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Reações exopsicógenas: Reações psicógenas em terreno alterado

O autor aborda o estudo do diagnóstico etiológico em doentes que, sendo portadores de alterações orgânicas leves (incapazes de se denunciarem com fisionomia somática ou psíquica própria), apresentam sintomas aparentemente psicógenos, compreensíveis (Jaspers), decorrentes da situação difícil que enfrentam. Discute-se se há sinais psíquicos seguros, capazes de indicar que o fator exógeno está em jôgo. O Autor lembra as contribuições de Hoche, Kleist, Bonhoeffer, Stertz e Kurt Schneider; êste último só admite como sinal certo exógeno, a alteração da consciência; ainda assim, o sinal só é válido quando a intensidade do fator exógeno é muito grande. Depois é estudada, nas reações exopsicógenas, a questão da presença de sinais primários (obrigatórios, fundamentais de Stertz) ligados ao fator exógeno, e dos sinais facultativos acessórios, mais ligados à constituição psíquica. É exposta a opinião de Stertz, segundo a qual podem aparecer uns ou outros, conforme a intensidade do fator exógeno, sua duração, a ocorrência de lesões definitivas e, finalmente, a concorrência de traços genotípicos. São relatadas 4 observações. Na primeira, tratava-se de indivíduo cuja espôsa estava em período final de caquexia tuberculosa. O doente apresentava depressão agitada, perfeitamente explicável pela sua condição de marido prestes a perder a esposa. Entretanto, o exame somático revelou uma síndrome de demência paralítica, confirmada pelo exame liquórico. O Autor discute o papel do fator exógeno e o do psicógeno. O doente curou-se com a malarioterapia, apesar de haver sua esposa falecido. Dêste comportamento, deduz-se a valência dos fatores exo e psicógenos. Mais 3 casos são analisados; um de alucinose alcoólica em um neurótico de relação (síndrome sensitiva atenuada). Debelado o episódio tóxico, persistiram as notas impressas pelos conflitos da personalidade anterior. O Autor mostra como, numa só síndrome, é, por vezes, possível isolar a natureza psicógena dum sintoma e a exógena de outro (análise estrutural de Birnbaum). Em outro caso - delírio de ciúmes num hipertenso hábil - também existiam sinais decorrentes do fator exógeno e outros, do psicógeno. O Autor demonstra como o fator exógeno favoreceu a agravação de traços anormais pré-existentes na personalidade do doente e como criou outros. Com Kolle, o Autor demonstra que o fator tóxico não é tudo, e que o endógeno explica alguns casos, mas que há, inúmeras vezes, também, a participação de fatôres psicógenos. A constelação psicógena não produz as explosões da embriaguez patológica, mas dirige-as, muitas vezes. O Autor cita um trabalho de Heitor Carrilho, que mostrou, no Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro, a alta incidência (22,33%) de líquores parcial ou totalmente positivos para lues, num total de mais de 600 doentes, sem que os sintomas fôssem claramente exógenos. O Autor lembra que muitos dêsses casos talvez coubessem no conceito de reações exopsicógenas (o terreno um pouco alterado facilitaria a influência psicógena, diminuindo a resistência psíquica às solicitações criminosas). Neste trabalho divulga-se, talvez pela primeira vez no Brasil, o conceito de Hintergrundreaktion, de Kurt Schneider, que o Autor traduziu por "reações psicógenas em terreno organicamente alterado". Em inglês, teríamos, mais aproximadamente, as Background reaction.


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