores e demais habitantes da cidade) que validam e orientam as sucessivas estratégias e transformações do mercado. Um exemplo extremo de validação pelos coenunciadores é exemplificado pelos futuros enunciados aderentes em aberto, como no caso do empreendimento na área de estudo, Rua Alves Guimarães, provisoriamente denominado de Boulevard da Alves, em que o público foi convidado a participar na sugestão e eleição do nome, antes da sua construção.

Entre os fatores por que e como ocorrem estes enunciados sobre muitos dos edifícios residenciais multifamiliares nesse território compreende-se o processo acelerado de verticalização da cidade a partir do século XX e o intenso e permanente processo de construção em tecido urbano consolidado nas áreas centrais de São Paulo, levado a cabo por iniciativas privadas não concertadas e dispersas8 8 Por contraste com uma atividade pública e planejada de urbanização, como no caso do plano piloto de Brasília, ou de processos de autoconstrução em comunidades periféricas. ; e a consequente ruptura da estrutura urbana prévia, em que a numeração urbana inicial dos lotes perde sentido enquanto georreferenciação, apelando à função identificativa dos enunciados e justificando a duplicação (redundância) de informação (nome e número de porta), na maioria dos casos.

Concorrem também para este fenômeno, a existência de uma acentuada desigualdade social, que se reflete no poder de aquisição de habitação e no acesso à cidade, no esforço de proteção da propriedade privada e na acentuada cisão entre classes econômicas e entre unidades territoriais - nomeadamente entre centro e periferia - que os nomes de empreendimentos reforçam, em ação recíproca.

Os sentidos suscitados pelos nomes de empreendimentos não se restringem ao momento ou aos intervenientes do processo de marketing e transação imobiliária, tendo na realidade uma amplitude extensível a toda a sociedade, junto da qual geram e cristalizam ideias e ideais quanto aos modelos e modos de habitar na cidade, e do que é sofisticado, desejável, moderno e novo. Operam igualmente dentro de uma perceção simbólica dos espaços e dos bairros da cidade, conforme afirma Rennó (2003Rennó, R. (2003). A Cidade das Marcas - Marcas na Cidade. In Moreira, S. V., & Oliveira, I. L. (Eds.) Atas do XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. (pp. 2-6). http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/98098210568038059064709826399439960203.pdf (accessed February 09, 2024).
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), refletindo e reforçando os diferentes valores investidos em cada lugar e tempo, e contribuindo para criar um mapeamento da cidade através da atividade de especulação imobiliária.

Os nomes de empreendimentos são ainda simultaneamente resultado e parte integrante de um interdiscurso - sucessivas tendências arquitetônicas, contextos e suportes ideológicos que se articulam em diálogo, quer em sequência quer em confronto, no espaço urbano -, ao qual recorrem para se destacar. No momento atual, de proliferação de enunciados aderentes em empreendimentos residenciais multifamiliares (de diferentes épocas, características e traços estilísticos), paradoxalmente, poucos conseguem ainda estabelecer-se como icônicos ou impor-se como georreferências, no entanto continuam a afirmar sobre o existente, valores, práticas e ideologias próprias.

Conforme observado, os enunciados aderentes no espaço público urbano não só refletem a cidade contemporânea e as diferentes problemáticas que a atravessam, como a transformam continuadamente, contribuindo para fixar e enraizar perspetivas discursivas, que a partir daí exercem a sua influência. Se, conforme Foucault (1966Foucault, M. (1966). Les Mots et les Choses: Une archéologie des sciences humaines. Éditions Gallimard.), atribuir um nome às coisas-objetos é uma forma de exercício de poder, os nomes inscritos em empreendimentos de habitação multifamiliar são também participantes ativos de quadros ideológicos em confronto.

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    » https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.40673
  • 3
    Desde os considerados mais eruditos, como o nome de um autor ao lado de uma escultura, aos mais triviais, como frases humorísticas em camisetas ou rótulos de embalagens.
  • 4
    O autor, em suas obras, usa EA como abreviação de enunciado aderente.
  • 5
    Na área de estudo, as ocorrências dos idiomas Alemão, Polonês, Holandês, Wolof e Sírio-Libanês correspondem, quase sempre, a nomes de personalidades, lugares ou organizações.
  • 6
    Este último com um duplo efeito de sentido, também se referindo ao nome do bairro adjacente de Jardins.
  • 7
    Esta é uma característica que se observa em mais edifícios recentes, como se pode ver na Figura 6.
  • 8
    Por contraste com uma atividade pública e planejada de urbanização, como no caso do plano piloto de Brasília, ou de processos de autoconstrução em comunidades periféricas.
  • Disponibilidade de dados

    Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

Disponibilidade de dados

Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    29 Out 2021
  • Aceito
    24 Ago 2022
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