Construção coletiva de mudança no Curso de Graduação em Enfermagem: um desafio

Construcción colectiva de cambio en el Curso de Graduación en Enfermería: un desafío

Change in the collective construction in the Nursing Undergraduate Nursing Course: a challenge

PESQUISA

Construção coletiva de mudança no Curso de Graduação em Enfermagem: um desafio

Change in the collective construction in the Nursing Undergraduate Nursing Course: a challenge

Construcción colectiva de cambio en el Curso de Graduación en Enfermería: un desafío

Ana Maria Ribeiro dos Santos^I; Altamira Pereira da Silva Reichert^II; Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes^III; Sheila Coelho R. Vasconcelos Morais^IV ; Adélia Dalva da Silva Oliveira^V; Rosilene de Lima Brito Magalhães^VI

^IMestre em Enfermagem. Professora da UFPI, Teresina, PI. Endereço para Contato: Rua Professor Madeira, 1519. Teresina- PI. [e-mail].

^IIEnfermeira. Doutoranda em Enfermagem Professora da UFPB, João Pessoa, PB. [e-mail]

^IIIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora da UFPI, Teresina, PI. Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da NOVAFAPI. [e-mail]

^IVEnfermeira. Especialista em Infecção Hospitalar. Professora da NOVAFAPI, Teresina, PI. Mestranda em Enfermagem pela UFPI. [e-mail]

^VEnfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora da NOVAFAPI, Teresina, PI. [e-mail]

^VIEnfermeira. Professora do Curso Técnico de Enfermagem do Colégio Agrícola de Teresina CAT da UFPI, Teresina. PI. Mestranda em Enfermagem pela UFPI. [e-mail]

RESUMO

O presente trabalho tem como objeto de estudo a elaboração de uma proposta de integração para o quarto bloco do Curso de Enfermagem da NOVAFAPI. Objetivou-se descrever a rede de estrutura de conteúdos, as competências e habilidades a serem desenvolvidas, como também discutir a metodologia e o método de avaliação indicada e elaborar proposta para o quarto bloco. Utilizou-se abordagem qualitativa, com base no referencial da pesquisa-ação. Os sujeitos foram os docentes e representantes discentes do bloco, acrescido da coordenadora do curso. Os resultados evidenciam que já existe a compreensão de que o currículo integrado contribuirá para a formação de sujeitos mais capazes de transformar a realidade social.

Descritores: Enfermagem; Currículo; Processo de mudança.

ABSTRACT

This study aims to draw up a proposal of integration for the fourth term of Nursing from NOVAFAPI. The main focus was to describe the subjects' structure chain, the competences and abilities to be developed, as well as discuss the methodology and the method of assessment specified and draw up a proposal for the fourth term. A qualitative approach was used, based on the action research referential. The subjects were the faculties and students from the term, plus the coordinator of the course. Its results show there is already the understanding that the integrated curriculum will contribute for the education of subjects more capable of transforming social reality.

Descriptors: Nursing; Curriculum; Change process.

RESUMEN

El presente trabajo tiene como objeto de estudio la elaboración de una propuesta de integración para el cuarto bloque del curso de Enfermería de NOVAFAPI. El objetivo consistió en describir la red de estructura de contenidos, las competencias y habilidades a seren desarrolladas, como también discutir la metodología y el método de evaluación indicada y elaborar propuestas para el cuarto bloque. El abordaje cualitativo fue utilizado, con base en el referencial de la pesquisa-acción. Los sujetos fueron los docentes y representantes discentes del bloque acrecido de la coordinadora del curso. Los resultados indican que ya existe la comprensión de que el currículo integrado contribuirá para la formación de sujetos más capaces de cambiar la realidad social.

Descriptores : Enfermería; Currículo; Proceso de cambio.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente trabalho consta de um projeto de pesquisa e intervenção em desenvolvimento na Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí NOVAFAPI, integrando disciplinas do currículo, funcionando como um ensaio para a implantação do currículo integrado.

Inicialmente convém citar que o Projeto Político Pedagógico do Curso de Enfermagem foi construído numa perspectiva anterior ao que hoje é proposto pelas Diretrizes Curriculares e pelas diretrizes constitucionais do Sistema Único de Saúde (SUS).

Atualmente a Coordenação e os professores do curso entendem a necessidade de mudanças no processo de formação dos profissionais principalmente no que diz respeito à fundamentação teórico-metodológica e a prática docente, no sentido de promover estratégias de aproximação do processo ensino -aprendizagem ao SUS, de acordo com determinação da Lei Orgânica da Saúde de 1990, que, no artigo 6º, inclui como campo de atuação do SUS " a ordenação da formação de recursos humanos na área da saúde" e " O incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico"⁽¹⁾.

A relação educação/trabalho é uma idéia há muito perseguida por todos aqueles que acreditavam e acreditam no SUS e que continuam lutando pela efetivação de seus princípios, e isso traz desdobramentos para o ensino⁽²⁾.

Assim sendo, uma das questões que o grupo de docentes do curso vem procurando discutir diz respeito ao currículo por disciplinas que possui como característica principal o formalismo, no qual as disciplinas que o compõem são campos de conhecimentos específicos, delimitados e estanques, as quais devem ser esgotadas por professores e alunos em prazos convencionalmente estabelecidos⁽³⁾. Esta é uma questão que vem sendo discutida, pois a divisão disciplinar do conhecimento tem se mostrado incapaz de dar conta da problemática social na atualidade⁽⁴⁾.

Frente a estes fatos, vem sendo considerado pelo grupo como estratégia de mudança, a proposta de adoção do currículo integrado, que articula de forma dinâmica o ciclo básico e clínico, ensino, serviço e comunidade, prática e teoria, por meio da integração dos conteúdos e abordagem de temas transversais. Esta característica de trabalho interdisciplinar é cada vez mais necessária no campo de atenção à saúde em vista da complexidade do processo de adoecer humano e a ampliação do campo de interdependência humana⁽⁴⁾.

As discussões e reflexões realizadas levaram o grupo a concluir que não existe um modelo padronizado para o currículo integrado. Este deve ser construído coletivamente e precisa atender em cada realidade, as necessidades do meio social e as características dos estudantes. O processo de discussão sobre atribuições profissionais legitimadas pela prática atual e as atribuições que se deseja que sejam incorporadas às realidades práticas de cada curso define o perfil profissional⁽³⁾.

Inicialmente, no sentido de acumular conhecimentos para definir as mudanças necessárias e o caminho para implementá-las, foi pactuada entre os docentes e a coordenação do Curso de Enfermagem a realização de um Curso de Especialização em Metodologia do Ensino Superior, que teve início em outubro de 2005 e do qual estão participando 42 do total de 56 docentes. Este tem sido um espaço de discussão extremamente fértil para desconstruir e reconstruir as formas de pensar e ensinar a enfermagem.

Na busca de referenciais para essa construção, o Curso de Ativadores de Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde contribui substancialmente, por meio dos conhecimentos atualizados oferecidos, além de oportunizar vivências metodológicas de ensino diferentes das formas tradicionais, provocando reflexões e possibilitando aplicações em nosso cotidiano, uma vez que metodologias pedagógicas ativas propiciam a formação de sujeitos mais críticos, reflexivos e participativos, com competências e habilidades para influir e tentar mudar a realidade social.

Com base no exposto, realizou-se este estudo objetivando descrever a rede de conteúdos e as competências a serem desenvolvidas no quarto módulo do curso de graduação em enfermagem, discutir a metodologia e o método de avaliação indicada e elaborar proposta para o quarto módulo do currículo integrado do curso de graduação em enfermagem.

2. METODOLOGIA

Devido ao caráter dialético do processo de mudança já iniciado no curso de enfermagem, optou-se por uma abordagem qualitativa, com base no referencial da pesquisa-ação.

Entre as diversas definições possíveis para esta estratégia de pesquisa, considerou-se, neste estudo, a pesquisa-ação como aquela que é "concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e na qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo"⁽⁵⁾.

A pesquisa-ação tem suas origens nos trabalhos de Kurt Lewin, em 1946, num contexto de pós-guerra, tendo sido desenvolvida dentro de uma abordagem de pesquisa experimental que se pautava por um conjunto de valores como: a construção de relações democráticas; a participação dos sujeitos; o reconhecimento de direitos individuais, culturais e étnicos das minorias; a tolerância a opiniões divergentes e ainda a consideração de que os sujeitos mudam com mais facilidade quando motivados por relações grupais⁽⁶⁾.

Nesse sentido, pode-se observar que as origens da pesquisa-ação a reconhecem como uma estratégia de investigação participativa que avança no sentido de transformar uma dada realidade, conduzindo a mudanças reais na forma como as pessoas interagem com o mundo e com os outros ao seu redor. Nesse sentido "a pesquisa-ação torna-se a ciência da práxis exercida pelos técnicos no âmago de seu local de investimento. O objeto da pesquisa é a elaboração da dialética da ação num processo pessoal e único de reconstrução racional pelo ator social"⁽⁷⁾.

Esta estratégia metodológica tem por pressuposto que o grupo participante deve possuir objetivos e metas comuns e estar interessado em um problema que tenha emergido no contexto em que atua, sendo que a importância na sua formação acontece quando os sujeitos compreendem que podem construir conhecimentos sobre ensinar fazendo uma reflexão crítica sobre suas atividades coletivamente, de forma contextualizada, institucional e historicamente⁽⁸⁾.

O planejamento de uma pesquisa-ação é flexível, não sendo necessário seguir fases rigidamente ordenadas. Na produção de dados, pode-se recorrer a técnicas de grupo, facilitando a realização de discussões de modo coletivo⁽⁵⁾.

A partir dessa compreensão, foram escolhidos intencionalmente os docentes e representantes discentes do quarto bloco do curso de enfermagem para participarem da pesquisa, acrescido da coordenadora do referido curso. A escolha da coordenadora se fez em função de sua representatividade dentro da situação apresentada e de possíveis sugestões dos problemas e do enfoque selecionados para o quarto bloco atual e futuro módulo do currículo integrado. Inicialmente, procurou-se definir os problemas, e as possíveis soluções para posteriores ações de intervenção.

Como o desenvolvimento desse método ocorre por meio da relação dialética entre o pesquisador e o grupo, o processo promoveu uma contínua relação de troca reflexiva sobre o vivido. A partir disso, o grupo se reuniu quinzenalmente para reflexão e discussão sobre a sua prática. Os dados foram coletados pelo pesquisador durante estas reuniões por meio de escuta sensível, como modo de escutar/ver. Essa é uma técnica que se apóia na empatia, no sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro para compreender as atitudes e os comportamentos, assim como o sistema de idéias, valores, símbolos e mitos⁽⁷⁾.

Como parte da técnica, foi elaborada uma ata de cada encontro descrevendo as decisões do grupo. Estas atas eram lidas e discutidas no início dos encontros seguintes, a fim de realizar uma avaliação permanente da ação. Desta forma, a análise coletiva se realizou de forma concomitante a coleta, possibilitando uma reflexão crítica sobre a realidade para que, ao final, fosse possível elaborar a proposta para o quarto módulo do curso, que se almeja implementar.

É importante mencionar que este projeto de pesquisa foi submetido a aprovação do Comitê de Ética da NOVAFAPI e o seu desenvolvimento contou com o respaldo legal do consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, conforme a Resolução 196/96 que trata da ética em pesquisa envolvendo seres humanos⁽⁹⁾.

3. RESULTADOS

3.1 A organização do bloco - aspectos metodológicos e de avaliação

O Curso de Enfermagem da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí NOVAFAPI foi autorizado no ano de 2000, iniciando sua primeira turma em 2001. Atualmente funciona com um currículo por disciplinas, distribuídas como obrigatórias, optativas e atividades complementares, conforme matriz curricular apresentada no Quadro 1⁽¹⁰⁾.

Para integralização do currículo, conforme evidenciado na matriz curricular acima, devem ser cursadas 162 horas de disciplinas optativas e 108 horas de atividades complementares. As disciplinas optativas oferecidas são: Saúde do trabalhador, Informática para Enfermagem, Atendimento de Urgência, Estrutura e Funcionamento do Ensino Médio, Programa de Saúde no Ensino Médio e Tópicos Especiais em Enfermagem. São consideradas atividades complementares as vivencias dos alunos em situações técnico-didáticas específicas da área.

No sentido de viabilizar a mudança e favorecer a adoção de metodologias pedagógicas ativas e centradas nos estudantes, sentiu-se a necessidade de contar também com a participação da instituição e procurou-se a coordenação de extensão, com a finalidade de aproximar a instituição dos serviços e grupos comunitários da região, para garantir o planejamento do processo ensino-aprendizagem focalizado em problemas sanitários prevalentes que proporcionem ao estudante trabalhar com problemas reais e assim formar enfermeiros com visão humanística, senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania.

Com este propósito, foram iniciadas em abril/2006 as primeiras reuniões para organização do módulo, com a firme intenção de implantá-lo em agosto. Entretanto, devido a novidade do tema, ao tamanho da responsabilidade envolvida no projeto e a exigüidade do tempo, foi percebido pelo grupo que seria mais adequado, inicialmente, integrar-se apenas as disciplinas Semiologia e Semiotécnica para Enfermagem e Bases Técnicas e Científicas da Assistência de Enfermagem. Desta forma, após avaliação do processo no final do semestre e, contando-se com a experiência adquirida pelo grupo, dar-se-á continuidade ao projeto, trata-se do efeito recursivo em função da reflexão permanente sobre a ação⁽⁷⁾.

Assim, a princípio, foram definidas as competências a serem adquiridas pelos alunos, a seguir, organizou-se a rede de estrutura de conteúdos necessária para o desenvolvimento dessas competências. Então, planejou-se a metodologia a ser adotada no processo ensino-aprendizagem, assim como a proposta de avaliação do processo.

Nessa construção, observou-se que o confronto de idéias, de avaliações é necessário e pode ser precursor de mudanças, pois a pesquisa-ação, como estratégia metodológica, não se limita a uma forma de ação, mas inclui a ampliação do conhecimento dos envolvidos⁽⁵⁾. Verificou-se que, além de conhecimento, permitiu a apreensão de novas atitudes.

No processo de mudança em construção se considerou competência "a aptidão para enfrentar uma família de situações análogas, mobilizando de uma forma correta, rápida, pertinente e criativa, múltiplos recursos cognitivos: saberes, capacidades, microcompetências, informações, valores, atitudes, esquemas de percepção, de avaliação e de raciocínio"⁽¹¹⁾.

Entendeu-se, então, que ser competente significa participar como construtor de seu saber, e isso exige envolvimento do profissional na reflexão crítica, na pesquisa sobre sua prática e na avaliação dos saberes produzidos em seu campo profissional, para que estes sejam incorporados conscientemente na coleção de seus saberes, que deverão encontrar-se em permanente construção, para permitir ressignificações na vida profissional e pessoal de cada um ⁽¹²⁾.

Como resultado das discussões, o grupo de docentes/discentes definiu as seguintes competências/habilidades como necessárias a serem adquiridas no quarto módulo do Curso de Graduação em Enfermagem da NOVAFAPI. (Quadro 2).

Durante as reuniões o grupo participante deste estudo elaborou uma rede de estrutura de conteúdos indispensável para o desenvolvimento destas competências/habilidades, como também para se adequar às transformações decorrentes do avanço científico e tecnológico presentes no mundo do trabalho na atualidade.

- Assistência de Enfermagem na prevenção e controle da IH relacionadas à equipe de saúde, a artigos hospitalares, ao meio ambiente e ao cliente;

- O Cliente Hospitalizado Reações, Posturas e Expectativas.

- Prontuário do cliente, admissão, alta, transferência, óbito e anotações de enfermagem.

- Cuidar /cuidado holístico;

- Considerações éticas gerais para o cuidar de Enfermagem;

- Bases teórico-metodológicas para a coleta de dados;

- Avaliação clínica e técnicas instrumentais para o exame físico geral;

- Avaliação das condições emocionais e mentais do indivíduo;

- Exame neurológico;

- Exame da cabeça e pescoço;

- Exame físico da pele e fâneros;

- Exame do tórax com ênfase no aparelho circulatório e respiratório;

- Exame do abdome com ênfase no aparelho digestivo e urinário;

- Exame do aparelho locomotor;

- Exames laboratoriais mais freqüentes;

- Sinais Vitais;

- Necessidades higiênicas unidade do cliente;

- Mecânica corporal, limitação de movimentos, transporte e posição para exames;

- Aplicação de calor e frio como método terapêutico;

- Terapêutica medicamentosa;

- Administrando medicamento por via oral, sublingual, retal e tópicos por via cutânea, nasal, vaginal, ocular e otológica;

- Princípios, preparo e cálculo de soluções e medicamentos;

- Administração de medicamento por via parenteral;

- Processo de cicatrização de feridas;

- Atuação da enfermagem na prevenção e controle das IH de sítio cirúrgico;

- Técnica asséptica de curativo;

- Atuação da enfermagem na prevenção e controle das IH do intestino grosso;

- Sonda nasogástrica e retal;

- Atuação de enfermagem na prevenção e controle das IH do trato urinário;

- Cateterismo vesical;

- Atuação da enfermagem na prevenção e controle das IH do trato respiratório;

- Administração de medicamento por via respiratória;

- Oxigenoterapia. Realização de aspiração das vias aéreas superiores;

- Transfusão de sangue e seus componentes hemoderivados;

- Teorias de enfermagem;

- Plano assistencial de enfermagem;

- Assistência de enfermagem ao cliente grave e ao morto.

Quanto à metodologia a ser adotada no processo ensino-aprendizagem, foi considerado conveniente respeitar o ritmo da aprendizagem e do desenvolvimento de cada sujeito, buscando sempre favorecer a interdisciplinaridade, a aprendizagem cooperativa e a promoção da autonomia intelectual⁽¹³⁾.

O processo de formação de enfermeiros envolve múltiplas dimensões da vida humana, tais como: intelectual, afetiva, social, estética, ética, cultural, política, além de múltiplos conhecimentos de outras áreas. A formação em enfermagem sempre teve seu fundamento na teoria e na prática, sendo o campo da prática o local de busca desta ligação, embora não se encontrem estudos que evidenciem como se deu esta ligação nos diferentes momentos da formação do enfermeiro em nosso país⁽¹⁴⁾.

Assim sendo, para favorecer a aprendizagem mais ativa e significativa, além das aulas expositivas para grandes grupos, foram propostas atividades teórico-práticas em grupos menores, que deverão ser antecedidas por estudos com roteiros orientadores e questões estimuladoras da aprendizagem. O sentido será sempre levar a discussão/reflexão e posterior aprofundamento com leituras complementares, a fim de que o aluno assuma a responsabilidade pelo seu aprendizado.

O grupo definiu que as práticas deverão acontecer em escolas, unidades básicas e unidades hospitalares, buscando estabelecer uma lógica do saudável para o doente, da atenção básica para a atenção hospitalar. Esta é uma visão complexa, pois existe atualmente inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os saberes desunidos, divididos, compartimentados e as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários ⁽¹⁵⁾.

A avaliação da aprendizagem foi percebida e pactuada pelo grupo como um processo formativo permanente, voltado para o desenvolvimento das competências estabelecidas. Esta se fará de forma a reforçar nos alunos a idéia do compromisso com o aprender, possibilitar o diagnóstico e acompanhamento da aprendizagem e, quando necessária, a sua reorganização para superar possíveis dificuldades e estimular cada aluno a construir seu saber. Desta forma, foi decidido pelo grupo de docentes e discentes o acréscimo às avaliações somativas já existentes (provas teóricas e prática) de outros instrumentos e critérios, tais como:

- A elaboração de um instrumento de auto-avaliação, que contemple as dimensões cognitivas, afetivas e psicomotoras com a finalidade de levar o aluno a refletir sobre a sua aprendizagem e promover a sua conscientização, de tal forma que seja um processo em que ele respeite os objetivos da disciplina e pense com responsabilidade sobre a sua aprendizagem;

- Ampliação e aprimoramento do instrumento de acompanhamento de atividades, para permitir identificar melhor as atitudes, interesse, responsabilidade, participação, iniciativa, relacionamento e conhecimento teórico, e que este seja utilizado desde os encontros teórico-práticos em pequenos grupos no laboratório de enfermagem, a fim de proporcionar o acompanhamento durante todo o processo;

- Criação de Reuniões Pedagógicas Mensais para discussão da aprendizagem no módulo, com a finalidade de deliberar de forma conjunta sobre as ações de aprimoramento do processo e decidir, quando necessário, a tomada de decisões pedagógicas, de modo a auxiliar no avanço do processo ensino-aprendizagem como um todo.

A diversidade de instrumentos de avaliação ajuda a ampliar a reflexão sobre as atividades desenvolvidas, para assim se estabelecer discussões com implementação de novas ações que possibilitem a reflexão permanente sobre o processo ensino-aprendizagem numa reconstrução racional, pessoal e única, pelos docentes e discentes envolvidos no processo ⁽⁷⁾.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia da pesquisa-ação estimulou o exercício polêmico de refletir sobre o processo ensino-aprendizagem, possibilitando troca de experiências e conhecimentos, que certamente ajudarão a promover tanto a mudança na formação em enfermagem quanto à transformação dos sujeitos envolvidos no processo de mudança.

Sabe-se que a estrutura do bloco poderá sofrer mudanças, entretanto a aprendizagem individual e a apreensão de novas atitudes adquiridas nas discussões e reflexões coletivas marcaram e provavelmente dirimiram muitas dúvidas a cerca do risco de desarticular o currículo disciplinar, mudando, assim, a visão do grupo sobre a formação em enfermagem.

O estudo mostrou ser tarefa do educador apontar caminhos para uma prática de saúde cidadã assim como é através de uma relação dialógica com os alunos, que se pode ajudá-los a construir os seus projetos profissionais. Os resultados apontam que a integração do currículo contribuirá para tornar o aluno sujeito de sua aprendizagem, dotado de uma visão mais integral acerca do processo saúde-doença e conseqüentemente um agente de transformação social.

Desta forma reafirma-se que a mudança na educação é um desafio coletivo, entremeado de dúvidas e dificuldades, marcado pela subjetividade dos envolvidos no processo e pelo confronto dos problemas cotidianos, porém propulsora de inovação, criatividade e crescimento pessoal. Entretanto, requer dos envolvidos a capacidade e a disposição para uma construção constante, através da recolocação de prioridades, gerando sempre novas discussões e posteriores ações, numa reconstrução permanente, contínua, a fim de realizar a formação e emancipação de todos os sujeitos da prática.

Com este estudo se acredita estar contribuindo para a formação de enfermeiros autônomos, críticos, reflexivos, participativos e ativadores de práticas de saúde apropriadas às necessidades sociais e profissionais da atualidade.

Submissão: 05/05/2007

Aprovação: 12/07/2007

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  30 Out 2007
• Data do Fascículo
  Ago 2007

Histórico

• Aceito
  12 Jul 2007
• Recebido
  05 Maio 2007