Invisibilidade das singularidades amazônicas na organização e oferta de serviços de Atenção Primária à Saúde (APS): Estudo de caso na área rural ribeirinha de Manaus (AM)

Sousa, Amandia; Fonseca, Fernanda; Bousquat, Aylene

doi:10.1590/S0104-12902023220612pt

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Brasil

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Sumário

Dossiê • Saude soc. 32 (2) • 2023 • https://doi.org/10.1590/S0104-12902023220612pt copiar

Invisibilidade das singularidades amazônicas na organização e oferta de serviços de Atenção Primária à Saúde (APS): Estudo de caso na área rural ribeirinha de Manaus (AM)¹ 1 Amandia Braga Lima Sousa foi bolsista de doutorado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq-Brasil). Aylene Bousquat é bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - Brasil).

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

A região amazônica abrange um território heterogêneo com características geográficas específicas, abrigando diversas populações vulnerabilizadas, o que exige dos serviços de saúde o desenvolvimento de habilidades e inovações. Entretanto, as respostas a esses desafios se tornam ainda mais distantes diante de uma lógica mercadológica, que tende a invisibilizar diferenças e privilegiar determinados territórios. Nesse cenário, este estudo analisou a implementação de uma Unidade Básica de Saúde Fluvial, buscando compreender como estão incluídas as necessidades e singularidades do meio rural ribeirinho no planejamento e execução dos serviços de saúde. Para isso, foram realizadas entrevistas com gestores e profissionais, além da observação do cotidiano dos serviços de saúde. Os resultados demonstram que a previsão de serviços, com formatos e recursos específicos para as áreas fluviais amazônicas, foi uma oportunidade para que as particularidades da região fossem evidenciadas e que mais recursos, inclusive financeiros, fossem previstos para essas localidades. No entanto, evidenciou-se também que os serviços ofertados continuam sendo planejados de forma hierárquica, além de serem organizados e executados visando realidades urbanas, o que aponta a necessidade de adaptações.

Palavras-chave:
Saúde Rural; Atenção Primária à Saúde; Gestão de Serviços de Saúde; Equidade em Saúde; Amazônia

Categorias	Síntese dos conteúdos emergentes
Organização/Planejamento	Preocupação em atender as diretrizes federais; mesmas metas previstas para a área urbana; foco da saúde nas áreas urbanas; enfoque nas questões logísticas; programação feita a partir de dados inconsistentes sobre a população; organização/planejamento das ações centralizada na sede do distrito de saúde; fragilidades na interação com a população; iniciativas de abertura para participação da população; conflitos entre gestores e profissionais.
Adaptação das ações às singularidades do território amazônico	Aumento do número de serviços como solução; inovações criadas para atender as especificidades; enfoque nas questões logísticas; reconhecimento da necessidade de mais tempo da equipe nos territórios; dificuldades de comunicação com os usuários; dificuldades em razão da mobilidade constante da população; dificuldades no trabalho em razão da ausência de tecnologias; necessidade de um maior financiamento; contato com as áreas rurais de forma pontual; reconhecimento da importância das condições do território; reconhecimento das diferenças; reconhecimento do esforço exigido aos profissionais em razão das especificidades; importância do ACS morar no território.
Monitoramento/Avaliação	Mesmas metas previstas para as localidades urbanas; avalia o monitoramento atual como bom; avalia o monitoramento atual como ruim; problemas no monitoramento em razão da tecnologia limitada; existem espaços de supervisão e troca entre gestores e profissionais; dificuldade com os dados da população; implementação do monitoramento em construção.

Categorias	Síntese dos conteúdos emergentes
Relação com a gestão	Acreditam ser necessário uma compensação financeira diferente por conta do seu trabalho; reclamam por não ter espaço para participar da construção dos modelos; relação conflituosa; sentem-se invisíveis para a gestão; gestores que não frequentam as áreas rurais e não conhecem a realidade; a gestão enxerga o trabalho da área rural igual ao da área urbana; alta rotatividade dos gestores; reuniões mensais apenas para questões administrativas e prestação de contas.
Adaptação das ações ao lugar	ACS relatam ter realizado capacitações diversas; profissionais da UBSF reclamam da ausência de capacitações, pois não tiveram formação específica para a área rural; afirmam necessitar de uma melhor formação para exercer suas atividades; escutam as pessoas do lugar; sentem necessidade de ter um escopo maior; ausência de estratégias com o uso da tecnologia; relatam adaptações de algumas ações; realização de levantamento sobre a população; os ACS demonstram conhecer a população com a qual trabalham; profissionais da UBSF admitem que precisam conhecer mais a população; limitações da população para participação; dificuldades com a rotatividade da população; reconhecem que a seca ou a cheia exigem estratégias diferenciadas; pouca valorização dos conhecimentos dos ACS; necessitam de formação específica para o trabalho nas áreas rurais; experiência prévia como elemento fundamental.
Processo de trabalho	Procuram ser mais resolutivos; sentem necessidade de atuar com um escopo maior; preconizam uma atuação biomédica; a atuação dos ACS é mais ampla; trabalham com medicamentos além daqueles disponíveis em unidades de saúde terrestres; trabalham com os protocolos do Ministério da Saúde; profissionais, diretor do posto e ACS se ressentem por não poderem mais atuar com procedimentos curativos; regras para atuação não são claras; entendem que o modelo proposto tem limitações; as adaptações que realizam para prestar os serviços não são oficializadas; reconhecem que o tempo que ficam nas localidades é pequeno para o que deveria ser realizado; os períodos de seca e cheia dos rios interferem na realização dos serviços; os ACS são os que realizam visitas aos domicílios da localidade; ausência de tecnologias; falta de medicamentos e material de limpeza no PS; condições desconfortáveis e de risco vivenciadas na UBSF; falta de combustível para o trabalho; o material para pequenos procedimentos de urgência não é mais enviados para o PS; o barco utilizado pelos ACS para visitas domiciliares é de sua propriedade; relatam pouca rotatividade, costumam ser os mesmos profissionais.
Satisfação com o modelo de atuação	Reconhecem que nem todos os moradores da área têm acesso aos serviços; o tempo que a UBSF fica na comunidade é insuficiente; dificuldades de encaminhamento; avaliam que essa é a única forma de realizar assistência; necessidade de profissionais com outras formações/especialidades; dificuldades em realizar o acompanhamento das pessoas; reconhecem limitações no modelo de atenção; acreditam que o atendimento é melhor do que na área urbana; consideram fundamental reconhecer que nenhuma comunidade é igual a outra.

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[1] Correspondência: Amandia Sousa. Rua Teresina, 476. Adrianópolis. Manaus - AM CEP: 69.057-070