Acessibilidade / Reportar erro

“DISPUTAR A ‘NEGA’”: UMA ANÁLISE DA EXPRESSÃO POPULAR NA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS DE GÊNERO, DISCURSO, RAÇA1 1 Trabalhamos com a categoria “raça” de forma semelhante à compreensão de Ochy Curiel (2009, p.1), o qual a entende como “a construção simbólica, cultural, e sobretudo política, que tem feito do biológico, estratégia onde sustenta o racismo”. E CLASSE SOCIAL

‘DISPUTE THE NEGA’: AN ANALYSIS OF THE POPULAR EXPRESSION FROM THE PERSPECTIVE OF STUDIES OF GENDER, SPEECH, RACE AND SOCIAL CLASS

RESUMO

Este artigo objetiva discutir a expressão “disputar a ‘nega’” - que integra o universo cultural de muitas regiões do Brasil e constitui práticas sociais em contextos de competição em jogos diversos - na perspectiva dos estudos de gênero, discurso, raça e classe social. Para tanto, nos aportamos teoricamente em autoras e autores que problematizam as relações de gênero de forma interseccional, destacando outras dimensões que perpassam essa categoria, tais como raça, classe, sexualidade, etnia etc. São trazidos à cena teórica os estudos de Angela Davis (2016) e Heleieth Saffioti (2013)SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. São Paulo: Expressão popular, 2013. sobre gênero, raça e classe e os apontamentos de Norman Fairclough (1998; 2001FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Tradução de Izabel Magalhães. Brasília: UNB, 2001 [1992].; 2003FAIRCLOUGH, Norman. Analysing discourse. Textual analysis for social research. London: Routledge, 2003.) sobre discurso, dentre outros. Intentamos, com isso, usando como ferramenta de análise os princípios da Análise de Discurso Crítica - ADC (FAIRCLOUGH, 2001FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Tradução de Izabel Magalhães. Brasília: UNB, 2001 [1992]., 2003FAIRCLOUGH, Norman. Analysing discourse. Textual analysis for social research. London: Routledge, 2003.; VIEIRA; RESENDE, 2016VIEIRA, Viviane; RESENDE, Viviane de Melo. Análise de Discurso (para a) Crítica: O texto como material de pesquisa. 2.ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2016.; MAGALHÃES, 2000MAGALHÃES, Izabel. Eu e tu: a construção do sujeito no discurso médico. Brasília: Thesaurus, 2000.), descortinar os discursos ideológicos que subjazem à expressão “disputar a ‘nega’”, bem como compreender sua raiz cultural e histórica, haja vista que a pessoa que é objeto da disputa é uma mulher negra cujo corpo é oferecido como prêmio ao vencedor, sendo, assim, objetificado, subalternizado e instrumentalizado, seguindo a lógica de uma sociedade patriarcal em que o corpo da mulher, e da mulher negra em especial, é usado primordial e essencialmente para servir ao homem em suas necessidades físicas e emocionais. Neste estudo, nos pautamos na concepção butleriana de gênero, por concordarmos que a constituição dessa categoria se dá mediante os confrontos culturais e sociais reiterados cotidianamente pelas práticas discursivas. Em outras palavras, trata-se da preponderância do discurso na constituição dos sujeitos, dado que nos constituímos a partir da outra, do outro. Ao propormos o estudo da expressão em ênfase, na perspectiva da análise interseccional (SCOTT, 1994SCOTT, Joan. Prefácio a gender and politics of history. Cadernos Pagu , n. 3 (Desacordos, desamores e diferenças), p. 11-27, 1994.; BUTLER, 2016BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2016.; DAVIS, 2016DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Tradução de Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo, 2016.), percebemos que a interseccionalidade de gênero, permeada por outros marcadores sociais, evidencia a subalternização feminina, visto que a categoria mulher, sobretudo a negra e pobre, permanece, ainda nos dias atuais, em condição de objetificação, marginalização e subalternização na sociedade.

Palavras-chave:
“disputar a ‘nega’”; gênero; raça; classe; discursos

UNICAMP. Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Unicamp/IEL/Setor de Publicações, Caixa Postal 6045, 13083-970 Campinas SP Brasil, Tel./Fax: (55 19) 3521-1527 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: spublic@iel.unicamp.br