Rede de atenção às urgências e emergências: atendimento ao acidente vascular cerebral

Brandão, Paloma de Castro; Lanzoni, Gabriela Marcellino de Melo; Pinto, Isabela Cardoso de Matos

doi:10.37689/acta-ape/2023AO00061

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Acta Paulista de Enfermagem

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Sumário

Artigo Original • Acta Paul Enferm 36 • 2023 • https://doi.org/10.37689/acta-ape/2023AO00061 copiar

Rede de atenção às urgências e emergências: atendimento ao acidente vascular cerebral

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Resumo

Objetivo

Analisar como ocorre o atendimento de pacientes com Acidente Vascular Cerebral isquêmico agudo considerando os fluxos assistenciais e os elementos restritivos e facilitadores do atendimento na Rede de Atenção às Urgências e Emergências.

Métodos

Trata-se de estudo fundamentado no referencial metodológico da Grounded Theory. Foram entrevistados 75 profissionais de saúde do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, da Unidade de Pronto Atendimento e do Hospital Referência na cidade de Salvador, Bahia.

Resultados

Emergiram 14 categorias e 66 subcategorias que representaram o fenômeno estudado, revelando fatores causais da fragmentação da rede como falta de vaga e de recursos, necessidade de melhoria no protocolo de atendimento, burocratização hospitalar, desconhecimento da população, apesar dos esforços dos profissionais em atender esse paciente. A interação profissional revelou ausência de linguagem única, entraves nas relações profissionais, desconhecimento do papel do outro, dificuldade em regular o paciente e compartilhamento de alguns objetivos na Rede. Consequentemente houve a saída do paciente da Linha de Cuidado, atendimento dos pacientes fora de janela terapêutica, necessidade de imposição da ‘vaga zero’, e um melhor atendimento quando o paciente teve acesso à unidade especializada. Elementos facilitadores dizem respeito também ao compartilhamento de objetivos na rede e ao esforço dos profissionais para atender o paciente em janela.

Conclusão

A fragmentação da Rede revela necessidade de intervenções gerenciais no sentido de aprimorar o atendimento, padronizando-o e tornando a assistência integral e equânime.

AVC isquêmico; Enfermagem em emergência; Serviço hospitalar de emergência; Serviços médicos de emergência; Transferência de pacientes; Serviços de atendimento

Categorias (Condição)	Desenvolvimento da categoria e das subcategorias
Faltando vaga e recursos para o paciente com AVC na Rede	Subcategorias apontam a falta de vaga para o adequado atendimento de pacientes com AVC no hospital referência, na Unidade de AVC, para trombólise e principalmente para pacientes fora de janela.
Necessitando de melhorias no uso do Protocolo de AVC	Elementos apontam para a inexistência de um Protocolo de AVC evidenciado pelas dúvidas dos profissionais sobre a existência do mesmo. Compreendem o protocolo de formas diferentes, percebem sua incipiência e fluxo pouco incorporado, relatam falta de treinamento para os profissionais, dificuldades no êxito do protocolo na UPA, percepção da obstrução do fluxo do paciente.
Comprometendo o tratamento por burocratização hospitalar	Na dinâmica hospitalar há perda de tempo na necessidade de autorização escrita para fazer a ficha, na lenta confecção da ficha, e na necessidade de passar pelo Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR) neste momento.
Havendo prejuízo no atendimento por falta de conhecimento da população	Há percepção da perda de janela para a maioria dos pacientes que chegam aos serviços de saúde, devido à não orientação prévia da população sobre a urgência do atendimento, sobre a suspeição dos sintomas, não sabendo para onde encaminhar o paciente.
Notando esforços dos profissionais dos diferentes serviços em atender o paciente em janela	Aponta empenho profissional fazendo, por vezes o protocolo funcionar, identificando e priorizando o paciente no ACCR nas UPAs, buscando realizar o atendimento do SAMU com rapidez, acionando a equipe especializada da Unidade de AVC para avaliar o paciente na emergência. Da mesma maneira, o SAMU, ao adentrar o hospital, encaminha o paciente à Tomografia para preservação da janela.

Categorias (Ação-interação)	Desenvolvimento da categoria e das subcategorias
Percebendo ausência de linguagem e conduta única na Rede	Relaciona-se à falhas na comunicação entre os serviços e nos serviços de saúde, à percepção de que o atendimento varia conforme equipe de plantão, inclusive com variações de conduta médica na UPA no acionamento ou não do Protocolo de AVC, e também na não homogeneidade nos atendimentos no Hospital Referência.
Percebendo entraves nas relações profissionais	São indicadas dificuldades nas relações SAMU-UPA, SAMU-Hospital, com o Chefe de Plantão responsável pela emergência hospitalar, relação prejudicada pela carga de trabalho na emergência, e em relações internas à UPA.
Desconhecendo a função do outro na Rede	Subcategorias trazem elementos como a distorção da função do SAMU na Rede, o desconhecimento do papel da UPA na Rede, a necessidade de melhor enxergar as necessidades do outro serviço, o ato de referir que o paciente é do serviço de origem e não da Rede.
Encontrando dificuldade em regular o paciente na Rede	Evidencia restrição hospitalar em aceitar os pacientes em janela e fora de janela, critica a regulação para o hospital sem leito certo, com autorização apenas para avaliação neurológica, a dificuldade em contatar o Chefe de Plantão, a dificuldade em regular pacientes fora de janela e a necessidade em regular após contrarreferência.
Compartilhando objetivos na Rede	Indica que a Rede conta com a colaboração do SAMU, que a coesão da equipe da UPA é alicerce para o funcionamento do serviço e que a pré-notificação hospitalar é fator de melhoria na assistência. Destaca-se a boa relação dos profissionais com a equipe da Unidade de AVC (UAVC).

Categorias (Consequências)	Desenvolvimento da categoria e das subcategorias
Saindo da Linha de Cuidado do AVC e retroagindo na Rede	Indicam contrarreferência dos pacientes do hospital para unidades de menor complexidade, seja por falta de recursos do hospital, ou porque profissionais julgam o paciente sem perfil de manutenção na unidade terciária. Por vezes, esses pacientes não foram avaliados por neurologistas. Frente à recusa de hospitais e das UPAs há permanência do paciente com o SAMU.
Atendendo pacientes fora de janela terapêutica	É sustentada por subcategorias que indicam observância da permanência dos pacientes na UPA frente às inúmeras limitações na assistência; críticas às limitações do atendimento pré-hospitalar móvel ao paciente fora de janela, havendo variação na possibilidade se serem avaliados ou não pelo neurologista; recebendo, muitas vezes, atendimento generalista.
Pacientes sendo melhor atendidos quando há acesso à UAVC	Revela que pacientes com suspeita ou confirmação de AVC têm o atendimento otimizado quando há assessoria da UAVC. Dados apontam que a Unidade dispõe de recursos materiais e de pessoal treinado para o atendimento, afirmando padronização, direcionamento à patologia e investigação etiológica.
Sendo imposta a “vaga zero”	Estabelece relação com a falta de vaga, sendo necessário que o SAMU utilize a ‘vaga zero’ e que o hospital referência receba a imposição desta normativa, acolhendo o paciente numa realidade nem sempre propícia.

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[1] Autor correspondente: Paloma de Castro Brandão E-mail: pahbrandao@gmail.com