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EDITORIAL

Neste número de Educação em Revista,fechamos a comemoração dos nossos 25 anos de existência. Este periódicotem sido um espaço privilegiado para a reflexão sobre a produção de conhecimento na área de educação, publicando artigos que representam a diversidade temática e a variedade de abordagens teóricas e metodológicas das pesquisas em nossa área. O leitor encontrará, neste volume, cinco artigos independentes, assim como um dossiê sobre Educação Ambiental (EA), com onze artigos. Encontrará ainda duas seções especiais. Abrindo este número trazemos uma homenagem ao nosso colega Nilton Bueno Fischer, que faleceu em 26 de julho de 2009. Além de pesquisador e amigo inesquecível, homenageamos também um membro muito especial do Conselho Consultivo de Educação em Revista. A última seção presenteiao leitor com o discurso de agradecimento da professora Eliane Marta Teixeira Lopes, proferido na cerimônia que deu a ela o título de professora emérita da FAE/UFMG.

Para a homenagem ao nosso querido Nilton Bueno Fischer reunimos depoimentos de colegas e amigos, que nos lembram da grande figura humana, do pesquisador de primeira linha, do professor inesquecível e do cidadão comprometido com a construção de um novo mundo. Que essas lembranças possam nos encorajar a permanecer lutando por um mundo melhor, sem nunca perder a alegria e o bom humor.

No artigo que abre este número 3 do volume 25 - "A cultura da performatividade e a avaliação da pós-graduação em educação no Brasil" -, Antônio Flávio Moreira certamente dará voz a inúmeros leitores que esperam ver expressas, nos periódicos que produzem e que leem, as suas inquietações sobre os efeitos da avaliação dos programas de pós-graduação coordenada pela CAPES. Resgatando a história da pós-graduação no Brasil, o autor traz uma análise que considera a importância da busca de qualidade na pesquisa, que aponta distorções e tensões geradas pelos critérios e procedimentos avaliativos. Embora sejamos pressionados a responder ao chamado do "publique ou pereça", o artigo ultrapassa os limites da crítica, esboçando também alternativas. Para compreender o momento brasileiro em relação à produção científica, Barbosa lança mão do conceito de performatividade, de Stephen Ball, num diálogo com Ivor Goodson, referência indispensável para se analisar as reações de docentes frente a recentes reformas curriculares e ao ambiente vivido hoje nos programas de pós-graduação, marcado, segundo o autor, por essa cultura da performatividade.

O artigo de Celso Vitelli - "Adolescências e identidades estéticas no cotidiano" - foi motivado pela sua experiência como professor de Artes, em salas de aula de adolescentes, experiência essa que o fez indagar sobre o papel do professor de arte em uma sociedade que valoriza acentuadamente o consumo, sobre quem é esse sujeito chamado "adolescente, o que ele pensa sobre si mesmo e de que maneira concebe e se relaciona com a arte. Sem pretender fazer uma descrição minuciosa de todos os acontecimentos que marcaram época, Vitelli indica aspectos próprios da juventude, em cada momento da história do Brasil, desde os anos 1960, passando pelos "caras pintadas", no momento do impeachment de Fernando Collor, a onda do piercing, do shopping center, os skatistas e esquentados, até o Fórum Social Mundial. Mas o autor alerta também que não se trata de uma análise que "resultaria na "cobrança" de uma participação mais efetiva dos jovens na atualidade. A análise pretende se debruçar sobre o entendimento de novos comportamentos e estéticas, hoje".

Na sequência, "Navegar sem ler, ler sem navegar e outras combinações de habilidades do leitor", Ana Elisa Ribeiro nos convida a refletir sobre uma questão instigante: Seria o hipertexto uma invenção da web, que, por sua vez, geraria também novas e diferentes estratégias e habilidades de leitura? Sim ou não pode ser a resposta, dependendo do autor a quem recorremos para sustentar nossas pesquisas sobre "letramento digital". Que mudanças cognitivas e relação com a leitura trazem as novas tecnologias? Esta é uma entre as importantes inquietações e os pressupostos apresentados por "Identificando estratégias (e táticas) de leitores pouco letrados diante de jornais". Observando a leitura na tela e no impresso, a autora se propõe distinguir os significados entre ler e navegar, mas principalmente enfatizar que há especialistas que relativizam as grandes mudanças cognitivas quanto à leitura que se realiza no ambiente digital.

Jussara Martins Albernaz, em "Mapas de um percurso construído por crianças de 8 anos: interações e aprendizagens", acompanha sete crianças de 8 anos, ao final da segunda série de uma escola pública, no estado do Espírito Santo. Por meio de uma observação participante, a pesquisadora analisa o processo de produção do mapa do caminho de casa até a escola feito por essas crianças. Combinando intervenção pedagógica baseada em princípios lúdicos e construtivistas da aprendizagem e procedimentos de pesquisa, a autora constata que as crianças desenvolveram capacidades de leitura, assim como construíram conceitos espaciais e habilidades de representação desses conceitos através da construção de mapas. Apoiado em estudos realizados por Piaget, Inhelder, Vygotsky e outros, esse recorte empírico de pesquisa poderá oferecer sustentação para um ensino de geometria baseado nas "representações naturais do aluno, na experimentação, no emprego de analogias, destoando das propostas mais tradicionais de abordagem da geometria escolar".

Em "Explorando e construindo um conceito de gestão escolar democrática", Ângelo Ricardo de Souza se orienta pela sua própria convicção, assim como na de outros autores, de que é necessário aprofundar a discussão sobre a gestão democrática e de atribuir a esse conceito uma perspectiva menos normativa. Interessado em apontar alternativas, o autor busca cotejar um campo conceitual com uma leitura das experiências de democratização da organização e da gestão escolar. Nesse trabalho, contracena um rico referencial teórico (Adorno, Habermas, Bourdieu, Tourraine, Souza, Brandão, Bobbio, Max Weber, Arendt) capaz de suscitar uma instigante reflexão sobre os conceitos de política, poder e democracia, vislumbrando, na escola, um diálogo que considera a "alteridade, a participação ativa dos sujeitos do universo escolar, na construção coletiva de regras e procedimentos e na constituição de canais de comunicação, de sorte a ampliar o domínio das informações a todas as pessoas que atuam na/sobre a escola".

Na segunda parte desse número 3 do volume 25, temos o dossiê "Educação Ambiental", organizado com muita competência e dedicação pelos professores Clarice Sumi Kawasaki, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto, e Luiz Marcelo de Carvalho, do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro. O dossiê traz novidades em relação a pesquisas de EA realizadas no Brasil, levando os organizadores se perguntarem, na introdução ao dossiê: "O crescimento das pesquisas de natureza teórica e da diversificação das áreas do conhecimento e formas de abordagem da pesquisa estaria nos indicando uma nova tendência no cenário atual da pesquisa em EA no Brasil?"

A primeira parte do dossiê traz quatro artigos de pesquisadores internacionais e nacionais que vêm se dedicando a analisar a produção da pesquisa em EA e oferecem algumas respostas a questões sobre tendências e perspectivas para a pesquisa em EA a partir da experiência de países do continente americano. A segunda parte do dossiê traz sete artigos que foram espontaneamente encaminhados por pesquisadores(as) de várias regiões do país, como resposta ao convite de Educação em Revista. Desses sete artigos, apenas um é de natureza empírica. Isso sinaliza mudanças no recente cenário da pesquisa em EA no Brasil, pois este é marcado pela presença de relatos de experiências pedagógicas e avaliação de programas e projetos em diferentes contextos educacionais, como pode ser verificado em revisões realizadas no Brasil sobre a produção da pesquisa em EA. Como essa nova tendência está bem-documentada neste dossiê, podemos compartilhar com os organizadores a ideia de que os artigos aqui publicados contribuem positivamente para a evolução do campo da pesquisa em EA, por meio do diálogo interdisciplinar, articulando contribuições teóricas de diferentes áreas do conhecimento.

Finalmente, em Palavra Aberta, Educação em Revista publica o discurso "Poetas, seresteiros e enamorados", que foi a forma feliz com que a professora Eliane Marta Teixeira Lopes expressou seu agradecimento pelo título de professora emérita, a ela concedido pela FAE/UFMG, no dia 4 de setembro de 2009. Numa fala melodiosa e serenamente densa, Eliane Marta, por alguns raros minutos, prendeu a atenção e emocionou o público presente na cerimônia, que ratifica, mais uma vez, seu pertencimento ao quadro de professores desta instituição, demonstrando que o caminho que a conduziu a este lugar foi, mais que tudo, o caminho da paixão. Educação em Revista não poderia deixar de oferecer ao leitor a oportunidade única de se emocionar e de conferir por que trilhas passou uma pesquisadora experiente, apaixonada e que tanto contribuiu para a construção de um ambiente de produção acadêmica marcado pela beleza, pela convivência amorosa e pela descoberta.

Desejamos a todos uma boa leitura de Educação em Revista, reiterando nosso compromisso com a pesquisa de qualidade na educação.

Eduardo Fleury Mortimer (Editor)

Marildes Marinho

Marlucy Alves Paraíso

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jan 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 2009
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