Conhecimento, atitudes e necessidades de qualificação de profissionais da atenção básica no atendimento às demências

Costa, Gislaine Desani da; Santos, Odineide Gomes dos; Oliveira, Maria Amélia de Campos

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Revista Brasileira de Enfermagem

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Sumário

ARTIGO ORIGINAL • Rev. Bras. Enferm. 73 (suppl 3) • 2020 • https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0330 copiar

Conhecimento, atitudes e necessidades de qualificação de profissionais da atenção básica no atendimento às demências

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Objetivo:

Identificar o conhecimento e as atitudes de médicos e enfermeiros no rastreamento, diagnóstico, tratamento e acompanhamento das demências e suas necessidades educacionais nesta temática.

Método:

Estudo transversal, realizado com 195 médicos e 274 enfermeiros atuantes nas equipes da Estratégia Saúde da Família, do município de São Paulo. Utilizou-se o instrumento Atenção Sanitária às Demências: a visão da Atenção Básica. Os dados foram submetidos à estatística descritiva.

Resultados:

Dentre os médicos, 64,1% referiram realizar o diagnóstico da demência de forma rotineira, mas apenas 23,1% na fase leve; 89,2% mencionaram dificuldades para identificar casos da doença; 94,9%, dificuldades para tratamento e acompanhamento dos pacientes, incluindo as necessidades de apoio ao cuidador (28,2%); 84,6% dos médicos e 79,2% dos enfermeiros referiram dificuldades no acompanhamento à forma grave da doença.

Conclusão:

Foram identificadas lacunas no conhecimento referentes ao rastreamento e diagnóstico das demências, acompanhamento dos pacientes, informação diagnóstica e suporte ao cuidador.

Descritores:
Educação Profissional em Saúde Pública; Atenção Primária à Saúde; Médicos; Enfermeiras e Enfermeiros; Demência

Rastreamento e diagnóstico das demências	Médico		Enfermeiro
Rastreamento e diagnóstico das demências	n	%	n	%
Principais sinais e sintomas que levam a suspeita de demência
Comprometimento cognitivo com alterações de memória	102	52,3	123	44,9
Sintomas psicológicos e comportamentais das demências (depressão, delírios, agitação, alterações de personalidade)	67	34,4	137	50,0
Comprometimento da capacidade de executar atividades da vida diária	41	21,0	85	31,0
Testes de avaliação cognitiva e funcional mais utilizados na prática clínica
Capacidade Cognitiva
Mini Exame do Estado Mental	132	67,7	182	66,4
Avaliação cognitivo-funcional global	13	6,7	16	5,8
Teste do desenho do relógio	13	6,7	14	5,1
Capacidade Funcional
Índice de Katz	43	22,1	124	45,3
Teste de Pfeffer	17	8,7	13	4,7
Principais dificuldades para identificar um caso de demência
Diferenciar os sinais e sintomas da demência da depressão geriátrica	78	40,0	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Diferenciar os sinais e sintomas de demência do envelhecimento normal	68	34,9	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Principais aspectos que dificultam para identificar um caso de demência
Falta de tempo para realizar o processo de diagnóstico (aplicar testes, análises)	110	56,4	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Pouca confiança sobre o diagnóstico (dúvidas quanto ao paciente realmente ter uma demência)	37	19,0	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Exames complementares mais solicitados para o diagnóstico do subtipo de demência
Hemograma	113	57,9	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Hormônio estimulante da tireoide	112	57,4	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Vitamina B12	109	55,9	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Bioquímica com glicemia	108	55,4	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Sorologia para sífilis	107	54,9	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Função renal	95	48,7	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Enzimas hepáticas	94	48,2	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Sorologia para o vírus da imunodeficiência humana	89	45,6	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Ácido fólico	68	34,7	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Cálcio	61	31,3	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Ressonância magnética do crânio	32	16,4	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.

Informação diagnóstica das demências	Médico
Informação diagnóstica das demências	n	%
Informação do diagnóstico da demência
Ao paciente
Nunca	40	20,5
Raramente	63	32,4
Às vezes	58	29,7
Frequentemente	34	17,4
Aos familiares
Nunca	13	6,7
Raramente	47	24,2
Às vezes	48	24,7
Frequentemente	86	44,3
Principais fatores que influenciam para não informar o diagnóstico de demência ao paciente
Não ter capacidade suficiente para compreender a informação sobre o diagnóstico	67	34,4
Estar em um estágio avançado da doença	42	21,5
A família não querer que o paciente conheça o diagnóstico	15	7,7
Possibilidade de o diagnóstico provocar efeitos negativos sobre a vida diária do paciente	12	6,2

Acompanhamento das demências	Médico		Enfermeiro
Acompanhamento das demências	n	%	n	%
Serviços médicos disponíveis na área de abrangência para encaminhamento dos casos de demência para diagnóstico e/ou controle
Neurologista de referência	126	64,6	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Centro de Referência do Idoso	124	63,6	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Ambulatório de Especialidades Médicas	81	41,5	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Serviço de neurologia hospitalar	18	9,3	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Ambulatório de Especialidades em Demências	14	7,2	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Principais funções da equipe de enfermagem no acompanhamento de pacientes com demência na Atenção Básica
Avaliação periódica do comprometimento cognitivo	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.	116	42,3
Avaliação de riscos no domicílio	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.	85	31,0
Apoio às necessidades do cuidador e/ou da família	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.	73	26,6
Controle das comorbidades apresentadas pelo paciente	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.	61	22,3
Avaliação periódica do comprometimento funcional	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.	59	21,5
Controle da prescrição farmacológica e acompanhamento terapêutico	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.	46	16,8
Realização de atividades de estimulação cognitiva	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.	38	13,9
Principais dificuldades para o tratamento e acompanhamento de pacientes com demência na Atenção Básica
O tratamento com fármacos específicos (anticolinesterásicos e/ou memantina)	63	32,3	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
O acompanhamento e o tratamento do paciente com demência requer grande quantidade de tempo, não disponível na Atenção Básica	61	31,3	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
As necessidades de apoio do cuidador e/ou da família	55	28,2	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Dificuldades para o acompanhamento de pacientes com demência grave
Sim	165	84,6	217	79,2
Não	30	15,4	57	20,8
Principais motivos
O tratamento farmacológico é complexo	89	45,6	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.
Não há suporte de atendimento especializado	77	39,5	121	44,3
Os pacientessão difíceis	NA^* * Não aplicável.	NA^* * Não aplicável.	81	29,7
Suas demandas não são solucionáveis na Atenção Básica	70	35,9	101	37,0
Exigem muitas visitas domiciliárias	48	24,6	43	15,8

Acompanhamento das demências	Não recomendaria						Recomendaria
	Nunca		Quase nunca		Poucas vezes		Algumas vezes		Quase sempre		Sempre
	n	%	n	%	n	%	n	%	n	%	n	%
Recomendação médica
Vitaminas	18	9,2	23	11,8	25	12,8	38	19,5	45	23,1	23	11,8
Tratamentos naturais/ervas	60	30,8	51	26,2	25	12,8	18	9,2	8	4,1	4	2,1
Remédios anticolinesterásicos	24	12,3	24	12,3	34	17,4	31	15,9	32	16,4	20	10,3
Memantina	22	11,3	21	10,8	28	14,4	43	22,1	30	15,4	26	13,3
Antidepressivos tricíclicos	28	14,4	34	17,4	27	13,8	45	23,1	25	12,8	5	2,6
Antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina	21	10,8	24	12,3	30	15,4	54	27,7	29	14,9	5	2,6
Antipsicóticos típicos	32	16,4	43	22,1	33	16,9	37	19,0	19	9,7	2	1,0
Antipsicóticos atípicos	34	17,4	45	23,1	33	16,9	41	21,0	9	4,6	2	1,0
Exercícios de memória (gerais)	5	2,6	5	2,6	8	4,1	6	3,1	43	22,1	120	61,5
Estimulação cognitiva (específica)	6	3,1	2	1,0	11	5,6	12	6,2	40	20,5	109	55,9
Musicoterapia, aromaterapia	31	15,9	22	11,3	21	10,8	26	13,3	27	13,8	45	23,1
Assistência em um centro-dia para idosos	10	5,1	14	7,2	19	9,7	40	20,5	36	18,5	64	32,8
Ingresso em uma instituição de longa permanência para idosos	75	38,5	58	29,7	22	11,3	5	2,6	1	0,5	5	2,6
Encaminhamento a um especialista	2	1,0	3	1,5	5	2,6	26	13,3	46	23,6	101	51,8
Visita de um(a) assistente social	11	5,6	23	11,8	31	15,9	40	20,5	32	16,4	40	20,5
Associação de familiares de pacientes com Alzheimer	31	15,9	23	11,8	17	8,7	28	14,4	23	11,8	50	25,6

Acompanhamento do cuidador	Médico		Enfermeiro
Acompanhamento do cuidador	n	%	n	%
Frequência de planejamento para o acompanhamento do cuidador de pacientes com demência
Nunca	27	13,8	15	5,5
Raramente	55	28,4	69	25,2
Às vezes	69	35,6	100	36,5
Frequentemente	43	22,2	90	32,8

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[1] Autor Correspondente: Gislaine Desani da Costa. E-mail: gislaine_desani@hotmail.com