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Seletividade de inseticidas, recomendados para cucurbitáceas para Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner (Hymenoptera: Trichogrammatidae) em condições de laboratório

Selectivity of pesticides used in cucurbits to Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner (Hymenoptera: Trichogrammatidae)

Resumos

As brocas-das-cucurbitáceas Diaphania spp. são as principais pragas das cucurbitáceas, podendo ocasionar perdas de até 100% na produção. A fim de reduzir o uso de inseticidas, o controle biológico, aplicado com parasitoides do gênero Trichogramma, tem-se destacado. Objetivou-se avaliar a seletividade dos ingredientes ativos abamectina, tiacloprido e clorfenapir, para Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner (Hymenoptera: Trichogrammatidae). Para isso, 20 fêmeas recém-emergidas de T. atopovirilla foram individualizadas, em tubos de vidro (2,5 cm de diâmetro x 8,5 cm de comprimento), e oferecidas cartelas com 30 ovos de Diaphania hyalinata (Linnaeus) (Lepidoptera: Pyralidae), previamente imersas por cinco segundos em calda química. Os ingredientes ativos abamectina, tiacloprido e clorfenapir não afetaram o parasitismo de T. atopovirilia. Clorfenapir reduziu a emergência. Abamectina e tiacloprido são os mais recomendados no manejo integrado de pragas, pois foram os que se mostraram mais seletivos a T. atopovirilia em ovos de D. hyalinata.

Diaphania hyalinata; parasitoide; toxicidade


The cucurbit borers Diaphania spp. are major cucurbit pests, causing losses of up to 100% in production. Biological control with the parasitoid Trichogramma is an alternative for reducing the use of insecticides. The objective of this study was to evaluate the selectivity of the active ingredients abamectin, chlorfenapyr and thiacloprid to Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner (Hymenoptera: Trichogrammatidae). For this purpose, 20 newly emerged females of T. atopovirilla were confined individually in glass tubes (2.5 cm diameter x 8.5 cm in length), with 30 eggs of Diaphania hyalinata (Linnaeus) (Lepidoptera: Pyralidae) glued on a small cardboard strip that was previously immersed for five seconds in chemical solution. The active ingredients abamectin, chlorfenapyr and thiacloprid did not affect the T. atopovirilia parasitism. However, chlorfenapyr reduced larval emergence. Abamectin and thiacloprid can be therefore recommended for the Integrated Pest Management, as they proved to be the most selective to T. atopovirilia in D. hyalinata eggs.

Diaphania hyalinata; parasitoid; toxicity


COMUNICAÇÃO

FITOSSANIDADE

Seletividade de inseticidas, recomendados para cucurbitáceas para Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner (Hymenoptera: Trichogrammatidae) em condições de laboratório

Selectivity of pesticides used in cucurbits to Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner (Hymenoptera: Trichogrammatidae)

Dirceu PratissoliI; André Malacarne MilanezII; Flávio Neves CelestinoII,* * Autor para correspondência, fncelestino@yahoo.com.br ; Wagner Faria BarbosaII; Ulysses Rodrigues ViannaI; Ricardo Antonio PolanczykI; Fernando Domingo ZingerII; José Romário de CarvalhoII

IEngenheiros-Agrônomos, Doutores. Departamento de Produção Vegetal, Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias, Caixa Postal 16, 29500-000, Alegre, Espírito Santo, Brasil. dirceu.pratissoli@gmail.com, ulyssesvianna@hotmail.com, rapolanc@yahoo.com.br

IIEngenheiros-Agrônomos. Departamento de Produção Vegetal, Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias, Caixa Postal 16, 29500-000, Alegre, Espírito Santo, Brasil. andremalak@hotmail.com, fncelestino@yahoo.com.br, fariabarbosa@hotmail.com, zingerfernando@yahoo.com.br, romario_cca@yahoo.com.br

RESUMO

As brocas-das-cucurbitáceas Diaphania spp. são as principais pragas das cucurbitáceas, podendo ocasionar perdas de até 100% na produção. A fim de reduzir o uso de inseticidas, o controle biológico, aplicado com parasitoides do gênero Trichogramma, tem-se destacado. Objetivou-se avaliar a seletividade dos ingredientes ativos abamectina, tiacloprido e clorfenapir, para Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner (Hymenoptera: Trichogrammatidae). Para isso, 20 fêmeas recém-emergidas de T. atopovirilla foram individualizadas, em tubos de vidro (2,5 cm de diâmetro x 8,5 cm de comprimento), e oferecidas cartelas com 30 ovos de Diaphania hyalinata (Linnaeus) (Lepidoptera: Pyralidae), previamente imersas por cinco segundos em calda química. Os ingredientes ativos abamectina, tiacloprido e clorfenapir não afetaram o parasitismo de T. atopovirilia. Clorfenapir reduziu a emergência. Abamectina e tiacloprido são os mais recomendados no manejo integrado de pragas, pois foram os que se mostraram mais seletivos a T. atopovirilia em ovos de D. hyalinata.

Palavras-chave: Diaphania hyalinata, parasitoide, toxicidade.

ABSTRACT

The cucurbit borers Diaphania spp. are major cucurbit pests, causing losses of up to 100% in production. Biological control with the parasitoid Trichogramma is an alternative for reducing the use of insecticides. The objective of this study was to evaluate the selectivity of the active ingredients abamectin, chlorfenapyr and thiacloprid to Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner (Hymenoptera: Trichogrammatidae). For this purpose, 20 newly emerged females of T. atopovirilla were confined individually in glass tubes (2.5 cm diameter x 8.5 cm in length), with 30 eggs of Diaphania hyalinata (Linnaeus) (Lepidoptera: Pyralidae) glued on a small cardboard strip that was previously immersed for five seconds in chemical solution. The active ingredients abamectin, chlorfenapyr and thiacloprid did not affect the T. atopovirilia parasitism. However, chlorfenapyr reduced larval emergence. Abamectin and thiacloprid can be therefore recommended for the Integrated Pest Management, as they proved to be the most selective to T. atopovirilia in D. hyalinata eggs.

Key words: Diaphania hyalinata, parasitoid, toxicity.

INTRODUÇÃO

As brocas-das-cucurbitáceas Diaphania spp. são as principais pragas que atacam melancia, pepino, melão e abóbora, podendo as lagartas alimentarem-se de ramos, folhas, flores e frutos, ocasionando perdas de até 100% na produção (Arcaya et al., 2004). Frequentes aplicações de inseticidas de amplo espectro têm sido realizadas, para evitar danos causados por essas pragas. O uso contínuo de inseticidas pode ocasionar a ressurgência de pragas; o aumento de importância de pragas secundárias; a contaminação ambiental, humana e dos alimentos (Brito et al., 2004). Entretanto, é possível a associação de estratégias culturais, biológicas e químicas para minimizar esses problemas, pelo emprego eficiente do manejo integrado de pragas (Pratissoli et al., 2003).

Dentre as estratégias biológicas, o controle de pragas agrícolas, com o uso de parasitoides do gênero Trichogramma, tem-se destacado, por sua alta eficiência e relativa adequação com outros métodos de controle (Melo et al., 2007). Para o sucesso de um programa de manejo fitossanitário, a integração de produtos químicos com o controle biológico é necessária (Vianna et al., 2009). Assim, estudar a seletividade dos agrotóxicos é importante, para que se tenha sucesso na sua associação com os inimigos naturais das pragas (Delpuech et al., 2005).

Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner (Hymenoptera: Trichogrammatidae) tem-se destacado como uma das principais espécies neotropicais, com potencial para uso em programas de controle biológico, no Brasil (Dias et al., 2010). No entanto, a eficiência desse parasitoide em programas de manejo fitossanitário de pragas depende do uso de produtos químicos seletivos, ou seja, aqueles que não matam e nem interferem no desenvolvimento de suas populações (Carvalho et al., 1994). Objetivou-se avaliar a seletividade dos ingredientes ativos abamectina, tiacloprido e clorfenapir para T. atopovirilia.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no Núcleo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Manejo Fitossanitário (NUDEMAFI) do Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA-UFES), em câmaras climatizadas a 25 ± 1ºC, 70 ± 10% UR e fotofase de 14 horas. As fêmeas de T. atopovirilia foram retiradas da coleção estoque do NUDEMAFI, onde foram mantidas e criadas em ovos do hospedeiro alternativo Anagasta kuehniella (Zeller) (Lepidoptera: Pyralidae), seguindo a metodologia desenvolvida por Parra (1997).

Lagartas Diaphania hyalinata (L.) (Lepidoptera: Pyralidae) foram criadas em recipientes plásticos (35 x 20 cm), contendo fatias de Cucurbita moschata Duchesne var. Jacaré (Cucurbitaceae) (10 x 4 x 2 cm), de acordo com Pratissoli et al. (2008). Vinte fêmeas recém-emergidas de T. atopovirilla foram individualizadas em tubos de vidro (2,5 cm de diâmetro x 8,5 cm de comprimento). Cartelas (8,0 x 2,0 cm), confeccionadas com cartolina azul celeste, contendo 30 ovos de D. hyalinata foram previamente imersas por cinco segundos em calda química e mantidas, por cinco horas, à sombra, para eliminação dos gases e do excesso de umidade da superfície dos ovos (IOBC/WRPS, 1992), sendo expostas ao parasitismo de T. atopovirilla, por um período de 24 horas.

Foram utilizados três inseticidas, na dosagem recomendada pelo fabricante do produto comercial de cada ingrediente ativo (Tabela 1). Cada inseticida foi considerado como um tratamento. Como testemunha, foi utilizada água destilada. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, sendo quatro tratamentos (3 inseticidas + 1 testemunha) e 20 repetições por tratamento. Os parâmetros avaliados foram o percentual de parasitismo, a emergência, a razão sexual, o número de indivíduos por ovo e a longevidade média dos descendentes. Os dados foram transformados em arco seno da para o percentual de parasitismo e emergência e, posteriormente, submetidos à análise de variância e, as médias, comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Já para razão sexual, número de indivíduos por ovo e longevidade média dos descendentes, os dados foram transformados em e, posteriormente, submetidos à análise de variância e, as médias, comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Foi calculada a redução no parasitismo para cada inseticida, em relação à testemunha (água destilada). Utilizou-se a fórmula RP = (1 - Rt/Rc)*100, em que RP é a percentagem de redução no parasitismo, Rt é o valor do parasitismo médio, para cada inseticida, e Rc é o parasitismo médio observado para o tratamento testemunha (negativa). Os inseticidas foram classificados, segundo os índices propostos pela IOBC/WPRS, em: 1, inócuo (<30%); 2, levemente nocivo (30-79%); 3, moderadamente nocivo (80-99%), e 4, nocivo (>99%).

RESULTADOS

O parasitismo de T. atopovirilia em ovos de D. hyalinata, tratados com os ingredientes ativos abamectina, tiacloprido e clorfenapir, foi semelhante ao da testemunha (F = 3,887; g.l. = 3; P = 0,0166) (Tabela 2). Esses ingredientes ativos mostraram-se inócuos à população de T. atopovirilia (Tabela 2). A redução na capacidade de parasitismo de T. atopovirilia foi de 7,67; 2,73 e 18,67%, em ovos de D. hyalinata, tratados com abamectina, tiacloprido e clorfenapir, respectivamente (Tabela 2).

O menor valor de emergência dos ovos foi encontrado quando T. atopovirilia foi exposto a ovos tratados com clorfenapir, apresentando 58,70% de emergência, diferindo dos ingredientes ativos abamectina e tiacloprido e da testemunha, que apresentaram 94,29, 86,83 e 89,91% de emergência, respectivamente (Tabela 2). Para a razão sexual, as maiores médias foram apresentadas por clorfenapir e abamectina, sendo os valores 0,82 e 0,85, respectivamente. Já os resultados do tratamento com tiacloprido apresentaram razão sexual igual a 0,75, não diferindo dos da testemunha (Tabela 2).

O número de indivíduos, por ovo de T. atopovirilia, em ovos de D. hyalinata tratados com o ingrediente ativo tiacloprido, foi de 1,39 parasitoides/ovo, não diferindo da testemunha (Tabela 2). Entretanto, para ovos tratados com clofenapir e abamectina, o número de indivíduos por ovo foi reduzido, em relação aos demais tratamentos (Tabela 2). A longevidade dos descendentes de T. atopovirilia, em ovos de D. hyalinata tratados com tiacloprido e abamectina, foi de 3,40 e 3,21 dias, respectivamente, sendo estatisticamente semelhante à do tratamento testemunha, com 3,61 dias. Já o tratamento com inseticida clorfenapir diferiu do testemunha, apresentando longevidade de 2,07 dias (Tabela 2).

DISCUSSÃO

Com relação à classificação toxicológica do ingrediente ativo abamectina a T. atopovirilia, alguns autores encontraram resultados opostos, classificando esse ingrediente ativo como nocivo para este parasitoide e para Trichogramma pretiosum Riley (Hymenoptera: Trichogrammatidae) (Giolo et al., 2007; Manzoni et al., 2007). Fêmeas de T. pretiosum, em ovos de A. kuehniella, tiveram uma redução na capacidade de parasitismo de 81,40%, atribuída ao ingrediente ativo abamectina, classificado como moderadamente tóxico, diferentemente do ocorrido nesta pesquisa (Rocha & Carvalho, 2004). Já a geração F1 de T. pretiosum, proveniente de ovos de A. kuehniella, tratados com tiacloprido, não teve seu parasitismo afetado; no entanto, quando tratado com clorfenapir, T. pretiosum teve redução 50,5% na taxa de parasitismo (Moura et al., 2005). Essas diferenças, encontradas entre os trabalhos para o mesmo ingrediente ativo podem ser devidas ao hospedeiro e, ou, populações do parasitoide utilizado (Pratissoli et al., 2009; Vianna et al., 2009).

Como verificado para T. atopovirilia, em ovos de D. hyalinata, o clorfenapir também já demonstrou efeito negativo sobre a emergência T. pretiosum, em ovos de A. kuehniella, provocando uma redução de 76% nesse parâmetro (Moura et al., 2005). A redução na emergência do parasitoide pode estar relacionada com a ingestão de resíduos de inseticidas, quando da abertura do orifício de emergência, ou, mesmo, ainda, dentro do ovo hospedeiro, por causa da capacidade de alguns produtos de atravessarem o córion (Schuld & Schmuck, 2000; Moura et al., 2005).

Diferenças na seletividade dos inseticidas podem estar relacionadas com a idade, tamanho e estádio de desenvolvimento do parasitoide (Foerster, 2002). Além disso, diferentes espécies de Trichogramma e do hospedeiro e variações nas técnicas utilizadas na aplicação dos produtos podem influenciar na seletividade (Manzoni et al., 2007; Goulart et al., 2008).

CONCLUSÃO

Os ingredientes ativos abamectina, tiacloprido e clorfenapir não afetaram o parasitismo de Trichogramma atopovirilia.

Os inseticidas abamectina e tiacloprido são os mais recomendados no manejo fitossanitário de pragas, pois foram os que se mostraram mais seletivos a T. atopovirilia em ovos de Diaphania hyalinata.

Recebido para publicação em 21/06/2010 e aprovado em 22/09/2011

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  • *
    Autor para correspondência,
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Nov 2011
    • Data do Fascículo
      Out 2011

    Histórico

    • Recebido
      21 Jun 2010
    • Aceito
      22 Set 2011
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