Open-access Nutritional status and prevalence of chronic diseases among elderly in the countryside of Rio Grande do Sul state, Brazil

rbgg Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia Rev. bras. geriatr. gerontol. 1809-9823 1981-2256 Universidade do Estado do Rio Janeiro OBJECTIVE: To investigate the factors affecting the nutritional status of socially active elderly in a municipality in the countryside of Rio Grande do Sul state, Brazil. METHODS: A cross-sectional study where 284 subjects participated voluntarily. A structured individual questionnaire containing questions relating to eating habits was administered and anthropometric data (weight, height, waist circumference) were collected. RESULTS: 60.3% of men and 62.5% of women were overweight. Based on the assessment of waist circumference (WC) there was increased risk for developing cardiovascular disease (CVD) in 98.5% of men and 92.5% women. Most women (56.9%) reported some solid drug use, whereas among men (52.5%), most reported no medicine consumption. No significant difference between the different nutritional status and dietary habits investigated was observed. Among married, overweight was found in 47.1% of men and 35.6% of women. CONCLUSION: The majority of the elderly population was overweight and waist circumference was large among men and women. No association between nutritional status and the number of meals, water intake, daily intake of fruits and vegetables, type of milk consumed, weekly consumption of meat, candies, fried foods and legumes was observed. INTRODUÇÃO Com o fenômeno do envelhecimento populacional, verificam-se mudanças no perfil epidemiológico, aumentando a necessidade de se conhecer os fatores que incidem sobre a prevalência das doenças crônico-degenerativas associadas à idade.1 A expectativa de vida tem aumentado no mundo inteiro, ocasionando o envelhecimento populacional.2 Para que o idoso possa usufruir desses anos adicionais, o sistema de atenção à saúde precisa ser renovado,3 pois os grandes centros populacionais ainda não dispõem de recursos e infraestrutura para atender ao aumento da demanda de atendimento aos idosos.4 Várias providências precisam ser tomadas em relação à melhora da saúde pública, sobretudo no que diz respeito à contratação de profissionais qualificados nas diversas especialidades, como geriatras, nutricionistas, neurologistas, cardiologistas, entre outros.5 Segundo estimativas para 2025, o Brasil terá 85% de indivíduos com mais de 60 anos de idade com, pelo menos, uma doença crônica não transmissível (DCNT).6 Para evitar complicações e sequelas, doenças crônicas não transmissíveis e incapacitantes precisam ser devidamente acompanhadas e tratadas, evitando-se comprometer a autonomia do idoso.8 Devido ao aumento do envelhecimento populacional, estudos sobre os fatores que contribuem para a alta prevalência das DCNTs são necessários, e podem contribuir de modo significativo para se conhecer o desenvolvimento dessas patologias.9 É preciso identificar as causas da deficiência de saúde, alimentação e nutrição, para melhorar a qualidade de vida e planejar intervenções nutricionais a este grupo populacional.10 O envelhecimento afeta diretamente o estado nutricional do idoso, por todas as alterações que ocorrem no organismo, como redução da visão e do olfato, diminuição da secreção salivar, dificuldade de mastigação e constipação intestinal.11 Programas de educação nutricional, assim como o monitoramento do estado nutricional de idosos, são fundamentais para a melhoria da qualidade de vida, o que torna necessária a atuação do município na prevenção, proteção e recuperação da saúde, direcionando intervenções mais adequadas.12 As principais causas de mortalidade no mundo estão relacionadas às doenças cardiovasculares. Fatores de risco como hiperglicemia, dislipidemia, pressão arterial limítrofe e obesidade são hoje um dos maiores desafios para a saúde pública em todo o mundo, principalmente para a melhoria na qualidade de vida dos idosos.6Este estudo teve como objetivo verificar os fatores que interferem no estado nutricional de idosos de um município do interior do Estado do Rio Grande do Sul, a fim de contribuir para o planejamento de ações de saúde para melhoria na prevenção das doenças relacionadas à alimentação. METODOLOGIA Foram convidados a fazer parte do estudo todos os idosos que participavam ativamente de grupos de convivência do município, oriundos de igrejas. Foram identificados seis grupos na cidade. Os entrevistados foram convidados a integrar o estudo de forma voluntária, desde que atendessem aos seguintes critérios de inclusão: ter idade igual ou superior a 60 anos e pertencer a algum grupo de convivência de idosos do município. Foram excluídos 12 idosos que não compareceram à entrevista nem à avaliação antropométrica. O estudo foi do tipo transversal, com 284 idosos, sendo 68 (23,9%) homens e 216 (76,1%) mulheres, distribuídos na faixa etária entre 60-69 anos, 70-79 anos e 80 anos ou mais. A coleta de dados ocorreu entre os meses de agosto e outubro de 2009. Foi realizado um encontro com cada idoso nos dias dos encontros mensais já agendados, quando, primeiramente foi lido e explicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Em seguida foi aplicado pelas pesquisadoras um questionário de frequência alimentar,13 questionando o idoso ou seu acompanhante sobre a frequência usual da ingestão dos alimentos, apresentando um registro fotográfico com as porções e tamanhos dos alimentos para auxiliar nas medidas caseiras.13 Foi aplicado um questionário socioeconômico, elaborado pelas pesquisadoras, que continha questões como presença de patologias autorreferidas, consumo de medicamentos e de estilo de vida; por fim, foram coletados os dados antropométricos (peso, estatura e circunferência da cintura [CC]), com vistas ao diagnóstico nutricional. Os registros antropométricos foram realizados por instrumentos padronizados. Para a mensuração do peso, foi utilizada uma balança portátil Plenna(r) com capacidade de 150kg e sensibilidade de 100g, na qual os idosos foram pesados com roupas leves e descalços. Para a verificação da estatura, foi utilizado um estadiômetro portátil Sanny(r), com altura máxima de 2,05m, no qual os idosos foram medidos na posição ereta, com as mãos lateralizadas ao corpo e com a cabeça alinhada à linha do horizonte. Para realizar a aferição da circunferência da cintura (CC), as idosas se posicionaram em pé e foi utilizada uma fita métrica inelástica Sanny(r), que circundou a linha natural da cintura, na região mais estreita entre o tórax e o quadril, acima da cicatriz umbilical. O índice de massa corporal (IMC) foi calculado com base no peso (em quilogramas) dividido pela altura (em metro) ao quadrado, considerando os seguintes pontos de corte: normal - IMC entre 18,5 e 24,9Kg/m2; sobrepeso - IMC entre 25,0 e 29,9 Kg/m2; e obeso - IMC>30,0Kg/m2 14 A circunferência da cintura foi considerada normal (<80cm e <94cm), aumentada (80 a 88cm e 94 a 102cm) e muito aumentada (>88cm e >102cm) para mulheres e homens, respectivamente.14 Os dados foram analisados estatisticamente pelo programa Sphinx versão 5.0 e Statistical Package for the Social Science for Windows (SPSS), versão 17.0. Os dados categóricos foram analisados pelo teste qui-quadrado ou teste exato de Fischer. Adotou-se o nível de 5% de significância (p=0,05). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Univates, protocolo nº 050/09, conforme diretrizes e normas reguladoras de pesquisa envolvendo seres humanos do Ministério da Saúde. RESULTADOS Observou-se associação significativa entre as variáveis de estado nutricional e CC, patologias presentes para ambos os gêneros (p<0,01). O maior percentual foi de sobrepeso, tanto em homens (60,3%) como em mulheres (62,5%). O risco muito aumentado para desenvolvimento de DCVs foi mais prevalente entre homens (98,5%) do que entre as mulheres (92,5%) (p<0,01), segundo a tabela 1. Tabela 1 Características clínicas e de estilo de vida dos participantes, segundo o gênero, em número e porcentagem de idosos de um município do interior do Rio Grande do Sul. Lageado-RS, 2009. Características Homens n=68 p Mulheresn=216 p Estado nutricional Magreza 3 (4,4%) <0,01 16 (7,4) <0,01 Eutrófico 24 (35,3) 65 (30,1) Sobrepeso 41 (60,3) 135 (62,5) Circunferência da cintura Baixo risco DCV 0 (0) <0,01 4 (1,9) <0,01 Risco aumentado DCV 1 (1,5) 12 (5,6) Risco muito aumentado DCV 67 (98,5) 200 (92,5) Consumo de medicamentos Sim 32 (47,1) 0,60 123 (56,9) 0,04 Não 36 (52,9) 93 (43,1) Patologias presentes Hipertensão arterial 17 (25) <0,01 63 (29,2) <0,01 Diabetes 0 (0) 2 (0,9) Colesterol elevado 5 (7,4) 29 (13,4) Mais de uma patologia 15 (22,1) 72 (33,3) Nenhuma 31 (45,5) 50 (23,2) Tabagismo Ex-fumante 30 (44,1) 0,08 16 (7,4) <0,01 Nunca fumou 30 (44,1) 195 (90,3) Fumante 8 (11,8) 5 (2,3) DCV : Doença Cardiovascular. Em relação ao consumo de medicamentos, observou-se que os homens utilizavam menos (47,1%) do que as mulheres (56,9%). Já quando perguntados sobre a presença de alguma patologia, a maioria dos homens (45,5%) respondeu não apresentar nenhuma, enquanto que as mulheres (33,3%) responderam apresentar mais de uma patologia. Entre os homens, encontrou-se o mesmo percentual de ex-fumantes e não fumantes (44,1% - p=0,08). Entre as mulheres, um grande percentual nunca fumou (90,3% - p<0,01), segundo a tabela 1. Não se observou associação entre estado nutricional e faixa etária, local de moradia, escolaridade, renda e prática de atividade física em ambos os gêneros. Apenas em relação à CC a prevalência de sobrepeso em ambos os gêneros foi maior entre os idosos com risco muito aumentado para DCVs (p<0,01). Ocorreu maior prevalência de idosos com sobrepeso tanto entre os homens casados (47,1%), quanto entre as mulheres casadas (35,6%), seguidas dos viúvos (13,2%) e viúvas (23,2%), observando-se diferença significativa apenas entre o estado civil dos homens (p=0,05), como mostra a tabela 2. Tabela 2 Características socioeconômicas, de estilo de vida e antropométricas dos participantes, segundo o estado nutricional, em número e porcentagem de idosos de um município do interior do Rio Grande do Sul. Lageado-RS, 2009.   Homens (n=68) Mulheres (n=216) Características Magreza n=3 Eutrofia n=24 Sobrepeso n=41 p Magreza n=16 Eutrofia n=65 Sobrepeso n=135 p Idade (anos) 60-69 1 (1,5) 15 (22,1) 23 (33,8) 0,35 5 (2,3) 38 (17,6) 84 (38,9) 0,11 70-79 1 (1,5) 6 (8,8) 16 (23,5) 8 (3,7) 21 (9,7) 43 (19,9) >80 1 (1,5) 3 (4,4) 2 (2,9) 3 (1,4) 6 (2,8) 8 (3,7) Local de moradia área rural 1 (1,5) 7 (10,3) 10 (14,7) 0,88 6 (2,8) 34 (15,7) 56 (25,9) 0,30 área urbana 2 (2,9) 17 (25,0) 31 (45,6) 10 (4,6) 31 (14,4) 79 (36,6) Estado civil Casado 2 (2,9) 21 (30,9) 32 (47,1) 0,05 6 (2,8) 33 (15,3) 77 (35,6) 0,54 Viúvo 0 (0) 2 (2,9) 9 (13,2) 10 (4,6) 26 (12) 50 (23,2) Solteiro 1 (1,5) 1 (1,5) 0 (0) - 6 (2,8) 8 (3,7) Escolaridade Analfabeto - - - 0,73 1 (0,5) 1 (0,5) 1 (0,5) 0,09 Fundamental incompleto 3 (4,4) 22 (32,4) 39 (57,3) 13 (6) 61 (28,2) 129 (59,6) Fundamental completo - 2 (2,9) 1 (1,5) 1 (0,5) 2 (0,9) 2 (0,9) Médio incompleto - - 0 (0) 1 (0,5) - - Médio completo - - 1 (1,5) - 1 (0,5) 3 (1,4) Renda <1 SM - - 1 (1,5) 0,95 - 1 (0,5) 1 (0,5) 1,00 1-2 SM - 1 (1,5) 2 (2,9) 1 (0,5) 2 (0,9) 1 (0,5) >3 SM - - 1 (1,5) 0 (0) 0 (0) 1 (0,5) Nenhuma 3 (4,4) 23 (33,8) 37 (54,4) 15 (6,9) 62 (28,7) 132 (61) Prática atividade física Nunca 2 (2,9) 11 (16,2) 24 (35,3) 0,37 8 (3,7) 30 (13,9) 77 (35,6) 0,60 1-6 vezes semana 1 (1,5) 9 (13,2) 7 (10,3) 6 (2,8) 22 (10,2) 39 (18,1) Diariamente - 4 (5,9) 10 (14,7) 2 (0,9) 13 (6) 19 (8,8) Circunferência da cintura Baixo risco DCV - - - <0,01 3 (1,4) 1 (0,5) - <0,01 Risco aumentado DCV 1 (1,5) - - 7 (3,2) 5 (2,3) - Risco muito aumentado DCV 2 (2,9) 24 (35,3) 41 (60,3) 6 (2,8) 59 (27,3) 135 (62,5) SM : Salário Mínimo Síndrome DCV : Doença Cardiovascular Não se observou associação entre o estado nutricional e o número de refeições, ingestão de água, consumo diário de frutas e verduras, tipo de leite ingerido, consumo semanal de carnes, doces, frituras e leguminosas (tabela 3). Tabela 3 Características do padrão alimentar, segundo o estado nutricional, em número e porcentagem de idosos de um município do interior do Rio Grande do Sul. Lageado-RS, 2009. Homens (n=68) Mulheres (n=216) Características Magreza n=3 Eutrofia n=24 Sobrepeso n=41 P Magreza n=16 Eutrofia n=65 Sobrepeso n=135 p Número de refeições diárias <3 refeições - - 3 (4,4) 0,71 1 (0,5) 2 (0,9) 5 (2,3) 0,93 3-4 refeições 2 (2,9) 15 (22,1) 24 (35,3) 9 (4,2) 38 (17,6) 79 (36,5) >3 refeições 1 (1,5) 9 (13,2) 14 (20,6) 6 (2,8) 25 (11,6) 51 (23,6) Ingestão diária de água <4 copos 2 (2,9) 9 (13,2) 13 (19,1) 0,55 9 (4,2) 30 (13,9) 55 (25,5) 0,27 4-8 copos 1 (1,5) 11 (16,2) 16 (23,5) 7 (3,2) 27 (12,5) 53 (24,5) >8 copos - 4 (5,9) 12 (17,7) - 8 (3,7) 26 (12) Não consome - - - - - 1 (0,5) Tipo de leite Integral 3 (4,4) 19 (27,9) 29 (42,7) 0,57 8 (3,7) 49 (22,6) 90 (41,6) 0,62 Desnatado e semidesnatado - 1 (1,5) 5 (7,4) 4 (1,9) 11 (5,1) 26 (12,1) Não consome - 4 (5,9) 7 (10,3) 4 (1,9) 5 (2,3) 19 (8,8) Consumo diário de frutas Nunca - - 1 (1,5) 0,27 - 1 (0,5) 4 (1,9) 0,87 1-3 porções 3 (4,4) 20 (29,4) 25 (36,7) 11 (5,1) 50 (23,2) 102 (47,1) >3 porções - 4 (5,9) 15 (22,1) 5 (2,3) 14 (6,5) 29 (13,4) Consumo diário de verduras Nunca - - 1 (1,5) 0,85 - 4 (1,9) 3 (1,4) 0,65 1-3 porções 3 (4,4) 22 (32,4) 35 (51,4) 15 (6,9) 54 (25) 117 (54,2) >3 porções - 2 (2,9) 5 (7,4) 1 (0,5) 7 (3,2) 15 (6,9) Consumo semanal de carne Nunca - - - 0,84 - - 1 (0,5) 0,98 1-6 vezes - 3 (4,4) 7 (10,3) 3 (1,4) 14 (6,5) 31 (14,4) Diariamente 3 (4,4) 21 (30,9) 34 (50) 13 (6) 51 (23,6) 103 (47,6) Consumo semanal de doces Nunca - 5 (7,4) 5 (7,4) 0,46 1 (0,5) 6 (2,8) 19 (8,8) 0,76 1-2 vezes 1 (1,5) 10 (14,7) 24 (35,2) 9 (4,2) 36 (16,6) 77 (35,6) >2 vezes 2 (2,9) 9 (13,2) 12 (17,7) 6 (2,8) 23 (10,7) 39 (18) Consumo semanal frituras Nunca - 5 (7,4) 7 (10,3) 0,75 5 (2,3) 21 (9,7) 39 (18,1) 0,91 1-3 vezes 2 (2,9) 12 (17,7) 26 (38,1) 11 (5,1) 42 (19,4) 88 (40,8) >3 vezes 1 (1,5) 7 (10,3) 8 (11,8) - 2 (0,9) 8 (3,7) Consumo semanal leguminosas <3 vezes - 2 (2,9) 6 (8,8) 0,61 3 (1,4) 17 (7,9) 40 (18,5) 0,28 3-5 vezes 1 (1,5) 11 (16,2) 22 (32,4) 7 (3,2) 19 (8,8) 55 (25,5) >5 vezes 2 (2,9) 11 (16,2) 13 (19,1) 6 (2,8) 29 (13,4) 40 (18,5) DISCUSSÃO O perfil nutricional dos idosos do presente estudo foi caracterizado pela alta prevalência de sobrepeso, assim como a presença de HAS, hipercolesterolemia, diabetes mellitus (DM) e acúmulo de gordura abdominal detectada pela CC elevada. Foi encontrada elevada prevalência de sobrepeso em ambos os gêneros, valores superiores aos do estudo de Bassler et al., que encontraram 40,6% em homens e 60,5% mulheres.15 No estudo de Silveira et al.,16 a prevalência de sobrepeso também foi inferior, 40,1% dos homens e 53,4% das mulheres. O índice elevado de sobrepeso entre as mulheres pode estar relacionado ao maior acúmulo de gordura abdominal e à maior expectativa de vida, o que se torna preocupante pela associação da obesidade com várias DCNTs, aumentando a morbi-mortalidade e diminuindo a qualidade de vida dos idosos.16 , 17 No presente estudo, houve forte associação entre IMC e CC. Os resultados deste estudo diferem dos encontrados por Santos et al.18 e Barbosa et al.,19 que avaliaram a CC de idosos e adultos, respectivamente, e constataram que as mulheres apresentaram o dobro de prevalência de gordura abdominal do que os homens. Em relação à presença de patologias, a maioria dos homens que participou desta pesquisa respondeu que não tinha nenhuma patologia, e entre as mais referidas a HAS ficou em primeiro lugar. Um fator que deve ser levado em consideração é a menor procura dos serviços de saúde por parte dos homens;20 consequentemente, há desinformação e atraso no diagnóstico acerca da mesma. Já entre as mulheres, a resposta mais frequente foi a confirmação de mais de uma patologia (33,3%), seguida de HAS, nenhuma patologia, hipercolesterolemia e DM. Os resultados de HAS encontrados no presente estudo são relativamente baixos, se comparados à prevalência de HAS encontrada por Esperandio et al.21 , que foi de 67,4% em ambos os gêneros. Já Tadei et al. encontraram uma prevalência maior, 67% em ambos os gêneros.22 A multiplicidade de morbidades em um mesmo idoso é muito frequente.12 A DCNT constitui o principal problema de saúde entre os idosos, devido, sobretudo, aos hábitos de vida e a não adesão ao tratamento das mesmas, que podem provocar lesões irreversíveis ao organismo, aumentando as chances de incapacidade.23 A HAS é o fator de risco mais importante para DCV em idosos.24 As avaliações antropométrica e bioquímica são de extrema importância na identificação das alterações que ocorrem no estado nutricional e no desenvolvimento dessas doenças.11 O hábito de fumar foi mais frequente entre os homens do que entre as mulheres, resultados semelhantes ao estudo de Hauser et al., que encontrou 22,4% dos homens e 9,4% das mulheres fumantes na população estudada.25 O tabagismo, quando associado à síndrome metabólica, agrava o risco de DCNTs.20 A nicotina é maléfica ao organismo, pois aumenta a liberação das catecolaminas, que são responsáveis pela elevação da frequência cardíaca, da pressão arterial e da resistência periférica.14 Quanto ao estado conjugal, foi encontrada maior prevalência de sobrepeso em casados de ambos os gêneros, em relação aos viúvos e solteiros. Esses resultados são semelhantes aos de Garcia et al., onde a prevalência de sobrepeso entre idosos casados foi de 60,8% em ambos os gêneros.26 Em relação ao consumo alimentar e estado nutricional, não se observou diferença significativa e dados semelhantes foram encontrados no estudo de Orlando et al., segundo o qual os idosos ingeriam mais frequentemente alimentos ricos em gordura (leite integral, queijos amarelos, gorduras de origem animal), sódio (embutidos e margarina com sal) e açúcares simples (açúcar, balas e geleias).27 Os hábitos alimentares apresentam-se como fatores de risco para DCVs.27 A obesidade é causa de diversas complicações que podem acometer diferentes sistemas, estando associada a problemas metabólicos, sanguíneos, urinários, respiratórios e ósseos.28A fim de evitar o declínio funcional progressivo no idoso obeso, intervenções no estilo de vida devem ser propostas, tais como a redução da ingestão calórica diária combinada a um programa de exercícios físicos, preferencialmente aeróbico e de resistência.29 Algumas limitações do estudo devem ser pontuadas, especialmente em relação ao método utilizado para avaliar a ingestão alimentar (um questionário de frequência alimentar que faz com que os idosos ou acompanhantes tenham que lembrar do que ingeriram). Não se pode assegurar que o consumo alimentar reflita com precisão o hábito alimentar do indivíduo, motivo pelo qual associou-se a história dietética. Para maior acurácia na verificação do consumo de nutrientes, mais dias de inquéritos alimentares são necessários, como por exemplo, a aplicação do registro alimentar de três a sete dias. Viés de subnotificação é frequentemente encontrado em estudos populacionais sobre consumo de alimentos.30 , 31 CONCLUSÃO Verificamos, no presente estudo, que os fatores de risco que interferem no estado nutricional nos idosos socialmente ativos foram a alta prevalência de sobrepeso, no gênero masculino e no feminino (60,3% 62,5%, respectivamente), e a circunferência da cintura elevada, presente em 98,5% dos homens e 92,5 das mulheres. Tanto o sobrepeso como a gordura abdominal representam fator de risco para doenças crônicas e comprometem a saúde do idoso com morbi-mortalidade. A identificação da obesidade abdominal, por meio dessas medidas simples e de baixo custo, deveria fazer parte das ações rotineiras da saúde do idoso, de modo a prevenir doenças. REFERÊNCIAS 1 1. Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas. Rev Saude Pública 1997;31(2):184-200. Chaimowicz F A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas Rev Saude Pública 1997 31 2 184 200 2 2. Carvalho JAM, Garcia RA. O envelhecimento da população brasileira: um enfoque demográfico. Cad Saúde Pública 2003;19(3):725-33. Carvalho JAM Garcia RA O envelhecimento da população brasileira: um enfoque demográfico Cad Saúde Pública 2003 19 3 725 733 3 3. Veras R. Fórum. Envelhecimento populacional e as informações de saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. Introdução. Cad Saúde Pública 2007;23(10):2463-6. Veras R Fórum. 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