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DISTRIBUIÇÃO DE VALOR PARA OS STAKEHOLDERS: UM ESTUDO SOBRE PODER E IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA NA BOLSA DE VALORES DE TORONTO

RESUMO

Os diferentes grupos de stakeholders e seus aspectos de influência na alocação de valor vêm ganhando crescente demanda por parte das organizações e da academia. Na literatura recente de stakeholders, há um desenvolvimento teórico sobre distribuição de valor considerando atributos de importância estratégica e poder; no entanto, a literatura ainda carece de estudos empíricos para analisar e compreender a relação. Este trabalho tem como objetivo verificar a associação entre poder e importância estratégica dos stakeholders e a distribuição de valor a eles por empresas de capital aberto na Bolsa de Valores de Toronto (TSX). Para obter as informações relevantes sobre o tratamento dado pelas empresas aos seus stakeholders, analisamos o conteúdo de 104 prospectos para o processo de IPO da TSX de 2008 a 2019. Os resultados revelaram que o poder e a importância estratégica são relevantes para a distribuição de valor aos stakeholders e que a importância estratégica dos stakeholders tem uma influência mais significativa quando comparada ao seu poder. Quanto às contribuições, o nosso estudo avança debates anteriores na literatura de stakeholders em termos teóricos e práticos.

Palavras-chave:
stakeholders; distribuição de valor; poder; importância estratégica; IPO.

ABSTRACT

The different stakeholder groups and their influence on value distribution have received increasing attention from organizations and academia. In the recent stakeholder literature, there has been a theoretical development on value distribution, considering the attributes of strategic importance and power; however, the literature still lacks empirical studies to analyze and understand the relationship. This paper examines the association between stakeholders’ power and strategic importance and the value distribution to them by publicly traded companies on the Toronto Stock Exchange (TSX). To obtain relevant information on companies’ treatment of their stakeholders, we analyzed the content of 104 prospectuses for the TSX IPO process from 2008 to 2019. The results reveal that power and strategic importance are relevant to the distribution of value to stakeholders and that the strategic importance of stakeholders has a more significant influence than their power. Regarding contributions, our study advances previous debates in stakeholder literature in theoretical and practical terms.

Keywords:
stakeholders; value distribution; power; strategic importance; IPO

RESUMEN

Los diferentes grupos de interés y sus aspectos de influencia con respecto a la asignación de valor han ganado una creciente demanda por parte de las organizaciones y la academia. En la literatura reciente sobre stakeholders, existe un desarrollo teórico sobre la distribución de valor considerando atributos de importancia estratégica y poder; sin embargo, la literatura aún carece de estudios empíricos para analizar y comprender la relación. Este artículo tiene como objetivo verificar la asociación entre el poder y la importancia estratégica de los stakeholders y la distribución de valor a ellos por parte de las empresas que cotizan en la Bolsa de Valores de Toronto (TSX). Para obtener la información relevante sobre el trato que las empresas dan a sus grupos de interés, analizamos el contenido de 104 prospectos del proceso de OPI de la TSX de 2008 a 2019. Los resultados revelaron que el poder y la importancia estratégica son relevantes para la distribución de valor a los grupos de interés y que la importancia estratégica de los stakeholders tiene una influencia más significativa en comparación con su poder. En cuanto a las contribuciones, nuestro estudio enriquece los debates previos en la literatura sobre stakeholders en términos teóricos y prácticos.

Palabras clave:
stakeholders; distribución de valor; poder; importancia estratégica; OPI

INTRODUÇÃO

Desde a sua criação em meados da década de 1980, a teoria dos stakeholders evoluiu como um campo com crescente potencial para aplicação empírica. Nessa evolução teórica e prática é possível mencionar temas de pesquisa bastante relevantes, como aqueles que consideram questões relacionadas à criação e distribuição de valor aos stakeholders (Boaventura et al., 2020Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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; Harrison et al., 2022Harrison, J. S., Wicks, A. C., & Palmié, M. (2022). Stakeholders are human: The micro-foundations of stakeholder theory and an application to the value distribution problem. In Humanizing Business (pp. 529-558). Springer.).

Nesse contexto, as reflexões teóricas sobre o poder e a importância estratégica dos stakeholders levantam considerações quanto à análise da criação e distribuição de valor (Harrison & Bosse, 2013Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01...
). No entanto, estudos empíricos contradizem a proposta teórica de que o poder tem mais influência do que a importância estratégica na distribuição de valor (Boaventura et al., 2020Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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), reflexão estabelecida como mainstream na literatura, como podemos ver em Parent e Deephouse (2007)Parent, M. M., & Deephouse, D. L. (2007). A case study of stakeholder identification and prioritization by managers. Journal of Business Ethics, 75(1), 1-23. e Neville et al. (2011)Neville, B. A., Bell, S. J., & Whitwell, G. J. (2011). Stakeholder salience revisited: Refining, redefining, and refueling an underdeveloped conceptual tool. Journal of Business Ethics, 102(3), 357-378. https://doi.org/10.1007/s10551-011-0818-9
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. Como o estudo de Boaventura et al. (2020)Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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focou em um mercado emergente com características únicas, faz-se necessário observar outros mercados para ampliar a compreensão e estabelecer um novo vínculo entre teoria e prática. Portanto, dados esses desafios ao alinhamento entre teoria e prática, esse estudo visa ampliar as reflexões anteriores e investigar o fenômeno da distribuição de valor em um ambiente institucional diferente, considerando um contexto mais estável e economicamente desenvolvido. Assim, considerando que os resultados empíricos anteriores foram obtidos a partir da análise de uma economia emergente, o Brasil, o presente trabalho avança ao examinar dados do Canadá, um país de economia mais desenvolvida e com um cenário institucional diverso.

Sendo países de dimensão continental, o Canadá e o Brasil são membros do G20, grupo que representa as 20 maiores economias do mundo (World Bank, 2022World Bank. (2022). Gross domestic product ranking. Data catalog. https://datacatalog.worldbank.org/dataset/gdp-ranking
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). Apesar de PIBs semelhantes, o Canadá e o Brasil apresentam diferenças interessantes nas características econômicas. Por exemplo, o Canadá ocupa o 23º lugar no índice de facilidade de fazer negócios, enquanto o Brasil ocupa o 124º lugar (World Bank, 2020World Bank. (2020). Doing business 2020: Training for reform. Washington, DC. https://archive.doingbusiness.org/pt/reports/global-reports/doing-business-2020
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). Além disso, o Canadá é reconhecido como um país economicamente desenvolvido, com um PIB per capita de 54,96 mil dólares, enquanto o Brasil é considerado uma economia emergente, com um PIB per capita de 8,9 mil dólares (World Bank, 2022World Bank. (2022). Gross domestic product ranking. Data catalog. https://datacatalog.worldbank.org/dataset/gdp-ranking
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).

O Canadá e o Brasil partilham ainda semelhanças na indústria extrativa, a exemplo da exploração de recursos minerais que contribui significativamente para seu crescimento econômico (Milioli, 2001Milioli, G. (2001). A natureza do relacionamento Brasil-Canadá: Similaridades, contrastes e a questão ambiental. Interfaces Brasil/Canadá, 1(1), 11-36. https://doi.org/10.15210/interfaces.v1i1.6283
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). Apesar das diferenças macroeconômicas, a ênfase nas indústrias extrativas em ambos os países destaca semelhanças interessantes entre as duas nações. Assim, para possíveis comparações dentro da lógica do alinhamento teórico e prático acima mencionado, o presente estudo foi realizado considerando o contexto da Bolsa de Valores de Toronto (TSX), ou seja, as empresas que abriram capital por meio de uma Oferta Pública Inicial (IPO) naquela que é uma das maiores bolsas de valores do mundo em termos de capitalização de mercado.

Com base nos argumentos anteriores e na lacuna percebida na literatura em termos de melhor compreensão do tema em diferentes contextos, a questão norteadora desse trabalho diz respeito a relação entre poder e importância estratégica na distribuição de valor das empresas aos stakeholders. Assim, nosso objetivo é oferecer esclarecimentos teóricos baseados em evidências empíricas sobre a distribuição de valor aos stakeholders mediante seu poder e importância estratégica nas empresas que abriram capital na TSX entre os anos de 2008 e 2019. O período de tempo foi escolhido considerando as mudanças na legislação canadense de prospectos, ocorrida no primeiro ano da amostra (2008) e o impacto da pandemia de Covid-19 nas IPOs.

Nossa contribuição baseia-se na ampliação de discussões anteriores na literatura (Boaventura et al., 2020Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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; Harrison et al., 2010Harrison, J. S., Bosse, D. A., & Phillips, R. A. (2010). Managing for stakeholders, stakeholder utility functions, and competitive advantage. Strategic Management Journal, 31(1), 58-74. https://doi.org/10.1002/smj.801
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), ao mesmo tempo em que consideramos um ambiente institucional (Fainshmidt et al., 2018Fainshmidt, S., Judge, W. Q., Aguilera, R. V., & Smith, A. (2018). Varieties of institutional systems: A contextual taxonomy of understudied countries. Journal of World Business, 53(3), 307-322. https://doi.org/10.1016/j.jwb.2016.05.003
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; Kern & Gospel, 2023Kern, P., & Gospel, H. (2023). The effects of strategy and institutions on value creation and appropriation in firms: A longitudinal study of three telecom companies. Strategic Management Journal, 44(1), 343-366. https://doi.org/10.1002/smj.3129
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) que ainda não foi explorado sobre esse tema. À medida que a teoria dos stakeholders se estabelece com base em pesquisas teórico-empíricas, ela muda a forma como as organizações são gerenciadas, focando em melhor atender às necessidades dos stakeholders (Galego-Alvarez et al., 2014Galego-Álvarez, I., Formigoni, H., & Antunes, M. T. P. (2014). Corporate social responsibility practices at Brazilian firms. RAE-Revista de Administração de Empresas, 54(1), 12-27. https://doi.org/10.1590/S0034-759020140103
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). Nesse sentido, quanto mais esclarecermos tal teoria em diferentes contextos, melhor será para as práticas empresariais em todo o mundo.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Teoria dos stakeholders

A abordagem dos stakeholders se apresenta como uma alternativa à teorização estratégica e econômica (Bridoux & Stoelhorst, 2022Bridoux, F., & Stoelhorst, J. W. (2022). Stakeholder theory, strategy, and organization: Past, present, and future. Strategic Organization, 20(4), 797-809 14761270221127628. https://doi.org/10.1177/14761270221127628
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), que considera o acionista como o stakeholder mais importante e que recebe todo o valor criado, especialmente o valor econômico (Freeman & Liedtka, 1997Freeman, E., & Liedtka, J. (1997). Stakeholder capitalism and the value chain. European Management Journal, 15(3), 286-296. https://doi.org/10.1016/S0263-2373(97)00008-X
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). Nesse contexto, a atual perspectiva dos stakeholders surgiu na década de 1980 para responder à necessidade de as organizações preocupadas com questões sociais gerirem as relações com seus stakeholders. Desde as suas discussões seminais, a abordagem dos stakeholders tem argumentado que o sucesso de uma organização depende da sua capacidade de gerir seu relacionamento com os seus stakeholders.

A teoria dos stakeholders tem seu ponto de partida no livro de Freeman, publicado em 1984, que apresentou o mais famoso modelo de estratégia de stakeholders e a mais utilizada definição para o termo, apesar das muitas existentes na literatura (Frooman, 2010Frooman, J. (2010). The issue network: Reshaping the stakeholder model. Canadian Journal of Administrative Sciences, 27(2), 161-173. https://doi.org/10.1002/cjas.150
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; Rabechini et al., 2022Rabechini, R., Jr., Abarca, E. A. M., Salcedo, N. U., Saldaña, C. J. P. H., & Paiva, D. C. (2022). Stakeholder management and project management office: Effect on project results. RAE-Revista de Administração de Empresas, 62(6), 1-25. https://doi.org/10.1590/S0034-759020220606
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). Para Freeman (1984)Freeman, R. E. (1984). Strategic management: A stakeholder approach. Cambridge University Press., stakeholder é qualquer indivíduo ou grupo que pode afetar o alcance das metas organizacionais, ou que é afetado pelo processo de busca dessas metas.

Freeman et al. (2007)Freeman, R. E., Harrison, J. S., & Wicks, A. C. (2007). Managing for stakeholders: Survival, reputation, and success. Yale University Press. dividem os stakeholders em primários e secundários. Segundo os autores, os primários merecem maior atenção da gestão aos seus interesses, sendo representados pelos compradores, fornecedores, acionistas, funcionários e comunidade. Os stakeholders secundários são aqueles que podem influenciar o relacionamento da empresa com os primários. São eles: o governo, a mídia, os concorrentes, as agências de proteção do consumidor e outros grupos de interesse.

Freeman (1984)Freeman, R. E. (1984). Strategic management: A stakeholder approach. Cambridge University Press. afirma que na formulação da direção estratégica das empresas é essencial alinhar as questões sociais e éticas com a visão tradicional, e as mudanças na direção estratégica devem considerar o impacto nos stakeholders, especialmente nos primários. Posteriormente, Evan e Freeman (1988)Evan, W. M., & Freeman, R. E. (1988). A stakeholder theory of the modern corporation: Kantian capitalism. In T. Beauchamp & N. Bowie (Eds.), Ethical Theory and Business (pp. 75-93). Prentice Hall. propõem, como função objetiva das empresas, que o seu real propósito é servir como veículo para coordenar os interesses dos stakeholders. Essa função contribui para a integração da teoria dos stakeholders na estratégia empresarial.

Segundo Freeman (1994)Freeman, R. E. (1994). The politics of stakeholder theory: Some future directions. Business Ethics Quarterly, 4(4), 409-421. https://doi.org/10.2307/3857340
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, a abordagem dos stakeholders articula-se em torno de duas questões principais: A primeira é o propósito, que ajuda os gestores a definir o valor que criam junto aos seus principais stakeholders. Ao fazer isso, os gestores impulsionam a empresa e a levam a alcançar um desempenho excepcional em seu propósito e em termos financeiros. A segunda é a responsabilidade que os gestores têm para com os seus stakeholders. Isto reflete a forma como pretendem fazer negócios, especificamente os tipos de relacionamentos que desejam e precisam criar com os seus stakeholders para cumprir o seu propósito (Freeman et al., 2004Freeman, R. E., Wicks, A. C., & Parmar, B. (2004). Stakeholder theory and “the corporate objective revisited”. Organization Science, 15(3), 364-369. https://doi.org/10.1287/orsc.1040.0066
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).

Nesse sentido, os gestores são responsáveis não apenas pela maximização do valor para o acionista, conforme proposto pela teoria da firma, mas também pelo bem-estar das demais partes afetadas pelas decisões corporativas, o que pode ajudar ou dificultar o alcance dos objetivos da empresa (Phillips et al., 2003Phillips, R., Freeman, R. E., & Wicks, A. C. (2003). What stakeholder theory is not. Business Ethics Quarterly, 13(4), 479-502. https://doi.org/10.5840/beq200313434
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; Sanchez-Lopez & Bejarano, 2022Sanchez-Lopez, J. C., & Bejarano, J. M. G. (2022). Does the market recognize corporate social responsibility? RAE-Revista de Administração de Empresas, 62(2), 1-16. https://doi.org/10.1590/S0034-759020220205x
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). Ou seja, os gestores que atendem aos interesses dos stakeholders ajudam a empresa a obter seu apoio e cooperação, o que pode influenciar no desempenho global da organização (Marhfor et al., 2021Marhfor, A., Bouslah, K., M’Zali, B., & Ghilal, R. (2021). Corporate social responsibility and stock price informativeness: The public interest perspective. Canadian Journal of Administrative Sciences, 38(1), 29-41. https://doi.org/10.1002/cjas.1576
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).

Friedman e Miles (2006)Friedman, A. L., & Miles, S. (2006). Stakeholders: Theory and practice. Oxford University Press. propõem uma definição geral de gestão de stakeholders como essencialmente a gestão dos relacionamentos com esses atores. Para Freeman (1984)Freeman, R. E. (1984). Strategic management: A stakeholder approach. Cambridge University Press., essa gestão pode ser resumida como a capacidade da organização de (1) identificar quem são os stakeholders, seus interesses, objetivos e capacidade de influenciar a organização; (2) compreender os processos que a organização pode utilizar para se relacionar com esse público; e (3) tomar as decisões que melhor alinhem os interesses dos stakeholders com os processos da organização.

Valor para os stakeholders

A criação de valor para múltiplos stakeholders aumenta seu interesse em participar, no ecossistema de negócios da empresa, incrementando o bom desempenho e seu valor global (Tantalo & Priem, 2016Tantalo, C., & Priem, R. L. (2016). Value creation through stakeholder synergy. Strategic Management Journal, 37(2), 314-329. https://doi.org/10.1002/smj.2337
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). A literatura existente apoia esse argumento, uma vez que tem mostrado geralmente uma relação positiva entre a gestão orientada para os stakeholders e o desempenho da empresa (Freeman et al., 2010Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. De. (2010). Stakeholder theory: The state of the art. Cambridge University Press.; Orlitzky et al., 2003Orlitzky, M., Schmidt, F. L., & Rynes, S. L. (2003). Corporate social and financial performance: A meta-analysis. Organization Studies, 24(3), 403-441. https://doi.org/10.1177/0170840603024003910
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). Valor é definido como qualquer coisa que um stakeholder considera importante (Harrison & Wicks, 2013Harrison, J. S., & Wicks, A. C. (2013). Stakeholder theory, value, and firm performance. Business Ethics Quarterly, 23(1) 97-124. https://doi.org/10.5840/beq20132314
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). Para compreender o conceito de valor, utilizamos a ideia de função de utilidade proposta por Harrison et al. (2010)Harrison, J. S., Bosse, D. A., & Phillips, R. A. (2010). Managing for stakeholders, stakeholder utility functions, and competitive advantage. Strategic Management Journal, 31(1), 58-74. https://doi.org/10.1002/smj.801
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, que é definida como as preferências valorizadas por cada stakeholder, que podem ser tangíveis, intangíveis, emocionais ou subjetivas.

Para descobrir os interesses dos stakeholders é necessário considerar os elementos que orientam o que esses atores percebem como valor, ou drivers (Harrison et al., 2010Harrison, J. S., Bosse, D. A., & Phillips, R. A. (2010). Managing for stakeholders, stakeholder utility functions, and competitive advantage. Strategic Management Journal, 31(1), 58-74. https://doi.org/10.1002/smj.801
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; Priem, 2007Priem, R. L. (2007). A consumer perspective on value creation. Academy of Management Review, 32(1), 219-235. https://doi.org/10.5465/amr.2007.23464055
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; Tantalo & Priem, 2016Tantalo, C., & Priem, R. L. (2016). Value creation through stakeholder synergy. Strategic Management Journal, 37(2), 314-329. https://doi.org/10.1002/smj.2337
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). Nesse sentido, Tantalo e Priem (2016)Tantalo, C., & Priem, R. L. (2016). Value creation through stakeholder synergy. Strategic Management Journal, 37(2), 314-329. https://doi.org/10.1002/smj.2337
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listam potenciais drivers de valor dos stakeholders, conforme descrito na Tabela 1.

Tabela 1
Drivers de valor dos grupos de stakeholders

Segundo Harrison e Bosse (2013)Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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, a distribuição de valor pode ser influenciada por duas dimensões: importância estratégica e poder. Ela diz respeito à forma como o valor é alocado em termos tangíveis ou intangíveis, conforme explica McGahan (2023)McGahan, A. M. (2023). The new stakeholder theory on organizational purpose. Strategy Science, 8(2), 245-255. https://doi.org/10.1287/stsc.2023.0184
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. Na próxima subseção, nos concentraremos nessas duas questões.

Importância estratégica e poder

Conforme argumentado anteriormente, a estratégia empresarial preocupa-se particularmente com o desempenho, analisando os diferentes fatores que podem estar associados a seu aprimoramento. Assim, pesquisas indicam que boas práticas de governança estão positivamente associadas a um melhor desempenho corporativo. Em outras palavras, entendemos que a importância estratégica é o potencial contributivo dos stakeholders no aprimoramento da competitividade da empresa (Boaventura et al., 2020Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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).

Uma contribuição importante para a identificação e classificação dos stakeholders tem sido o modelo de saliência (Mitchell et al., 1997Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Wood, D. J. (1997). Toward a theory of stakeholder identification and salience: Defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Review, 22(4), 853-886. https://doi.org/10.2307/259247
https://doi.org/10.2307/259247...
). A saliência pode ser definida como o grau em que os gestores priorizam as demandas concorrentes dos stakeholders (Mitchell et al., 1997Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Wood, D. J. (1997). Toward a theory of stakeholder identification and salience: Defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Review, 22(4), 853-886. https://doi.org/10.2307/259247
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). Nesse estudo, o foco do modelo é a atributo de poder. A definição de poder utilizada pelos autores refere-se à relação entre atores sociais, onde um ator social “A” influencia outro ator social “B” a fazer algo que não faria sem a influência de “A” (Pfeffer, 1981Pfeffer, J. (1981). Power in organizations. Pitman Publishing.). O poder também pode ser categorizado pelo tipo de recurso utilizado para exercê-lo: poder coercitivo, baseado na força ou em ameaças; poder utilitário, baseado em incentivos materiais; e poder normativo, baseado em influências simbólicas (Etzioni et al., 1964Etzioni, A., Marcus, P., Merton, R. K., Reiss, A., Wilson, J. Q., & White, H. (1964). Organizations. Prentice-Hall Publishing Co.). Em outras palavras, entendemos que o poder é a capacidade e a propensão dos stakeholders de impactar negativamente os objetivos de criação de valor de uma empresa (Harrison & Bosse, 2013Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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).

Os stakeholders que detêm poder têm uma forte influência na organização, que pode ser positiva ou negativa, dependendo da necessidade de apoio econômico, recursos (Magee & Galinsky, 2008Magee, J. C., & Galinsky, A. D. (2008). Social hierarchy: The self-reinforcing nature of power and status. The Academy of Management Annals, 2(1), 351-398. https://doi.org/10.1080/19416520802211628
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, Harrison et al., 2010Harrison, J. S., Bosse, D. A., & Phillips, R. A. (2010). Managing for stakeholders, stakeholder utility functions, and competitive advantage. Strategic Management Journal, 31(1), 58-74. https://doi.org/10.1002/smj.801
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; Harrison & Bosse, 2013Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01...
), capacidades e informações (Saffer et al., 2018Saffer, A. J., Yang, A., & Taylor, M. (2018). Reconsidering power in multistakeholder relationship management. Management Communication Quarterly, 32(1), 121-139. https://doi.org/10.1177/0893318917700510
https://doi.org/10.1177/0893318917700510...
). Dessa forma, todos os stakeholders têm o poder de influenciar a empresa (Harrison & Wicks, 2013Harrison, J. S., & Wicks, A. C. (2013). Stakeholder theory, value, and firm performance. Business Ethics Quarterly, 23(1) 97-124. https://doi.org/10.5840/beq20132314
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; Phillips et al., 2010Phillips, R. A., Berman, S. L., Elms, H., & Johnson-Cramer, M. E. (2010). Strategy, stakeholders and managerial discretion. Strategic Organization, 8(2), 176-183. https://doi.org/10.1177/1476127010365721
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), observadas as devidas proporções.

Desenvolvimento de hipóteses

Os stakeholders desempenham um papel na criação de valor para a organização (Freeman, 1984Freeman, R. E. (1984). Strategic management: A stakeholder approach. Cambridge University Press.). Assim, os gestores passam a considerar os interesses dos stakeholders que podem fazer contribuições valiosas para a empresa (Góes et al., 2023Góes, A., Fatima, G., Jhunior, O. S., & Boaventura, J. M. G. (2023). Managing for stakeholders towards corporate environmental sustainability. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, 30(4), 1561-1572. https://doi.org/10.1002/csr.2448
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; Harrison et al., 2010Harrison, J. S., Bosse, D. A., & Phillips, R. A. (2010). Managing for stakeholders, stakeholder utility functions, and competitive advantage. Strategic Management Journal, 31(1), 58-74. https://doi.org/10.1002/smj.801
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). Dependendo do seu poder e importância estratégica, os stakeholders podem criar valor para a empresa à qual estão associados (Freeman et al., 2010Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. De. (2010). Stakeholder theory: The state of the art. Cambridge University Press.). Quanto maior for a sua importância estratégica, maior será a sua capacidade de criar valor para a organização e, consequentemente, maior será o seu desempenho e vantagem competitiva (Freeman et al., 2010Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. De. (2010). Stakeholder theory: The state of the art. Cambridge University Press.). O poder influencia a criação de valor e determina quais stakeholders devem ser priorizados (Harrison & Bosse, 2013Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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; Harrison et al., 2010Harrison, J. S., Bosse, D. A., & Phillips, R. A. (2010). Managing for stakeholders, stakeholder utility functions, and competitive advantage. Strategic Management Journal, 31(1), 58-74. https://doi.org/10.1002/smj.801
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) por meio da distribuição de valor entre eles (Harrison et al., 2010Harrison, J. S., Bosse, D. A., & Phillips, R. A. (2010). Managing for stakeholders, stakeholder utility functions, and competitive advantage. Strategic Management Journal, 31(1), 58-74. https://doi.org/10.1002/smj.801
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).

Quando um stakeholder tem elevado poder, ou seja, uma maior capacidade de prejudicar a empresa, e elevada importância estratégica, lhe é distribuído elevado valor, pois, o valor a ser criado por esse tipo de stakeholders pode mitigar um maior custo de alocação de valor (Boaventura et al., 2020Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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; Harrison & Bosse, 2013Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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). Contudo, a literatura afirma que o custo de alocação de valor aos stakeholders não pode ser tão elevado a ponto de não ser compensado pelos benefícios gerados (Harrison & Bosse, 2013Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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). Portanto, para compreender o ponto ótimo de distribuição de valor para um stakeholder, Harrison e Bosse (2013)Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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determinaram dois fatores: poder e importância estratégica.

Com base no problema de pesquisa apresentado, as seguintes hipóteses servem como norteadoras para o percurso empírico deste estudo:

  • H1: O poder e a importância estratégica são fatores relevantes na decisão de distribuir valor aos stakeholders.

A distribuição de valor entre vários stakeholders pode enfrentar restrições devido à disponibilidade limitada (Harrison et al., 2010Harrison, J. S., Bosse, D. A., & Phillips, R. A. (2010). Managing for stakeholders, stakeholder utility functions, and competitive advantage. Strategic Management Journal, 31(1), 58-74. https://doi.org/10.1002/smj.801
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; Harrison & Bosse, 2013Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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). Portanto, é crucial identificar o principal fator que influencia essa distribuição.

A distribuição baseada no poder pode ser positiva ou negativa, como recompensas ou punições, com influência social positiva ou negativa (Mitchell et al., 1997Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Wood, D. J. (1997). Toward a theory of stakeholder identification and salience: Defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Review, 22(4), 853-886. https://doi.org/10.2307/259247
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), o que pode resultar em perdas para outros stakeholders (Boaventura et al., 2020Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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). Além disso, o poder não é fixo e pode mudar ao longo do tempo; pode ser adquirido ou perdido (Mitchell et al., 1997Mitchell, R. K., Agle, B. R., & Wood, D. J. (1997). Toward a theory of stakeholder identification and salience: Defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Review, 22(4), 853-886. https://doi.org/10.2307/259247
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) como resultado do status dos stakeholders e dos recursos disponíveis (Kern & Gospel, 2023Kern, P., & Gospel, H. (2023). The effects of strategy and institutions on value creation and appropriation in firms: A longitudinal study of three telecom companies. Strategic Management Journal, 44(1), 343-366. https://doi.org/10.1002/smj.3129
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; Saffer et al., 2018Saffer, A. J., Yang, A., & Taylor, M. (2018). Reconsidering power in multistakeholder relationship management. Management Communication Quarterly, 32(1), 121-139. https://doi.org/10.1177/0893318917700510
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).

Por outro lado, segundo Harrison e Bosse (2013)Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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, os stakeholders com maior importância estratégica caracterizam-se como contribuintes diretos para a competitividade da empresa. À medida que sua contribuição e importância para a organização se tornam mais evidentes, eles tendem a se envolver mais no processo de criação de valor da empresa (Tantalo & Priem, 2016Tantalo, C., & Priem, R. L. (2016). Value creation through stakeholder synergy. Strategic Management Journal, 37(2), 314-329. https://doi.org/10.1002/smj.2337
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). Portanto, de acordo com a literatura anterior, deveriam ter acesso a uma parcela mais significativa da distribuição de valor em comparação com stakeholders com maior poder (Boaventura et al., 2020Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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).

Com base nessa relação, construímos nossa segunda hipótese:

  • H2: A importância estratégica tem maior influência do que o poder na decisão da empresa em distribuir valor aos seus principais stakeholders.

MÉTODO

O estudo examina a distribuição de valor para diferentes stakeholders em empresas de capital aberto do Canadá. Com uma variedade de empresas levantando capital através da bolsa de valores ou dos mercados de private equity, o país é um ambiente institucional atraente para a análise realizada aqui. O Canadá proporciona um ambiente interessante, uma vez que é uma das dez maiores economias do mundo (World Bank, 2022World Bank. (2022). Gross domestic product ranking. Data catalog. https://datacatalog.worldbank.org/dataset/gdp-ranking
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) e ocupa a 23ª posição no ranking dos melhores países para fazer negócios, com destaque para a facilidade de execução de contratos (World Bank, 2020World Bank. (2020). Doing business 2020: Training for reform. Washington, DC. https://archive.doingbusiness.org/pt/reports/global-reports/doing-business-2020
https://archive.doingbusiness.org/pt/rep...
).

Amostra

Um dos eventos mais importantes para uma empresa é a decisão de abrir o capital, ou seja, ir ao mercado de capitais com o objetivo de captar recursos (Ritter, 1998Ritter, J. R. (1998). Initial public offerings. Contemporary Finance Digest, 2(1), 5-30.). Uma das maneiras pelas quais uma empresa pode abrir o capital é através de uma IPO, que é a primeira vez que uma ação de uma empresa é vendida ao público com a expectativa de criar um mercado secundário líquido após sua emissão (Ritter, 1998Ritter, J. R. (1998). Initial public offerings. Contemporary Finance Digest, 2(1), 5-30.).

Para abrir o capital no Canadá, uma empresa deve atender a determinados critérios definidos pelo órgão regulador da TSX, a Ontario Securities Commission (OSC). Um desses critérios é a publicação do prospecto da oferta pública inicial. O prospecto é um documento obrigatório no qual a empresa divulga informações essenciais para a tomada de decisão dos investidores.

A OSC usa o Instrumento Nacional 41-101 Requisitos Gerais do Prospecto e Emendas Relacionadas (NI 41-101) versão 2008 para instruir as empresas sobre o conteúdo do prospecto. Ele deve conter detalhes sobre a distribuição de ações, informações financeiras da empresa e quaisquer questões jurídicas relacionadas à oferta. Também traça a estratégia futura da empresa, ou seja, como serão utilizados os recursos captados por meio da IPO.

A Ontario Securities Act (OSA), que é a legislação regulamentadora, estabelece requisitos específicos para a forma e o conteúdo dos prospectos sob a sua jurisdição e exige que um prospecto contenha informações completas, precisas e simples sobre todos os fatos relacionados com a oferta e seja acompanhado de relatórios financeiros e administrativos. Atendendo aos requisitos legais de informação e à intenção da empresa em atrair investidores, o prospecto constitui um documento confiável e rico em informação sobre sua estratégia. Além disso, a credibilidade da OSC na proteção dos interesses dos investidores e da comunidade é fator relevante na garantia a confiabilidade dos dados a serem analisados nos prospectos estudados pela pesquisa.

A amostra consiste em prospectos de empresas públicas que abriram capital na TSX. Fundada em 1852 na província de Ontário, Canadá, a TSX é atualmente a nona maior bolsa de valores do mundo (The World Federation of Exchanges [WFE], 2020The World Federation of Exchanges. (2020). 2019 Annual Statistics Guide. The World Federation of Exchanges. Retrieved from https://www.world-exchanges.org/our-work/articles/2019-annual-statistics-guide
https://www.world-exchanges.org/our-work...
) com uma capitalização de mercado de CND 3,256 trilhões (USD 2,409 trilhões) e mais de duas mil empresas listadas (TSX, 2019Toronto Stock Exchange. (2019). Toronto Stock Exchange: Investor brochure. https://www.tmx.com/investor-relations/corporate-information/investor-brochure
https://www.tmx.com/investor-relations/c...
).

Para obter as informações necessárias, extraímos do site da TSX uma tabela de empresas listadas no intervalo entre março de 1993 e dezembro de 2019. A lista refere-se ao processo pelo qual as ações da empresa são oficialmente negociadas em bolsas de valores. Esta tabela possui 1.572 registros de empresas e abrange outros tipos de listagem (IPOs e não IPOs) no período, e contém as seguintes informações: nome da empresa, data de listagem, setor e subsetor de atuação da empresa, tipo de listagem, preço de ações ofertadas, número de ações ofertadas e localização da empresa.

Para coletar os dados incluídos na amostra, filtramos as listagens pela IPO entre os anos de 2008 e 2019. Esse período foi selecionado devido a mudança na legislação que regulamenta os prospectos ocorrida em 2008, que impactou na análise das informações e dos dados. Optou-se pelo ano limite de 2019 para não influenciar a amostra com os impactos da pandemia da Covid-19, ocorrida no início de 2020, que afetou os negócios, a bolsa de valores e a publicação de prospectos. Após observação cuidadosa, percebemos que no cenário pandêmico os prospectos emitidos focaram no enfrentamento da crise global. Isso poderia distorcer o estudo ao fazer comparações ao longo dos anos.

Fundos de investimento privado (CEF), fundos de índice (ETF) e empresas de aquisição de propósito específico (SPAC) foram excluídos da amostra por representarem atividades e produtos de empresas que atuam no setor de serviços financeiros, o que poderia levar a um viés amostral. Nesse contexto, o número total de empresas que cumpriram os requisitos do estudo foi de 104 empresas em 11 setores da economia canadense, demonstradas nas Tabelas 2 e 3.

Tabela 2
Distribuição por setor
Tabela 3
Distribuição por ano

Os 104 prospectos utilizados como fonte de dados foram obtidos no System for Electronic Document Analysis and Retrieval (SEDAR), sistema utilizado como base para publicação de documentos de bolsas de valores sob jurisdição da OSC.

Coleta de dados

Para análise dos dados coletados nos 104 prospectos, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo. Segundo Bardin (2015)Bardin, L. (2015). Análise de conteúdo. Edições 70., a análise de conteúdo pode ser quantitativa, que se baseia na frequência das unidades de registro com aplicação de técnicas estatísticas, ou qualitativa, que foca nas implicações decorrentes da presença ou ausência das unidades de registro em locais específicos da mensagem (Bardin, 2015Bardin, L. (2015). Análise de conteúdo. Edições 70.). Foi realizada análise de conteúdo quantitativa por meio do software NVivo 12. As variáveis dependentes e independentes utilizadas neste estudo foram coletadas dos prospectos da IPO. Este método foi validado no trabalho anterior desenvolvido por Boaventura et al. (2020)Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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, que utilizaram a mesma técnica para analisar IPOs brasileiras. Essa técnica foi revalidada e foram executadas modificações e inclusões necessárias, conforme descrito mais adiante.

Análise de prospectos

Os relatórios comerciais são geralmente bastante extensos e contêm uma grande variedade de informações; portanto, é necessário definir as seções mais relevantes para o escopo da pesquisa. Por exemplo, o prospecto é um documento que pode atingir mais de 500 páginas e possuir várias seções; algumas focam apenas em questões jurídicas, enquanto outras se referem apenas aos bancos participantes da oferta. Portanto, seções contendo informações legais, demonstrações de resultados e detalhes da oferta, entre outros, não são interessantes para uma análise de priorização, pois não fornecem informações sobre os stakeholders. Além disso, essas seções, se incluídas na análise de conteúdo, podem enviesar a pesquisa devido ao seu conteúdo jurídico e de acionistas/investidores.

Embora o formato do prospecto não seja estritamente padronizado, a TSX exige uma lista de informações que devem ser incluídas e destacadas nesses documentos. Portanto, para efeitos desta pesquisa, foram incluídas apenas as seções do prospecto que continham informações sobre a estratégia da empresa considerada relevante para a identificação de prioridades. Para validar a seleção das seções utilizadas na coleta de dados, os prospectos foram primeiramente lidos por completo e escolhidas as seções que continham as informações necessárias sobre as empresas. Uma vez selecionadas, essas seções foram apresentadas a especialistas acadêmicos que validaram as escolhas. Por fim, foi feita uma comparação com o estudo de Boaventura et al. (2020)Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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, que confirmaram que os trechos selecionados eram semelhantes aos analisados anteriormente.

As seções consideradas contêm informações sobre a atividade da empresa, o seu mercado, indicações de estratégia futura e riscos relativos à empresa e ao mercado, nomeadamente: (1) Resumo da Oferta - um resumo da empresa e da sua estratégia, localizado no início do prospecto; (2) Discussão e Análise dos Resultados Financeiros e Operacionais pela Administração; (3) Fatores de Risco - riscos levantados pela empresa em relação aos seus negócios e à oferta de ações; (4) Análise Setorial - dados sobre o mercado em que a empresa atua; (5) e Negócios - dados mais detalhados sobre a operação da empresa.

Definição de palavras-chave

As palavras-chave utilizadas na análise de conteúdo foram aquelas relacionadas ao “ambiente de negócios”. Com base na análise das seções dos prospectos, a Tabela 4 apresenta os sinônimos definidos para os stakeholders dos diversos setores da economia canadense (em inglês).

Tabela 4
Sinônimos para os principais stakeholders (em inglês)

O modelo proposto por Boaventura et al. (2020)Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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foi adotado, conforme observado na Tabela 5. A Tabela inclui as funções de utilidade para cada stakeholder e apresenta uma lista de palavras com sinônimos que expressam esses valores para eles, tanto tangíveis quanto intangíveis (em inglês).

Tabela 5
Função de utilidade dos stakeholders e palavras usadas para medir valor

Atribuição de variáveis

Variável dependente

A pesquisa seguiu cinco etapas para mensurar a distribuição de valor aos stakeholders (nossa variável dependente). Primeiro, as seções do prospecto utilizadas para analisar o valor distribuído aos stakeholders foram: “Resumo”, “Discussão e Análise Gerencial”, “Negócios” e “Indústria”. Estas seções são relevantes para interpretar o valor entregue aos stakeholders. Elas incluem as estratégias da empresa, uma análise do negócio pelos gestores da organização, uma descrição das principais atividades e uma visão geral do setor de atuação da empresa.

Em segundo lugar, foi definida como unidade de valor a combinação de citações de stakeholders e citações de sinônimos que representam valor tangível e intangível para eles, e que ocorrerem no mesmo parágrafo. Para que uma palavra-chave seja associada a um stakeholder, ambos devem ser analisados na mesma unidade de contexto, conforme definido por Bardin (2015)Bardin, L. (2015). Análise de conteúdo. Edições 70.. A unidade de contexto considerada foi o parágrafo, uma vez que um parágrafo geralmente aborda apenas um stakeholder. Para analisar as palavras identificadas e atribuir a presença de distribuição de valor a um stakeholder, a contagem de palavras por si só não seria suficiente. Por esse motivo, foi comparado o número de parágrafos na intersecção “stakeholder” versus “distribuição de valor” com o número total de parágrafos identificados para o stakeholder. A coleta de dados por meio de análise de conteúdo da variável dependente foi escolhida por ter sido previamente testada e validada por Boaventura et al. (2020)Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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.

Em terceiro lugar, utilizando o software Nvivo 12, foi contabilizada a frequência com que a combinação de stakeholders e valor para eles estava presente no mesmo parágrafo das quatro seções de interesse. Em quarto lugar, essa contagem foi dividida pelo número de páginas das seções utilizadas e, finalmente, os resultados foram balanceados em uma escala de 0 a 1, considerando o maior resultado obtido como referência 1.

Variáveis independentes

O presente estudo utilizou duas variáveis independentes: poder dos stakeholders e importância estratégica. A mensuração das variáveis segue cinco etapas. Primeiramente, foi analisada a seção “Fatores de Risco” para mensurar a variável independente “poder”. Nessa seção, a empresa discute as principais ameaças ao seu negócio e aponta quais stakeholders podem afetar negativamente o desempenho da organização. Essa escolha vai ao encontro dos autores Harrison e Bosse (2013)Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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, que definem poder como a capacidade ou propensão de um stakeholder em afetar negativamente as atividades da empresa.

Em segundo, o número de citações do stakeholder na seção “Fatores de Risco” foi definido como sua unidade de poder. Em terceiro, utilizando o software Nvivo12, foi contabilizada a frequência com que cada stakeholder foi mencionado na seção de interesse. Em quarto lugar, esse resultado foi então dividido pelo número de páginas de cada seção analisada. Em quinto e último, para serem utilizados no mesmo modelo estatístico que as demais variáveis, os resultados foram balanceados em uma escala de 0 a 1, que são os insumos para o modelo final.

O procedimento anterior também foi aplicado para a segunda variável independente, alterando a seção observada. Assim, o primeiro passo foi mensurar a variável independente “Importância Estratégica” analisando a seção “Negócios”, que contém informações sobre as atividades essenciais da organização, suas vantagens competitivas e seu relacionamento com os stakeholders. Segundo Harrison e Bosse (2013)Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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, a capacidade de um stakeholder contribuir para a competitividade da organização reflete a sua importância estratégica para ela.

No passo seguinte, o número de citações de determinado stakeholder na seção “Negócios” foi definido como unidade de importância estratégica. Em terceiro, utilizando o software Nvivo12, foi contabilizada a frequência com que cada stakeholder foi mencionado na seção de interesse. Em quarto, esse resultado foi então dividido pelo número de páginas de cada seção analisada. Finalmente, na quinta etapa, para serem utilizados no mesmo modelo estatístico das demais variáveis, os resultados foram balanceados em uma escala de 0 a 1, que é a entrada do modelo final. A coleta de dados por meio de análise de conteúdo de variáveis independentes foi escolhida pois já havia sido testada e validada por Boaventura et al. (2020)Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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.

Control variables

Variáveis de controle

O ano de publicação da IPO do prospecto foi definido como variável de controle, pois as condições de mercado podem mudar dependendo do ano em que a empresa abriu o capital. Isso pode afetar a distribuição de valor para os stakeholders. Para tanto, foram incluídos no modelo os anos de 2008 a 2019 como variáveis dummy.

O setor da empresa também foi definido como variável de controle, já que sua área de atuação pode afetar a distribuição de valor, uma vez que cada setor possui características que os gestores precisam considerar na hora de alocar recursos aos stakeholders (Baird et al., 2012Baird, P. L., Geylani, P. C., & Roberts, J. A. (2012). Corporate social and financial performance re-examined: Industry effects in a linear mixed model analysis. Journal of Business Ethics, 109(3), 367-388. https://doi.org/10.1007/s10551-011-1135-z
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). Uma empresa de serviços, por exemplo, pode distribuir mais valor aos clientes, enquanto uma empresa de manufatura pode focar mais nos fornecedores (Boaventura et al., 2020Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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). Para tanto, 11 setores derivados dos dados do TSX foram incluídos no modelo como variáveis dummy, abrangendo todas as empresas incluídas nesta análise.

Análise dos dados

Equações de teste de hipóteses

Após a coleta e processamento dos dados, foram obtidas pontuações nas estratégias de stakeholders propostas pelas empresas, utilizadas para medir a priorização desses atores. Além disso, utilizou-se a regressão de mínimos quadrados ordinários para testar as hipóteses da pesquisa.

As premissas do método são a homoscedasticidade dos resíduos da regressão e a ausência de multicolinearidade das variáveis. Para satisfazer essas duas premissas, os estudos foram realizados nos modelos do teste de Breusch-Pagan para ausência de heterocedasticidade e o teste VIF (Fatores de Inflação da Variância) para presença de multicolinearidade. O teste de Breusch-Pagan indicou presença de heterocedasticidade nos dados; entretanto, segundo Wooldridge (2015)Wooldridge, J.M. (2015). Introductory econometrics: A modern approach. Cengage, a heterocedasticidade é comum em análises econométricas e requer apenas ajuste dos erros. Assim, foi aplicado aos modelos o erro padrão robusto presente no software Gretl. Para o teste VIF, o resultado da pontuação média foi inferior a 10, indicando que não há problema de multicolinearidade (Hair et al., 2006Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2006). Multivariate data analysis. New Jersey: Pearson International Edition.).

Três equações foram utilizadas no teste de hipótese. A primeira utiliza apenas o “Poder” como variável independente, a segunda utiliza apenas a “Importância Estratégica” como variável independente, e a terceira considera ambas as variáveis na mesma equação, conforme modelos abaixo:

(1) Valor = β 0 + β 1 Poder + setor + ano
(2) Valor = β 0 + β 2 Importância + setor + ano
(3) Valor = β 0 + β Poder + β 2 Importância + setor + ano

Onde:

Valor = Valor distribuído ao stakeholder

Poder = Poder do stakeholder

Importância = Importância Estratégica do stakeholder

β0 = Coeficiente do modelo linear

βi = Inclinação do modelo linear

Setor = Variável dummy do setor produtivo da empresa

Ano = Variável dummy do ano da IPO na TSX

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Correlações e estatísticas descritivas

A Tabela 6 apresenta as correlações e estatísticas descritivas das variáveis utilizadas nos testes das hipóteses do estudo. Para evitar um modelo de correlação com excesso de zeros (Lambert, 1992Lambert, D. (1992). Zero-inflated Poisson regression, with an application to defects in manufacturing. Technometrics, 34(1), 1-14. https://doi.org/10.2307/1269547
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), foram retiradas dos resultados as observações que apresentavam “0” na variável dependente e nas independentes, resultando em um modelo com 500 observações, sendo o modelo igualmente relevante para o estudo com ambas as variáveis independentes apresentando correlação positiva e significativa. A variável “Importância Estratégica” possui correlação de aproximadamente 0,670; esse valor é superior à correlação de 0,498 apresentada pela variável “Poder”.

Tabela 6
Correlação entre variáveis

Para investigar a relação entre poder, importância estratégica e distribuição de valor, assume-se que as decisões de distribuição de valor não são tomadas isoladamente para cada stakeholder. Portanto, as observações de todos os stakeholders foram consideradas em conjunto, uma vez que o valor distribuído a um stakeholder pode influenciar o valor disponível para outros. Contudo, é importante verificar como as empresas se relacionam com cada grupo de stakeholders individualmente.

A Tabela 7 apresenta os resultados das variáveis dependentes e independentes, com a pontuação média de cada ator na quarta coluna. Por serem variáveis binárias, as de controle “setor” e “ano” não foram consideradas nesta observação.

Tabela 7
Estatísticas descritivas por stakeholder

De acordo com a Tabela 4, o stakeholder com maior valor médio distribuído são os Clientes (0,241), seguido em ordem decrescente por Funcionários (0,212), Comunidade (0,152), Acionistas (0,121) e Fornecedores (0,086). Para a variável “Poder”, o stakeholder com maior média é o Funcionário (0,357), seguido em ordem decrescente por Acionistas (0,271), Clientes (0,223), Comunidade (0,159) e Fornecedores (0,158). Além disso, para a variável “Importância Estratégica”, o stakeholder com maior média é também o Funcionário (0,236), seguido em ordem decrescente pelos Clientes (0,187), Acionistas (0,153), Comunidade (0,121) e Fornecedores (0,034).

Os valores do desvio padrão variam de 0,237 a 0,127 para Valor, de 0,223 a 0,157 para Poder e de 0,208 a 0,101 para Importância Estratégica. A amplitude do desvio padrão é maior para a variável “Valor”, seguida da “Importância Estratégica”, sendo que a variável “Poder” apresenta a menor distância entre o maior e o menor valor do desvio padrão.

Regressão

A Tabela 8 apresenta os resultados das regressões de mínimos quadrados. Dos quatro modelos utilizados para regressão linear, três são equações apresentadas anteriormente, e o erro padrão robusto foi aplicado a todos os modelos para corrigir a heterocedasticidade. Nos modelos foram utilizadas variáveis dummy de controle para o ano e setor das empresas, tendo “Ano_2019” como valor base e “Serviços públicos e tubulações” como setor. Os quatro modelos foram utilizados para avaliar a influência do poder e da importância estratégica na distribuição de valor aos stakeholders.

Tabela 8
Resultado das regressões

No modelo 1, a regressão foi executada apenas com as variáveis de controle. Nele, nenhum setor econômico teve um impacto significativo; alguns anos tiveram valor-p inferior a 0,1, como o ano de 2009 que não foi estatisticamente significativo. Neste modelo o R2 foi de apenas 4,5%, mostrando que ele traz uma representação fraca da realidade dos dados.

No modelo 2, a regressão utilizou apenas a variável independente “Poder” e as variáveis de controle. Neste modelo, a variável independente “Poder” apresentou coeficiente positivo de 0,465, com valor-p inferior a 0,01 e R2 de 30,3%, indicando melhor ajuste com a realidade.

No modelo 3, a regressão utilizou apenas a variável independente “Importância Estratégica” e as variáveis de controle. Neste modelo, a variável independente “Importância Estratégica” apresentou coeficiente positivo de 0,65, com valor-p inferior a 0,01 e R2 de 49,5%, indicando bom ajuste com a realidade.

No modelo 4, a regressão utilizou todas as variáveis independentes e de controle. Nele, a variável independente “Poder” apresentou coeficiente positivo de 0,221 e a variável “Importância Estratégica” apresentou coeficiente positivo de 0,538, ambas com valor-p inferior a 0,01. Este modelo final apresentou um R2 de 54,1%, indicando um bom ajuste com a realidade.

Regressão por grupo de stakeholders

A Tabela 9 mostra os resultados da regressão de mínimos quadrados ordinários separadamente para cada grupo de stakeholders. O modelo 4 serviu de base para a obtenção desses resultados. Todos foram realizados com erros padrão robustos para correção de heterocedasticidade e teste VIF com valor inferior a 10, indicando ausência de multicolinearidade.

Tabela 9
Resultado da regressão para cada grupo de stakeholders

A regressão realizada separadamente para cada grupo de stakeholders produziu resultados consistentes quando comparados aos encontrados no modelo 4. As duas variáveis independentes “Poder” e “Importância Estratégica” obtiveram valor-p inferior a 0,1 em quatro dos cinco principais grupos de stakeholders. Os grupos Clientes, Comunidade e Funcionários apresentaram coeficientes significativos com um valor-p de 0,1, e os coeficientes para “Importância Estratégica” foram positivamente mais elevados do que os coeficientes para “Poder”. Valores elevados de R2 foram encontrados nestes três grupos de stakeholders: Clientes com 83,6%, Comunidade com 59,8% e Funcionários com 61,7%. Para o grupo Acionistas, “Poder” não foi a variável estatisticamente significativa e “Importância Estratégica” foi significativa com valor-p de 0,01. O grupo Fornecedores foi o único onde o coeficiente da variável “Poder” foi positivamente superior ao da variável “Importância Estratégica”, porém, a variável “Poder” foi a única variável significativa com valor-p de 0,01.

Teste das hipóteses

Os dados obtidos na análise corroboram a hipótese 1. Nos modelos de regressão 2 e 3, realizados separadamente com as variáveis independentes “Poder” e “Importância Estratégica”, ambas apresentaram correlação positiva com a variável dependente “Valor” e significância com um valor-p de 0,01. No modelo 4, as variáveis independentes explicam o comportamento da variável dependente “Valor”, e os resultados mostram correlação positiva com significância, com valor-p de 0,01 e valor de R2 elevado para as variáveis, indicando o ajuste da regressão para os dados reais. Portanto, as evidências obtidas na investigação empírica deste estudo confirmam a hipótese H1 de que o poder e a importância estratégica são fatores relevantes na decisão de distribuição de valor aos stakeholders.

Os dados encontrados nesta pesquisa também corroboram a hipótese H2. Comparando os modelos 2 e 3, o modelo 3, com a variável independente “Importância Estratégica”, apresentou maior coeficiente angular (0,65), contrastado ao coeficiente da variável “Poder” (0,465) no modelo 2. Além disso, o modelo 3, com a variável “Importância Estratégica”, também apresentou R2 (49,5%) superior ao R2 presente no modelo 2 (30,3%) com a variável “Poder”. Por fim, no modelo 4, que conta com a presença de duas variáveis independentes, os coeficientes das variáveis “Importância Estratégica” (0,537) e “Poder” (0,221) indicam uma influência mais significativa da primeira sobre a variável dependente “Valor”. Portanto, as evidências obtidas na investigação empírica confirmam a hipótese H2 de que a importância estratégica tem maior influência do que o poder na decisão da empresa em distribuir valor aos seus principais grupos de stakeholders.

DISCUSSÃO

A evolução da teoria dos stakeholders deu destaque a diversas questões para a gestão empresarial: como identificar e classificar os stakeholders (Freeman et al., 2007Freeman, R. E., Harrison, J. S., & Wicks, A. C. (2007). Managing for stakeholders: Survival, reputation, and success. Yale University Press.), como analisar os seus interesses (Freeman et al., 2004Freeman, R. E., Wicks, A. C., & Parmar, B. (2004). Stakeholder theory and “the corporate objective revisited”. Organization Science, 15(3), 364-369. https://doi.org/10.1287/orsc.1040.0066
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), quais stakeholders as empresas devem priorizar (Mitchel et al., 1997), quais são as estratégias para lidar com os stakeholders (Harrisson & Bosse, 2013), como questões relacionadas a justiça, reciprocidade e valores motivam a cooperação entre os stakeholders (Bridoux & Vishwanathan, 2020Bridoux, F. M., & Vishwanathan, P. (2020). When do powerful stakeholders give managers the latitude to balance all stakeholders’ interests?. Business & Society, 59(2), 232-262. https://doi.org/10.1177/0007650318775077
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; Lange et al., 2022Lange, D., Bundy, J., & Park, E. (2022). The social nature of stakeholder utility. Academy of Management Review, 47(1), 9-30.https://doi.org/10.5465/amr.2018.0456
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), como a gestão dos stakeholders se relaciona com a sustentabilidade ambiental (Góes et al., 2023Góes, A., Fatima, G., Jhunior, O. S., & Boaventura, J. M. G. (2023). Managing for stakeholders towards corporate environmental sustainability. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, 30(4), 1561-1572. https://doi.org/10.1002/csr.2448
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), entre outros temas.

Dentre as questões que precisam ser desenvolvidas na teoria dos stakeholders, buscamos avançar no conhecimento sobre a associação entre poder e importância estratégica e sua relação com a distribuição de valor aos stakeholders. De acordo com Freeman et al. (2010)Freeman, R. E., Harrison, J. S., Wicks, A. C., Parmar, B. L., & Colle, S. De. (2010). Stakeholder theory: The state of the art. Cambridge University Press., os stakeholders, em termos do seu poder e importância estratégica, podem criar valor para a empresa a que estão associados, e, quanto maior for a sua importância estratégica, maior será a sua capacidade de criar valor. Esse argumento tornou-se a base inicial para o desenvolvimento dessa pesquisa. Ao destacar a relação entre poder e importância estratégica na decisão de distribuir valor aos stakeholders em empresas listadas na TSX, os resultados obtidos aqui corroboram a visão de Harrison e Bosse (2013)Harrison, J. S., & Bosse, D. A. (2013). How much is too much? The limits to generous treatment of stakeholders. Business Horizons, 56(3), 313-322. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2013.01.014
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de que a distribuição de valor aos stakeholders é impulsionada principalmente pelo poder e importância estratégica deles.

No Canadá, que se caracteriza como uma economia de mercado liberal, as empresas coordenam as suas ações através de arranjos de mercado competitivos e o mecanismo de distribuição baseia-se principalmente na oferta e na procura do mercado (Fainshmidt et al., 2018Fainshmidt, S., Judge, W. Q., Aguilera, R. V., & Smith, A. (2018). Varieties of institutional systems: A contextual taxonomy of understudied countries. Journal of World Business, 53(3), 307-322. https://doi.org/10.1016/j.jwb.2016.05.003
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; Hall & Soskice, 2001Hall, P. A, & Soskice, D. (Eds.). (2001). Varieties of Capitalism: The institutional foundations of comparative advantage. Oxford University Press.). Isso difere de outros cenários estudados anteriormente, como o do Brasil, onde famílias e grupos ricos e dominantes são os agentes ordenadores centrais da vida econômica e estão no centro da propriedade, alocação de recursos e gestão (Fainshmidt et al., 2018Fainshmidt, S., Judge, W. Q., Aguilera, R. V., & Smith, A. (2018). Varieties of institutional systems: A contextual taxonomy of understudied countries. Journal of World Business, 53(3), 307-322. https://doi.org/10.1016/j.jwb.2016.05.003
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).

Com base nos resultados, pode-se argumentar que, no contexto institucional canadense, a importância estratégica é mais relevante do que o poder na distribuição de valor aos stakeholders, em linha com a abordagem contemporânea de “gestão de stakeholders” (Harrison et al., 2022Harrison, J. S., Wicks, A. C., & Palmié, M. (2022). Stakeholders are human: The micro-foundations of stakeholder theory and an application to the value distribution problem. In Humanizing Business (pp. 529-558). Springer.). Nesse contexto, um exemplo pode ser destacado. Na Jamieson Wellness, uma empresa canadense líder no setor de bens de consumo, a capacidade de inovar é reconhecida como uma vantagem competitiva no atendimento à demanda dos clientes por novos produtos, dando a este grupo de stakeholders o poder sobre as receitas da empresa, consistente com a nossa primeira hipótese. A empresa também presta mais atenção à importância estratégica do que ao poder dos seus varejistas. Descobriu-se que eles se concentram mais em relações mutuamente benéficas e de longo prazo com os seus varejistas do que no seu poder sobre a distribuição logística, criando valor para este grupo, o que também é consistente com a nossa segunda hipótese.

Observa-se então um alinhamento com estudos recentes que examinam questões relacionadas ao poder em diferentes contextos institucionais, tal como a pesquisa de Kern e Gospel (2023)Kern, P., & Gospel, H. (2023). The effects of strategy and institutions on value creation and appropriation in firms: A longitudinal study of three telecom companies. Strategic Management Journal, 44(1), 343-366. https://doi.org/10.1002/smj.3129
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de exemplos da Inglaterra, Alemanha e Itália, e também a análise de Ye et al. (2021)Ye, P., O’Brien, J., Carnes, C. M., & Hasan, I. (2021). The influence of bondholder concentration and temporal orientation on investments in R&D. Journal of Management, 47(3), 683-715. https://doi.org/10.1177/0149206320902531
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de investidores dos mercados dos EUA e da Europa Ocidental. Além disso, os achados do presente estudo apoiam os argumentos de Boaventura et al. (2020)Boaventura, J. M. G., Bosse, D. A., Mascena, K. M. C. de, & Sarturi, G. (2020). Value distribution to stakeholders: The influence of stakeholder power and strategic importance in public firms. Long Range Planning, 53(2), 101883. https://doi.org/10.1016/j.lrp.2019.05.003
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, que observaram fatores de poder e importância estratégica na distribuição de valor aos stakeholders no Brasil, um mercado emergente com características institucionais diferentes das do Canadá. Nesse sentido, nosso estudo apoia a importância estratégica como principal critério para distribuição de valor, contrariando a literatura dominante que prioriza o poder de barganha, como Parent e Deephouse (2007)Parent, M. M., & Deephouse, D. L. (2007). A case study of stakeholder identification and prioritization by managers. Journal of Business Ethics, 75(1), 1-23. e Neville et al. (2011)Neville, B. A., Bell, S. J., & Whitwell, G. J. (2011). Stakeholder salience revisited: Refining, redefining, and refueling an underdeveloped conceptual tool. Journal of Business Ethics, 102(3), 357-378. https://doi.org/10.1007/s10551-011-0818-9
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.

Com este resultado, é possível concluir que, embora as bolsas de valores estejam localizadas em mercados e sistemas institucionais diferentes, parece haver uma tendência, pelo menos no ocidente global, para uma maior valorização dos fatores estratégicos na distribuição de valor para os stakeholders por empresas de capital aberto. Mais pesquisas em outras economias e contextos institucionais serão necessárias para confirmar essa tendência ou também para compreender o cenário em países do oriente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo da pesquisa foi examinar o efeito do poder e da importância estratégica dos stakeholders na distribuição de valor dada à eles por empresas de capital aberto na Bolsa de Valores de Toronto. Para tanto, utilizou-se análise de conteúdo por meio de técnicas estatísticas para testar se havia relação significativa entre importância estratégica, poder e o valor distribuído aos stakeholders.

Os resultados observados mostram não só que o poder e a importância estratégica são relevantes na distribuição de valor aos stakeholders, mas também que no processo de tomada de decisão das organizações nesse contexto institucional, a importância estratégica dos stakeholders tem uma influência maior comparativamente ao seu poder. Em outras palavras, os resultados apoiam a hipótese de que os responsáveis pelas decisões nas empresas consideram mais a importância estratégica do que o poder na distribuição de valor dada aos seus stakeholders. Portanto, o presente estudo contribui para a literatura de stakeholders que foca na distribuição de valor, confirmando a relevância da importância estratégica versus poder em um mercado economicamente desenvolvido, avançando assim o debate de estudos anteriores. Em termos práticos, este estudo pretende fornecer às empresas comprometidas com uma gestão orientada para os stakeholders um conjunto de ferramentas para melhor compreenderem como interagir com eles e equilibrar adequadamente o valor que proporcionam a cada grupo.

Quanto às limitações da pesquisa, as empresas que abrem capital na TSX precisam seguir uma série de requisitos e procedimentos com elevados custos financeiros para abrir seu capital por meio de uma IPO. Portanto, a amostra captou a realidade de grandes empresas possuidoras dos recursos necessários para esse procedimento; ou seja, pode não representar o contexto de médias e pequenas empresas que atuam nos diversos setores.

Também existe uma limitação no vocabulário de sinônimos. Como o estudo visa captar stakeholders de diferentes setores da economia canadense, foram utilizados sinônimos generalizados para evitar ambiguidade e viés, e foram excluídas palavras que significam algo apenas em setores específicos. Para ilustrar, passageiro (passenger) é uma definição de cliente, que só faz sentido quando consideramos setores específicos, como ferrovias ou operadoras aéreas. Desta forma, uma análise em setores específicos poderá superar esta limitação, pois será possível garantir maior controle na análise de conteúdo. Outra limitação é o tamanho da amostra: tornou-se necessário agregar observações para os grupos de stakeholders como um todo, por isso não foi possível alcançar a granularidade das características para examinar e comparar como cada stakeholder afeta individualmente a distribuição global de valor quanto ao seu poder e importância estratégica.

Finalmente, para uma investigação futura pode-se criar novas oportunidades para análises empíricas utilizando uma estrutura metodológica semelhante, estendendo a análise a outros contextos institucionais. Ou seja, para maximizar a compreensão das relações de poder e da importância estratégica na distribuição de valor aos stakeholders em ambientes mais institucionais, sugere-se o desenvolvimento de estudos multinacionais. Tais estudos podem fornecer maior robustez argumentativa sobre como os gestores em todo o mundo se comportam quando torna-se necessário distribuir o valor criado para os seus stakeholders. A aplicação desse modelo em uma amostra maior poderia proporcionar uma melhor compreensão da dinâmica entre o valor distribuído aos stakeholders e a sua influência nesta decisão gerencial, comparando o poder individual e a importância estratégica dos grupos ao valor total distribuído pelas empresas.

  • O relatório de revisão por pares está disponível neste link

AGRADECIMENTO

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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Editado por

Editor Associado: Bedanand Upadhaya

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    19 Mar 2023
  • Aceito
    26 Fev 2024
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