RESUMO
Este artigo discorre sobre as consequências de uma perspectiva pós-humanista para o problema de deficiência física, abordando o uso de tecnologias assistivas (TA) por pessoas com deficiência como a introdução de um ciborgue low-tech no mundo. Ao fazê-lo, destacamos exemplos de TAs de comunicação e fornecemos analogias entre TAs e línguas na constituição do Self e do contexto social. TAs são informadas ideologicamente, de modo que podem ser vistas tanto como uma maneira de “consertar” uma pessoa “incapacitada”, quanto como uma estratégia para superar um contexto físico e social que incapacita algumas pessoas e torna outras pessoas “capazes”. Argumentamos que tornar-se um ciborgue low-tech pode ser uma forma de inclusão social se entendermos que a deficiência é produzida pelo contexto, e não uma disfuncionalidade inerente ao indivíduo. Com base nesse pressuposto, identificamos duas estratégias de inclusão social do ciborgue low-tech: desincorporação do Self e virtualidade corporificada. Destacamos, no entanto, que ciborgues low-tech podem ser configurados por necessidade ou por escolha e acrescentamos que os mesmos fatores socioeconômicos que produzem desigualdade em geral são ativos na também na sua exclusão/inclusão social. Assim, TAs adotadas por escolha podem se transformar em uma maneira de ampliar o fosso entre ciborgues ricos e pobres, sendo que os dois tipos de ciborgues podem estar cada vez mais sujeitos à exploração cognitiva e afetiva no contexto do Capitalismo Cognitivo. Nós concluímos que uma perspectiva pós-humanista da deficiência não é sobre tornar inteiros “seres humanos com deficiência”, nem sobre tornar “humanos inteiros” mais do que humanos, mas sobre como manter o Self e o outro conectados eticamente, quer em condicoes de desincorporacao do Self, ou de virtualidade incorporada.
Palavras-chave:
ciborgue low-tech; deficiência; inclusão social