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Aprendizados e estratégias inventivas no cotidiano de catadoras(es) de material reciclável

Learnings and inventive strategies in the daily life of waste pickers

Resumo

Introdução:

o mundo do trabalho apresenta profundas transformações que impactam no cotidiano e nos processos de subjetivação de trabalhadores, inclusive os informais, como os catadores de material reciclável. Seu trabalho tem uma constante importância socioambiental, produz múltiplos sentidos e, ao mesmo tempo, é atrelado a interdições e riscos.

Objetivo:

compreender os processos de aprendizado e inventividade no trabalho de catadores de material reciclável da região da Grande Florianópolis.

Métodos:

trata-se de uma pesquisa exploratória-descritiva, com abordagem qualitativa, com entrevistas semiestruturadas e observações do ambiente de trabalho. Foram utilizados mapas de associação de ideias como estratégia de análise das práticas discursivas, com a análise conjunta dos discursos, extraindo as similaridades entre as narrativas dos catadores.

Resultados:

foram entrevistados 14 catadores. Identificou-se que o processo de aprendizado das atividades laborais ocorreu no próprio cotidiano, principalmente com pessoas mais experientes, além do desenvolvimento de conhecimentos e habilidades com base na experiência. Quanto ao caráter inventivo dos trabalhadores, observou-se a utilização de regras, normas e princípios para os seus fazeres, que são compartilhados e renovados cotidianamente.

Conclusão:

evidenciou-se a relevância dos vínculos estabelecidos nas relações cotidianas, tanto para o aprendizado como para o compartilhamento de estratégias inventivas.

Palavras-chave:
catadores; inventividade; saúde do trabalhador; setor informal

Abstract

Introduction:

the labor market brings profound transformations that impact workers’ daily lives and subjectivation processes, including informal ones such as waste pickers. Waste picking has a reiterated socio-environmental importance, producing multiple meanings while being linked to interdictions and risks.

Objective:

understand the work learning processes and inventiveness of waste pickers in the metropolitan region of Florianópolis.

Methods:

this qualitative, descriptive and exploratory study used semi-structured interviews and fieldwork observations to collect the information necessary to answer the defined objective. Discursive practices were analyzed via maps of association of ideas and joint discourse analysis by extracting the similarities between the pickers’ narratives.

Results:

a total of 14 waste pickers were interviewed. Learning took place in everyday relations, especially with more experienced pickers, with knowledge and skills being developed based on experience. As for the inventive axis, workers use rules, norms, and principles for their activities, which are shared and reiterated daily.

Conclusion:

results highlight the bonds established by waste pickers in everyday relations, both for learning and sharing inventive strategies.

Keywords:
waste picker; inventiveness; workers health; informal sector

Introdução

A presença de catadores de material reciclável nas cidades não é recente 1Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea. Situação Social das Catadoras e dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável. Brasília, DF: Ipea; 2013.. A exploração da força de trabalho dos catadores tem raízes históricas na figura do pobre nos espaços urbanos das cidades medievais. Embora considerados pela sociedade feudal como um “corpo marginal”, esse grupo, em consequência do êxodo rural, teve papel expressivo na criação das cidades. Com o progresso do capitalismo e da burguesia na Revolução Industrial, passaram a ser considerados como “massa sobrante”, herdeiros de um processo histórico que tende a reproduzir a sua condição de excludente 2Cavalcante S, Franco MFA. Profissão perigo: percepção de risco à saúde entre os catadores do Lixão do Jangurussu. Rev Mal-Estar Subj [Internet]. 2007 [citado em 8 fev 2024];7(1):211-31. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482007000100012
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Os catadores adentram no cenário urbano pegando diferentes materiais, sendo agentes iniciais do circuito de produção da reciclagem. Eles transformam o lixo, desprezado pela sociedade, em material reciclável e reaproveitável. Por meio de sua atividade, dotam o até então lixo de valor de uso, por se constituir em material adaptado às necessidades humanas 3Marx K. O Capital, livro 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1968., e de valor de troca, por ser ressignificado em mercadoria. Por meio da separação, dividem as propriedades aproveitáveis das que não terão mais utilidade. Isso ocorre a partir do recolhimento, separação e transporte do material coletado para um novo local, para sua transformação e distribuição 1Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea. Situação Social das Catadoras e dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável. Brasília, DF: Ipea; 2013. , 4Ferraz L, Gomes MHA, Busato MA. O catador de materiais recicláveis: um agente ambiental. Cad EBAPE.BR [Internet]. 2012 [citado em 8 fev 2024];10(3):763-8. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1679-39512012000300017
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Os catadores são agentes de sustentabilidade ambiental, da preservação da natureza e possibilitam economia de diferentes recursos naturais 4Ferraz L, Gomes MHA, Busato MA. O catador de materiais recicláveis: um agente ambiental. Cad EBAPE.BR [Internet]. 2012 [citado em 8 fev 2024];10(3):763-8. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1679-39512012000300017
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, 5Medeiros LFR, Macêdo KB. Catador de material reciclável: uma profissão para além da sobrevivência? Psicol Soc [Internet]. 2006 [citado em 8 fev 2024];18(2):62-71. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000200009
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. Atuam na coleta de materiais que, caso descartados, ocupariam espaço em aterros e lixões 1Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea. Situação Social das Catadoras e dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável. Brasília, DF: Ipea; 2013., o que implica em custos elevados para as cidades diante do que é expelido pelo capitalismo. A reciclagem insere muitos catadores em circuitos produtivos, visto que a situação de desemprego é elemento fundamental para o direcionamento a essa atividade 5Medeiros LFR, Macêdo KB. Catador de material reciclável: uma profissão para além da sobrevivência? Psicol Soc [Internet]. 2006 [citado em 8 fev 2024];18(2):62-71. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000200009
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. Ainda que precariamente, um número relevante de trabalhadores consegue ser absorvido, geralmente de forma rápida, pelo mercado de trabalho da catação 4Ferraz L, Gomes MHA, Busato MA. O catador de materiais recicláveis: um agente ambiental. Cad EBAPE.BR [Internet]. 2012 [citado em 8 fev 2024];10(3):763-8. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1679-39512012000300017
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, 6Gorbán D. Reflexiones alrededor de los procesos de cambio social en Argentina: el caso de los cartoneros. E-l@tina [Internet]. 2004 [citado em 8 fev 2024]; 2(8):1-13. Disponível em: https://publicaciones.sociales.uba.ar/index.php/elatina/article/view/6228/pdf
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O aumento do número desses trabalhadores, acentuado no contexto da pandemia de Covid-19, relaciona-se às transformações no mundo do trabalho decorrentes das crises do sistema financeiro, em especial no campo da informalidade. Trata-se de um momento histórico marcado pela precarização das condições e dos contratos de trabalho, pela persistência de formas de discriminação, pelo aumento do trabalho informal e pela permanente ameaça do desemprego estrutural e exclusão social 5Medeiros LFR, Macêdo KB. Catador de material reciclável: uma profissão para além da sobrevivência? Psicol Soc [Internet]. 2006 [citado em 8 fev 2024];18(2):62-71. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000200009
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, 7Borges LO, Yamamoto OH. Mundo do trabalho: construção histórica e desafios contemporâneos. In: Zanelli JC, Borges-Andrade J, Bastos AVB. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: ArtMed; 2014. p. 25-72.. Esses elementos causam modificações no cotidiano dos catadores e em suas condições de vida, acentuando os processos de marginalização.

Esses aspectos mantêm relações com os processos organizativos do trabalho, termo utilizado por Sato 8Sato L. Processos cotidianos de organização do trabalho na feira livre. Psicol Soc [Internet]. 2007 [citado em 8 fev 2024];19(spe1):95-102. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-71822007000400013
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para se referir aos processos cotidianos de organização do trabalho. É um fenômeno 9Sato L, Bernardo MH, Oliveira F. Psicologia social do trabalho e cotidiano: a vivência de trabalhadores em diferentes contextos micropolíticos. Psicol Am Lat [Internet]. 2008 [citado em 8 fev 2024];(15). Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2008000400010&lng=pt&nrm=iso
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, 10Spink PK. A organização como fenômeno psicossocial: notas para uma redefinição de psicologia do trabalho. Psicol Soc [Internet]. 1996 [citado em 8 fev 2024];8(1):174-92. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/594745/mod_resource/content/1/A%20organiza%C3%A7%C3%A3o%20como%20fen%C3%B4meno%20psicossocial.pdf
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que considera as pessoas em interação simbólica, enquanto construtoras dos processos organizativos e em fluxos de ação e significado 11Spink P. O resgate da parte. Rev Admin [Internet]. 1991 [citado em 8 fev 2024];26(2):22-31. Disponível em: https://pesquisa-eaesp.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/arquivos/spink_-_o_resgate_da_parte_0.pdf
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A organização do trabalho dos catadores compreende múltiplas variações: organizam suas atividades sozinhos, com familiares ou agrupados em associações e cooperativas 1Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea. Situação Social das Catadoras e dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável. Brasília, DF: Ipea; 2013.. O trabalho de separação dos recicláveis consiste em estabelecer e restabelecer classificações para os diversos materiais que são, a princípio, descartados como lixo. Ou seja, separá-los conforme classificações preestabelecidas e categorizá-los levando em consideração critérios quanto a sua utilidade e valor econômico. Dada a complexidade das tarefas, o trabalhador precisa desenvolver habilidades e capacidades corporais, perceptivas/sensoriais, motoras e psicossociais 12Oliveira FG, Barros VA. O que faz um catador de materiais recicláveis? Análise do trabalho e da formação profissional das triadoras de materiais recicláveis. HIG [Internet]. 2019 [citado em 8 fev 2024];3(2):75-91. Disponível em: https://hig.unihorizontes.br:8443/index.php?journal=Hig&page=article&op=view&path%5B%5D=86
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Por trabalharem com aquilo que é descartado pela sociedade 5Medeiros LFR, Macêdo KB. Catador de material reciclável: uma profissão para além da sobrevivência? Psicol Soc [Internet]. 2006 [citado em 8 fev 2024];18(2):62-71. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000200009
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, 13Miura POC. Tornar-se catador: uma análise psicossocial [Dissertação]. [Internet]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2004 [citado em 8 fev 2024]. Disponível em: https://repositorio.pucsp.br/jspui/handle/handle/17373
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, também são vítimas de preconceitos e estigmas e são excluídos de ambientes sociais, sendo comumente desqualificados em função da matéria-prima de seu trabalho 14Lima MRP. Plasticidades recriadas: conhecimento sensível, valor e indeterminação na atividade dos catadores de recicláveis. Sociol Antropol [Internet]. 2017 [citado em 8 fev 2024];7(1):209-38. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2238-38752017v719
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. Ademais, enfrentam discriminação por viverem claramente marginalizados pela sociedade capitalista. Essa estigmatização, exclusão social e do mercado de trabalho formal provocam sofrimento humano 15Miura PO, Sawaia BB. Tornar-se catador: sofrimento ético-político e potência de ação. Psicol Soc [Internet]. 2013 [citado em 8 fev 2024];25(2):331-41. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/5C6kGM6PmSrzTrNqN7cC8Rk/abstract/?lang=pt
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No contra-argumento, esse trabalho é compreendido por muitos desses trabalhadores como fonte de dignidade e como modo legítimo de se obter renda, suprir as necessidades básicas 15Miura PO, Sawaia BB. Tornar-se catador: sofrimento ético-político e potência de ação. Psicol Soc [Internet]. 2013 [citado em 8 fev 2024];25(2):331-41. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/5C6kGM6PmSrzTrNqN7cC8Rk/abstract/?lang=pt
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e encontrar oportunidades de vida. Demonstra-se que, sob certas circunstâncias, até mesmo um trabalho pouco valorizado socialmente pode transformar-se em fonte de renovação e enriquecimento subjetivo 16Lima MEA, Trindade IB. O sentido do trabalho no contexto da atividade do catador de material reciclável: um estudo de caso. Cad Psicol Soc Trab [Internet]. 2018 [citado em 8 fev 2024];21(1):33-43. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172018000100003
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Ao focalizar os processos subjetivos no trabalho de populações vulnerabilizadas, é mister destacar os sentimentos das pessoas, seus sofrimentos e sua felicidade. Esse ponto de vista pressupõe a superação da concepção de que a pessoa pobre tem como preocupação unicamente a sobrevivência e que não teria “justificativa trabalhar a emoção quando se passa fome” (p. 100) 17Sawaia B, organizadora. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes; 2014.. Ao contrário, dá-se importância à humanidade, às relações com o social, aos desejos, às temporalidades e às afetividades e permite-se compreender as implicações das relações de poder, da economia e dos direitos sociais nos processos de subjetivação 17Sawaia B, organizadora. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes; 2014..

Essas informações indicam a diversidade de aspectos que caracterizam a ocupação dos catadores de materiais recicláveis e exigem esforço ao pesquisar e gerar informações para compreender sua realidade social. É necessário considerar o perfil socioeconômico, o contexto de vulnerabilidade, o grau de integração social dessas famílias, entre outros fatores associados a esse complexo e multideterminado fenômeno social para a realização de pesquisas 1Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea. Situação Social das Catadoras e dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável. Brasília, DF: Ipea; 2013.. A catação se insere em diferentes histórias individuais e, apesar de alguns elementos a qualificarem, é necessário compreender a forma como essa atividade se estabelece, é subjetivada e vivenciada em cada trajetória laboral na vida cotidiana.

É necessário conhecer o trabalho de perto, em suas sutilezas 18Coutinho MC, Oliveira F. Algumas ferramentas teóricas para o estudo psicossocial do trabalho: práticas cotidianas, processos de significação e identidades. In: Coutinho MC, Bernardo MH. Sato L, organizadores. Psicologia Social do Trabalho. Petrópolis: Vozes; 2017. p. 81-102., com o papel ativo, relacional e negociador do trabalhador na realização de suas atividades 19Sato L, Oliveira F. Compreender a gestão a partir do cotidiano de trabalho. Aletheia [Internet]. 2008 [citado em 8 fev 2024];27(1):188-97. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942008000100014
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. Há o entendimento de que os trabalhadores são “sujeitos sociais que têm um conhecimento sobre seu trabalho e possibilidade de ação sobre sua realidade”(p. 117) 20Ribeiro MA, Oliveira F, Bernard, MH, Navarro VL. Práticas em Psicologia Social do trabalho: pesquisa e intervenção. In: Coutinho MC, Bernardo MH, Sato, L, organizadores. Psicologia Social do Trabalho. Petrópolis: Vozes; 2017. p. 103-26., ou seja, aprendem e podem ser inventivos na relação com seu trabalho. Compreende-se a inventividade, conforme reflexões do campo da Psicologia Social do Trabalho, a partir: da complexidade e dos saberes cotidianos na relação do trabalhador com seu processo de trabalho; do modo de imprimir marca pessoal e/ou coletiva nas atividades; e da forma de concretizar objetivos do trabalho diante da imprevisibilidade dos eventos cotidianos 18Coutinho MC, Oliveira F. Algumas ferramentas teóricas para o estudo psicossocial do trabalho: práticas cotidianas, processos de significação e identidades. In: Coutinho MC, Bernardo MH. Sato L, organizadores. Psicologia Social do Trabalho. Petrópolis: Vozes; 2017. p. 81-102.. Neste artigo, o objetivo principal é compreender a inventividade e o aprendizado nos processos de organização do trabalho no cotidiano de catadores de material reciclável.

Métodos

Referenciado a partir dos pressupostos do construcionismo social, o método desta pesquisa é compreendido como um processo, uma prática e uma linguagem social composta por questões de poder, aspectos morais, políticos, teóricos e culturais. O rigor metodológico perpassa pela explicitação das posições do pesquisador, seus valores, seus interesses, seus contextos, suas influências e suas possibilidades de interpretação, em uma atitude geral de estar no campo 21Medrado B, Spink, MJ, Mello RP. Diários como atuantes em nossas pesquisas: narrativas ficcionais implicadas. In: Spink MJ, Brigagão J, Nascimento V, Cordeiro M, organizadoras. A produção de informação na pesquisa social: compartilhando ferramentas. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; 2014. p. 273-94. , 22Cordeiro MP, Freitas TR, Conejo SP, Luiz GM. Como pensamos ética em pesquisa. In: Spink MJ, Brigagão J, Nascimento V, Cordeiro M, organizadoras. A produção de informação na pesquisa social: compartilhando ferramentas. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; 2014. p. 31-56..

De abordagem qualitativa, busca-se produzir um conhecimento específico e contextualizado sobre o trabalho de catadoras(es) 1 b Optou-se pelo uso do termo “catadoras”, no feminino, devido a um maior número de mulheres participantes da pesquisa em comparação à quantidade de homens. de material reciclável. Focaliza-se a explicação dos processos pelos quais as pessoas descrevem, explicam ou contabilizam o mundo no qual vivem 23Spink MJ, Menegon VM. A pesquisa como prática discursiva: superando os horrores metodológicos. In: Spink, MJ, organizadora. Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. São Paulo: Cortez; 2004. p. 63-92.. Esta pesquisa pode ser entendida como do tipo exploratório-descritivo, por conta do objetivo de aumentar a familiaridade com o objeto de pesquisa em prol do aprimoramento do conhecimento e o foco em descrever as características de fenômenos, fatos, situações e problemas 24Siebra LMG. Considerações teóricas acerca da utilização da pesquisa qualitativa. Rev Psicol [Internet]. 2000 [citado em 8 fev 2024];17/18(1/2):30-9. Disponível em: http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/11224
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, 25Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas; 2002..

A pesquisa foi conduzida a partir de um estudo de casos múltiplos, modalidade de pesquisa que consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos e participantes, buscando o amplo e detalhado conhecimento acerca do assunto estudado 25Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas; 2002.. Neste caso específico, foi conduzido um estudo detalhado com catadoras(es) de material reciclável de um município da região da Grande Florianópolis, localizado no estado de Santa Catarina, na região Sul do Brasil, a fim de entender as particularidades de suas experiências.

A coleta de informações foi realizada em uma favela/comunidade entre os anos de 2021 e 2022. O local do estudo foi um bairro com cerca de 12 mil moradores 2 c Informação obtida informalmente, a partir do relato de participantes. , com ausência de serviços de saneamento, precária rede de serviços públicos, presença de moradias irregulares, predominância de pessoas com baixa escolaridade e renda, altos índices de desemprego e informalização no trabalho.

As(os) participantes da pesquisa foram 14 catadoras(es) de material reciclável, com vínculo informal de trabalho, dos quais 10 são catadores individuais e 2 pertencem a núcleos laborais de duas(dois) catadoras(es) cada. Para a delimitação de participantes, utilizou-se da definição da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) 26Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Classificação Brasileira de Ocupações. [Internet]. Brasília, DF; 2010 [citado em 25 jul 2022]. Disponível em: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.jsf
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sobre a atividade de coleta e seleção de material reciclável. A seleção das(os) participantes ocorreu por conveniência. Os critérios estabelecidos para a definição foram: 1) ter experiência no trabalho de coleta de materiais recicláveis pelo período de pelo menos duas semanas; 2) realizar ou ter realizado atividades de maneira informal, ou seja, sem contrato ou carteira de trabalho assinada; e 3) ter como principal ambiente de trabalho o próprio contexto das ruas. Objetivou-se obter um perfil complexo e diversificado de participantes, cuja caracterização objetiva está na Tabela 1. Algumas informações não foram obtidas 3 d Por conta da própria dinâmica da coleta de dados, em que alguns procedimentos, como a entrevista semiestruturada, não puderam ser conduzidos integralmente, devido a aspectos específicos, como a disponibilidade de tempo do participante. , sendo deixados espaços em branco. As identificações (ID) 3 e 11 são casos com núcleos laborais compostos por mais de uma pessoa da mesma família e, por isso, aparecem em linhas divididas na tabela.

Tabela 1.
Caracterização dos catadores participantes da pesquisa (n=14)

Para a produção de informações, foram escolhidos dois procedimentos principais: a observação e as entrevistas semiestruturadas. As observações foram realizadas no próprio ambiente de trabalho das(os) catadoras(es) e de acordo com os quesitos definidos na literatura específica 27Cardona MG; Cordeiro, RM, Brasilino, J. Observação no cotidiano: um modo de fazer pesquisa em psicologia social. In: Spink MJ, Brigagão J, Nascimento V, Cordeiro M, organizadoras. A produção de informação na pesquisa social: compartilhando ferramentas. 1a ed. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; 2014. p. 123-48.. Optou-se pela utilização de recursos variados para o registro das observações, como um roteiro de observação e diários de campo, ou seja, “anotações pessoais sobre acontecimentos marcantes ou sobre experiências do dia a dia”(p. 274) 21Medrado B, Spink, MJ, Mello RP. Diários como atuantes em nossas pesquisas: narrativas ficcionais implicadas. In: Spink MJ, Brigagão J, Nascimento V, Cordeiro M, organizadoras. A produção de informação na pesquisa social: compartilhando ferramentas. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; 2014. p. 273-94..

Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas ao longo do processo de trabalho, em um espaço e horário escolhido pela(o) participante, ocorrendo no próprio contexto das ruas, durante a observação do ambiente do trabalho ou em momento diferente, por exemplo, nos períodos de descanso. Esse procedimento é caracterizado pela construção, a priori, de um roteiro para nortear o processo de interação. O pesquisador tem liberdade para perguntar ou suprimir perguntas, propiciando momentos de construção, negociação e transformação de sentidos, havendo o compromisso de seguir uma certa padronização 28Aragaki SS, Lima MLC, Pereira CCQ, Nascimento, VLV. Entrevistas: negociando sentidos e coproduzindo versões de realidade. In: Spink MJ, Brigagão J, Nascimento V, Cordeiro M, organizadoras. A produção de informação na pesquisa social: compartilhando ferramentas. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; 2014. p. 57-72.. Salienta-se que todas as estratégias de produção de informações pressupõem fluidez relacional, horizontalidade e protagonismo às conversas cotidianas. Para a elaboração do roteiro de entrevista, foi utilizado o modelo proposto por Zago 29Zago N. A entrevista e seu processo de construção: reflexões com base na experiência prática de pesquisa. In: Zago N, Carvalho MP, Vilela RAT, organizadores. Itinerários de pesquisa: perspectivas qualitativas em sociologia da educação. Rio de Janeiro: DP&A; 2003. p. 287-309., que organiza a entrevista por temas e, entre eles, elaboram-se questões específicas, de modo a hierarquizar assuntos centrais dos periféricos. Os temas para a condução das entrevistas foram: 1) dados de identificação e caracterização; 2) cotidiano de vida e de trabalho; 3) história de vida e trabalho; 4) sentidos do trabalho; e 5) processos organizativos do trabalho.

Para a análise das informações colhidas, foi utilizada a análise de práticas discursivas por meio dos mapas de associação de ideias. A análise se inicia pela imersão no conteúdo produzido, procurando os sentidos provenientes do material. A construção dos mapas é iniciada pela definição de categorias gerais embasadas nos objetivos da pesquisa e que constituem formas de visualização das dimensões teóricas 30Spink MJ, Medrado B. Produção de sentidos no cotidiano: uma abordagem teórico-metodológica para análise das práticas discursivas. In: Spink MJ, organizadora . Práticas discursivas e produção dos sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. São Paulo: Cortez; 2004. p. 41-61.. As categorias de análise foram elaboradas com base no confronto entre os sentidos construídos ao longo do processo de pesquisa e análise e na familiarização com o campo de estudo e com as teorias de fundamentação teórica 31Spink MJ, Lima H. Rigor e visibilidade: a explicitação dos passos da interpretação. In: Spink MJ, organizadora. Práticas discursivas e produção dos sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. São Paulo: Cortez; 2004. p. 93-122.. Após a análise individual e apresentação dos dados singulares relacionados a cada participante, foi realizada a análise conjunta das informações, extraindo as singularidades e similaridades das experiências dos diversos sujeitos pesquisados.

Considerações éticas

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (CAAE: 02727118.6.0000.0121), em 21/12/2018. Foram respeitados os preceitos éticos 23Spink MJ, Menegon VM. A pesquisa como prática discursiva: superando os horrores metodológicos. In: Spink, MJ, organizadora. Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. São Paulo: Cortez; 2004. p. 63-92.ancorados no respeito às diretrizes oficiais e o compromisso de garantir a visibilidade dos procedimentos de produção e interpretação das informações, aceitando que a dialogia é intrínseca à relação estabelecida 23Spink MJ, Menegon VM. A pesquisa como prática discursiva: superando os horrores metodológicos. In: Spink, MJ, organizadora. Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. São Paulo: Cortez; 2004. p. 63-92.. O convite para a participação na pesquisa ocorreu nas próprias ruas, onde as(os) participantes foram abordadas(os) e convidadas(os) para participar do estudo. O pesquisador explicou o tema e a finalidade da pesquisa, questionou seu interesse em participar e, diante do seu aceite, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e e Cada participante poderia ler, com ou sem auxílio do pesquisador, ou pedir auxílio para alguém de sua confiança, de modo que todas(os) tiveram acesso ao conteúdo do documento. .

Resultados e discussão

Os resultados e análise das informações foram organizados a partir de dois tópicos inter-relacionados: o processo de aprendizagem; e a inventividade e as estratégias de ação cotidianas presentes nos cotidianos laborais das(os) catadoras(es).

Processo de aprendizado

O processo de aprendizado das atividades dos catadores inicialmente ocorreu, em praticamente todos os casos, ao observar pessoas mais experientes, sejam familiares, conhecidos ou mesmo outros trabalhadores nas ruas. Foi afirmado por uma das catadoras: “Somos uma família de recicladores”, ou seja, esse trabalho é ensinado, repassado e quase naturalmente reproduzido. Isso pode ser verificado no Quadro 1.

Quadro 1.
Processos de aprendizado da atividade pelas(os) catadoras(es)

O aprendizado no trabalho é o “resultado de um processo de participação social numa determinada comunidade e decorre das experiências vividas coletivamente”(p. 133) 32Oliveira FG. Do “trabalho sujo” à bela obra: o que é triar materiais recicláveis? Um estudo em psicossociologia do trabalho [Tese]. [Internet]. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais; 2016 [citado em 8 fev 2024]. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-AQGHQR/1/tese_psicologia_fabiana_goulart_de_oliveira.pdf
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. As informações produzidas evidenciaram o aprendizado das atividades laborais em interações sociais estabelecidas entre as(os) catadoras(es). Isso exige que o trabalhador desenvolva habilidades e capacidades corporais, perceptivas/sensoriais, motoras e psicossociais 12Oliveira FG, Barros VA. O que faz um catador de materiais recicláveis? Análise do trabalho e da formação profissional das triadoras de materiais recicláveis. HIG [Internet]. 2019 [citado em 8 fev 2024];3(2):75-91. Disponível em: https://hig.unihorizontes.br:8443/index.php?journal=Hig&page=article&op=view&path%5B%5D=86
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.

Com base nas informações, é possível remeter ao estudo realizado por Leny Sato 33Sato L. Diferentes faces do trabalho no contexto urbano. In: Coutinho MC, Bernardo MH, Sato L, organizadores. Psicologia Social do Trabalho. Petrópolis: Vozes; 2017. p. 151-74.junto a trabalhadores de feiras livres, cuja realidade também é de trabalho informal e a “escolha” ocorreu diante do incentivo, ajuda e ensinamento de parentes e amigos que já realizaram essa atividade. A reciclagem é uma forma de trabalho bastante tradicional na comunidade, sendo ensinada e repassada de geração em geração, enquanto opção conhecida e disponível no território. Essa é uma opção, ainda que precária, para aqueles com pouca disponibilidade de infraestrutura, matéria-prima ou escolaridade específica, inclusive em situações de desemprego.

Uma das questões mais repetidas nesta pesquisa refere-se ao fato de aprender a triar os materiais errando e sendo corrigido por veteranos ou trabalhadores dos ferros-velhos. Isso foi mencionado como meio de ir se especializando, entender cada tipo de material até que não ocorram equívocos de separação e possam produzir estratégias para tornar o trabalho mais eficaz. É possível citar o caso do Sr. A. ao tratar da prática de carregar o carrinho com o menor esforço físico possível, quando se referiu à lei da inércia – aprendizado escolar que encontrou sentido diante da prática cotidiana, inclusive porque a competência de ser rápido e produtivo é muito valorizada entre as(os) catadoras(es).

Em um estudo 32Oliveira FG. Do “trabalho sujo” à bela obra: o que é triar materiais recicláveis? Um estudo em psicossociologia do trabalho [Tese]. [Internet]. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais; 2016 [citado em 8 fev 2024]. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-AQGHQR/1/tese_psicologia_fabiana_goulart_de_oliveira.pdf
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, foi demonstrado que as(os) catadores(as) aprenderam as atividades “por meio da observação das mais experientes e das instruções que delas recebem” (p. 133). Embora informais, algumas(uns) catadoras(es) chegaram a “fazer um estágio” com outros mais experientes, passando alguns dias e acompanhando o trabalho para aprender as atividades.

A reciclagem seria como um quebra cabeça a ser montado, com muitas peças diferentes, que exige aprendizados cotidianos e seria como “uma faculdade”, tácita e relacional, de conhecimentos compartilhados e acumulados. Reforçam que “parece fácil”, mas que seria complexo na prática, pois exige muitas habilidades e conhecimentos obtidos por experiências e trocas cotidianas. Ser catador é uma ocupação que, entre outras competências, “exige principalmente inteligência” (p. 167) 34Borges JO, Kemp VH. A clínica da atividade como alternativa à saúde e a segurança no trabalho informal. In: Kemp VH, Crivelarri HMT, organizadores. Catadores na cena urbana: construção de políticas socioambientais. Belo Horizonte: Autêntica; 2008. p. 155-72..

Inventividade

Na pesquisa sobre as práticas cotidianas, a inventividade dos trabalhadores na sua relação com o trabalho é elemento de interesse recorrente, na perspectiva de quem tem saberes e fazeres específicos a compartilhar 20Ribeiro MA, Oliveira F, Bernard, MH, Navarro VL. Práticas em Psicologia Social do trabalho: pesquisa e intervenção. In: Coutinho MC, Bernardo MH, Sato, L, organizadores. Psicologia Social do Trabalho. Petrópolis: Vozes; 2017. p. 103-26.. As estratégias de resolução de problemas, os objetivos e possibilidades de ação, a concomitância da necessidade de operacionalização do trabalho e a defesa de interesses e cuidados com a saúde são questões relevantes na relação com esses trabalhadores. Algumas dessas estratégias estão elencadas no Quadro 2.

As(os) catadoras(es) dão “a sua cara” ao trabalho por meio de escolhas e estratégias, como escolher horários para evitar concorrência e preconceito; optar por quantidade em oposição à qualidade dos materiais; a percepção de que “estar limpo e bem vestido” é meio para “ser levado a sério” e “sofrer menos preconceito”. As dificuldades que exigem essas estratégias são retratadas, ainda que em realidades sociais diferentes, em múltiplos estudos nacionais 2Cavalcante S, Franco MFA. Profissão perigo: percepção de risco à saúde entre os catadores do Lixão do Jangurussu. Rev Mal-Estar Subj [Internet]. 2007 [citado em 8 fev 2024];7(1):211-31. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482007000100012
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, 5Medeiros LFR, Macêdo KB. Catador de material reciclável: uma profissão para além da sobrevivência? Psicol Soc [Internet]. 2006 [citado em 8 fev 2024];18(2):62-71. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000200009
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, 12Oliveira FG, Barros VA. O que faz um catador de materiais recicláveis? Análise do trabalho e da formação profissional das triadoras de materiais recicláveis. HIG [Internet]. 2019 [citado em 8 fev 2024];3(2):75-91. Disponível em: https://hig.unihorizontes.br:8443/index.php?journal=Hig&page=article&op=view&path%5B%5D=86
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. São “jeitinhos” e adaptações para “dar conta” das demandas, por exemplo, suprir as limitações de transporte, organizar os instrumentos de trabalho, pular para compactar materiais, fazer adaptações para carregar mais produtos, entre outras estratégias.

É necessário refletir sobre as possíveis relações entre essa preocupação com a manutenção de um capricho pessoal e dos ambientes acessados com o debate sobre desodorização 35Corbin A. Saberes e odores: o olfato e o imaginário social nos séculos XVIII e XIX. São Paulo: Companhia das Letras; 1987.. O olfato é um sentido historicamente, cientificamente e socialmente negligenciado por civilizações audiovisuais por conta do imaginário social de algo animalesco, instintivo e ligado ao desejo em oposição a um refinamento humano. Ao traçar um paralelo desse sentido com a diferenciação das classes sociais, debate-se sobre o processo de purificação dos odores, que se estende desde a higienização dos ambientes públicos e domésticos até dos próprios corpos humanos. Isso gera reflexões sobre o modo como os seres humanos se tornaram intolerantes ao que rompe com o “silêncio olfativo” do meio ambiente 35Corbin A. Saberes e odores: o olfato e o imaginário social nos séculos XVIII e XIX. São Paulo: Companhia das Letras; 1987.. É possível fazer um paralelo, ainda, com a obra literária de Carolina Maria de Jesus 36Jesus CM. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática; 2016.que, em seu “diário de uma favelada”, retrata a realidade e o cotidiano da favela na década de 1950. Em uma das passagens, a autora afirma que o seu sonho seria “andar bem limpinha”. Observa-se que muitas décadas se passaram e mudanças sociais ocorreram, mas muitas das dificuldades e questões comunitárias seguem presentes e até acentuadas quando se observam afetos, sofrimentos e dificuldades cotidianas.

Quadro 2.
Estratégias inventivas no trabalho adotadas pelas(os) catadoras(es)

Há o aprendizado de sorte, intuição, fé, enfrentamento ao preconceito e violências, estratégias para lidar com olhar social e formas de guardar os materiais. Inclui-se o jeito próprio de coletar, abrir sacolas plásticas, triar e vender; prospectar, conquistar e manter vínculos com os estabelecimentos comerciais e condomínios. Todas essas resultam em meios de adaptação, flexibilidade e aprendizado para lidar com o trabalho e seus problemas, em que “a dor ensina a gemer”, conforme afirma a Sra. Mo.

A organização do tempo de acordo com suas prioridades é uma das questões que chama a atenção, utilizando-se de tempos em que é necessário ir rápido, dar conta de atender a todos os pontos de coleta, e outros em que é melhor ir devagar, esperar pelo tempo do outro, ou mesmo de parar e economizar energia. Um exemplo estratégico é realizar o trabalho de coleta no período da madrugada, devido à maior disponibilidade de materiais, pois moradores e comerciantes costumam retirar seu lixo durante a noite. Essa também é uma estratégia para evitar o desgaste físico e psicológico de conviver com o movimento de veículos e excesso de pessoas nas ruas – assim, diminuem-se os riscos de acidentes e xingamentos, por exemplo. Não obstante, é uma forma de lidar com a crescente concorrência por materiais recicláveis nas ruas.

O caminhão do lixo se apresenta como concorrente, pois é necessário realizar uma “luta contra o relógio” de modo que a coleta seja realizada antes que ele passe, levando consigo um grande volume de materiais que poderia ser reciclado. Apesar disso, as(os) participantes narram e demonstram boa relação com os trabalhadores do caminhão, entendendo o papel e o tempo de trabalho de cada um no cotidiano. Embora “concorrentes” pelos materiais, constroem vínculos e estabelecem parcerias de trabalho. Observou-se que os trabalhadores utilizam estratégias para auxiliar as(os) catadoras(es), como deixar no chão materiais nobres para que tenham melhor destino, andar com o caminhão um pouco mais devagar e até esperar por alguns momentos, de modo que seja finalizado o trabalho de catação. Também se cumprimentam e se chamam pelo nome, fazem brincadeiras, dialogam sobre estar “passando o caminhão cedo demais” e pedem desculpas por “atrapalhar” o outro ao fazer seu trabalho.

Outro saber, frequentemente atrelado à fé e vontade divina, seria pensar em algo que precisa ou deseja, focar a atenção no trabalho e acabar encontrando isso em algum contêiner ou doação. Especificamente sobre as doações, observam que levar os filhos para o cotidiano de trabalho é um meio de multiplicar seu recebimento, tendo em vista que as pessoas acabam “se sensibilizando” com a presença de crianças.

Diversas(os) catadoras(es) mencionam a existência de supostos “testes de honestidade”, quando pessoas deixam materiais com alto valor agregado disponível e verificam se não seriam furtados. Ao ser “aprovado” nessas provas cotidianas, mantém-se o trabalho e conquista-se privilégios, como adentrar novos espaços internos e ter acesso à chave do condomínio. Por adquirir a confiança das pessoas, passam a obter o “direito” de repassar os espaços para outras(os) catadoras(es) em caso de impossibilidade de manter o trabalho, ou seja, de escolha da linha de sucessão do “ponto” conquistado. A própria pessoa também terá que passar por esses mesmos “testes”, porém, com o aval de honestidade de uma pessoa de confiança.

Há noções de sociabilidade com pessoas dos espaços urbanos, em especial com os responsáveis pelo lixo do condomínio e trabalhadores do caminhão do lixo, estabelecendo parcerias e contratos psicológicos com normas de conduta. Há mudanças nos processos laborais em dias de climas desfavoráveis, como chuva, presença de lama e vento forte, em que muitas vezes há estratégias inventivas e engenhosas para que a realização do trabalho seja possível e se evite um adoecimento, como cobrir os materiais, o cavalo e buscar por um espaço com cobertura até que o clima se modifique.

Na convivência com outras(os) catadoras(es), há regras e saberes próprios, reconhecidos e compartilhados. Exemplos são: não deixar os espaços com material espalhado; não fazer muita bagunça na lixeira e/ou contêiner; não mexer em espaços já ocupados por outras(os) catadoras(es), esperando até que termine seu trabalho; o fato de se cumprimentarem ao se cruzarem nas ruas; e a noção de que o primeiro a chegar em determinado lugar tem direito sobre os materiais obtidos. Conforme a Sra. R.: “na rua, ninguém é dono”, mas mantém situações de parceria e solidariedade.

A identidade social tem referência no sentimento de pertença grupal e na afetividade do grupo de catadores 37Matos TGR, Maia LM, Maciel RH. Catadores de material recicláveis e identidade social: Uma visão a partir da pertença grupal. Interação em Psicologia [Internet]. 2012 [citado em 8 fev 2024];16(2),239-47. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5380/psi.v16i2.22147
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. Sobre isso, uma catadora disse: “somos uma grande família”. Esse tipo de discurso esteve presente em outras narrativas, como “somos um povo que se ajuda”, em especial entre catadoras(es) em situação de rua. Todos salientam a presença e importância da boa convivência entre recicladores, com redes de sociabilidade e solidariedade que parecem relevantes no cotidiano por poder contar com o outro. Além das amizades desenvolvidas nas ruas da cidade, o fato de ser conhecido pelas pessoas foi motivo de orgulho enfatizado em várias narrativas. Conforme afirma a Sra. R., o trabalho tem estreita convivência com as pessoas e a rotina do município, em que é possível ver “a cidade acordar”, conhecer quem passa e sentir falta quando alguém não aparece.

É fundamental, mesmo no campo da informalidade, atentar-se para as esferas do trabalho real e do prescrito, entre a realidade concreta do trabalho e as exigências definidas externamente aos catadores. É, evidentemente, um prescrito que foge aos padrões do mercado formal de trabalho, que não é documentado ou repassado formalmente, nem observado ou perceptível rapidamente em uma pesquisa, inclusive porque os limites com o “trabalho real” são menos óbvios. A principal questão do “prescrito” está nas exigências externas (leis, regras de operação de condomínios e estabelecimentos comerciais, regras das ruas etc.), em informações que são repassadas por intermediários, nas relações estabelecidas e em exigências conhecidas e aprendidas ao se inserir no trabalho. São formalidades no processo de trabalho informal, em “prescrições” que estão presentes, são requeridas, mas são apresentadas e entendidas somente com o passar do tempo. O trabalho real se dá nas relações cotidianas, nas brechas, nos jeitos próprios de fazer e conduzir o trabalho, nas formas particulares e coletivas de interpretar normas e regras e lidar com os desafios do trabalho.

Ao longo de toda a exposição, observa-se a complexidade das tarefas desenvolvidas, que geralmente ocorrem em condições precárias de trabalho. Assim, é possível refletir que, ao trabalhador, acaba sendo exigido o desenvolvimento de habilidades e capacidades corporais, perceptivas/sensoriais, motoras e psicossociais 12Oliveira FG, Barros VA. O que faz um catador de materiais recicláveis? Análise do trabalho e da formação profissional das triadoras de materiais recicláveis. HIG [Internet]. 2019 [citado em 8 fev 2024];3(2):75-91. Disponível em: https://hig.unihorizontes.br:8443/index.php?journal=Hig&page=article&op=view&path%5B%5D=86
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. Inúmeras competências requeridas e valorizadas para o desenvolvimento do trabalho são citadas ao longo da pesquisa. A Sra. R., por exemplo, destaca a relevância de manter bons relacionamentos interpessoais, em especial com sua colega de trabalho, além de ter esforço, disciplina e boa organização do tempo e de recursos. O Sr. A. e o Sr. E citam a necessidade de pontualidade, responsabilidade e estratégias de negociação. Essas competências demonstram a complexidade do trabalho na reciclagem, em especial no uso estratégico do tempo e da energia disponível, não se tratando de atividades realizadas de forma exclusivamente mecânica ou operacional.

Não obstante, algumas competências valorizadas ao longo do processo de intervenção, tais como: o aprendizado de “não errar”, ou seja, realizar toda a triagem adequadamente; a necessidade e o aprendizado de realizar a separação dos materiais recicláveis previamente, aumentando os rendimentos; e as escolhas de coletar todo tipo de material, ou escolher tipos específicos de acordo com os preços praticados pelo mercado. Não há consenso entre as(os) participantes sobre qual seria a melhor estratégia, porém, salientam que essa é uma escolha que resulta em diferentes remunerações. É muito importante saber se vale a pena parar em determinados locais, pegar certos produtos de acordo com seus preços, desgaste físico e riscos. Geralmente, esse tipo de avaliação e reflexão precisa ocorrer rapidamente no momento do trabalho, ao abrir um contêiner e definir qual será a estratégia de coleta empregada.

Considerações finais

Todo o processo de pesquisa ocorreu diante de um complexo contexto pandêmico. Isso modificou a forma como o caminho foi trilhado, adiou etapas, exigiu máscaras e distanciamento físico das pessoas. Há clareza de que as mazelas próprias a esse cenário, permeado por novos riscos psicossociais e maior vulnerabilidade social, pobreza, desigualdade social e desemprego, produziram informações em que a suposta “normalidade” conviveu com o caos, e que esse caos atingiu de forma ainda mais profunda as populações mais empobrecidas da sociedade. A reciclagem também apareceu como uma opção e/ou oportunidade de sobrevivência nesse momento.

Nos diversos casos citados, o enfoque se firmou em uma Psicologia do Trabalho que olha para o trabalho pela perspectiva de quem o vivencia no cotidiano, buscando o diálogo com os trabalhadores 38Sato L, Coutinho MC, Bernando MH. A perspectiva da Psicologia social do Trabalho. In: Coutinho MC, Bernardo MH, Sato L, organizadores. Psicologia Social do Trabalho. Petrópolis: Vozes; 2017. p. 11-24., em especial aqueles de setores marginalizados, discriminados e explorados, entendendo o mundo do trabalho a partir da visão deles. Diante disso, qualquer tentativa de psicologização dos fenômenos acessados e, por consequência, das pessoas que permitiram adentrar as suas histórias, seria nocivo e violento com suas trajetórias. Um cenário como o que se apresentava carece de leituras amplamente contextuais e complexas. Entende-se esta pesquisa como uma fotografia produzida a partir de alguns olhares, escutas, tateares e temperaturas, em especial a de um pesquisador com suas próprias histórias, vivências e posicionamentos, mas privilegiando as histórias e os caminhos trilhados, as quais aspiram ser produtoras de reflexões e estranhamentos.

Sobre os achados da pesquisa, identificou-se que o processo de aprendizado das atividades laborais ocorreu no próprio cotidiano, a partir dos vínculos estabelecidos nas relações cotidianas, principalmente com pessoas mais experientes, além do desenvolvimento de habilidades com base na experiência. Pouca ou nenhuma escolarização formal foi identificada ao longo da pesquisa, com conhecimentos sendo produzidos no próprio contexto das ruas.

Um dado marcante ao longo de toda a pesquisa foi o caráter inventivo dos trabalhadores, com estratégias que usam para seu fazer, em formas de organizar o trabalho e fazer-acontecer. Contrariando qualquer lógica de indeterminação, há regras, normas e princípios a serem respeitados, etapas do processo de trabalho (como catação, triagem e venda) que são compartilhadas e reiteradas cotidianamente, seja no contexto das ruas ou nos espaços dos condomínios ou comércios. São formalidades em procedimentos, combinados e preocupações com a forma como são vistos que, muitas vezes, reproduzem algumas lógicas organizacionais que vão sendo percebidos na pesquisa à medida que é acompanhado o trabalho.

“Não há a possibilidade de dissociar o que somos da nossa forma de inserção no trabalho” (p. 637) 39Nardi HC. Subjetividade e trabalho. In: Bendassolli PF, Borges-Andrade JE, organizadores. Dicionário de Psicologia do Trabalho e das Organizações. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2015. p. 635-40.. Nessa direção, uma questão de destaque, embora não tenha sido o objetivo específico deste artigo, diz respeito a enfrentamentos específicos pelos quais homens e mulheres precisam lidar e desenvolver estratégias cotidianas, inclusive no que se refere à organização do trabalho. Enquanto aos homens persiste uma cobrança social e interna de ser um provedor familiar, as mulheres sobrecarregam-se em jornadas que mesclam trabalho doméstico, cuidado com filhos e catação. Também há diferenças no modo como se relacionam com a exposição à violência urbana e, até mesmo, com as necessidades fisiológicas. Essas questões são costumeiramente mais difíceis para as mulheres. Sugere-se que novas produções de conhecimento futuras deem continuidade a esses importantes debates introduzidos neste manuscrito.

Ao longo deste artigo, salientou-se o lugar de aprendizado, competências e inventividade, considerando como ato político entrar em contato com o trabalho que ocorre no cotidiano para além de suas negatividades, em um contexto social que considera e respeita o trabalho produzido pela vasta população brasileira historicamente e progressivamente vulnerabilizada. Ainda assim, em nenhuma hipótese entende-se que a flexibilização de direitos ou relativização de conquistas históricas deva ser um caminho estimulado. Pelo contrário, há muito que garantir no “universo” do trabalho e o cada vez mais esvaziado “mundo” do emprego não foge a essa necessidade. Não há luta vencida. Vislumbra-se trabalho inclusivo (não de forma somente precária) e que possa ser digno e decente. Que garanta direitos e respeite a diversidade.

Referências

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  • b
    Optou-se pelo uso do termo “catadoras”, no feminino, devido a um maior número de mulheres participantes da pesquisa em comparação à quantidade de homens.
  • c
    Informação obtida informalmente, a partir do relato de participantes.
  • d
    Por conta da própria dinâmica da coleta de dados, em que alguns procedimentos, como a entrevista semiestruturada, não puderam ser conduzidos integralmente, devido a aspectos específicos, como a disponibilidade de tempo do participante.
  • e
    Cada participante poderia ler, com ou sem auxílio do pesquisador, ou pedir auxílio para alguém de sua confiança, de modo que todas(os) tiveram acesso ao conteúdo do documento.
  • Como citar (Vancouver):
    Schweitzer L, Tolfo SR. Aprendizados e estratégias inventivas no cotidiano de catadoras(es) de material reciclável. Rev Bras Saúde Ocup [Internet]. 2024;49:e10. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2317-6369/27522pt2024v49e10
  • Financiamento: Os autores declaram que o trabalho não foi subvencionado.
  • Informação sobre trabalho acadêmico: Os autores informam que o trabalho foi baseado na tese de doutorado de Lucas Schweitzer, intitulada “Além da sobrevivência: processos organizativos e sentidos do trabalho para catadoras/es de material reciclável”, apresentada em 2022 ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
  • Disponibilidade de dados: Os dados não podem ser disponibilizados publicamente devido a restrições éticas.

Editado por

Editor-Chefe:
José Marçal Jackson Filho

Disponibilidade de dados

Disponibilidade de dados: Os dados não podem ser disponibilizados publicamente devido a restrições éticas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    09 Ago 2022
  • Aceito
    01 Nov 2023
  • Revisado
    30 Out 2023
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