Avaliação da implantação do fornecimento de leite humano para prematuros em unidade de terapia intensiva neonatal

Reis, Marianni Matos Pessoa dos; Barros, Denise Cavalcante; Vitorino, Santuzza Arreguy Silva

doi:10.1590/1806-9304202300000191

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Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil

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Sumário

ARTIGOS ORIGINAIS • Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 23 • 2023 • https://doi.org/10.1590/1806-9304202300000191 copiar

Avaliação da implantação do fornecimento de leite humano para prematuros em unidade de terapia intensiva neonatal

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Resumo

Objetivos:

avaliar o fornecimento de leite humano de forma exclusiva aos prematuros em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e a influência dos contextos externo e organizacional no grau de implantação dessa intervenção.

Métodos:

trata-se de uma avaliação de implantação com análise dos contextos externo (situação sociodemográfico das mães, rede de apoio e marketing da indústria) e organizacional (pertencente à unidade hospitalar). Para definir o grau de implantação, foi utilizada a Matriz de Análise e Julgamento, considerando a dimensão conformidade, e as subdimensões disponibilidade e qualidade técnico-científica. Os dados utilizados foram obtidos por meio de entrevistas, questionários semiestruturados e análise de documentos da instituição.

Resultados:

o grau de implantação da intervenção foi de 80,74%, mostrando-se satisfatório, com destaque para a subdimensão qualidade técnico-científica.

Conclusões:

o sucesso no fornecimento de leite humano está atrelado às políticas públicas, ao apoio e orientações oferecidos às mães na unidade hospitalar, disponibilidade de rede de apoio, conhecimento das mães acerca dos benefícios do aleitamento materno, infraestrutura adequada e disponibilidade de insumos. Os prematuros estarem internados em hospital amigo da criança contribuiu para a implantação da intervenção.

Palavras-chave
Leite humano; Recém-nascido prematuro; Unidade de terapia intensiva neonatal; Serviços de saúde materno-infantil; Avaliação em saúde

Material técnico	Objeto de interesse
Kuschel CA, Harding JE. Multicomponent fortified human milk for promoting growth in preterm infants. Cochrane Database Syst Rev. 2004; (1): CD000343.	Determina se a adição de multicomponentes ao leite humano promove melhora no crescimento, metabolismo ósseo e resultados de neurodesenvolvimento sem efeitos adversos significativos em prematuros.

Brasil. Lei n°. 11265, de 3 de janeiro de 2006. Regulamenta a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e também a de produtos de puericultura correlatos. Brasília (DF): DOU de 4 jan 2006.	Regulamenta a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e a de produtos de puericultura correlatos.

Fundo das Nações Unidas para a Infância, Organização Mundial da Saúde. Iniciativa Hospital Amigo da Criança: revista, atualizada e ampliada para o cuidado integrado: módulo 1: histórico e implementação. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2008.	Descreve os critérios globais da IHAC e as Razões médicas aceitáveis para uso de substitutos do leite materno.

Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Banco de leite humano: funcionamento, prevenção e controle de riscos. Brasília (DF): Anvisa; 2008.	Descreve as ações de promoção, proteção e apoio ao AM e execução de atividades de coleta da produção lática da nutriz, seleção, classificação, processamento, controle de qualidade e distribuição.

Ministério da Saúde (BR). Gabinete do Ministro. Portaria nº 930, de 10 de maio de 2012. Define as diretrizes e objetivos para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido grave ou potencialmente grave e os critérios de classificação e habilitação de leitos de Unidade Neonatal no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).	Define as diretrizes e objetivos para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido grave ou potencialmente grave e os critérios de classificação e habilitação de leitos de Unidade Neonatal no âmbito do SUS.

Nyqvist KH et. al. Neo-BFHI: The Baby-friendly Hospital Initiative for Neonatal Wards. Core document with recommended standards and criteria. Nordic and Quebec Working Group; 2015.	Expande e adapta os Dez Passos para proteger, promover e apoiar o AM em enfermarias neonatais. Reforça que todos os recém-nascidos, incluindo aqueles admitidos na enfermaria neonatal, devem ser amamentados. Quando houver razões médicas aceitáveis, pode-se utilizar o leite do banco ou fórmula infantil, nessa ordem de prioridade. Traz também o uso do aditivo.

Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção humanizada ao recém-nascido: Método Canguru: manual técnico. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2017.	Visa à atenção qualificada e humanizada reunindo estratégias de intervenção biopsicossocial com uma ambiência que favoreça o cuidado ao recém-nascido e à sua família.

Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Bases para a discussão da Política Nacional de Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2017.	Visa contribuir para a formulação e pactuação da Política Nacional de Promoção, Proteção e Apoio ao AM no Brasil.

World Health Organization (WHO). Guideline: protecting, promoting and supporting breastfeeding in facilities providing maternity and newborn services. Geneva: WHO; 2017.	Fornece recomendações globais baseadas em evidências sobre aconselhamento em amamentação, como uma intervenção de saúde pública, para melhorar as práticas de amamentação entre mulheres grávidas e mães que pretendem amamentar, ou estão amamentando.

Tipo do Contexto	Descrição do Contexto
Contexto Externo	Marketing da indústria de alimentos infantis⁸8 Nyqvist KH, Häggkvist AP, Hansen MN, Kylberg E, Frandsen AL, Maastrup R, et al. Expansion of the Ten Steps to Successful Breastfeeding into Neonatal Intensive Care: Expert Group Recommendations for Three Guiding Principles. J Hum Lact. 2012 Aug; 28 (3): 289-96.,²⁴24 Uema RTB, Tacla MTGM, Zani AV, Souza SNDH, Rossetto G, Santos JCT. Insucesso na amamentação do prematuro: alegações da equipe. Semina Ciênc Biol Saúde. 2015; 36 (1): 199-208.
	Apoio da família e dos demais membros do grupo social em que a mulher está inserida⁸8 Nyqvist KH, Häggkvist AP, Hansen MN, Kylberg E, Frandsen AL, Maastrup R, et al. Expansion of the Ten Steps to Successful Breastfeeding into Neonatal Intensive Care: Expert Group Recommendations for Three Guiding Principles. J Hum Lact. 2012 Aug; 28 (3): 289-96.,¹⁸18 Muller FS, Silva IA. Representações sociais de um grupo de mulheres/nutrizes sobre o apoio à amamentação. Rev Latino-am Enferm. 2009; 17 (5): 8.
	Situação sociodemográfico (classe econômica; educação materna; situação empregatícia da mulher)⁸8 Nyqvist KH, Häggkvist AP, Hansen MN, Kylberg E, Frandsen AL, Maastrup R, et al. Expansion of the Ten Steps to Successful Breastfeeding into Neonatal Intensive Care: Expert Group Recommendations for Three Guiding Principles. J Hum Lact. 2012 Aug; 28 (3): 289-96.,²³23 Pinto SL, Barruffini ACC, Silva VO, Ramos JEP, Junqueira IC, Borges LL, et al. Avaliação da autoeficácia para amamentação e seus fatores associados em puérperas assistidas no sistema público de saúde no Brasil. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2021; 21 (1): 97-105.,²⁶26 Gaíva MA, Scochi CGS. A participação da família no cuidado ao prematuro em UTI Neonatal. Rev Bras Enferm. 2005; 58 (4): 444-8.

Contexto Organizacional	Infraestrutura da unidade¹¹11 Benoit B, Semenic S. Barriers and Facilitators to Implementing the Baby-Friendly Hospital Initiative in Neonatal Intensive Care Units. JOGNN, 2014; 43 (5): 614-24.,²⁷27 Serra SOA, Scochi CGS. Dificuldades maternas no processo de aleitamento materno de prematuros em uma UTI neonatal. Rev Latino-Am Enferm. 2004; 12 (4): 597-605.
	Apoio dos profissionais de saúde na amamentação⁸8 Nyqvist KH, Häggkvist AP, Hansen MN, Kylberg E, Frandsen AL, Maastrup R, et al. Expansion of the Ten Steps to Successful Breastfeeding into Neonatal Intensive Care: Expert Group Recommendations for Three Guiding Principles. J Hum Lact. 2012 Aug; 28 (3): 289-96.,¹⁸18 Muller FS, Silva IA. Representações sociais de um grupo de mulheres/nutrizes sobre o apoio à amamentação. Rev Latino-am Enferm. 2009; 17 (5): 8.
	Presença de leite humano, fórmula infantil e fortificante na unidade²¹21 Filho JVB, Pereira RJ, Castro JGD. Efeitos do uso de fortificante do leite humano em recém-nascidos pré-termo de muito baixo peso. Ciênc Cuid Saúde. 2016; 15 (3): 429-35.
	Aplicabilidade das políticas públicas em prol da amamentação³3 World Health Organization (WHO). Guideline: protecting, promoting and supporting breastfeeding in facilities providing maternity and newborn services. Geneva: WHO; 2017. [access in 2022 mar 5]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789241550086 https://www.who.int/publications/i/item/... ,⁷7 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Bases para a discussão da Política Nacional de Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno Brasília (BR): Ministério da Saúde, 2017. [access in 2020 ago 17]. Available from:: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/bases_discussao_politica_aleitamento_materno.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
	Técnicas de extração do Leite Humano²2 Gianni ML, Bezze EN, Sannino P, Baro M, Roggero P, Muscolo S, et al. Maternal views on facilitators of and barriers to breastfeeding preterm infants. BMC Pediatrics. 2018; 18 (238): 7.,⁸8 Nyqvist KH, Häggkvist AP, Hansen MN, Kylberg E, Frandsen AL, Maastrup R, et al. Expansion of the Ten Steps to Successful Breastfeeding into Neonatal Intensive Care: Expert Group Recommendations for Three Guiding Principles. J Hum Lact. 2012 Aug; 28 (3): 289-96.

Insumos	Índice de Disponibilidade	Resposta	PE	PA	Percentual de adequação	Percepção das usuárias (mães)
BLH	Havia LH	Sim	2	2	100%
	Nos últimos 12 meses não faltou LH	Já faltou	2	1	50%	M4: Na verdade é pela questão que o banco de leite não consegue fornecer a quantidade que a Sarah toma hoje. E como eu não estou à noite, tem que ser a fórmula.
	Estrutura adequada conforme ANVISA	Sim	6	6	100%
Fortificante	Havia fortificante	Sim	2	2	100%
Fortificante	Nos últimos 12 meses não faltou fortificante	Já faltou	2	1	50%
Fórmula Infantil	Havia fórmula infantil para casos específicos	Sim	2	2	100%
Fórmula Infantil	Nos últimos 12 meses não faltou fórmula	Não faltou	2	2	100%

Infraestrutura adequada para o acolhimento das mães na unidade	Local privativo para ordenha mamária;	Sim (BLH) 55% das mães - ótima	4	3	75%	M6: Tem uns homens que é muito sem noção. Hoje mesmo tinha um lá. Totalmente sem noção. Ele só vai quando as pessoas estão tirando leite. Quando a mulher está lá com o peito de fora. Ele fica do lado da minha filha.
	Acomodações	7,8% dos profissionais: adequado 25% das mães - ótima	5	1	20%	M3: Acho que deveria ter um local melhor, porque a gente fica largada nos corredores e não tem banheiro pra banhar. Uma vez eu me sujei todinha. Aí eu tive que ir embora. Um dia eu cheguei aqui era 9 da manhã e fui embora 10 da noite. E eu fui embora porque eu estava toda destruída. Podia ter tipo uma salinha, alguma coisa. M9: É bom. Eu não acho muito confortável. Por exemplo. Aconteceu de eu ter que dormir no banco aqui de cima né. Então assim, não são cadeiras muito confortáveis. M11: É ruim porque o banheiro estava estragado, as cadeiras são poucas para muitas mães. O banheiro mais próximo que tem, tem hora que você vai ali tá quebrado. Então se você quer um banheiro tem que ir do outro lado do hospital.
	Food during the stay in the unit;	A unidade fornece 5 refeições. Considerada adequada; 45% das mães: ótima 45,1% dos profissionais	10	7	70%	M2: eu não acho bom não. Por causa da aparência e do sabor M4: a alimentação ela é ótima, rica. Vem suco, fruta e sobremesa M5: ótima né, porque não deixa a gente com fome e alimenta bem. M8: Ela não é ótima porque as vezes você pede uma coisa e fica repetindo, entendeu? Mas a comida é boa. Não tenho o que reclamar entendeu?
Recursos Humanos treinados	O profissional já foi capacitado pelo curso da IHAC;	Sim (chefias do BLH e Nutrição); 70,6% dos profissionais	5	4	80%
Política de Aleitamento Materno da UTIN	Havia política de aleitamento materno escrita;	Sim	1	1	100%
	A política contemplava as políticas públicas de amamentação como o Método Canguru (contato pele a pele), NBCAL, IHAC e Portaria 930/2012	Sim	4	4	100%
	A política contemplava as razões médicas para o uso de substitutos?	Sim	1	1	100%
TOTAL			48	37	77,08%

Atividades	Índice de Qualidade técnico-científica	Resposta	PE	PA	Percentual de adequação	Percepção das usuárias (mães)
Conhecimento dos profissionais com relação às práticas voltadas para a promoção, proteção e apoio ao AME	Proporção de profissionais que realizam ações de orientação e estímulo à amamentação;	86,3% (sim) A maioria dos profissionais atingiu 5 pontos	10	8	80%

Orientação e apoio às mães na amamentação	Proporção de mães que foram orientadas e estimuladas quanto ao aleitamento materno;	18 (90%)	5	5	100%
	Proporção de mães que estão amamentando e que foram orientadas;	19 (95%)	10	10	100%
	Proporção de mães que estão amamentando, e que não foram orientadas;	1 (5%)	4	4	100%
	Proporção de mães que não estão amamentando e que foram orientadas;	1 (5%)	3	3	100%
	Proporção de mães que não estão amamentando e que não foram orientadas;	Nenhuma	2	2	100%
	Proporção de mães e profissionais que informaram realizar o contato pele a pele (Método Canguru);	75% das mães 100% dos profissionais	4	3	75%	M3: já realizei o contato pele a pele. Foi lá dentro da UTIN. M4: O contato pele a pele foi na UTIN, porque no parto não teve como. M9: foi na UTIN. No parto não teve. M10: No parto teve aquele momento que trazem, mas na UTIN tive, 1 vez.
	Proporção de mães e profissionais que informaram possuir livre acesso à UTIN, durante 24 horas.	75% das mães 58,80% dos profissionais	4	2	50%	M4: Na verdade, o único horário estabelecido é o da entrada né, que é a partir das 8:45. Depois é livre. Pra mim que sou mãe é livre. M8: Bom, fala que é livre, mas na verdade às vezes a gente chega lá e tá fazendo algum procedimento, a gente tem q sair do leito, mesmo que seja um procedimento em outro bebê, tem que ficar sempre saindo [...] então não se torna livre. M9: Tem restrição. Só pode a partir das 8:45. Então tem alguns horários que não pode ficar lá.
Provision of exclusive HM, except in specific cases;	Proporção de RNPTs em AME;	47 (88,67%)	10	10	100%
	Proporção de RNPTs em uso de fórmulas com razões médicas aceitáveis;	5 (83,3%)	10	10	100%
	Proporção de RNPTs em uso de fórmulas sem razões médicas aceitáveis.	1 (16,6%)	5	3	60%
Indication of infant formula considering acceptable medical reasons	Proporção de médicos que sabem relatar as razões para prescrição de substitutos do leite materno.	8 (66,6%)	10	5	50%
TOTAL			77	65	84,41%

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