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Quando o outro narra pelo afásico: observando as categorias interacionais de avaliação e de entextualização

When the other narrates for the aphasic: observing evaluations and entextualizations

RESUMO

Considerando a diversidade de configurações das narrativas orais enquanto histórias do passado, do presente ou do futuro, breves ou longas, de experiência pessoal ou vicárias, assumimos que, no processo de narrar, ações como avaliações e entextualizações são coproduções dos interactantes, e partimos para a investigação dessas duas categorias em narrativas orais sobre acometimentos neurológicos contadas por acompanhantes de afásicos. Em nossas análises, valemo-nos dos instrumentais teórico-metodológico da Análise de Narrativa (um afluente da Análise do Discurso) bem como de instrumentais teóricos advindos de estudos sociológicos e antropológicos que contribuem sobremaneira para a essa vertente da Análise do Discurso. Como fruto das nossas investigações, observamos que construções de sentidos foram alcançadas interacionalmente via avaliações e entextualizações; recursos estes que também atuaram na configuração das narrativas como um drama e como um relato reportável. Podemos, então, advogar que a historiabilidade das narrativas foi construída interacionalmente com o uso de recursos performáticos pelos familiares dos afásicos.

Palavras-chave:
entextualização; avaliação; narrativa; afasia

ABSTRACT

The diversity of configurations present in oral narratives as short or long stories of the past, present, future, personal or vicarious experiences led to the assumption that in the process of narrating, actions such as evaluations and entextualizations are co-productions of the interactants. As such, we set out to investigate these two categories in oral narratives about neurological disorders told by aphasics’ companions. In our analyzes, we use the theoretical-methodological framework of narrative analysis (an affluent of discourse analysis) as well as theoretical constructs from sociological and anthropological studies, which greatly contribute to the analysis of narratives. Results show that the construction of meanings was interactionally achieved by evaluations and entextualizations, which also contributed to the configuration of the narratives as dramas and reportable stories. We can, therefore, argue that the tellability of the narratives was interactionally constructed using performative resources by the aphasic’s relatives.

Keywords:
entextualization; evaluation; narrative; aphasia

1. Introdução

Quando nos distanciamos um pouco da visão de narrativa oral como técnica verbal de recapitulação de experiências (cf. Labov & Waletzky, 1967Labov, W., & Waletzky, J. (1967). Narrative Analysis: oral versions of personal experience. In J. Helm (Ed.), Essays on the verbal and visual arts (pp. 12-44). University of Washington Press.), e nos aproximamos da concepção de que a narração é um processo de interpretação de eventos passados (cf. Bauman, 1986Bauman, R. (1986). Story, performance and event. In R. Bauman (Ed.), Contextual studies of oral narratives (pp. 01-10). Cambridge University Press.), conseguimos melhor compreender importantes nuances de histórias contadas pelo outro, ou seja, histórias contadas por aquele que pode não ter sido personagem do evento narrado e, não obstante, exibe sua interpretação acerca desse evento. Na perspectiva laboviana, o narrador, geralmente, vivenciou a experiência recapitulada e, por conta disso, ao narrar, é capaz de exibir suas emoções diante daquela experiência. Para tanto, ele conta com uma gama de dispositivos que Labov (1972Labov, W. (1972). The transformation of experience in narrative syntax. In W. Labov (Ed.), Language in the inner city (pp. 354-396). University of Philadelphia Press.), como veremos adiante, descreveu como mecanismos externos e internos de avaliação3 1 Na perspectiva laboviana, que trata da estrutura de narrativas orais, as avaliações consistem em trechos dessa estrutura em que o narrador expõe a sua opinião, revelando o sentido que o evento narrado tem para ele. , sem os quais a narrativa não faz sentido, não tem razão de ser.

Levando, então, em consideração a condição sine qua non das avaliações para a razão de ser de uma narrativa, e não esquecendo que elas sinalizam as emoções do narrador no momento do acontecimento narrado, uma questão pode circunstancialmente emergir: como um narrador que não experiencializou um determinado evento pode construir uma narrativa que faça sentido? Talvez, a resposta para tal questionamento possa ser esboçada a partir do alinhamento à concepção de que narrar um evento é apresentar a sua interpretação acerca desse evento (vivenciado ou não). Assim sendo, interessa ao estudioso de narrativas orais investigar a configuração da interpretação do narrador exibida no aqui e agora da interação, voltando seu olhar, portanto, para o sentido que o narrador construiu da história que narrou, com enfoque nos recursos/estratégias discursivas com os quais ele contou para a construção do sentido. Assim considerando, analisar narrativas pode nos encaminhar para além da sua estrutura, possibilitando-nos alcançar os sentidos que o narrador constrói acerca do evento narrado, ou seja, a sua interpretação do que aconteceu. Isso se torna possível quando optamos por buscar compreender como o narrador escolheu contar uma determinada história com base nos recursos textualísticos utilizados na construção da narrativa.

Imbuídas de similar interesse, investigamos, neste artigo, narrativas orais sobre acometimentos neurológicos, contadas em consultas fonoaudiológicas, por acompanhantes de afásicos, com o objetivo de compreender como ocorre a mobilização de dispositivos de avaliação na construção de sentido, por vias discursivas. Para tanto, assumimos a proposta de Linde (1997Linde, C. (1997). Evaluation as linguistic structure and social practice. In B. L. Gunnarsson, P. Linell, & B. Nordberg (Eds.), The Construction of Profession Discourse (pp. 151-172). Longman.) de expandir a visão de Labov (1972Labov, W. (1972). The transformation of experience in narrative syntax. In W. Labov (Ed.), Language in the inner city (pp. 354-396). University of Philadelphia Press.) acerca das avaliações (ver seção 3, a seguir) ao focalizar duas dimensões dessa categoria, a saber: referência à reportabilidade (já presente nos estudos labovianos sobre avaliação) e referência a normas e valores sociais. Nossa investigação dirige-se, assim, para a análise de como se configuram as narrativas contadas pelo outro, que não vivenciou a experiência relatada, em consultas nas quais os afásicos se encontravam impossibilitados de narrar suas próprias histórias.

Os dados analisados foram gerados em situações naturalísticas, no contexto interacional de entrevistas semiestruturadas, em atendimentos fonoaudiológicos em grupo a afásicos4 2 Afásicos são pessoas acometidas por um dano neurológico (por exemplo, Acidente Vascular Cerebral, tumor, traumatismo cranioencefálico, entre outros) que comprometeu a linguagem (oral e/ou escrita), afetando de diversas formas, por conseguinte, a comunicação com o outro. . Consideramos, em nossa investigação, de cunho qualitativo e interpretativista, que o contexto imediato no qual a entrevista é encaixada exerce impacto no modo como esse evento se desdobra (cf. De Finna & Georgakopoulou, 2019De Finna, A., & Georgakopoulou, A. (2019). The Handbook of Narrative Analysis. John Wiley & Sons Publications.). Entendemos também que, na prática clínica fonoaudiológica, a entrevista é uma valiosa ferramenta que possibilita alcançar aspectos subjetivos da linguagem do sujeito (cf. Carrasco, 1999Carrasco, M. C. O. (1999). Anamnese ou entrevista: desfazendo equívocos a clínica fonoaudiológica [Dissertação de Mestrado]. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)5 3 Na clínica fonoaudiológica, a entrevista tem o objetivo de entender e interpretar a história clínica do paciente através da observação e da escuta em uma atividade contínua que atravessa todo o processo clínico-terapêutico. No caso deste artigo, os dados são provenientes da entrevista inicial, aquela que ocorreu no acolhimento das pacientes. .

2. Narrativas e afasias

Narrativas são relatos do passado (Labov & Waletzky, 1967Labov, W., & Waletzky, J. (1967). Narrative Analysis: oral versions of personal experience. In J. Helm (Ed.), Essays on the verbal and visual arts (pp. 12-44). University of Washington Press.; Labov, 1972Labov, W. (1972). The transformation of experience in narrative syntax. In W. Labov (Ed.), Language in the inner city (pp. 354-396). University of Philadelphia Press.) como também do presente e do futuro (Bamberg & Georgakopoulou, 2008Bamberg, M., & Georgakopoulou, A. (2008). Small stories as a new perspective in narrative and identity analysis. Text and Talk, 28(3), 377-396. https://doi.org/10.1515/TEXT.2008.018
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), que se configuram como histórias de vida (Linde, 1993Linde, C. (1993). Life Stories. The Creation of Coherence. Oxford University Press.) ou cotidianas (Ochs & Capps, 2001Ochs, E., & Capps, L. (2001). Living Narrative: Creating Lives in Everyday Storytelling. Harvard University Press.) de longa (Labov, 1972Labov, W. (1972). The transformation of experience in narrative syntax. In W. Labov (Ed.), Language in the inner city (pp. 354-396). University of Philadelphia Press.) ou de breve extensão (Georgakopoulou, 2007Georgakopoulou, A. (2007). Small Stories, Interaction and Identities. John Benjamins Publishing Company.), que recapitulam (Labov, 1972Labov, W. (1972). The transformation of experience in narrative syntax. In W. Labov (Ed.), Language in the inner city (pp. 354-396). University of Philadelphia Press.) ou reconstroem (Bauman, 1986Bauman, R. (1986). Story, performance and event. In R. Bauman (Ed.), Contextual studies of oral narratives (pp. 01-10). Cambridge University Press.) eventos no aqui e agora da interação (Riessman, 1993Riessman, C. K. (1993). Narrative Analysis. Sage.; 2007Riessman, C. K. (2008). Narrative Methods for the Human Sciences. Sage Publication.; Bastos, 2005Bastos, L. C. (2005). Contando estórias em contextos espontâneos e institucionais: uma introdução ao estudo da narrativa. Calidoscópio, 3(2), 74-87. Disponível em: https://www.academia.edu/21840738/Contando_est%C3%B3rias_em_contextos_espont%C3%A2neos_e_institucionais_-_uma_introdu%C3%A7%C3%A3o_ao_estudo_da_narrativa
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). Independentemente da perspectiva a partir da qual se olha para a narrativa, em termos textualísticos, é consenso entre os estudiosos desse campo que narrativas apresentam sucessão de duas ou mais ações.

Narrar exige competência, que não é estritamente linguística, mas discursiva, social, cultural e interacional - uma competência narrativa (cf. Ochs & Capps, 2001Ochs, E., & Capps, L. (2001). Living Narrative: Creating Lives in Everyday Storytelling. Harvard University Press.). Quando uma pessoa apresenta um comprometimento linguístico, como no caso de pessoas com afasia que foram acometidas por um dano neurológico, podem permanecer suas habilidades socioculturais e interacionais. Entre tais habilidades, podem estar, por exemplo, as que as possibilitam manter preservados aspectos de sua competência narrativa, não obstante as limitações na estrutura da língua.

Oliveira e Bastos (2011Oliveira, L. M., & Bastos, L. C. (2011). Uma história de AVC: a construção do sofrimento por uma pessoa com afasia. Revista Veredas, 15(1), 120-135. https://periodicos.ufjf.br/index.php/veredas/article/view/25099
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), ao investigarem as construções discursivas de uma pessoa com afasia, através da análise de uma narrativa sobre AVC, observaram que, enquanto narradora, a afásica construiu um envolvente drama no qual se apresentou como vítima de injustiça no ambiente de trabalho, conduzindo seu interlocutor a um sentimento de compaixão. Para tanto, ela, de um modo muito habilidoso, valeu-se sobretudo de dispositivos avaliativos, demonstrando preservação da competência narrativa.

Em um outro estudo, em 2012, sobre narrativas de pessoas com afasia, as autoras observaram a eficiência das narradoras afásicas em lançar mão de técnicas de entrada e saída de histórias em narrativas cotidianas, não canônicas, contadas em um contexto interacional diverso do contexto canônico de entrevista. Nesse estudo, foi identificado que as afásicas se valiam de avaliações para iniciar bem como finalizar histórias, conduzindo, assim, mudanças de footings6 4 Footings são alinhamentos que assumimos para nós mesmos e para os outros, que, conforme fundamento goffmaniano, se apresentam na forma como conduzimos a produção ou recepção de um enunciado. (Goffman, [1979] 2002Goffman, E. (2002). Footing. In B.T. Ribeiro, & P. M. Garcez (Eds.), Sociolinguística Interacional (pp. 107-148). Edições Loyola. (Trabalho original publicado em 1979)) nas interações. Também foi destacada a participação da pesquisadora em interações de caráter cooperativo, com demonstração de interesse pelo tópico desenvolvido e com ações de checagem de entendimento, cuja grande recorrência apontava para particularidades da construção de narrativas por afásicos. Em suma, esse estudo destacou que pessoas com afasia podem lidar muito bem com a dinâmica interacional da narração de histórias.

Em 2014, as autoras prosseguiram suas investigações sobre a colaboração do outro na conarração de histórias contadas por pessoas com afasia, mostrando como tal colaboração foi imprescindível para o engajamento de uma afásica na narração de sua história de AVC, contada de um modo retoricamente efetivo, encaixada habilidosamente na atividade discursiva em curso, com início, meio e fim coerentes, e que projetava uma postura moral consistente. Por fim, as autoras continuaram sustentando que pessoas com afasia, se encontram um espaço para narrar e interlocutores colaboradores, podem se mostrar habilidosas ao lidar com suas limitações linguísticas e dar conta das demandas discursivas e interacionais.

Também em um estudo desenvolvido em 2015, Oliveira e Bastos, continuaram defendendo a tese de que a fala afásica pode não ser um impeditivo para o engajamento de pessoas com afasia em construções discursivas (de sentido, princípios, valores, posturas, identidades etc.) no curso da narração, e que a colaboração do outro (interessado e solidário), enquanto conarrador, é extremamente significativa para o sucesso da comunicação. Esse estudo focou na performance (Goffman, 2002Goffman, E. (2002). Footing. In B.T. Ribeiro, & P. M. Garcez (Eds.), Sociolinguística Interacional (pp. 107-148). Edições Loyola. (Trabalho original publicado em 1979); 2008Goffman, E. (2008). A representação do eu na vida cotidiana. 15. ed. Editora Vozes.) de mulheres afásicas através da análise de narrativas, destacando, também, o uso de avaliações enquanto parte do aparato performático.

Voltando o foco especificamente para as ações do outro (terapeuta) no curso da narração de uma história de AVC por um afásico, Oliveira e Carmo (2015Oliveira, L. M., & Carmo, L. F. S. (2015). Diante das limitações linguísticas de um paciente afásico: a interlocutora-terapeuta como conarradora. SCRIPTA, 19(36), 307-336. http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/P.2358-3428.2015v19n36p307
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) identificaram a realização, pelo outro, de ações que elas categorizaram como sendo de caráter colaborativo e incentivador, tais como eliciação da narrativa, solicitação de informação adicional, especulação, sinalização de acompanhamento da história, solicitação de entendimento e pergunta. As autoras também destacaram o importante papel do outro enquanto terapeuta-conarrador na construção do ponto da narrativa através da sinalização da sua ausência.

Oliveira e Andrade (2016Oliveira, L. M., & Andrade, L. M. (2016). Reformulações da fala afásica no curso da narração no contexto institucional de consulta fonoaudiológica. Calidoscópio, 14(3), 531-542. http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/view/cld.2016.143.16/0
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) também investigaram ações realizadas por uma terapeuta, que operaram na reestruturação da fala afásica. Essas ações foram indispensáveis à coerência e à coesão da narrativa contada por um afásico, cuja fala era telegráfica. As autoras destacaram que tais ações, que consistiam em reformulações, atuavam fortemente na manutenção da intersubjetividade da interação, e defenderam seu emprego enquanto estratégia terapêutica produtiva.

Conforme foi possível observar nos estudos voltados para narrativas de afásicos apresentados acima, a participação do outro na construção de histórias contadas por pessoas com afasia é extremamente relevante e indispensável. Dado tal fato, seria interessante investigar a participação de conarradores que não fossem terapeutas (fonoaudiólogos), já que em todos os estudos acima citados os conarradores são terapeutas. É a isso que aqui nos propomos, motivadas por buscar compreender as construções discursivas que emergem desse novo arranjo interacional, a saber: narrador afásico e conarrador membro de sua família. Como veremos, na análise que se segue, além de conarrador, o familiar poderá também ser o narrador, quando quem deveria ser o narrador primário (i.e., aquele que se propõe a contar a história) - o afásico - não consegue falar.

3. A prática social de avaliação

Avaliar é tecer considerações acerca do mundo (fatos, situações, acontecimentos, pessoas etc.). Quem avalia algo ou alguém se pauta em seus próprios conhecimentos e no senso comum, aplicando o filtro dos valores morais (de ordem sociocultural) àquele ou àquilo que está sendo avaliado. Podemos considerar que fazer avaliações é realizar julgamentos, cuja aceitabilidade é suscetível a negociações. Portanto, as avaliações não são impostas, mas sim negociadas pelos interlocutores. Não obstante não serem imposições, as avaliações emergem na interação como um fenômeno extremamente persuasivo (Linde, 1997Linde, C. (1997). Evaluation as linguistic structure and social practice. In B. L. Gunnarsson, P. Linell, & B. Nordberg (Eds.), The Construction of Profession Discourse (pp. 151-172). Longman.).

Labov (1972Labov, W. (1972). The transformation of experience in narrative syntax. In W. Labov (Ed.), Language in the inner city (pp. 354-396). University of Philadelphia Press.) considera que existem mecanismos externos e internos de avaliação. Os primeiros consistem na suspensão da ação narrativa para encaixar, por exemplo, enunciados avaliativos: em uma narrativa sobre uma festa, o narrador pode parar o relato da sequência de ações e exclamar foi linda!, e depois retomar a narração. Os mecanismos internos ocorrem, sobretudo, com inserções de intensificações, de diferentes tipos (prosódicos, sintáticos, lexicais, gestuais), que incluem desde a entonação enfática (nossa!) à inclusão de advérbios (muito) e à repetição de palavras e estruturas sintáticas (muito bom, muito bom).

Nas palavras de Linde (1997Linde, C. (1997). Evaluation as linguistic structure and social practice. In B. L. Gunnarsson, P. Linell, & B. Nordberg (Eds.), The Construction of Profession Discourse (pp. 151-172). Longman.; p. 152), avaliação é “qualquer instanciação de um falante que indique sentido social ou valor de uma pessoa, coisa, evento ou relacionamento”. A autora defende que as avaliações são recursos através dos quais se pode alcançar as dimensões linguísticas e sociais do discurso, sendo, ao mesmo tempo, o principal componente da estrutura linguística e uma parte importante da interação social. Assim sendo, “uma análise da avaliação fornece explicações acerca da relação da estrutura linguística com a prática social” (p. 152). Constituindo, para a autora, uma parte importante da comunicação interpessoal (Linde, 1993Linde, C. (1993). Life Stories. The Creation of Coherence. Oxford University Press.), as avaliações são extremamente operantes na construção dos significados sociais, sendo ambos (avaliações e significados/sentidos) negociados no fluxo da interação.

Tradicionalmente, as avaliações constituíram objetos dos estudos linguísticos da estrutura narrativa analisando-a, sobretudo, através de mecanismos sintáticos, mas também considerando o ponto da narrativa, a sua razão de ser (cf. Labov, 1972Labov, W. (1972). The transformation of experience in narrative syntax. In W. Labov (Ed.), Language in the inner city (pp. 354-396). University of Philadelphia Press.). Linde (1997Linde, C. (1997). Evaluation as linguistic structure and social practice. In B. L. Gunnarsson, P. Linell, & B. Nordberg (Eds.), The Construction of Profession Discourse (pp. 151-172). Longman.) incorpora a essa dimensão de reportabilidade, tratada pelos estudos tradicionais, a dimensão social das avaliações, que se relaciona diretamente com o caráter extraordinário da narrativa (cf. Sacks, 1992bSacks, H. (1992b.). Lecture 3. Story organization; Tellability; Coincidence, etc. In H. Sacks (Ed.), Lectures on conversation (pp. 229-248). Basil Blackwell.). Histórias de AVC, por exemplo, são altamente reportáveis por sua própria temática, que legitima sua historiabilidade sem sequer reivindicar justificativa (cf. Oliveira, 2013Oliveira, L. M. (2013). A performance de pessoas com afasia na construção de narrativas em interações face a face em grupo. [Tese de Doutorado]. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=21848@1
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).

Na abordagem de Linde (1997Linde, C. (1997). Evaluation as linguistic structure and social practice. In B. L. Gunnarsson, P. Linell, & B. Nordberg (Eds.), The Construction of Profession Discourse (pp. 151-172). Longman.), então, além da referência à reportabilidade, as avaliações fazem referência às normas sociais, indiciando a postura moral do narrador (cf. Ochs & Capps, 2001Ochs, E., & Capps, L. (2001). Living Narrative: Creating Lives in Everyday Storytelling. Harvard University Press.), que, por sua vez, refletem normas e valores sociais.

Para melhor compreender a avaliação, enquanto prática social, focando no seu funcionamento dentro das diferentes variedades de estruturas do discurso, Linde (1997Linde, C. (1997). Evaluation as linguistic structure and social practice. In B. L. Gunnarsson, P. Linell, & B. Nordberg (Eds.), The Construction of Profession Discourse (pp. 151-172). Longman.) distingue três tipos ou níveis de avaliação, a saber: avaliação incidental, avaliação a nível de constituinte e avaliação a nível de tópico. As avaliações incidentais são de pequena extensão, operando a nível da sentença, ou mesmo a um nível menor, e, geralmente, não requerem reações e respostas. Podemos considerar esse tipo de avaliação como sendo um comentário pontual e de passagem. As avaliações a nível de constituintes ocorrem como componentes estruturais do discurso, podendo, por exemplo, compor o ponto ou o resultado de uma narrativa. Por fim, as avaliações a nível de tópico estão presentes quando o propósito do discurso é alcançado via avaliação, tomando, assim, o formato de um argumento.

O conhecimento da organização das avaliações é um passo importante para a compreensão dos seus efeitos retóricos no mundo social, por possibilitar a sua identificação dentro dos arranjos textuais que se configuram como narrativas.

4. Considerações sobre os processos de negociação de avaliações e de entextualização em narrativas

De acordo com Linde (1997Linde, C. (1997). Evaluation as linguistic structure and social practice. In B. L. Gunnarsson, P. Linell, & B. Nordberg (Eds.), The Construction of Profession Discourse (pp. 151-172). Longman.), a “avaliação não é produzida por um único falante, devendo ser negociada entre os participantes” (p. 155). A negociação pode ser um processo explícito (como por exemplo, uma negociação de acordo entre as partes em uma audiência de conciliação) ou implícito (como no turno a turno da interação em que ações verbais conduzem os interactantes a uma concordância que não é verbalizada, mas indispensável às ações sucessivas - negociações encaixadas em outras ações), podendo ser formal ou informal. Nas negociações formais, os participantes assumem posições iniciais fixas, moldando-as ou modificando-as aos poucos no curso da interação, ao passo que nas negociações informais, os participantes evitam posições iniciais rigidamente fixas que podem gerar conflitos (Linde, 1997Linde, C. (1997). Evaluation as linguistic structure and social practice. In B. L. Gunnarsson, P. Linell, & B. Nordberg (Eds.), The Construction of Profession Discourse (pp. 151-172). Longman.).

No que concerne à negociação de avaliações, esta pode ter consequências imediatas, influenciando na continuidade da interação. Por exemplo, os participantes podem não ter de fato concordado com uma determinada avaliação, mas optam por não se opor a ela a fim de não interromper o fluxo da interação.

Quando se trata de narrativas, um ouvinte endereçado pode mostrar concordância com a avaliação do narrador, ao fornecer sua avaliação no curso da narração ou ao contar, em seguida, uma segunda história contendo similar avaliação (Sacks, 1992Sacks, H. (1992). Lecture 1. Second stories; ‘Mm hm;” Story prefaces; ‘Local news;’. Tellability. In H. Sacks (Ed.), Lectures on conversation (pp. 3-16). Basil Blackwell.). Há também a possibilidade de o ouvinte endereçado não concordar com a avaliação (embora a concordância seja a ação preferida) e reivindicar uma avaliação alternativa para o mesmo evento. Instaura-se, assim, um processo de negociação de avaliação no curso da narração; em outras palavras, uma negociação do ponto da narrativa, já que as avaliações atuam na construção do ponto.

Ao negociar avaliações em narrativas, negocia-se, na verdade, o sentido que está sendo construído no curso da narração. Para a construção de sentidos via narração, diversos recursos do aparato performático do narrador (cf. Goffman, 2008Goffman, E. (2008). A representação do eu na vida cotidiana. 15. ed. Editora Vozes.) podem ser empregados, inclusive no convencimento do outro acerca da veracidade/procedência da avaliação. Como anteriormente mencionado, existem diversas configurações estruturais das avaliações, que vão desde as marcas avaliativas internas à sintaxe narrativa até a avaliação abertamente proclamada na performance narrativa. Neste estudo, em particular na segunda análise a ser apresentada, estaremos olhando para a entextualização realizada por meio da fala reportada como uma possibilidade de configuração estrutural da avaliação na narrativa, assumindo que discursos não são restritos a determinados contextos, podendo ser, continuamente, descontextualizados e recontextualizados (cf. Briggs, 2007Briggs, C. L. (2007). Anthropology, Interviewing, and Communicability in Contemporary Society. Current Anthropology, 48(4), 551-580. https://www.journals.uchicago.edu/doi/pdf/10.1086/518300
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).

Entende-se por entextualização “o processo de tornar o discurso passível de extração, de transformar um trecho de produção linguística em unidade - um texto - que pode ser extraído de seu cenário interacional” (Bauman & Briggs, 1990Bauman, R., & Briggs, C. L. (1990). Poetics and performance as critical perspectives on language and social life. Annual Review of Anthropology, 19, 59-88., p. 206). Trata-se de transferir um discurso de um enquadre a outro, transformando-o, por contigências interacionais, no novo contexto. A entextualização, então, pode incorporar aspectos do contexto de sua ocorrência, transformando o texto inicial/original. Nessa perspectiva, texto é discurso tornado passível de descontextualização, estando a entextualização, conforme defende Castro (2020Castro, D. F. V. (2020). A entextualização na co-construção dos discursos legais envolvidos nas histórias de mulheres infratoras que pleiteiam a prisão domiciliar em lugar da prisão preventiva. Cadernos de Linguística, 1(2), 01-23. https://doi.org/10.25189/2675-4916.2020.V1.N2.ID46
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), ligada à co-produção. Ao descontextualizar/recontextualizar discursos orais outrora proferidos, os interactantes podem-se valer da fala reportada direta, o que autentica e valida seu discurso (Schely-Newman, 2009Schely-Newman, E. (2009). Defining Success, Defining Failure: Functions of Reported Talk. Research on language and social interaction, 42(3), 191-209. https://doi.org/10.1080/08351810903089142
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).

5. Metodologia

Este artigo foi desenvolvido a partir de dados naturalísticos de fala em interação, gravados em áudio e/ou vídeo, de interações face a face, entre pessoas com e sem afasia, em atendimentos fonoaudiológicos em grupo de afásicos, que fazem parte do projeto de pesquisa intitulado Narrativa como instrumento de avaliação clínica das afasias, aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal de Sergipe sob o número 483.781. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho interpretativista, orientada pelos pressupostos teóricos e metodológicos de um campo da análise do discurso que se define como Análise de Narrativas (Riessman, 1993Riessman, C. K. (1993). Narrative Analysis. Sage.; 2007Riessman, C. K. (2008). Narrative Methods for the Human Sciences. Sage Publication.; Bastos & Biar, 2015Bastos, L. C., & Biar, L. A. (2015). Análise de narrativa e práticas de entendimento da vida social. DELTA, 31(número especial), 97-126. http://dx.doi.org/10.1590/0102-445083363903760077
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), ao se valer de uma lente narrativa para melhor compreender o que acontece na vida social. Também buscamos orientações no campo da Análise da Conversa etnometodológica sobre a sequência geral dos turnos e as convenções de transcrição, propostas por Gail Jefferson em 1983, e critérios de sigilo de identidade dos participantes, como por exemplo, a adoção de pseudônimos.

Todos os participantes envolvidos atenderam ao critério de inclusão da pesquisa, que consiste em possuir diagnóstico de afasia. O único critério de exclusão foi a não assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Os encontros do grupo de afásicos ocorrem uma vez por semana na clínica escola da referida instituição, com duração de aproximadamente noventa minutos e tendo, no ano de 2019, a participação de uma terapeuta docente e duas terapeutas discentes de fonoaudiologia, além dos afásicos e, em alguns momentos, dos seus familiares.

6. Análises de histórias de afásicos sobre acometimentos neurológicos

Analisaremos, a seguir, duas histórias, sendo que, na primeira, o foco incidirá sobre as avaliações e, na segunda, sobre as avaliações e as entextualizações. Faremos uso dos elementos da narrativa laboviana canônica para identificar as narrativas e, partindo delas, alcançarmos construções discursivo-interacionais do sentido de duas diferentes patologias neurológicas (AVC e tumor cerebral), na vida de pessoas com afasia e seus familiares.

O foco sobre as avaliações em uma história de AVC

Da interação cuja transcrição se apresenta baixo, participam a fonoaudióloga Lúcia (pseudônimo), a paciente afásica Lízia (pseudônimo) e sua nora Maria (pseudônimo), além de outros pacientes afásicos e discentes do curso de fonoaudiologia integrantes do grupo de afásicos cujos nomes não foram mencionados no trecho a seguir. Lízia, 57 anos, sofreu um Acidente Vascular Encefálico em novembro de 2019 e, neste mesmo mês, ingressou no grupo de afásicos da Universidade Federal de Sergipe. A afasia por ela apresentada é marcada por grande presença de anomias e dificuldades de estruturação de enunciados. O Excerto 1 ocorreu no primeiro dia de Lízia no grupo.

Excerto 1
Narrativa do acometimento neurológico de Lízia

No Excerto 1, Lúcia, na linha 06, convida Lízia a contar a história da patologia que a acometeu (a senhora consegue me contar o que aconteceu com a senhora?), eliciando, assim, uma narrativa de AVC que contou com a sua colaboração para a construção efetiva, dadas as limitações linguísticas de Lízia expressas em sua fala.

Considerando a formulação narrativa com base em elementos do cânone laboviano, podemos ver que Lúcia atua na construção do sumário na linha 11 (a senhora sofreu o quê?), da orientação nas linhas 13, 15-16, 18, 20, 22 e 24 (onde a senhora estava?; a senhora estava fazendo o quê:, quando sofreu o AVC?; estava fazendo o quê?; estava em que cômodo da casa?; estava assistindo tv?; passando roupa↑), da complicação nas linhas 26-27, 29, 31, 37, 44, 46 (a senhora estava passando roupa, e o que a senhora sentiu?; tonteira?; caiu?; aí, a senhora sentou↑; aí, a senhora não conseguiu levantar do sofá?; aí, chamou alguém?), da resolução na linha 84 (mas, a fala) e da coda nas linhas 86-88 (hoje em dia a senhora está com a mesma força no braço e na perna, ou acha que está diferente?), bem como das avaliações nas linhas 35, 60-61, 63, 78 e 81 (o braço e a perna direita ficaram fracos?; a senhora sentiu formigamento na boca? Nos braços?; parou de falar?; depois, a senhora conseguiu andar?; então, a senhora não perdeu os movimentos?). Entendendo que avaliação carrega o ponto da narrativa, ou seja, sua razão (cf. Labov, 1982), podemos afirmar que foram as ações da conarradora Lúcia, na solicitação de avaliações (por exemplo, reivindicação de que o narrador exibisse o que estava sentindo), ao longo da narrativa, que conferiram ao relato um caráter historiável, uma vez que a narradora primária implementou raríssimas avaliações em sua história. É certo que a temática de AVC, por si só, torna o relato digno de ser narrado; todavia, narrativas desse tema, mesmo aquelas contadas por pessoas com afasia (cf. Oliveira, Bastos, 2015Oliveira, L. M., & Carmo, L. F. S. (2015). Diante das limitações linguísticas de um paciente afásico: a interlocutora-terapeuta como conarradora. SCRIPTA, 19(36), 307-336. http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/P.2358-3428.2015v19n36p307
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), costumam ser repletas de avaliações ao longo de todo o seu curso, o que, diferentemente, não foi observado na narrativa de Lízia.

No que concerne à estrutura das avaliações (solicitadas por Lúcia e realizadas por Lízia), podemos identificar que foram mecanismos externos que operaram em sua construção - a repetição de perguntas de Lúcia, acima apontada (não bateu?, não desmaiou?, entre outras) -, o que é esperado ocorrer quando o encaixe de avaliações é solicitado pelo interlocutor, ao invés de ocorrer internamente à sintaxe narrativa (i.e., por meio de avaliações internas realizadas pelo narrador primário, ou seja, por aquele que se propôs a contar a história).

Um outro aspecto interessante de ser observado na narrativa de Lízia é que, diferentemente de outras histórias de AVC contadas por pessoas com afasia (cf. Oliveira & Bastos, 2011Oliveira, L. M., & Bastos, L. C. (2011). Uma história de AVC: a construção do sofrimento por uma pessoa com afasia. Revista Veredas, 15(1), 120-135. https://periodicos.ufjf.br/index.php/veredas/article/view/25099
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; 2015Oliveira, L. M., & Bastos, L. C. (2015). A performance narrativa de mulheres com afasia. Revista Veredas, 19, 269-291. https://periodicos.ufjf.br/index.php/veredas/article/view/24923
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), das avaliações não emergem dramas e sofrimentos, nem mesmo uma postura inconformada da parte da narradora. Lízia narra o extraordinário como se fosse ordinário, o que se revela na escassez de avaliações. Apenas a partir das respostas às solicitações de avaliações da parte da conarradora que podemos ver o caráter historiável ser construído através da apresentação dos sintomas e das sequelas do acidente. São esses (e não a postura da narradora) que nos dizem que de fato algo que foge ao ordinário aconteceu.

Em um certo momento da narração, uma segunda conarradora, Maria, toma a posse da palavra e se engaja na narração, diante da dificuldade Lízia de prosseguir com o relato, na linha 47 (foi meu filho que:: que::). No turno das linhas 48 a 51, Maria auxilia Lízia na construção da complicação da narrativa (foi que eu estava na varanda, na frente da casa dela, e ele chego lá chorando, dizendo que ela tinha caído, ele e minhas filhas, ela tinha caído e ela tinha batido a cabeça↓). No entanto, no turno seguinte, Lízia discorda explicitamente da versão de Maria, sendo tal discordância confirmada na linha 54 após duas perguntas de checagem, realizadas no turno anterior, na linha 53, por Lúcia. O emprego do particípio na sintaxe narrativa, bem como da repetição conferem um caráter de avaliação ao enunciado de Maria, por promover desvio dessa sintaxe e encaixe de avaliações (internas) (ela tinha caído, ele e minhas filhas, ela tinha caído e ela tinha batido a cabeça↓) - linhas 50 e 51. Diante da recusa por Lízia da contribuição de Maria ao negar sua versão (linhas 57 - 59), a ação seguinte de Maria sinaliza sua tentativa de negociar as avaliações por ela realizadas que, por sua vez, auxiliaram na construção do ponto (mas ela estava deitada assim no chão, com a cabeça encostada na parede e as pernas encostadas assim no sofá↓), por exibirem o extraordinário. Nesse trecho, podemos verificar que Maria, habilidosamente, substituiu o termo “caído” por uma descrição (deitada assim no chão) que mantém o sentido da versão por ela apresentada. Por meio dessa estratégia, Maria obteve sucesso na negociação das avaliações, visto que após a terapeuta, no papel de mediadora da interação, confirmar/aceitar sua versão na linha 60 (certo↓), Lízia não voltou a negar a versão de Maria.

Após finalização da negociação das avaliações, Lúcia, na linha 60 (a senhora sentiu formigamento na boca?; nos braços?) e na linha 63 (parou de falar?), volta a alocar o turno para Lízia, narradora primária. No entanto, diante das breves respostas de Lízia nas linhas 62 (não.) e 64 (foi. foi.), Maria volta a assumir o piso e acrescenta novas avaliações externas na linha 65 (não abria a boca nem nadanem andava↓). Lúcia, por sua vez, parece não aceitar o fato de Maria ter assumido o piso narrativo, pois nas linhas 66 - 68 (a senhora não falava. vamos ver o que mais a senhora consegue me contaro filho da senhora levou a senhora para o::), ela volta a projetar para Lízia a identidade de narradora, dirigindo-se a ela logo após a fala de Maria, retomando a complicação da narrativa do momento em que Maria se inseriu na história, na linha 47. Por um lado, essa postura de Lúcia se justifica por sua identidade institucional de fonoaudióloga e pelo contexto interacional da narração - uma entrevista inicial em que o profissional busca conhecer não só a patologia como também (e principalmente) o paciente em suas possibilidades e impossibilidades (sobretudo as comunicativas). Por outro lado, as ações de Maria de intervir na narração podem ser concebidas como colaborativas, no sentido que elas cooperam com a interação em curso, cujo principal objetivo era conhecer a história do que aconteceu com Lízia.

A colaboração de Maria com a narração prossegue não obstante a alocação por Lúcia de Lízia como próximo falante. Conforme podemos observar, é Maria que responde nas linhas 69 a 75 a pergunta de Lúcia: “nestor piva. aí, chegou lá, deram remédio nela, deu AAS, deu um soro nela- deu um soro e deram remédio nela. depois, a gente foi lá para o joão alves. eu peguei um uber, porque não tem ambulância para levar ela pra tirar uma tomografia da cabeçaaí, deu AVC do lado direito e do lado esquerdo da cabeça↓”. Esse trecho da complicação, isto é, da sequência de ações passadas temporalmente ordenadas, é também altamente avaliativo. Observe como o padrão rítmico, a repetição e a intensificação (mecanismos internos de avaliação) operam na fala de Lízia na sua apresentação de tais ações.

Deram remédio nela

Deu AAS

Deu um soro nela

Deu um soro e deram remédio nela

Também se faz digno de observação o fato de que até o final da narrativa as ações de Lúcia legitimavam apenas Lízia como narradora principal, alocando a ela todos os turnos de reposta, não obstante ter sido Maria quem respondia todas as suas perguntas. Lízia, por sua vez, cedeu a Maria o papel de narrador principal ao se manter em silêncio, deixando que Maria respondesse por ela, exceto nos turnos finais, que trazem a coda da narrativa e cuja construção estava atrelada às sensações do narrador (hoje em dia a senhora está com a mesma força no braço e na perna, ou acha que está diferente?) - linhas 87 - 88.

Não há como não reconhecer que foram as intervenções de Maria que povoaram a narrativa de Lízia de avaliações, atuando, assim, significativamente, na construção do seu ponto, da sua historiabilidade (cf. Ochs & Capps, 2001Ochs, E., & Capps, L. (2001). Living Narrative: Creating Lives in Everyday Storytelling. Harvard University Press.). Maria, através de recursos avaliativos, construiu o caráter extraordinário do qual a narrativa de Lízia, enquanto história de AVC, até então carecia. Isso só ocorreu porque havia ali (ora explícito e ora implícito) um processo de negociação de avaliações bem sucedido. Em outras palavras, mesmo tratando seu relato como ordinário através do modo como construía sua narrativa, Lízia autorizou sua configuração final como extraordinário ao autorizar as avaliações de Maria.

O foco sobre avaliações e entextualizações em uma história de tumor cerebral

O Excerto 2 traz um trecho da entrevista inicial realizada pela fonoaudióloga Lúcia (pseudônimo) com a paciente Élida (pseudônimo), 74 anos, e sua filha Beatriz (pseudônimo). No dia em que aconteceu o encontro, cuja transcrição da interação se encontra abaixo, estavam presentes apenas essa paciente e sua filha, além de duas discentes do curso de fonoaudiologia, que não são mencionadas no trecho apresentado abaixo. O grupo de afásicos estava retomando suas atividades após um período de interrupção e, por conta disso, os pacientes estavam começando a ser contactados para a participação, tendo sido Élida, uma paciente novata que acabara de receber o diagnóstico médico de gliobastoma7 5 Gliobastoma é um tipo de tumor cerebral maligno de rápido crescimento e muito agressivo. , a primeira a comparecer. Na primeira consulta, Élida apresentava fala reduzida a poucos itens lexicais sem significado (pseudopalavras), plegia8 6 Plegia é a perda total da força muscular. de membros inferiores e paresia de membros superiores, sendo capaz de realizar poucos gestos com a mão esquerda. A compreensão estava severamente comprometida, dificultando sobremaneira a interação.

Excerto 2
Narrativa do acometimento neurológico de Élida

Inicialmente, Lúcia se engaja em tentativas de estabelecer uma interação com a sua paciente Élida; no entanto, após sete turnos de tentativas sem sucesso devido à grande limitação da fala de Élida, ela decide alocar o turno para sua filha Beatriz na linha 22 (Beatriz, conta pra gente o que aconteceu com a dona Élida- se a senhora quiser interromper a gente, a senhora pode interromper, tá dona Élida↑). Em resposta à solicitação de Lúcia, Beatriz inicia a narração, sendo logo interrompida por Lúcia, por meio de uma sequência de três turnos de solicitação de informações adicionais, linha 30 (caiu onde? em casa?), linha 32 (sozinha? não tinha ninguém com ela?) e linha 34 (bateu a cabeça?). A ação de Lúcia sinaliza que a orientação da narrativa carecia de informações, uma vez que Beatriz apenas mencionou um episódio de queda e logo em seguida prosseguiu relatando acontecimentos que ocorreram no hospital, sem fornecer nenhuma informação sobre o momento da queda (local e estado de Élida). Como o contexto interacional se tratava de uma entrevista para fins de conhecimento da paciente e da sua patologia, as informações solicitadas por Lúcia no papel institucional de fonoaudióloga eram indispensáveis. A resposta de Beatriz no turno das linhas 35 a 42 demonstra que ela compreendeu a necessidade de acrescentar informações acerca do evento e do estado de saúde de Élida, entremeando a sequência de orações narrativas (a complicação narrativa) com orientações e avaliações: “sangrou o nariz. mas, ela não teve tontura, não teve nada. foi a coordenação motora mesmo que jogou ela. aí, chamou o rapaz pra ajudar. até aí, tudo bem. aí, quando foi dia oito de julho, ela começou sentir a fala dela mudar. a fala dela mudou. ela disse “você está vendo que eu não estou conseguindo falar?””.

No trecho narrado, Beatriz apresenta brevemente avaliações (“até aí, tudo bem”, linha 38) que mostram sua concepção acerca do estado Élida e do acometimento, que é avaliado por ela como algo sem grande importância. Após o breve relato, ela insere uma avaliação cujo caráter intensificador (quando foi dia oito de julho) chama atenção para as orações narrativas a seguir (ela começou sentir a fala dela mudar. a fala dela mudou.). Beatriz prossegue repetindo tal informação através da fala reportada, que se configura como uma entextualização, que, por sua vez, traz o discurso de Élida no momento do acometimento para o aqui e agora da interação. Tal fala reportada é considerada uma avaliação externa do tipo encaixe de avaliação (cf. Labov, 1972Labov, W. (1972). The transformation of experience in narrative syntax. In W. Labov (Ed.), Language in the inner city (pp. 354-396). University of Philadelphia Press.) e, por assim ser, ela fornece indícios da perspectiva da narradora sobre o evento narrado. Podemos, então, inferir que Beatriz considerou que apenas naquele momento havia acontecido algo extraordinário. Como efeito retórico, sua construção chama atenção do interlocutor para a mudança de perspectiva da narradora. A partir daquele momento, na concepção da narradora, um evento digno de atenção estava começando a ser narrado e a historiabilidade da narrativa estava começando a ser construída. Ela (Beatriz) prossegue construindo a narrativa por meio de diversas outras entextualizações realizadas através da fala reportada (oh, mãe, tá- vá, procure o médico), linha 47, (eu vou), linha 48, (não é aqui não. a senhora tem que ir para a urgência↓), linhas 54-56, (vamos fazer uma tomografia.), linhas 60-61, (vou encaminhar para o neuro), linhas 61-62, (tô vendo alguma coisa, vou pedir uma ressonância. vamos ter que internar↓), linhas 63-64.

Nesse trecho da narração, a fala reportada se configura como avaliações externas ao serem encaixadas no curso da complicação da narrativa, e, enquanto tal, dá indícios da concepção (pela narradora) do evento narrado como um drama. Podemos advogar que são os trechos de fala reportada que conferem um caráter avaliativo à narrativa, uma vez que, até os momentos de inserção dos trechos de fala reportada, a história contada por Beatriz continha sobretudo ordenação de eventos, com raríssimas avaliações, tendo sido necessárias várias solicitações de informações adicionais pela terapeuta acerca do estado de saúde da paciente. Além da dramaticidade, outros efeitos alcançados via fala reportada consistiram na ênfase atribuída ao acometimento da saúde de Élida, na atribuição de validação e autenticidade ao relato de Beatriz (Schely-Newman, 2009Schely-Newman, E. (2009). Defining Success, Defining Failure: Functions of Reported Talk. Research on language and social interaction, 42(3), 191-209. https://doi.org/10.1080/08351810903089142
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), o que é bastante relevante devido ao fato de não se tratar de uma narrativa de experiência pessoal, mas sim uma narrativa contada pelo outro. Ademais, enquanto estratégia discursiva empregada por Beatriz, a entextualização de falas de outros contextos possibilitou a mudança de perspectiva da narradora na definição do evento como historiável e de grande relevância. A entextualização trouxe para narrativa o discurso médico acerca da gravidade do caso (o neuro dissetô vendo alguma coisa, vou pedir uma ressonância. vamos ter que internar↓”), linhas 62-64. Observe-se, assim, que é nesse drama criado sobretudo através da fala reportada que se insere a consistência do relato na estrutura de valores sociais. Tanto na precisão ao relatar os eventos relacionados com a ocorrência da perda da fala (de certa foram colocadas em xeque com as perguntas de Lúcia), como ao trazer a voz da medicina para o drama, de natureza socialmente tão privilegiada.

A mudança de perspectiva da narradora em relação à saúde de Lízia (sua sogra) se encontra retratada na resolução das narrativas nas linhas 72-75 (até aí foi só a fala. aí, quando fez a ressonância viu que era um tumoraí, fez a biopsia, aí, depois da biopsia ela perdeu os movimentos↓). Podemos, por fim, concluir que as entextualizações atuaram na definição do evento enquanto um drama ao trazer discursos outrora proferidos (sobretudo aqueles da área médica) acerca da gravidade do referido dano neurológico (tumor).

Considerações finais

Este estudo buscou trazer à luz narrativas de afásicos contadas pelo outro (não afásico), defendendo que, não obstante o fato de não se tratar de narrativas de experiência pessoal (já que o narrador conta uma história que não é sua), as histórias sobre acometimentos neurológicos como AVC e tumor se configuraram como relatos altamente historiáveis (cf. Ochs & Capps, 2001Ochs, E., & Capps, L. (2001). Living Narrative: Creating Lives in Everyday Storytelling. Harvard University Press.), sobretudo, em razão das avaliações, que desenhavam turno a turno a razão de ser das histórias. Nas análises aqui apresentadas, as avaliações foram provocadas pelo interlocutor por meio de solicitações de informações e foram realizadas ora por meio de mecanismos internos de avaliação, ora por meio de mecanismos externos e ora por meio de entextualizações.

Os dados possibilitaram às análises mostrar o turno a turno do processo de negociação interacional de avaliações, que, em uma das narrativas, contou com o aval de quem experiencializou o evento e se alocou no papel de ouvinte conarrador - a paciente afásica da primeira narrativa - para sua conclusão bem-sucedida. Quando a paciente afásica se encontrou impossibilitada de atuar na negociação de avaliações (na segunda narrativa), em decorrência de suas limitações linguísticas, a história se configurou como um relato pouco avaliativo.

Por fim, através das avaliações e das entextualizações, foram construídos sentidos acerca de danos neurológicos (suas sequelas, por exemplo) que podem causar afasia bem como dramas que envolvem pessoas afásicas no aqui e agora da narração. A historiabilidade dessas narrativas, já garantida pela própria temática, foi construída interacionalmente por recursos performáticos que garantiram o show do OUTRO enquanto narrador da história de afasia do seu familiar.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq através da bolsa de produtividade em pesquisa 311250/2019-0.

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  • Tannen, D. (1989). Talking Voices: Repetition, Dialogue, and Imagery in Conversational Discourse. Cambridge University Press.
  • 1
    Na perspectiva laboviana, que trata da estrutura de narrativas orais, as avaliações consistem em trechos dessa estrutura em que o narrador expõe a sua opinião, revelando o sentido que o evento narrado tem para ele.
  • 2
    Afásicos são pessoas acometidas por um dano neurológico (por exemplo, Acidente Vascular Cerebral, tumor, traumatismo cranioencefálico, entre outros) que comprometeu a linguagem (oral e/ou escrita), afetando de diversas formas, por conseguinte, a comunicação com o outro.
  • 3
    Na clínica fonoaudiológica, a entrevista tem o objetivo de entender e interpretar a história clínica do paciente através da observação e da escuta em uma atividade contínua que atravessa todo o processo clínico-terapêutico. No caso deste artigo, os dados são provenientes da entrevista inicial, aquela que ocorreu no acolhimento das pacientes.
  • 4
    Footings são alinhamentos que assumimos para nós mesmos e para os outros, que, conforme fundamento goffmaniano, se apresentam na forma como conduzimos a produção ou recepção de um enunciado.
  • 5
    Gliobastoma é um tipo de tumor cerebral maligno de rápido crescimento e muito agressivo.
  • 6
    Plegia é a perda total da força muscular.
  • Contribuição dos autores

    Nós, Lívia Miranda de Oliveira e Liliana Cabral Bastos, declaramos, para os devidos fins, que não temos qualquer conflito de interesse, em potencial, neste estudo. Todas nós somos responsáveis por todos os aspectos, incluindo a garantia de sua veracidade e integridade.

Anexo 1

Convenções de Transcrição

Convenções propostas por Gail Jefferson e publicadas por Sacks, Schegloff e Jefferson em 1974, com acréscimos de símbolos propostos por Schifrin (1987) e Tannen (1989Tannen, D. (1989). Talking Voices: Repetition, Dialogue, and Imagery in Conversational Discourse. Cambridge University Press.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    27 Abr 2021
  • Aceito
    07 Nov 2021
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