Resumos
Cistos conjuntivais em cavidades anoftálmicas podem ter implicações funcionais e estéticas negativas para os pacientes. Dentre as opções terapêuticas disponíveis, o uso do ácido tricloroacético é relativamente recente. Os casos relatados apresentaram boa evolução após 30 dias do tratamento, sendo bem tolerado pelos pacientes e possibilitando maior preservação de tecido conjuntival.
Doenças da túnica conjuntiva; Órbita; Ácido tricloroacético; Ácido tricloroacético; Prótese ocular; Relatos de casos
Conjunctival cysts in anophthalmic socket may have functional and aesthetic implications for the patients.Among the available treatment options, the use of trichloroacetic acid is relatively recent. Our reported cases showed a good outcome after 30 days of treatment, that was well tolerated by patients, with greater conjunctival tissue preservation.
Conjunctival diseases; Orbit; Trichloroacetic acid; Trichloroacetic acid; Eye, artificial; Case reports
RELATO DE CASO
Tratamento de cistos conjuntivais em cavidade anoftálmica com injeção intralesional de ácido tricloroacético (ATA) a 25%
Fabricio Lopes da FonsecaI; Renata de Iracema Pulcheri RamosII; Suzana MatayoshiIII
IMédico Oftalmologista; Fellow do Setor de Plástica Ocular, divisão de Clínica Oftalmológica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil
IIMédica Oftalmologista, preceptora da Divisão de Clínica Oftalmológica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil
IIILivre-docente, professora associada e Chefe do Setor de Plástica Ocular, divisão de Clínica Oftalmológica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil
Autor correspondente Autor correspondente: Fabricio Lopes da Fonseca Rua Xavier de Almeida, nº 1135 apto. 121 - Ipiranga CEP 04211001 - São Paulo (SP), Brasil E-mail: fabricio89@gmail.com
RESUMO
Cistos conjuntivais em cavidades anoftálmicas podem ter implicações funcionais e estéticas negativas para os pacientes. Dentre as opções terapêuticas disponíveis, o uso do ácido tricloroacético é relativamente recente. Os casos relatados apresentaram boa evolução após 30 dias do tratamento, sendo bem tolerado pelos pacientes e possibilitando maior preservação de tecido conjuntival.
Descritores: Doenças da túnica conjuntiva/quimioterapia; Órbita; Ácido tricloroacético/uso terapêutico; Ácido tricloroacético/ administração & dosagem; Prótese ocular; Relatos de casos
INTRODUÇÃO
Cisto cojuntivais são complicações que ocorrem em cavidades anoftálmicas, podendo acarretar desconforto local e dificuldade na aposição da prótese ocular na superfície anterior da cavidade.
As opções terapêuticas incluem excisão, marsupialização e alcoolização (1,2). O uso de ácido tricloroacético (ATA) é relativamente novo nessa situação (3,4).
Relatamos o uso de ATA 25% em três casos de cistos conjuntivais.
MÉTODOS
Os pacientes foram posicionados em decúbito dorsal horizontal. Instilou-se uma gota de colírio de proximetacaína a 0,5% 5 minutos e imediatamente antes do procedimento. Após antisepsia, assepsia e colocação de blefarostato, o cisto foi puncionado com agulha 31 x 4 mm conectada a seringa de 3ml, contendo 1 ml de solução aquosa de ATA 25%. O conteúdo aspirado foi então reinjetado, até o cisto adquirir aparência esbranquiçada. O conteúdo foi então novamente aspirado até o colabamento das paredes do cisto.
Os pacientes utilizaram colírios de ofloxacino 0,3% e prednisolona 1%, uma gota a cada 6 horas, por 7 dias. Foram reavaliados após 1 semana e também após 1 mês do procedimento.
RELATO DE CASOS
Caso 1: Paciente de 54 anos de idade, sexo masculino, submetido à evisceração de olho esquerdo após perfuração ocular há 2 anos. Encaminhado ao Setor de Plástica Ocular do HCFMUSP com queixa de lesão conjuntival à esquerda de aumento gradual há 3 meses e dificuldade de uso da prótese ocular.
O paciente foi submetido à injeção de 1ml de ATA 25% intralesional (Figura 1), porém não retornou para seguimento ambulatorial.
Caso 2: Paciente de 56 anos de idade, sexo feminino, submetida a 2 transplantes de córnea tectônicos em olho esquerdo, sendo o último há 1 ano. Evoluiu com phitisis bulbi. Encaminhada ao Setor de Plástica Ocular do HCFMUSP com queixa de lesão conjuntival de aumento gradual há 6 meses. Relatava desconforto local ao piscar.
A paciente foi submetida à injecão de 1ml de ATA 25% intralesional. Em seguimento atual de 1 mês pós procedimento, apresenta-se sem queixas (figura 2) .
Caso 3: Paciente de 78 anos de idade, sexo feminino, submetida à evisceração de olho esquerdo há 3 anos por endoftalmite pós-operatória. Encaminhada ao Setor de Plástica Ocular do HCFMUSP com queixa de lesão conjuntival de aumento gradual há 9 meses e desconforto ao uso da prótese ocular.
A paciente foi submetida à injecão de 1ml de ATA 25% intralesional. Em seguimento atual de 1 mês pós-procedimento, apresenta-se sem queixas (figura 3) .
DISCUSSÃO
O procedimento foi bem tolerado por todos os pacientes, que relataram leve desconforto durante a aplicação do ATA 25%. Não houve complicações no período de estudo, com regeneração conjuntival adequada e ausência de recidiva nas 2 pacientes que retornaram para seguimento.
O tratamento dos cistos conjuntivais em cavidades anoftálmicas se faz necessário quanto dificulta o uso da prótese ocular, causa desconforto ou acarreta implicações cosméticas negativas para o paciente.
Dentre as opções terapêuticas descritas, as mais consagradas são excisão e marsupialização(1). Entretanto, é necessário novo procedimento cirúrgico e a ressecção completa do cisto pode ser difícil, o que aumenta o risco de recidivas.
Hornblass et al.(2) descreveram uma série de 4 casos tratados com injeção intralesional de álcool absoluto. Houve resolução em 2 casos, porém o tempo de seguimento não foi informado.
O uso de ATA é descrito por Owji et al.,(3) em série de casos de 4 pacientes com cistos conjuntivais anteriores gigantes em cavidades anoftálmicas. Foi realizada injeção intralesional de ATA 20% em todos os pacientes. O tempo médio de seguimento foi de 16 meses (variando de 8 a 33 meses). Nesse período nenhum paciente apresentou recidiva .
Sánchez et al.(4) utilizaram solução de ATA para tratamento de cisto conjuntival posterior em cavidade anoftálmica, observando resolução da lesão e ausência de recidiva em seguimento de 10 meses.
O uso de ATA 25% nos casos estudados se mostrou simples, seguro e eficaz no período de seguimento. Novos estudos são necessários para avaliação da eficácia a longo prazo, em maior número de pacientes.
Recebido para publicação em: 14/10/2011
Aceito para publicação em: 21/12/2011
Os autores declaram não haver conflitos de interesse
Setor de Plástica Ocular - Divisão de Clínica Oftalmológica - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil.
- 1. McCarthy RW, Beyer CK, Dallow RL, Burke JF, Lessell S. Conjunctival cysts of the orbit following enucleation. Ophthalmology. 1981;88(1):30-5.
- 2. Hornblass A, Bosniak S. Orbital cysts following enucleation: the use of absolute alcohol. Ophthalmic Surg. 1981;12(2):123-6.
- 3. Owji N, Aslani A. Conjunctival cysts of the orbit after enucleation: the use of trichloroacetic acid. Ophthal Plast Reconstr Surg. 2005;21(4):264-6.
- 4. Sánchez EM, Formento NA, Pérez-López M, Jiménez AA. Role of trichloroacetic acid in treating posterior conjunctival cyst in an anopthalmic socket. Orbit. 2009;28(2-3):101-3.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
31 Out 2013 -
Data do Fascículo
Jun 2013
Histórico
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Recebido
14 Out 2011 -
Aceito
21 Dez 2011