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HETEROTOPIA E VILEGIATURA EM LOURENÇO MARQUES (1890-1930)* * Todas as obras e todos os documentos utilizados na pesquisa e na elaboração do artigo são citados nas notas e na bibliografia. O autor agradece o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, bolsa de produtividade em pesquisa, processo 312449/2017-8.

HETEROTOPIA AND HOLIDAY RESORT IN LOURENÇO MARQUES (1890-1930)

Resumo

A invenção do tempo livre em Lourenço Marques favoreceu práticas desportivas e de lazer. Entre outras, destacou-se a vilegiatura marítima. A praia de Polana foi um dos principais destinos da vilegiatura em Lourenço Marques. Fotografias, bilhetes postais e filmes registraram o momento de “tomar fresco”. Nos Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique (1929), de José dos Santos Rufino, tem-se o registro da vilegiatura e de outras práticas de lazer como propaganda colonial. Por meio da análise de imagens da vilegiatura, busca-se mostrar como certos espaços coloniais destinados ao lazer podem ser vistos como heterotopias de compensação.

Palavras-chave
África; Lourenço Marques; lazer; vilegiatura; colonialismo

Abstract

The invention of free time in Lourenço Marques was able to promotion of sports and leisure activities. Among others, the beach vacation was very important. The beach of Polana was one of the main destinations for holidays in Lourenço Marques. Photographs, postcards and even movies recorded the time to “Get Some Fresh Air”. In the Photographic and Descriptive Albums of Portuguese East Africa (1929), by Jose dos Santos Rufino, the vacation and other leisure practices ware take as colonial propaganda. This article aims to discuss how certain colonial spaces to vacation, holiday and leisure can be seen as heterotopies of compensation.

Keywords
Africa; Lourenço Marques; leisure; holiday; colonialism

Espacialidades coloniais e as imagens da heterotopia

A historiografia do colonialismo em África tem dado importantes contribuições à história social do trabalho. Pouco mais recente é o interesse dos africanistas pela história do tempo livre, do lazer e do desporto. No caso moçambicano, alguns estudos tiveram por foco o futebol, as touradas ou outros aspectos da cultura popular, notadamente a música.1 1 Sobre esses aspectos, Cf. Domingos (2012), Correa (2017), Pereira (2016) e Nativel (2015). Os novos temas e abordagens têm propiciado o uso de imagens tanto como objetos de estudo quanto como fontes para uma história visual do colonialismo.

Nos Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique (1929), de José dos Santos Rufino, uma série de imagens revela práticas desportivas e de lazer. Entre elas, tem-se o hábito de “tomar fresco”. Os Álbuns constituem o mais completo registro fotográfico da África Oriental Portuguesa anterior ao Estado Novo. A partir da análise iconográfica, é possível discorrer sobre certas práticas do tempo livre em Moçambique. Mais do que recortes de uma realidade colonial, as imagens acusam uma heterotopia, na qual se destacam os elementos de uma cultura balneária, como a vilegiatura, o desporto e o hábito de “tomar fresco”.

Michel Foucault (2010, p. 30-31, 79-80)FOUCAULT, Michel. El cuerpo utópico: las heterotopías. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 2010. referiu-se à heterotopia como um outro espaço real, demasiadamente perfeito, meticuloso e ordenado. Sugere, ainda, que algumas colônias teriam funcionado como heterotopias de compensação. Para além de sua utilidade econômica, havia valores imaginários vinculados a elas.

Cinco princípios regem as heterotopias de que nos fala Foucault. Primeiro, todas as sociedades produzem heterotopias e, na sociedade disciplinar, predomina a heterotopia destinada a indivíduos cujo comportamento é desviante da norma vigente; segundo, a sociedade pode dar sentidos diferentes para sua heterotopia, ou seja, uma mesma heterotopia pode ter seu funcionamento alterado de acordo com a cultura onde está inserida; terceiro, a heterotopia tem o poder de justapor num único lugar real vários espaços que são incompatíveis entre si; quarto, as heterotopias estão ligadas, geralmente, a recortes temporais (heterocronias), o que faz que os indivíduos se encontrem num tipo de ruptura absoluta com o tempo tradicional; por último, as heterotopias têm sempre um sistema de abertura e fechamento que lhes isola do espaço circundante.

Como exemplos de heterotopias de compensação, Foucault referiu-se às comunidades puritanas inglesas na América do Norte e às missões jesuíticas no Paraguai. A comunidade portuguesa em Lourenço Marques pode ser, igualmente, considerada uma heterotopia. Evidências disso se encontram nos Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique (1929), de José dos Santos Rufino, ou no filme de curta metragem A cidade de Lourenço Marques (1929)RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., dirigido por Fernandes Tomaz e produzido pela Agência Geral das Colónias. As imagens produzidas por eles são mais que simples propaganda colonial. Trata-se, de modo mais amplo, de uma heterotopia com os pés no Índico.

O presente artigo tem por escopo a heterotopia de compensação que se encontra imbricada à cultura balneária em Lourenço Marques, cuja expressão visual foi parcialmente registrada em fotografias nos Álbuns fotográficos descritivos da Colônia de Moçambique.2 2 José Rufino dos Santos era proprietário d’A Portuguesa, livraria e papelaria. O estabelecimento comercial era ainda loja de perfumes e de artigos diversos. Localizava-se na rua Consiglieri Pedroso, uma das principais ruas do comércio no centro de Lourenço Marques. O rico comerciante tinha ainda o negócio da loteria provincial em seu estabelecimento. Algumas fotografias dos Álbuns circularam também sob o formato de cartões-postais e outras foram publicadas no Boletim Geral das Colónias, no número especial sobre Moçambique, de 1929.

A narrativa visual dos Álbuns fotográficos descritivos da Colônia de Moçambique tem Lourenço Marques por ponto inicial.3 3 Dos dez volumes dos Álbuns, quatro tratam de aspectos gerais de Lourenço Marques, cinco tratam de outros distritos de Moçambique e o último aborda aspectos mais etnográficos e cinegéticos. São eles: 1º) Lourenço Marques - panorama de uma cidade; 2º) Lourenço Marques - edifícios públicos, porto, caminhos de ferro, etc.; 3º) Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, praia da Polana, etc.; 4º) Lourenço Marques - indústrias, agricultura, aspectos das circunscrições, etc.; 5º) Gaza e Inhambane - aspectos gerais; 6º) Distrito de Quelimane - aspectos gerais; 7º) Distrito de Moçambique - aspectos gerais; 8º) Tete e Cabo Delgado (Niassa) - aspectos gerais; 9º) Companhia de Moçambique - a cidade da beira - aspectos do território; 10º) Raças, usos e costumes indígenas - fauna moçambicana. Com exceção do primeiro volume, os demais têm entre 104 e 155 páginas. Trata-se de um polo radiador, isto é, de uma “cidade higiênica, limpa e ampla”. A maioria das fotografias se traduz em evidências da modernização. As edificações predominam no corpus iconográfico. Elas podem ser vistas como emblemas ou semáforos do colonialismo. O Hotel Polana foi um tópico do discurso em prol de Lourenço Marques enquanto “um canto da Europa na África do Sul” e como local ideal para “tomar fresco” (COSTA, 1929aCOSTA, Mário. Lourenço Marques: “Um canto da Europa na África do Sul”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. I: Lourenço Marques - panoramas da cidade. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929a, p. III-V.). O conjunto de imagens permite inferir uma heterotopia de compensação. Mais especificamente, nas imagens da praia da Polana do terceiro volume tal heterotopia tem maior expressão.

Para a edição dos Álbuns, José dos Santos Rufino contou com os auspícios do Banco Nacional Ultramarino. Todos os volumes dos Álbuns têm anúncios diversos. No entanto, não há informação sobre eventuais pagamentos pelos reclames publicitários. Provavelmente, José dos Santos Rufino tinha “boas relações”, pois os Álbuns serviram como propaganda colonial no estande de Portugal durante a Exposição Colonial de Paris de 1931.

A equipe técnica dos Álbuns foi composta pelos seguintes nomes: José dos Santos Rufino, coordenador e editor; tenente Mário Costa, redator das descrições; e, H. Graumman e I. Piedade e Pó, “fotógrafos amadores que mais colaboraram”. Pode-se inferir que clichês de outros fotógrafos, inclusive do próprio Rufino, devem ter composto o corpus iconográfico dos dez volumes.

As imagens de vilegiatura marítima e de praias balneárias de Moçambique demonstram o quanto o ideal de poder “tomar fresco” e ir aos banhos de mar foi mais que mera reprodução do imaginário metropolitano. Além de acompanhar o processo de modernização que também fomentava a vilegiatura marítima alhures, o desejo de “tomar fresco” foi ainda uma forma de compensação do suposto “fardo do homem branco” e, ao mesmo tempo, de celebração do colonialismo (CORREA, 2010CORREA, Sílvio Marcus de Souza. Germanidade e banhos medicinais nos primórdios dos balneários no Rio Grande do Sul. História, Ciência e Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 165-184, 2010.).

Mais do que retratar a realidade colonial de Moçambique no final da década de 1920, os Álbuns expressavam um porvir, uma antevisão de um futuro colonial e um vaticínio de utopia. Os clichês sugeriam que a colônia se espelhava na metrópole e que Lourenço Marques se mirava em Lisboa. Desse modo, a comunidade portuguesa cria sua heterotopia de compensação. Longe de Lisboa, havia Lourenço Marques. Nos Álbuns, várias fotografias de paisagens tropicais formam um conjunto que sugere o franco processo de modernização em curso. Não só inspirada na metrópole, a colônia como que compensava. Em síntese, os dez volumes dos Álbuns pretendiam ser provas fotográficas do rotundo sucesso do empreendimento colonial português em Moçambique.4 4 Para Ana Cristina F. da Silva (2009), pode-se perceber que, no seu conjunto, o território da colónia foi retratado nos Álbuns em três grandes espaços, que correspondia a conjuntos humanos diversos.

Em relação ao circuito social dos Álbuns, a edição com textos em português, francês e inglês, impressa pela editora alemã Broscheck & Co., tem como público-alvo não apenas portugueses, mas também os vizinhos sul-africanos, rodesianos e europeus. Em nível internacional, buscava-se a persuasão da ideia de que Portugal cumpria o seu papel na África Colonial. Em suma, a propaganda colonial portuguesa anunciava a realização de uma utopia em terras ultramarinas.

Cultura balneária e colonialismo

Na Europa, a ida aos banhos de mar esteve por muito tempo fortemente relacionada a práticas terapêuticas e ao curismo. No início do século XX, a estrutura dos balneários marítimos europeus já seguia preceitos modernos de entretenimento, conforto e higiene. Em Portugal, a praia de Cascais era uma das prediletas dos alfacinhas desde 1870.5 5 Sob o prisma do curismo, o médico Ramalho Ortigão chegou a publicar em 1876 um livro sobre a vilegiatura marítima em Portugal. Cf. Ortigão (1943). No final do século XIX, a fisionomia de Cascais contava com um grande hotel, cassino, praça de touros, teatro e jardim. A vilegiatura marítima se intensificou com a inauguração da linha férrea entre Cascais e a capital portuguesa. Outras transformações alteraram quase por completo o seu caráter original (BRIZ, 2007BRIZ, Graça. Vilegiatura balnear: imagem ideal/imagem real. Revista de História da Arte, Lisboa, n. 3, p. 255-267, 2007.). Antes do Plano de Urbanização de 1933, a praia de Cascais já era um modelo balnear em Portugal. Porém, em meados do século XX, a impressão de Gilberto Freyre (2001, p. 62)FREYRE, Gilberto. Aventura e rotina. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001. era “de um encanto postiço, cenográfico, teatral, e que tanto pode estar hoje aqui como, amanhã, noutro recanto da Europa e até do Uruguai”.

Se o autor de Aventura e rotina antevia a paisagem litorânea de Estoril e de Cascais como um espaço social cada vez menos português e cada vez mais de “cenografia internacional”, que poderia se assemelhar a Deauville ou Piriápolis, o que dizer da praia da Polana?

Em Lourenço Marques, o hábito de “tomar fresco” remonta à vilegiatura campestre ou marítima já difundida na Europa desde o século XIX. A preferência da burguesia lisboeta por sítios como Sintra ou Estoril serviu de modelo para a “invenção” da praia da Polana e de outros balneários em Moçambique. Acontece que a vilegiatura teria novas funções tanto de preservação quanto de reprodução de recursos simbólicos e de distinção social em contexto colonial. Para alguns grupos sociais, certas práticas de lazer tiveram supina importância em contexto colonial, sobretudo para os chamados “assimilados”.

Desde a época vitoriana, costumes e hábitos aristocráticos ou já aburguesados de uma cultura balneária também foram adaptados para o contexto da África Colonial. Entre eles, a ida aos banhos de mar por conselho médico. Em Moçambique, crianças candidatas às colônias de férias - “campestres e marítimas” - eram submetidas à inspeção médica, sendo prioridade para o preenchimento das vagas àquelas “de saúde mais precária e de maior pobreza”.6 6 O Brado Africano, 6 nov. 1920. Ainda em meados do século XX, durante a sua visita a Moçambique, Gilberto Freyre (2001, p. 433) visitou “uma colônia de férias à beira-mar para rapazes e meninos de várias cores, classes e castas (…) a quem a intendência proporciona oportunidades de recreação e às vezes de recuperação de saúde que eles nem sempre poderiam dar-se ao luxo de gozar”.

Na então chamada África Oriental Portuguesa, também se aspirava a reproduzir a cultura balneária desenvolvida nas praias de Cascais, Estoril e outras do litoral português. Além disso, havia uma incipiente cultura balneária em algumas praias do continente africano, como em Durban, na vizinha África do Sul.7 7 Sobre um breve histórico da segregação nas praias de Durban, ver Maharaj (1996). Segundo matéria do jornal O Africano, Durban deveria ser um exemplo para os melhoramentos na praia da Polana, assim como para Capetown e East London.

Deste modo cuidaremos de aumentar os atrativos desta cidade e não esqueceremos também os divertimentos e atrações que em África, mais que em outra qualquer parte do mundo, são necessários e indispensáveis.8 8 O Africano, 9 jan. 1913.

Em outra matéria, o mesmo jornal se referiu a um documento enviado ao Ministro das Colônias, no qual se reclamava da má vontade do Governo da Metrópole para com Moçambique. A matéria comentava a resposta do ex-ministro Cerveira d’Albuquerque publicada na nova Revista Colonial. Entre outras questões, foi abordada a da infraestrutura da praia da Polana. Segundo o senhor Cerveira d’Albuquerque, as obras em Durban foram realizadas pelo Governo Municipal à medida que a concorrência aumentava. Em Durban havia muitos hotéis e pensões que hospedavam milhares de forasteiros. Já na praia da Polana, a capacidade hoteleira era apenas para centenas de pessoas e, mesmo assim, mal hospedadas.9 9 O Africano, 6 mar. 1913.

Além de ser considerada salutar/divertida e necessária/indispensável, a ida aos banhos de mar se revestia em Moçambique de forma ideológica, a tornar mais leve aquilo que alguns consideravam como o fardo dos europeus que viviam na África Austral.

Desde a publicação do poema intitulado “O fardo do homem branco” (1889), do célebre escritor Rudyard Kipling (1865-1936), vários periódicos fizeram alusão ao colonialismo como um empreendimento nobre, apesar do suposto alto custo. Na imprensa metropolitana, anúncios de produtos coloniais também se referiam ao tema com rasgos de “racismo mercantil”.10 10 A categoria analítica de “racismo mercantil” foi empregada por McClintock (2012, p. 307-320) em seu estudo sobre suas implicações na propaganda imperial britânica. Entre eles, destacaram-se os reclames de sabão da marca Pears.11 11 Um cartaz da marca Pears chegou a mencionar literalmente o título (“The white man’s burden”) do poema de R. Kipling. A mensagem publicitária do sabão era a seguinte: “The first step towards lightening The White Man’s Burden is through teaching the virtues of cleanliness. Pears’ Soap is a potent factor in brightening the dark corners of the earth as civilization advances, while amongst the cultured of all nations it holds the highest place - it is the ideal toilet soap”. Escusado é lembrar que a limpeza pelo sabão se inscrevia num credo ocidental, no qual a cor branca (da pele e das roupas) era um símbolo da superioridade europeia.12 12 Para uma análise da relação entre sabão e civilização durante a Era Vitoriana, ver McClintock (2012, p. 307-340).

Entre as mercadorias da sociedade industrial que participavam do sistema unificado de representação cultural e que se difundiam nos trópicos, o sabão teve relevância por sua relação com as novas descobertas no campo da saúde e da higiene, notadamente quando a bacteriologia veio a ter um significativo avanço no campo científico do final do século XIX.

No início do século XX, a teoria microbiana viria a suplantar a teoria miasmática. Germes, bactérias e outros agentes patogénicos poderiam ser eliminados com simples medidas sanitárias e de higiene. Além do asseio corporal, a limpeza de cortinas, toalhas, lençóis e outros tecidos do mundo doméstico passava a ser uma obsessão burguesa. Nesta nova ordem disciplinar de corpos e lares, os banhos se tornavam mais frequentes, inclusive os banhos de mar.

Tal discurso pautado pela higiene trazia consigo uma disciplina social que se expressava, igualmente, na incipiente cultura balneária na África Colonial. Assim como Durban e outras praias balneárias da África do Sul, certas praias de Moçambique eram um espaço social para brancos. Como afirmou José Luís Cabaço (2009, p. 38)CABAÇO, José Luis. Moçambique: identidade, colonialismo e libertação. São Paulo: Editora Unesp, 2009., “a pele negra, qualquer que fosse o estatuto jurídico do indivíduo, impedia seu acesso à maioria dos locais de convívio e lazer frequentados por ‘civilizados’”.

Pelo Regulamento das Praias, os “nativos” estavam impedidos não só de ocupar tais recintos, mas também de se banharem nas mesmas águas que os brancos (ZAMPARONI, 1998ZAMPARONI, Valdemir D. Entre narros & mulungos: colonialismo e paisagem social em Lourenço Marques (c. 1890-c. 1940). Tese de doutorado em História Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998., p. 330-331). A promiscuidade na praia era, portanto, perigosa. Nos quadros do colonialismo, tal promiscuidade era mais que uma corrupção física, na medida em que era uma corrupção moral.

As preocupações com o ordenamento urbano não se esgotavam na higienização e no controle da mobilidade da população negra. Impunha-se também um controle de natureza moral. Uma sociedade higienizada, da qual a cidade asseada era a expressão, não podia conviver com indígenas, cujas atitudes e comportamentos pareciam degenerados e degradantes, incompatíveis com os princípios tidos como civilizados e com a modernidade reivindicada. (ZAMPARONI, 1998ZAMPARONI, Valdemir D. Entre narros & mulungos: colonialismo e paisagem social em Lourenço Marques (c. 1890-c. 1940). Tese de doutorado em História Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998., p. 333, grifos do autor)

Como os dispositivos normativos do colonialismo impeliam os “assimilados” a hábitos e costumes europeizados, o exclusivismo das estâncias de repouso e recreio também acusava os limites da dualidade da sociedade colonial.13 13 Sobre a essência dualista da sociedade colonial, ver Cabaço (2009, p. 27-44).

A eventual presença de “assimilados” incomodava, como se depreende da reação do editor do jornal O Africano às queixas de banhistas enojadas com o fato de o recinto para banhos de mar “estar demasiadamente tinto”.14 14 As queixas das banhistas foram publicadas nas edições do jornal Lourenço Marques Guardian de 27 e 30 de novembro de 1916. Em sua resposta, João Albasini (1916) não se furtou de insinuar uma eventual atração sexual das banhistas, “pobres ninfas emergindo as suas brancas carnes das salsas ondas e vendo aqueles brutos tições (…), e tomadas umas contra as outras, a tremer mirando os dentes alvos da negralhada - que tingia o mar! - talvez temendo que aqueles dentes se aguçassem já para trincar a carne mimosa”. No contexto colonial, a promiscuidade nas praias foi tema polêmico pelas implicações sociais, raciais e sexuais. Em carta de “um português”, publicada n’O Africano, em 23 de dezembro de 1916, Albasini se refere à exclusividade reclamada para certos espaços para brancos em nome de uma suposta e natural repulsa ao indígena, ainda que não haja a mesma repulsa “por suas irmãs, esposas e filhas que degeneramos sem que ninguém se importe com isso”. Em sua resposta aos pruridos das banhistas queixosas e dos arrojos do diretor do Guardian, João Albasini ironizou o racismo alheio ao aconselhar não ir à água do mar “contagiada pela cor dos outros” a fim de evitar o risco de “envenenar-se”. Nota-se que a praia da Polana estava longe de ser “a praia morena” da canção.15 15 “Polana, praia morena”, verso da canção “Polana”. Música de Belo Marques e Letra de C. Campo. Edição do Rádio Club de Moçambique. Uma partitura se encontra na Biblioteca Nacional de Portugal (Lisboa)/ cota: M.P. 2301/24A.

O Africano também publicou cartas de leitores para confrontar as opiniões veiculadas no jornal “inglês” de Lourenço Marques.16 16 Fundado por João Albasini, O Africano foi um jornal combativo que tinha como público-alvo os “assimilados” da colônia portuguesa. Contava com serviço telegráfico em contato com Lisboa. Até então, apenas o The Guardian, jornal publicado em inglês em Lourenço Marques, recebia notícias das agências internacionais pelo telégrafo. O Africano circulou até 1920. Em 1918, os irmãos Albasini fundaram um segundo jornal: O Brado Africano. Para a imprensa periódica de Lourenço Marques, ver: Dias (1957) e Rocha (1973). Destaca-se ainda a tese de Zamparoni (1998) como uma das primeiras a trabalhar os jornais O Africano e O Brado Africano como fontes históricas. Numa delas, chegou a perguntar se era “lícito com o dinheiro do preto, construir obras de luxo e higiene para o nosso aproveitamento exclusivo, principalmente dos estrangeiros, não permitindo o seu gozo àqueles que o constrói?”.17 17 O Africano, 23 dez. 1916. Apesar de certa divergência em relação à promiscuidade no balneário, parece ter havido consenso quanto à exclusão nos banhos dos indígenas não civilizados”.18 18 Sobre a referida polêmica, Cf. Zamparoni (1998, p. 330-331).

Outras queixas relativas à ida aos banhos também foram publicadas n’O Africano. Um leitor escreveu ao diretor do periódico para informar que algumas meninas “um pouco crescidas” que iam a pé para a praia de Polana eram molestadas por soldados aquartelados na Ponta Vermelha. Estes dirigiam palavras “chulas e muitas vezes obscenas”. Algumas famílias já teriam proibido seus filhos de irem para aquele sítio, “privando-os assim dos ares da praia”.19 19 O Africano, 3 maio 1912. Nas páginas d’O Africano também foram feitas críticas à vilegiatura de crianças para o Transvaal, uma vez que não havia onde acomodá-las na praia da Polana ou na Namahasha.20 20 Diferente da praia marítima da Polana, as cascatas de Namahasha (atual Namaacha) se situam nos Montes Libombos, próximo da fronteira com a Suazilândia (eSwatini conforme a nova denominação do país de 2018) e a África do Sul. O local era também um destino da vilegiatura durante o período colonial. Para o jornal, o dinheiro que se gastou no Transvaal podia ter sido gasto na Namahasha para construir o que faltava, ou seja, cozinha e casas de banho.21 21 O Africano, 23 jan. 1913. A colônia de férias em Middelburg foi motivo de polêmica pelas supostas condições precárias do alojamento para as crianças. Ver O Africano, 6 fev.1913.

Em meados de 1914, O Africano publicou um alvitre solicitando melhoramentos na praia da Polana. Remoção de dunas, inclinação suave da encosta, plantação de coqueiros na orla, extensão da rede elétrica e construção de um elevador eram algumas das demandas para o melhoramento do balneário. Era também sugerida a realização anual de uma semana de grandes festas, cuja divulgação deveria ultrapassar as fronteiras de Moçambique, com cartazes ilustrados “afixados em todos os portos da costa oriental e em todas as cidades da África do Sul e da Rodésia”. Pequenas festas, semanais ou quinzenais, eram igualmente previstas e poderiam conter touradas, regatas, concursos de tiro ao alvo, jogos de futebol, tênis, críquete, corridas de cavalos etc.22 22 O Africano, 19 ago. 1914.

Parece que os banhistas já estavam acostumados com espetáculos desportivos na praia. O Africano informou que seriam realizados na praia da Polana vários “sports” entre rapazes portugueses e estrangeiros no terceiro domingo de abril de 1912. No mesmo domingo, haveria também música da banda militar no coreto da praia.23 23 O Africano, 12 abr. 1912.

Em 1913, houve uma grande festa com variada programação desportiva. Além do Congresso da South African Association for the Advancement of Science, realizado durante as festividades, houve as seguintes atividades: em 12 de julho, regata e “sports aquáticos” na praia da Polana à tarde; em 15 de julho, concurso de castelos de areia para crianças, na praia da Polana; em 26 de julho, regata e “sports aquáticos” na praia da Polana à tarde; e em 4, 6, 7 e 9 de agosto, grandioso concurso hípico internacional de que participaram numerosos oficiais ingleses e portugueses.24 24 O Africano, 5 jul. 1913.

Apesar do contexto beligerante (1914-1918), a ida aos banhos em Lourenço Marques parece não ter sido afetada pelo eventual risco de bombardeio por submarinos alemães. O Conselho de Turismo continuou o seu trabalho de melhoramentos na praia da Polana, inclusive mantendo uma orquestra para diversão musical dos frequentadores do balneário. Festas e bailes também eram realizados. No réveillon de 1919, o proprietário do “Tea Room” da praia da Polana convidou o público a assistir os grandiosos bailes de final de ano, abrilhantados por esplêndida música.25 25 O Africano, 31 dez. 1919.

Além das virtudes medicinais da ida aos banhos de mar, outros signos da cultura balneária eram compartilhados entre europeus de diferentes nacionalidades e residentes em Lourenço Marques. A praia era, ao mesmo tempo, um espaço social terapêutico e lúdico.26 26 A praia da Polana não seguiu o modelo de passagem de “praia terapêutica” à “praia lúdica” proposto por Helena Machado (2000, p. 201-218). Espaço limiar entre o natural e o cultural. Além da praia como espetáculo “natural”, o balneário se tornava espaço de espetáculos “culturais”, como as competições desportivas, festas e bailes. No terceiro volume dos Álbuns, inclusive, tem-se uma fotografia de uma festa de crianças na praia (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 105). Tem-se ainda outro clichê do Pavilhão do Chá da praia da Polana (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 104). Uma outra fotografia dos Álbuns registrou a espera da “hora do chá” de grupos de amigos e familiares no elegante terraço do Polana Hotel (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 119). A propósito, o ritual da “tea hour” parece ter se consolidado na cultura balneária da praia da Polana nas primeiras décadas do século XX, como atesta uma matéria dedicada ao “Pavilhão da Polana”.27 27 O Brado Africano, 28 jul. 1921.

Na praia, a própria paisagem humana já era um espetáculo, sobretudo depois da inauguração da linha férrea que, contornando a Ponta Vermelha, passou a ligar a cidade baixa de Lourenço Marques com a praia da Polana. Aliás, o dia da inauguração da linha férrea teve grande público, “vendo-se muitas senhoras na praia, etc.”. Segundo estimativas da época, havia em torno de setecentas crianças na praia.28 28 O Africano, 12 out. 1911.

Por meio da cultura balneária, surgiram novas formas de celebrar o colonialismo. O suposto “fardo do homem branco” era recompensado simbolicamente pelos momentos de tempo livre, pela vilegiatura marítima, veraneio, prática de desportos, hora do chá, “tomar fresco” etc. Conforme o texto introdutório do terceiro volume dos Álbuns, a cidade de Lourenço Marques deixou de ser um “presídio insalubre e infecto” para se tornar uma “cidade higiênica, limpa e ampla” (COSTA, 1929bCOSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI.). Por sinédoque, a África deixava de ser vista apenas como um lugar de perigos, de animais selvagens e de hordas de gentes primitivas. Nos Álbuns, pelo contrário, havia interesse em demonstrar uma África em transformação, onde já se podia colher os frutos do empreendimento colonial “de uma geração que lançou a semente à terra”. A heterotopia local podia vir a ter uma dimensão continental.

Enquanto propaganda colonial, os Álbuns oferecem uma visão de Moçambique em vias de modernização, onde o progresso técnico e científico - e o trabalho dos nativos - deixava mais tempo livre aos europeus.29 29 Como apontou Marilena Chauí (2008, p. 5), na cidade utópica do século XIX, acreditava-se que as máquinas fariam todo trabalho, deixando aos homens o tempo para cultivar o espírito e o corpo; a natureza estaria completamente domada e submetida ao homem, que não mais estaria desarmado diante dela. No caso de Moçambique, tal utopia era ainda mais promissora diante da natureza tropical. Fotos de fábricas, de laboratórios, de maquinários e de inventos como próteses emprestavam aos Álbuns um caráter futurista, aproximando-os quase da ficção científica.30 30 É essa dimensão técnico-científica da utopia que origina um novo gênero literário: a ficção científica. Sua primeira manifestação, encontra-se na obra de Júlio Verne (CHAUÍ, 2008, p. 5). Curiosamente, se livros como Cinco semanas num balão (1863) faziam parte de um novo gênero literário, eles ainda estavam repletos de preconceitos sobre a África e os africanos.

Cabe lembrar que a roupagem científica da utopia no século XIX criou um projeto de reforma global através da ciência aplicada, sendo o futuro arrastado para as fronteiras do presente e a utopia aparecendo como possibilidade objetiva e inscrita na marcha progressiva da história (CHAUÍ, 2008CHAUÍ, Marilena. Notas sobre utopia. Ciência & Cultura, São Paulo, v. 60, n. 1, p. 7-12, 2008., p. 5). Tal crença no progresso técnico e científico autorizava Mário Costa (1929b)COSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI. a vaticinar, no seu texto introdutório do terceiro volume dos Álbuns, que a cidade de Lourenço Marques “será, num futuro não muito distante, uma das maiores e melhores cidades da África do Sul”. O autor destacou, ainda, o seu cosmopolitismo, bem como o seu caráter moderno, inclusive esteticamente, pois o ecletismo de sua arquitetura foi visto como a expressão cultural da presença de imigrantes de várias nacionalidades europeias que livraram a cidade da “simetria monótona que cansa a vista e aborrece o gosto” (COSTA, 1929bCOSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI.).

A arborização também mereceu destaque, pois emprestava um aspecto à fisionomia geral das ruas “de alegria, de saúde e de higiene”. O autor insinuou ainda que tal processo de modernização urbana constituía um processo de “desafricanização” da “cidade de África que procura não sentir a África” (COSTA, 1929bCOSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI.).

Largas avenidas, algumas de cerca de quatro mil metros de comprido, ladeadas por formosos chalés que, por sua vez, ostentam na sua frente pequeninos jardins caprichosamente delineados; com uma viação cômoda que vai desde o automóvel luxuoso e de turismo ao ônibus popular e à linha elétrica; com uma praia famosa e belos hotéis, desde o mais modesto ao mais luxuoso, o Polana Hotel, que não tem igual em toda a África do Sul; com um cunho de civilização que impressiona o mais requintado turista; cidade higiênica, limpa e ampla, ajustam-se-lhe bem as designações com que os estrangeiros a apontam nas suas publicações de turismo: “Côte d’Azur”, ou duma maneira geral, - “A corner of Europe in South Africa” - um canto da Europa na África do Sul. (COSTA, 1929bCOSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI.)

As fotografias relativas à cultura balneária em Moçambique permitem identificar características da heterotopia de compensação, pois a sociedade colonial aparece como perfeita, justa e, até mesmo, melhor ou superior à metropolitana. Como propaganda colonial, as imagens escamoteiam o dualismo intrínseco do colonialismo e enaltecem a predominância e o poder dos portugueses.

Duas fotografias de crianças tomando banho de mar na praia da Polana invocam a ideia da heterotopia de compensação, na qual a nova geração tem um futuro garantido e promissor (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 107). Outro exemplo é o conjunto de crianças brincando na praia de Chinde (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 42). Elas representam a civilização nos trópicos em sua tenra e melhor idade. Cabe lembrar ainda que as práticas de banhos de mar e a estadia à beira-mar faziam parte dos conselhos médicos para propiciar a robustez física e moral das crianças (MACHADO, 2000MACHADO, Helena C. F. A construção social da praia. Cadernos do Noroeste, Braga, v. 13, p. 201-218, 2000., p. 208).

A emergência de uma cultura balneária na África oriental era mais do que uma forma de mimese de práticas sociais metropolitanas.31 31 Na Europa ocidental, as praias balneárias eram espaços privilegiados de sociabilidade. Bath, Schweningen, Ostende, Deauville e Estoril eram algumas praias balneárias famosas no final do século XIX. O prestígio social atribuído a certos balneários europeus e a importância da vilegiatura marítima no imaginário europeu da Belle Époque concorreram para a mimese social responsável pela importação do modelo balnear em algumas praias do continente africano, como Durban, na África do Sul, e a praia da Polana, em Moçambique. As fotografias de praias e outros locais para “tomar fresco” em Moçambique sugerem uma vida melhor do que aquela metropolitana, como se a sociedade colonial pudesse ser perfeita. Em suma, trata-se da heterotopia de compensação para aqueles que deixaram a metrópole.

Além da Polana, outras praias foram apresentadas nos Álbuns como balneários paradisíacos. Por exemplo, a praia do Chinde, no distrito de Quelimane (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 41-42). As fotografias ressaltam a sombra do arvoredo à beira-mar. A ilustração de uma esbelta banhista - de toca, sapatilhas e sombrinha - sugere a representação moderna da figura feminina que, assim como os pinheiros ou os eucaliptos, deixava de ser um elemento exótico na paisagem colonial.32 32 Em várias fotografias dos Álbuns se destacam os eucaliptos na paisagem de Moçambique. A introdução de exemplares da fauna e da flora exóticas, especialmente de animais e plantas para certas atividades econômicas, foi defendida por vários órgãos da imprensa colonial como imperativo ao desenvolvimento da pecuária, da agricultura etc.

Também pelas páginas dos jornais, chamava-se a atenção do Governo da Província para o potencial de alguns sítios como o de Quissico, uma “estância ideal, rival das da Europa ocidental e oriental”. Com a boa aplicação de capital a população da Província seria beneficiada com uma nova “estância de repouso e de prazer”.33 33 O Brado Africano, 11 fev. 1922.

“Tomando fresco”

No século XIX, muitas partes da orla marítima do Atlântico deixaram de ser um “território do vazio” para se tornarem - enquanto espaço social construído - praias balneárias.34 34 Sobre o tema, Cf. Corbin (1989), Machado (2000) e Correa (2010). Moles, cassinos, hotéis, belvederes, casas de banhos e outros equipamentos transformavam algumas praias em balneários atraentes para um público que descobria o desejo de beira-mar. Mais do que os terapêuticos banhos de mar, tal desejo estava associado às propriedades benfazejas atribuídas ao ar puro. Respirá-lo era uma forma de purificação, além de ser tonificante e revigorante.

Desde o início das relações luso-africanas, a alta mortalidade dos portugueses na África era atribuída, em grande parte, às febres e a outras enfermidades relacionadas ao clima insalubre. Uma série de doenças tropicais era relacionada aos miasmas. Para algumas enfermidades, a cura estaria no câmbio de ares, em “tomar ar fresco”.

O clima tropical não aparecia no imaginário europeu como benéfico à saúde humana. Somente em meados do século XIX, algumas regiões da África foram vistas como salutares. Entre elas, uma região montanhosa na África equatorial, na qual Richard Burton chegou a imaginar um sanatório para curar os enfermos nos entrepostos britânicos na costa africana (ARNALTE, 2005ARNALTE, Arturo. Richard Burton, cónsul en Guinea española: una visión europea de África en los albores de la colonización. Madrid: Catarata, 2005., p. 59). Na África oriental, terras altas também foram indicadas para a colonização por alemães com o aval de médicos (CORREA, 2013CORREA, Sílvio Marcus de Souza. O ‘combate’ às doenças tropicais na imprensa colonial alemã. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 69-91, 2013.).

A África austral era conhecida como uma região de clima temperado e, por isso, mais propícia à colonização europeia. Na imprensa de Moçambique, o clima de Lourenço Marques era ainda mais benéfico, e suas praias melhores que as da vizinha África do Sul.

Com as suas extensas praias, banhadas pelas águas tépidas do Índico Oceano, e cercadas, por terra, pelas ravinas altas de arvoredos sombrios; com os seus palmares e pontos ideais para piqueniques, a nossa praia é o lugar de mais encantos da África do Sul, nada havendo que dela se aproxime.35 35 O Africano, 28 mar. 1919.

A mesma matéria informava ainda que Lourenço Marques era inigualável como “ponto saudável marítimo”. Por isso, muitos dos residentes do Transvaal procuravam as praias daquela cidade, cuja proximidade de Pretoria e Johannesburg facilitava e barateava o acesso. Além disso, no inverno, “o seu clima é mais doce e agradável, fornecido de um céu claro, mais saudável mesmo do que Durban, e muitíssimo superior ao da península do Cabo, com as suas regeladas chuvas d’inverno”.

Se fatores mesológicos parecem ter concorrido para fazer de Lourenço Marques um “paraíso”, necessitava-se ainda de uma série de melhoramentos. Ao menos, é o que demonstra algumas queixas publicadas n’O Africano. Às vésperas da chegada de centenas de turistas do Transvaal para “gozar o ar fresco do mar”, algumas vozes reclamavam da aparência da cidade.

Dos seus prédios, desses horríveis muros, de toda essa falta de estética que apresenta a capital da Província.

Raros são os prédios que apresentam uma pintura decente, que tenham as portas em bom estado, as janelas com todos os vidros, as vedações em termos, etc.

Os muros têm os rebocos caídos, mostrando aqui e acolá os tijolos de que são feitos; onde deviam existir portas existem grandes buracões; pintura é coisa que jamais tiveram.

Tudo isso é um horror de estética.36 36 O Africano, 12 fev. 1919.

Ainda sobre a aparência de certos locais, a falta de limpeza na praia da Polana foi assunto n’O Brado Africano. Uma nota do jornal acusa o Conselho de Turismo de desleixo no que diz respeito à limpeza da praia e ao desvio de “somas fabulosas que do Governo recebe todos os anos”.37 37 O Brado Africano, 13 abr. 1922. O estado dos chalés da praia da Polana também não escapou à crítica d’O Africano.

Os chalés estão, pode dizer-se, votados ao abandono, carecendo absolutamente das atenções do Conselho de Turismo. Há paredes esburacadas que, se não lhe acodem, qualquer dia ninguém poderá viver nos chalés. Há portas e janelas a implorar o trabalho de um carpinteiro, e há, também, muita falta de limpeza.38 38 O Africano, 24 dez. 1919.

Contudo, o estado dos chalés parece ter melhorado, pois, dez anos depois, uma fotografia dos Álbuns mostrou vários chalés alinhados e, aparentemente, em boas condições para alugar ao público (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 110).

A infraestrutura turística da cidade parecia não acompanhar o aumento de visitantes já na primeira temporada do postbellum. “A cidade regurgita de turistas que chegam da União. O que é de lamentar é a falta de hotéis e casas para tanta gente, que mal pode já encontrar um quarto para dormir”.39 39 O Africano, 5 jul. 1919.

O déficit hoteleiro foi parcialmente resolvido na década de 1920. Ao menos, é o que pode ser constatado com os clichês de hotéis publicados no terceiro volume dos Álbuns.40 40 Além de fotografias do “mais moderno hotel da África do Sul” (Polana Hotel), constam também clichês dos seguintes estabelecimentos da cidade: Grande Hotel, Carlton Hotel, Central Hotel, Cage Hotel, Avenida Hotel, Club Hotel e Hotel Paris. Ver Rufino (1929, p. 112-117). Para os turistas afortunados e para a elite de Lourenço Marques, um majestoso hotel foi construído na praia da Polana.

O Polana Hotel foi o maior do gênero naquela praia e se tornou um símbolo da heterotopia de compensação. Mais uma vez, a experiência balneária de Durban serviu de parâmetro à construção de um grande hotel na praia da Polana. Segundo um dos representantes da firma construtora, com a abertura do Polana Hotel, iria aumentar o número de turistas, o que daria nova vida a Lourenço Marques e ao seu comércio, assim como o aumento das receitas públicas. O exemplo era a cidade de Durban, cujas receitas municipais se achavam bem precárias em 1906, quando foi criada uma comissão das praias para promover o balneário. Com o aumento do fluxo de turistas, houve o surgimento de novos hotéis e casas de hóspedes. De 1906/1907 a 1920/1921, as receitas da municipalidade, inclusive aduaneiras, triplicaram. Anualmente, o turismo injetava em Durban em torno de 1 milhão de libras, o que favorecia a expansão do comércio, das indústrias e da riqueza pública (BRAMÃO, 1970, p. 146).

O Polana Hotel foi inaugurado em meados de 1922. Possuía “amplas salas de jantar e de baile, salas de leituras, quartos de banhos em todos os aposentos, barbearia, salas de jogos, cabine telefónica, e telefones nos seus 150 quartos, estação telégrafo-postal, ‘courts’ de tênis, etc.” (COSTA, 1929bCOSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI.).

Outros estabelecimentos, como o Grêmio Náutico, cujas salas no edifício novo na praia da Polana foram abertas no final de 1919, concorriam para desenvolver a cultura balneária local.41 41 O Brado Africano, 10 jan. 1920. No entanto, alguns anos depois, o Conselho de Turismo foi criticado em nota de jornal pelos seus dispêndios com o Grêmio Náutico, uma vez que “tudo aquilo que merecia toda a sua atenção, como a limpeza e embelezamento da praia, não liga a mínima importância”.42 42 O Brado Africano, 13 abr. 1922.

Apesar das críticas, a administração realizava melhoramentos, modificando a paisagem daquela praia balneária.43 43 Sobre alguns melhoramentos promovidos pelo Conselho de Turismo na praia da Polana, ver, por exemplo: O Africano, 5 jul. 1919 e 16 jul. 1919; e O Brado Africano, 23 ago. 1919, 30 jan. 1920 e 6 mar. 1920. Na visão otimista de Mario Costa (1929b)COSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI., estes melhoramentos justificavam a preferência por parte dos sul-africanos por aquela “esplêndida praia, cuja beleza natural encanta e a faz uma agradável estância de recreio”. O autor dos textos dos Álbuns também informou que a secagem de pântanos em Lourenço Marques era um projeto em andamento desde o final da década de 1920. A arborização da cidade também foi enfatizada pelas fotografias dos Álbuns, bem como a paisagem pitoresca das praias com palmeiras e outras árvores que ajudavam a amenizar o calor dos trópicos.44 44 Com base nos Álbuns de Rufino, Matos e Ramos (2008) observaram que a experiência urbana da arborização em Moçambique antecedeu o modelo da cidade-jardim que seria introduzido em alguns projetos urbanos da chamada África Portuguesa durante a segunda metade do século XX. Aliás, preceitos modernos de conforto e higiene orientaram uma série de “melhoramentos” na praia da Polana.45 45 Escusado lembrar que a arborização da orla marítima foi uma experiência compartilhada por várias praias balneárias. Não raro, tais iniciativas partiam de alguns visionários que, em sua utopia balnear, buscavam fixar as dunas de areias e oferecer sombra aos banhistas. As paisagens das praias de Piriápolis, no Uruguai, e Villa Gesell e Pinamar, na Argentina, são exemplos dessas mudanças antrópicas, notadamente a arborização com plantas exóticas.

Os Álbuns se inscrevem, assim, numa narrativa visual e apologética do colonialismo em Moçambique, da colonização como modernização. Imagens alusivas à nova paisagem cultural e ao domínio da natureza pela técnica (ou ciência) se encontram em outros álbuns fotográficos como Views of Lourenço Marques (Delagoa Bay) and Transvaal Railway, de 1887, ou A Souvenir of Lourenço Marques: an album of views of the town, de 1901. O último foi realizado pelos irmãos sul-africanos Joseph e Moses Lazarus, que atuaram em Lourenço Marques entre 1899 e 1908.46 46 Sobre os álbuns fotográficos de C. S. Fowler (1887), J. & M. Lazarus (1901) e J. S. Rufino (1929), ver: GOMES, Inês. A Souvenirs of Lourenço Moçambique. Outros Tempos, São Luís, v. 13, n. 22, p. 163-176, 2016. Outro álbum foi Views of Lourenço Marques, de Spanos & Tsitsias. Algumas fotografias de Spanos & Tsitsias tiveram uma edição sob o formato de cartão-postal. Para os fins deste artigo, destaca-se o da praia da Polana.

Figura 1
Na Praia da Polana

A legenda em português e inglês revela o público-alvo: curistas e/ou turistas sul-africanos e europeus. Cabe lembrar que D. Spanos havia antecedido José Rufino Santos nas atividades de papelaria, fotografia e tipografia no mercado de Lourenço Marques.

Na Praia da Polana (Figura 1), tem-se uma cena de vilegiatura marítima como studium.47 47 Para usar os termos já clássicos do ensaio de Roland Barthes sobre a fotografia, o punctum pode ser um detalhe para além da “intenção” de leitura do studium. Trata-se da paisagem humana e social do local. A imagem faz lembrar algumas pinturas de Eugène Boudin da praia de Deauville ou outros cartões-postais de balneários europeus, como Biarritz ou Estoril. Já o punctum da fotografia está exatamente no centro, imiscuído na paisagem humana. Três jovens sentados sobre um banco na areia. Provavelmente, são “boys” de famílias de curistas/turistas que tomam fresco à beira-mar. Na outra extremidade do banco, três homens adultos estão sentados, contemplativos. A distância entre os dois grupos não é apenas de alguns metros, é social. Ao fundo, homens e mulheres curistas/turistas passeiam. Entre eles, outros jovens ali estão para eventualmente servi-los. Ninguém olha para o fotógrafo. A maioria mira o horizonte. O mar como espetáculo. Mas o espetáculo social se faz na praia. A areia se torna palco, transformando a praia num lugar de sociabilidades.

Vinte anos depois desse cartão-postal da praia da Polana de Spanos & Tsítsias, foram editados os Álbuns de José dos Santos Rufino, assim como os seus postais. Nas fotografias do Hotel Polana, destaca-se a sociabilidade dos hóspedes e visitantes. O studium é o microcosmo hoteleiro nessa heterotopia da compensação em espaço colonial.

Figura 2
No Polana Hotel: Esperando a hora do chá…

A imagem dos convivas a tomar chá na esplanada do hotel é emblemática da sociabilidade tão aspirada por homens e mulheres longe da metrópole. A hora do chá em espaço colonial foi também emulação social. Ainda sobre “tomar fresco”, uma publicidade do Restaurante Leão de Ouro traz uma fotografia de homens e mulheres na varanda do estabelecimento “situado num esplêndido local” e “sempre arejado pela fresca brisa da Baía” (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 111). Na década de 1920, o Pavilhão de Chá era outro lugar emblemático da praia da Polana, “um dos melhores pontos da cidade alta, onde se respira um ar puro e vivificante”.48 48 O Brado Africano, 28 jul. 1921.

Na introdução ao terceiro volume dos Álbuns, tem-se uma descrição da praia da Polana que, para os propósitos deste trabalho, merece ser transcrita na íntegra:

Fica esta praia situada no sopé de uma íngreme encosta onde foi construída uma estrada em forma de serpentina. É ela muito frequentada, durante todo o ano, por banhistas - e principalmente durante a ‘season’ de maio a outubro, época em que os turistas vindos da União Sul-Africana, vão ali passar agradavelmente algumas horas de entretenimento.

Há também uma estrada marginal que a liga à parte central da cidade, e que é um dos pontos obrigatórios de passeio para o turista, tão agradável é o panorama que dela se disfruta.

Em frente do recinto de banhos ergue-se uma magnífica Casa de Chá, que é o melhor edifício do gênero em toda a costa da África do Sul. Na sua construção dispenderam-se mais de 20.000 libras. Ali se reúnem também, quase todas as tardes, e especialmente aos sábados, domingos e dias feriados, numerosas famílias, sorvendo o ar puro do mar, ouvindo concerto, etc.

Na praia há uma ponte de madeira e ferro, que corta pelo mar dentro, a que podem atracar pequenas embarcações de recreio, e que é habitualmente frequentada por amadores de pesca.

O recinto de banhos é um enorme retângulo todo cercado de rede, no meio do qual se levanta uma torre de cimento armado com pranchas para saltos.

Ao longo da praia, junto ao pitoresco palmar que constitui um agradável retiro, local que muitas famílias da cidade, e em especial os visitantes, aproveitam para ali realizarem piqueniques, - foram construídos pequenos chalés que têm bastante procura durante a estação quente.

A praia da Polana é também servida por uma linha de carros elétricos, direta, da cidade, seguindo sempre pela beira-mar, o que a torna extremamente interessante.

Muitos e importantes melhoramentos estão sendo realizados na referida praia, estando ouros em projeto; tudo justifica, portanto, a preferência que se vem notando, por parte dos sul-africanos, por aquela esplêndida praia, cuja beleza natural encanta e a faz uma agradável estância de recreio. (COSTA, 1929bCOSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI., p. V)

No mesmo volume, outras fotografias corroboram a projeção de uma utopia colonial que tem o Polana Hotel por epicentro (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 100-109, 117-119). As primeiras fotografias da série mostram um belo caminho sinuoso para a praia da Polana, marcado por arvoredos e belvederes. Numa delas, com o monumental prédio do Polana Hotel ao fundo, destaca-se em primeiro plano um mirante, de onde “se avista a praia e se descansa ao fresco”. Numa das últimas fotos da série relativa à praia da Polana, vê-se um passeio à beira-mar. Homens e mulheres de origem europeia aparecem como os protagonistas do passeio. Um jovem nativo ocupa a posição marginal. Sua presença é ignorada pelos transeuntes e por um grupo que conversa à beira-mar. Tal invisibilidade social indica que o jovem se enquadra exatamente no lugar que lhe é concedido pela hierarquia colonial. Mais do que isso, ele se comporta como idealizava a elite branca em relação à sociedade perfeita, ou seja, ele não incomoda os brancos, nem perturba a ordem. Ele está ali simplesmente para servir.

Outro exemplo é a fotografia do campo de golfe do Club da Polana, em que duas mulheres jogam acompanhadas dos seus respectivos “apanha-bolas”. Cabe destacar que mulheres podiam ser sócias do Club e gozar de todos os direitos de sócios ordinários, “exceto dos de fazerem parte da Assembleia Geral e de elegerem e serem eleitas para os corpos gerentes do Club”.49 49 Estatutos do Club da Polana. Lourenço Marques: Tipografia do Guardian, 1934, p. 5. Dois exemplares - um em inglês e outro em português - se encontram na Biblioteca Nacional de Portugal. No Estatuto do Club Polana, não há nenhuma referência explícita à questão de cor. No entanto, o pagamento de joia e cota anual já era por demais seletivo. Além disso, as formas de acesso para sócios honorários, ordinários ou temporários eram também mecanismos implicitamente discriminatórios. A eleição dos sócios era feita pela Direção por meio de votação secreta. Rejeitado era o candidato que obtinha “uma ou mais bolas pretas por cada três que entram na urna.”50 50 Estatutos do Club da Polana. Lourenço Marques: Tipografia do Guardian, 1934, p. 7. Sócios podiam ser expulsos pelo simples fato de “apresentar no Club qualquer pessoa cuja presença seja prejudicial aos interesses e reputação do Club ou que não seja bem aceita pelos sócios”.51 51 Estatutos do Club da Polana. Lourenço Marques: Tipografia do Guardian, 1934, p. 10.

Outra fotografia dos Álbuns registra o descanso de dezenas de homens e mulheres na praia da Polana, enquanto suas crianças brincam à beira-mar (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 106). A presença de “boys” é registrada pela objetiva e corresponde à posição socialmente marginal, pois eles não estão ali como banhistas, como quem relaxa, “toma fresco” ou contempla a paisagem, mas, sim, como serventes. Talvez o fotógrafo tenha voluntariamente enquadrado os “boys” para retratar uma sociedade multirracial nos trópicos. Se esse foi o seu intento, o registro fotográfico não deixa de revelar as hierarquias da sociedade colonial.

Figura 3
Na praia da Polana

A cultura balneária na chamada África Oriental Portuguesa se formou a partir de uma pretensão civilizatória e de uma utopia colonial. Mas a utopia que se projetava nos moldes coloniais não pleiteava a igualdade como no pensamento socialista do século XIX. Quem compartilhava dessa heterotopia tinha por vaticínio que a sociedade colonial era melhor do que a metropolitana. Melhor, é claro, para uma elite branca que projetava o seu modus vivendi como perfeito. Também o seu entorno passava a ser percebido de forma hiperbólica.52 52 No introito do terceiro volume dos Álbuns, por exemplo, Mário Costa (1929b) projetava Lourenço Marques como “uma das maiores e melhores cidades da África do Sul”, a praia da Polana como “esplêndido lugar de repouso e recreio”, o Polana Hotel como um estabelecimento “sem rival nas colónias vizinhas” e sem “nenhum em Portugal com tamanha grandeza” e o magnífico Pavilhão de Chá defronte ao recinto dos banhos como “o melhor edifício no gênero em toda a costa da África do Sul”.

Além de estabelecimentos - como o Polana Hotel e o Pavilhão de Chá - “sem igual no gênero em toda a África do Sul”, a natureza exuberante de Moçambique foi exibida nos Álbuns a partir da mesma lógica de modernização. Assim, o processo de domesticação da natureza foi destacado por meio das extensas plantações de fazendas, de floridos jardins e gramados parques das cidades, de ruas arborizadas e estradas entre alinhados eucaliptos. A natureza selvagem foi mostrada como residual. Mas ela não seria totalmente extinta pela marcha da civilização, pois se tornava reduto para caça e safáris. Outros locais se tornavam atrativos para a vilegiatura dos citadinos.

A menos de uma hora de Lourenço Marques, a localidade de Marracuene foi apresentada no quarto volume dos Álbuns como uma paisagem idílica, ideal para “tomar fresco” (RUFINO, 1929RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., p. 41). A localidade foi apresentada também como um “lugar de memória”, onde soldados portugueses tombaram em combate em 2 de fevereiro de 1895. Conforme a narrativa visual dos Álbuns, além da produtividade dos bananais locais, o deleite com a paisagem pitoresca e o proveito salutar do ar fresco de Marracuene eram benefícios que a comunidade portuguesa podia usufruir, porque houve o sacrifício de soldados que “morreram pela Pátria”.

Figura 4
Jazem aqui os soldados portugueses que morreram pela pátria, no célebre combate de Marracuene em 2 de fevereiro de 1895 - Tomando fresco, em Marracuene

Como apontou Foucault (2010, p. 31)FOUCAULT, Michel. El cuerpo utópico: las heterotopías. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 2010., um dos princípios que regem as heterotopias é o poder de combinar num único lugar real vários espaços. As duas imagens de Marracuene evocam passado e presente, tradição e modernidade, trabalho e lazer, sacrifício e prazer. A justaposição das duas fotografias na mesma página tem uma mensagem subliminar. Elas corroboram um mito: o da terra purificada com sangue. Estabelece-se um vínculo simbólico entre metrópole e colônia, entre a terra onde nascem os homens e a terra onde eles morrem. Na introdução de um dos seus livros sobre Moçambique, Mário Costa (1934)COSTA, Mário. Cartas de Moçambique. Lisboa: [s. n.], 1934. afirmara que “a África foi feita com o sacrifício dos brancos”. Essa ideia do “fardo do homem branco” teve implicações na propaganda e na utopia coloniais.

Propaganda colonial e heterotopia

Para Mário Costa, o Anuário de Lourenço Marques e os Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique eram “duas obras sólidas, de iniciativas diferentes, completando-se, porém, no fim a que visam de propaganda da Colônia, da boa propaganda da Colônia” (COSTA, 1934COSTA, Mário. Cartas de Moçambique. Lisboa: [s. n.], 1934., p. 97).53 53 Das edições do Anuário de 1925 a 1931, o tenente Mário Costa foi organizador, coordenador e, em parte, autor. Dos Álbuns de 1929, ele foi autor da parte descritiva (COSTA, 1934, p. 95). Escusado é lembrar que os Álbuns fizeram parte da propaganda da África Oriental Portuguesa na Exposição Internacional e Colonial de Paris em 1931. Exemplares dos Álbuns também foram distribuídos a consulados portugueses e a outros estabelecimentos importantes por iniciativa do então Ministro dos Negócios Estrangeiros, Henrique Trindade Coelho.54 54 Os ministros que sucederam o diplomata Trindade Coelho não teriam tido o mesmo interesse na divulgação dos Álbuns. Por isso, segundo Mário Costa (1934, p. 103), já na década de 1930 não se encontravam os Álbuns nas embaixadas e nos consulados.

Nota-se que as fotografias dos Álbuns eram, ao mesmo tempo, documento e monumento. Ao circular em exposições internacionais e pelo mundo diplomático, eles eram considerados uma coleção que documentava a realidade de Moçambique, mas que, por outro lado, representava uma obra monumental, ou seja, constituíam imagens a ser exibidas para as futuras gerações.

Ainda segundo Mário Costa, os Álbuns foram a melhor e mais atraente propaganda de Moçambique. Também a imprensa internacional teria considerado os Álbuns como “a melhor e mais bem feita obra de propaganda colonial” (COSTA, 1934COSTA, Mário. Cartas de Moçambique. Lisboa: [s. n.], 1934., p. 102-103).55 55 Enquanto se realizava a Exposição Colonial Internacional de Paris (1931), foi redigido um manifesto - Ne visitez pas l’exposition coloniale - por comunistas, socialistas e surrealistas que também organizaram uma contraexposição, com o título La Vérité sur les Colonies. Na imprensa francesa, “a bestial exploração e o trabalho forçado a que estariam submetidos os povos colonizados” foram denunciados em artigos que também denunciavam “as falsas cifras com que se pretendia traduzir o esforço colonial francês” (THOMAZ, 2002, p. 210). No que tange a Lourenço Marques, Costa (1929b)COSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI. afirmou que bastaria mostrar suas imagens para fazer “o elogio de toda a África dos portugueses”. Nas suas palavras, ela era uma “cidade moderna, cheia de belezas naturais, clima esplêndido. Uma das terras d’África preferida como estância de repouso” (COSTA, 1929bCOSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI.).

Cabe lembrar que propaganda não é um termo pejorativo no entendimento do autor da parte descritiva dos Álbuns. Propaganda vem do verbo propagar. Trata-se, portanto, de propagar ou divulgar ideias religiosas ou políticas e/ou uma visão de mundo. No caso de Moçambique, os Álbuns propagavam a ideologia colonial. A propaganda destaca aspectos positivos daquilo que pretende divulgar, ressaltando suas qualidades etc. Assim, toda propaganda é parcial em sua argumentação. Ao mascarar a realidade colonial, a propaganda de Moçambique feita pelos Álbuns exagera algumas coisas e minimiza outras. Tal manipulação das imagens faz com que a propaganda visual dos Álbuns se confunda com a ideia de utopia, ou seja, com uma narrativa iconográfica e descritiva de uma sociedade perfeita e feliz.56 56 No terceiro volume dos Álbuns, as fotografias da praia da Polana eram, ao mesmo tempo, propaganda e utopia coloniais. Já uma outra propaganda daquela praia balneária foi alvo de crítica no jornal O Africano de 26 de março de 1919. Um cartaz que mostra um automóvel cheio de passageiros na estrada para a praia foi considerado uma ideia “infeliz e de mau gosto” porque, no canto do cartaz, uma macaca tem nas mãos a palavra “Welcome”. Além disso, a bandeira portuguesa aparece com as cores invertidas, tendo também o escudo invertido. Como sugere o jornal, seria melhor o “bem-vindo” estar nas mãos duma “figura graciosa de mulher, tomando banho”. Sobre a cor da banhista que deveria estar no cartaz afixado na Estação Central dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, o jornal dispensou tratar do óbvio.

Nas figuras seguintes, pode-se ter uma ideia dos múltiplos usos das fotos. A fotografia da praia da Polana com o seu esplêndido Pavilhão de Chá (Figura 5) foi publicada no terceiro volume dos Álbuns. Ela também foi publicada no Boletim Geral das Colónias no número especial sobre Moçambique.57 57 Boletim Geral das Colónias, Moçambique, n. 50, p. 252, 1929. O mesmo clichê foi editado por José dos Santos Rufino como cartão-postal (Figura 6).

Figura 5
A Praia da Polana

Em sépia, a fotografia (Figura 5) mostra os curistas/turistas a “tomar fresco”, enquanto crianças brincam na água do mar. A estância de repouso tinha horários para banhos, para o descanso, para o entretenimento e para momentos de sociabilidade, como a “hora do chá” (ver também Figura 3). A próxima figura é o mesmo clichê, porém colorido. Realça-se o verde da natureza e o azul da água do mar. Na Figura 6, o enquadramento ou retouché acabou por suprimir as três meninas que se encontram à beira-mar na Figura 5.58 58 Um grupo de crianças a brincar na água do mar foi destaque em outro cartão-postal da Praia da Polana. Na seção de iconografia da Biblioteca Nacional de Portugal, dois cartões postais editados por J. Fernandes Moinhos trazem imagens da Praia da Polana (cota P.I. 5686P.; P.I. 5689P.). Cada um deles é composto por cinco imagens fotográficas de flores que dão um estilo Art Nouveau aos cartões-postais.

Figura 6
Lourenço Marques (P.E.A.) - Na praia da Polana - Polana Beach

Assim como nas figuras 1 e 3, percebe-se nela a presença de “boys”. Um deles está escorado no lampadário ao pé da escada. No entanto, a presença deles não deve ser vista como prova de uma “democracia racial”. Ao contrário, a foto confirma a hierarquia das raças na ordem colonial. Aqueles jovens são tolerados porque são necessários ao atendimento de hóspedes e visitantes do Hotel Polana.

Como atesta a Figura 6, as fotografias da praia da Polana foram editadas por José dos Santos Rufino como cartões-postais. Trata-se de uma economia visual que vendia imagens de África como mercadoria colonial. Cabe lembrar que, antes de Rufino, outros já tinham vendido imagens da praia da Polana como cartões-postais, seguindo um regime visual já vigente na Europa (ver Figura 1).

A água é um elemento fundamental da heterotopia de compensação porque purifica. A água simboliza o elemento a uma catarse coletiva. Além dos conselhos médicos, o banho de mar e outras práticas desportivas e de lazer à beira-mar tiveram novos significados no contexto colonial. Nesse sentido, o hotel da praia da Polana foi emblemático no que tange à cultura balneária e à vilegiatura marítima durante o colonialismo. Seu edifício é o corpo físico da heterotopia, sobretudo o seu Pavilhão de Chá.

No filme de curta metragem A cidade de Lourenço Marques (1929), de Fernandes Tomaz, o hotel Polana foi um dos destaques do corpo moderno da cidade. Realizado com o apoio da Agência Geral das Colônias, o filme de Tomaz se inscreve na produção cinematográfica de propaganda colonial. Décadas depois, o documentário Lourenço Marques (1950), de Felipe de Solms, apresenta imagens em movimento dessa heterotopia banhada pelas águas do Oceano Índico. Destacam-se imagens do desporto e do lazer como aspectos da modernidade da cidade. Por sua vez, no documentário Desportos em Lourenço Marques (1951), de Alfredo Cristino Gomes, mostra-se o concurso Miss Polana num culto à beleza feminina definida por padrões ocidentais.

Considerações finais

Desde o início do século XX, o balbuciar de uma cultura balneária na África Austral concorreu para a realização do desejo de poder “tomar fresco” numa região cuja paisagem era até então marcada pelo sertão agreste. A narrativa visual criada pelos Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique pretende, pelo contrário, mostrar uma África moderna que deve tributo ao “fardo do homem branco”. Além dessa visão apologética do colonialismo, os seus dez volumes projetam uma visão utópica da África impregnada da euforia pelo progresso. Porém, encontram-se nos Álbuns evidências de uma heterotopia de compensação.

A maioria dos clichês publicados nos Álbuns acusa a visão conservadora que orientou esteticamente o projeto. Desde o início do século XX, as vanguardas artísticas rechaçaram vários cânones do campo das artes visuais e do senso comum, por exemplo, que a fotografia era a captura objetiva de uma realidade externa.

No entanto, os Álbuns compõem uma narrativa visual do que pretendeu ser a realidade objetiva da África Oriental Portuguesa. Levando em conta que “as fotografias guardam, na sua superfície sensível, a marca indefectível do passado que as produziu e consumiu” (MAUAD, 1996MAUAD, Ana Maria. Através da imagem: fotografia e história interfaces. Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 73-98, 1996., p. 83), pode-se inferir que os leitores/destinatários dos Álbuns emprestaram às fotografias o sentido de que a praia da Polana traduzia uma heterotopia e o exemplo de uma sociedade colonial perfeita e feliz.

Em janeiro de 1952, durante sua hospedagem no Polana Hotel, Gilberto Freyre (2001, p. 428)FREYRE, Gilberto. Aventura e rotina. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001. pôde observar “pretos limpos, ágeis, muito corretos nos seus uniformes”. E tirou sua própria conclusão:

Trata-se, entretanto, de um hotel arianista ou, antes, endogamista. Especializa-se em acolher a anglo-saxões, boers, israelitas, aqui numerosos, vindos da África do Sul e das Rodésias, para gozar o mar e as paisagens da África Oriental Portuguesa. (…) Não admite pessoas de cor, nem como hóspedes nem simplesmente como visitantes, por mais cultos, por mais finos, por mais gentis que sejam essas pessoas. (FREYRE, 2001FREYRE, Gilberto. Aventura e rotina. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001., p. 428)

Na observação do escritor e sociólogo brasileiro há, em bloco, os cinco princípios que regem as heterotopias. Primeiro, a África Oriental Portuguesa tinha sua própria heterotopia: o balneário da praia de Polana; segundo, a cultura balneária e a vilegiatura marítima funcionam diferentemente no contexto colonial; terceiro, a heterotopia tem o poder de justapor num único lugar real vários espaços; quarto, o Hotel Polana faz que os hóspedes se encontrem num tipo de ruptura absoluta com o tempo cronológico; por último, o Hotel Polana possui dispositivo próprio de admissão que o isola do espaço circundante.

Pelas lentes do lusotropicalismo, Gilberto Freyre viu a realidade social da praia da Polana como um enclave e como algo “à parte da vida e da cultura portuguesas”. Chegou mesmo a estranhar que “o governo português permita que isso se verifique na África Portuguesa”.59 59 Para uma crítica do “lusotropicalismo visto das colônias”, ver Cabaço (2009, p. 200-206). O que se registrou nas fotografias dos Álbuns de José dos Santos Rufino como heterotopia foi percebido como distopia na visão lusotropical de Gilberto Freyre. Ironicamente, o lusotropicalismo serviria à propaganda colonial portuguesa. Mas isso é outra história, que foge ao escopo deste artigo.

  • *
    Todas as obras e todos os documentos utilizados na pesquisa e na elaboração do artigo são citados nas notas e na bibliografia. O autor agradece o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, bolsa de produtividade em pesquisa, processo 312449/2017-8.
  • **
    Professor associado do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina.
  • 1
    Sobre esses aspectos, Cf. Domingos (2012)DOMINGOS, Nuno. Futebol e colonialismo: corpo e cultura popular em Moçambique. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2012., Correa (2017)CORREA, Sílvio Marcus de Souza. Hooligans numa praça de touros nos confins da África oriental portuguesa. In: MELO, Victor (org.). “Pois temos touros”: touradas no Brasil no século XIX. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017, p. 192-206., Pereira (2016)PEREIRA, Matheus Serva. Algazarras ensurdecedoras: conflitos em torno da construção de um espaço urbano colonial (Lourenço Marques 1900-1920). In: MATTOS, Regiane A. et al. (org.). Encontros com Moçambique. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2016, p. 37-67. e Nativel (2015)NATIVEL, Didier. Les musiciens, médiateurs d’échanges culturels entre Mozambique et Afrique du Sud: sur quelques effets culturels de migrations anciennes. Afrique Contemporaine, Paris, v. 254, n. 2, p. 57-72, 2015. doi: 10.3917/afco.254.0057.
    https://doi.org/10.3917/afco.254.0057...
    .
  • 2
    José Rufino dos Santos era proprietário d’A Portuguesa, livraria e papelaria. O estabelecimento comercial era ainda loja de perfumes e de artigos diversos. Localizava-se na rua Consiglieri Pedroso, uma das principais ruas do comércio no centro de Lourenço Marques. O rico comerciante tinha ainda o negócio da loteria provincial em seu estabelecimento.
  • 3
    Dos dez volumes dos Álbuns, quatro tratam de aspectos gerais de Lourenço Marques, cinco tratam de outros distritos de Moçambique e o último aborda aspectos mais etnográficos e cinegéticos. São eles: 1º) Lourenço Marques - panorama de uma cidade; 2º) Lourenço Marques - edifícios públicos, porto, caminhos de ferro, etc.; 3º) Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, praia da Polana, etc.; 4º) Lourenço Marques - indústrias, agricultura, aspectos das circunscrições, etc.; 5º) Gaza e Inhambane - aspectos gerais; 6º) Distrito de Quelimane - aspectos gerais; 7º) Distrito de Moçambique - aspectos gerais; 8º) Tete e Cabo Delgado (Niassa) - aspectos gerais; 9º) Companhia de Moçambique - a cidade da beira - aspectos do território; 10º) Raças, usos e costumes indígenas - fauna moçambicana. Com exceção do primeiro volume, os demais têm entre 104 e 155 páginas.
  • 4
    Para Ana Cristina F. da Silva (2009)SILVA, Ana Cristina. Fonseca Nogueira da. Fotografando o mundo colonial africano: Moçambique, 1929. VARIA, Belo Horizonte, v. 25, n. 41, p. 107-128, 2009., pode-se perceber que, no seu conjunto, o território da colónia foi retratado nos Álbuns em três grandes espaços, que correspondia a conjuntos humanos diversos.
  • 5
    Sob o prisma do curismo, o médico Ramalho Ortigão chegou a publicar em 1876 um livro sobre a vilegiatura marítima em Portugal. Cf. Ortigão (1943)ORTIGÃO, Ramalho. As praias de Portugal: guia do banhista e do viajante. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1943..
  • 6
    O Brado Africano, 6 nov. 1920. Ainda em meados do século XX, durante a sua visita a Moçambique, Gilberto Freyre (2001, p. 433)FREYRE, Gilberto. Aventura e rotina. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001. visitou “uma colônia de férias à beira-mar para rapazes e meninos de várias cores, classes e castas (…) a quem a intendência proporciona oportunidades de recreação e às vezes de recuperação de saúde que eles nem sempre poderiam dar-se ao luxo de gozar”.
  • 7
    Sobre um breve histórico da segregação nas praias de Durban, ver Maharaj (1996)MAHARAJ, Bru. The historical development of the apartheid local state in South Africa: the case of Durban. International Journal of Urban and Regional Research, Hoboken, n. 20, p. 587-600, 1996. doi: 10.1111/j.1468-2427.1996.tb00337.x.
    https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.1996...
    .
  • 8
    O Africano, 9 jan. 1913.
  • 9
    O Africano, 6 mar. 1913.
  • 10
    A categoria analítica de “racismo mercantil” foi empregada por McClintock (2012, p. 307-320)MCCLINTOCK, Anne. Couro imperial: raça, travestismo e o culto da domesticidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. em seu estudo sobre suas implicações na propaganda imperial britânica.
  • 11
    Um cartaz da marca Pears chegou a mencionar literalmente o título (“The white man’s burden”) do poema de R. Kipling. A mensagem publicitária do sabão era a seguinte: “The first step towards lightening The White Man’s Burden is through teaching the virtues of cleanliness. Pears’ Soap is a potent factor in brightening the dark corners of the earth as civilization advances, while amongst the cultured of all nations it holds the highest place - it is the ideal toilet soap”.
  • 12
    Para uma análise da relação entre sabão e civilização durante a Era Vitoriana, ver McClintock (2012, p. 307-340).
  • 13
    Sobre a essência dualista da sociedade colonial, ver Cabaço (2009, p. 27-44)CABAÇO, José Luis. Moçambique: identidade, colonialismo e libertação. São Paulo: Editora Unesp, 2009..
  • 14
    As queixas das banhistas foram publicadas nas edições do jornal Lourenço Marques Guardian de 27 e 30 de novembro de 1916. Em sua resposta, João Albasini (1916) não se furtou de insinuar uma eventual atração sexual das banhistas, “pobres ninfas emergindo as suas brancas carnes das salsas ondas e vendo aqueles brutos tições (…), e tomadas umas contra as outras, a tremer mirando os dentes alvos da negralhada - que tingia o mar! - talvez temendo que aqueles dentes se aguçassem já para trincar a carne mimosa”. No contexto colonial, a promiscuidade nas praias foi tema polêmico pelas implicações sociais, raciais e sexuais. Em carta de “um português”, publicada n’O Africano, em 23 de dezembro de 1916, Albasini se refere à exclusividade reclamada para certos espaços para brancos em nome de uma suposta e natural repulsa ao indígena, ainda que não haja a mesma repulsa “por suas irmãs, esposas e filhas que degeneramos sem que ninguém se importe com isso”.
  • 15
    “Polana, praia morena”, verso da canção “Polana”. Música de Belo Marques e Letra de C. Campo. Edição do Rádio Club de Moçambique. Uma partitura se encontra na Biblioteca Nacional de Portugal (Lisboa)/ cota: M.P. 2301/24A.
  • 16
    Fundado por João Albasini, O Africano foi um jornal combativo que tinha como público-alvo os “assimilados” da colônia portuguesa. Contava com serviço telegráfico em contato com Lisboa. Até então, apenas o The Guardian, jornal publicado em inglês em Lourenço Marques, recebia notícias das agências internacionais pelo telégrafo. O Africano circulou até 1920. Em 1918, os irmãos Albasini fundaram um segundo jornal: O Brado Africano. Para a imprensa periódica de Lourenço Marques, ver: Dias (1957)DIAS, Raul. A imprensa periódica de Moçambique (1854-1954): subsídios para a sua história. Lisboa: Imprensa Nacional, 1957. e Rocha (1973)ROCHA, Ilídio. Contribuição para a história da imprensa em Moçambique. [S. l.]: Codam, 1973.. Destaca-se ainda a tese de Zamparoni (1998)ZAMPARONI, Valdemir D. Entre narros & mulungos: colonialismo e paisagem social em Lourenço Marques (c. 1890-c. 1940). Tese de doutorado em História Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998. como uma das primeiras a trabalhar os jornais O Africano e O Brado Africano como fontes históricas.
  • 17
    O Africano, 23 dez. 1916.
  • 18
    Sobre a referida polêmica, Cf. Zamparoni (1998, p. 330-331)ZAMPARONI, Valdemir D. Entre narros & mulungos: colonialismo e paisagem social em Lourenço Marques (c. 1890-c. 1940). Tese de doutorado em História Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998..
  • 19
    O Africano, 3 maio 1912.
  • 20
    Diferente da praia marítima da Polana, as cascatas de Namahasha (atual Namaacha) se situam nos Montes Libombos, próximo da fronteira com a Suazilândia (eSwatini conforme a nova denominação do país de 2018) e a África do Sul. O local era também um destino da vilegiatura durante o período colonial.
  • 21
    O Africano, 23 jan. 1913. A colônia de férias em Middelburg foi motivo de polêmica pelas supostas condições precárias do alojamento para as crianças. Ver O Africano, 6 fev.1913.
  • 22
    O Africano, 19 ago. 1914.
  • 23
    O Africano, 12 abr. 1912.
  • 24
    O Africano, 5 jul. 1913.
  • 25
    O Africano, 31 dez. 1919.
  • 26
    A praia da Polana não seguiu o modelo de passagem de “praia terapêutica” à “praia lúdica” proposto por Helena Machado (2000, p. 201-218)MACHADO, Helena C. F. A construção social da praia. Cadernos do Noroeste, Braga, v. 13, p. 201-218, 2000..
  • 27
    O Brado Africano, 28 jul. 1921.
  • 28
    O Africano, 12 out. 1911.
  • 29
    Como apontou Marilena Chauí (2008, p. 5)CHAUÍ, Marilena. Notas sobre utopia. Ciência & Cultura, São Paulo, v. 60, n. 1, p. 7-12, 2008., na cidade utópica do século XIX, acreditava-se que as máquinas fariam todo trabalho, deixando aos homens o tempo para cultivar o espírito e o corpo; a natureza estaria completamente domada e submetida ao homem, que não mais estaria desarmado diante dela. No caso de Moçambique, tal utopia era ainda mais promissora diante da natureza tropical.
  • 30
    É essa dimensão técnico-científica da utopia que origina um novo gênero literário: a ficção científica. Sua primeira manifestação, encontra-se na obra de Júlio Verne (CHAUÍ, 2008CHAUÍ, Marilena. Notas sobre utopia. Ciência & Cultura, São Paulo, v. 60, n. 1, p. 7-12, 2008., p. 5). Curiosamente, se livros como Cinco semanas num balão (1863) faziam parte de um novo gênero literário, eles ainda estavam repletos de preconceitos sobre a África e os africanos.
  • 31
    Na Europa ocidental, as praias balneárias eram espaços privilegiados de sociabilidade. Bath, Schweningen, Ostende, Deauville e Estoril eram algumas praias balneárias famosas no final do século XIX. O prestígio social atribuído a certos balneários europeus e a importância da vilegiatura marítima no imaginário europeu da Belle Époque concorreram para a mimese social responsável pela importação do modelo balnear em algumas praias do continente africano, como Durban, na África do Sul, e a praia da Polana, em Moçambique.
  • 32
    Em várias fotografias dos Álbuns se destacam os eucaliptos na paisagem de Moçambique. A introdução de exemplares da fauna e da flora exóticas, especialmente de animais e plantas para certas atividades econômicas, foi defendida por vários órgãos da imprensa colonial como imperativo ao desenvolvimento da pecuária, da agricultura etc.
  • 33
    O Brado Africano, 11 fev. 1922.
  • 34
    Sobre o tema, Cf. Corbin (1989)CORBIN, Alain. O território do vazio: a praia e o imaginário ocidental. São Paulo: Companhia das Letras, 1989., Machado (2000)MACHADO, Helena C. F. A construção social da praia. Cadernos do Noroeste, Braga, v. 13, p. 201-218, 2000. e Correa (2010)CORREA, Sílvio Marcus de Souza. Germanidade e banhos medicinais nos primórdios dos balneários no Rio Grande do Sul. História, Ciência e Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 165-184, 2010..
  • 35
    O Africano, 28 mar. 1919.
  • 36
    O Africano, 12 fev. 1919.
  • 37
    O Brado Africano, 13 abr. 1922.
  • 38
    O Africano, 24 dez. 1919.
  • 39
    O Africano, 5 jul. 1919.
  • 40
    Além de fotografias do “mais moderno hotel da África do Sul” (Polana Hotel), constam também clichês dos seguintes estabelecimentos da cidade: Grande Hotel, Carlton Hotel, Central Hotel, Cage Hotel, Avenida Hotel, Club Hotel e Hotel Paris. Ver Rufino (1929, p. 112-117)RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v..
  • 41
    O Brado Africano, 10 jan. 1920.
  • 42
    O Brado Africano, 13 abr. 1922.
  • 43
    Sobre alguns melhoramentos promovidos pelo Conselho de Turismo na praia da Polana, ver, por exemplo: O Africano, 5 jul. 1919 e 16 jul. 1919; e O Brado Africano, 23 ago. 1919, 30 jan. 1920 e 6 mar. 1920.
  • 44
    Com base nos Álbuns de Rufino, Matos e Ramos (2008)MATOS, Madalena & RAMOS, Tânia. Amenizar os trópicos: desenhando cidades-jardim nas ex-colónias portuguesas. In: SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO, 10, 2008, Recife. Anais. Recife: Editora Centros de Estudos Avançados da Conservação Integrada: Universidade Federal de Pernambuco, 2008. 1 CD-ROM, Artigo ST2M6T1. observaram que a experiência urbana da arborização em Moçambique antecedeu o modelo da cidade-jardim que seria introduzido em alguns projetos urbanos da chamada África Portuguesa durante a segunda metade do século XX.
  • 45
    Escusado lembrar que a arborização da orla marítima foi uma experiência compartilhada por várias praias balneárias. Não raro, tais iniciativas partiam de alguns visionários que, em sua utopia balnear, buscavam fixar as dunas de areias e oferecer sombra aos banhistas. As paisagens das praias de Piriápolis, no Uruguai, e Villa Gesell e Pinamar, na Argentina, são exemplos dessas mudanças antrópicas, notadamente a arborização com plantas exóticas.
  • 46
    Sobre os álbuns fotográficos de C. S. Fowler (1887), J. & M. Lazarus (1901) e J. S. Rufino (1929)RUFINO, José dos Santos. Álbuns fotográficos e descritivos da Colônia de Moçambique. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929. 10 v., ver: GOMES, Inês. A Souvenirs of Lourenço Moçambique. Outros Tempos, São Luís, v. 13, n. 22, p. 163-176, 2016.
  • 47
    Para usar os termos já clássicos do ensaio de Roland Barthes sobre a fotografia, o punctum pode ser um detalhe para além da “intenção” de leitura do studium.
  • 48
    O Brado Africano, 28 jul. 1921.
  • 49
    Estatutos do Club da Polana. Lourenço Marques: Tipografia do Guardian, 1934, p. 5. Dois exemplares - um em inglês e outro em português - se encontram na Biblioteca Nacional de Portugal.
  • 50
    Estatutos do Club da Polana. Lourenço Marques: Tipografia do Guardian, 1934, p. 7.
  • 51
    Estatutos do Club da Polana. Lourenço Marques: Tipografia do Guardian, 1934, p. 10.
  • 52
    No introito do terceiro volume dos Álbuns, por exemplo, Mário Costa (1929b)COSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc. Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI. projetava Lourenço Marques como “uma das maiores e melhores cidades da África do Sul”, a praia da Polana como “esplêndido lugar de repouso e recreio”, o Polana Hotel como um estabelecimento “sem rival nas colónias vizinhas” e sem “nenhum em Portugal com tamanha grandeza” e o magnífico Pavilhão de Chá defronte ao recinto dos banhos como “o melhor edifício no gênero em toda a costa da África do Sul”.
  • 53
    Das edições do Anuário de 1925 a 1931, o tenente Mário Costa foi organizador, coordenador e, em parte, autor. Dos Álbuns de 1929, ele foi autor da parte descritiva (COSTA, 1934COSTA, Mário. Cartas de Moçambique. Lisboa: [s. n.], 1934., p. 95).
  • 54
    Os ministros que sucederam o diplomata Trindade Coelho não teriam tido o mesmo interesse na divulgação dos Álbuns. Por isso, segundo Mário Costa (1934, p. 103)COSTA, Mário. Cartas de Moçambique. Lisboa: [s. n.], 1934., já na década de 1930 não se encontravam os Álbuns nas embaixadas e nos consulados.
  • 55
    Enquanto se realizava a Exposição Colonial Internacional de Paris (1931), foi redigido um manifesto - Ne visitez pas l’exposition coloniale - por comunistas, socialistas e surrealistas que também organizaram uma contraexposição, com o título La Vérité sur les Colonies. Na imprensa francesa, “a bestial exploração e o trabalho forçado a que estariam submetidos os povos colonizados” foram denunciados em artigos que também denunciavam “as falsas cifras com que se pretendia traduzir o esforço colonial francês” (THOMAZ, 2002THOMAZ, Omar Ribeiro. Ecos do Atlântico Sul. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ; São Paulo: FAPESP, 2002., p. 210).
  • 56
    No terceiro volume dos Álbuns, as fotografias da praia da Polana eram, ao mesmo tempo, propaganda e utopia coloniais. Já uma outra propaganda daquela praia balneária foi alvo de crítica no jornal O Africano de 26 de março de 1919. Um cartaz que mostra um automóvel cheio de passageiros na estrada para a praia foi considerado uma ideia “infeliz e de mau gosto” porque, no canto do cartaz, uma macaca tem nas mãos a palavra “Welcome”. Além disso, a bandeira portuguesa aparece com as cores invertidas, tendo também o escudo invertido. Como sugere o jornal, seria melhor o “bem-vindo” estar nas mãos duma “figura graciosa de mulher, tomando banho”. Sobre a cor da banhista que deveria estar no cartaz afixado na Estação Central dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, o jornal dispensou tratar do óbvio.
  • 57
    Boletim Geral das Colónias, Moçambique, n. 50, p. 252, 1929.
  • 58
    Um grupo de crianças a brincar na água do mar foi destaque em outro cartão-postal da Praia da Polana. Na seção de iconografia da Biblioteca Nacional de Portugal, dois cartões postais editados por J. Fernandes Moinhos trazem imagens da Praia da Polana (cota P.I. 5686P.; P.I. 5689P.). Cada um deles é composto por cinco imagens fotográficas de flores que dão um estilo Art Nouveau aos cartões-postais.
  • 59
    Para uma crítica do “lusotropicalismo visto das colônias”, ver Cabaço (2009, p. 200-206)CABAÇO, José Luis. Moçambique: identidade, colonialismo e libertação. São Paulo: Editora Unesp, 2009..

Fontes

  • ESTATUTOS do Club da Polana. Lourenço Marques: Tipografia do Guardian, 1934.
  • O AFRICANO, Lourenço Marques, 1912 a 1919.
  • O BRADO Africano, Lourenço Marques, 1919 a 1922.
  • MARQUES, B.; CAMPO, C. Polana. Edição do Rádio Club de Moçambique, Lisboa. Cota: M.P. 2301/24A.

Referências bibliográficas

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  • CABAÇO, José Luis. Moçambique: identidade, colonialismo e libertação São Paulo: Editora Unesp, 2009.
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  • CORREA, Sílvio Marcus de Souza. O ‘combate’ às doenças tropicais na imprensa colonial alemã. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 69-91, 2013.
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  • COSTA, Mário. Lourenço Marques: “A fisionomia de uma cidade nascente”. In: RUFINO, José dos S. Álbuns fotográficos e descritivos da Colónia de Moçambique, v. III: Lourenço Marques - aspectos da cidade, vida comercial, Praia da Polana, etc Hamburgo: Broscheck & Co., 1929b, p. III-VI.
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Filmografia

  • A CIDADE de Lourenço Marques. Direção: Fernandes Tomaz. Produção: Brigada Cinematográfica Portuguesa. [S. l.]: Agência Geral do Ultramar, 1929. 1 vídeo (12 min).
  • DESPORTOS em Lourenço Marques. Direção: Alfredo Cristino Gomes. Produção: Felipe de Solms. [S. l.]: Agência Geral do Ultramar, 1951. 1 vídeo (11 min), 35 mm.
  • LOURENÇO Marques. Direção: Felipe de Solms. Produção: Felipe de Solms e Ricardo Malheiro. [S. l.]: Agência Geral do Ultramar, 1950. 1 vídeo (10 min), mono, 35 mm.

Editado por

Editores responsáveis pela publicação:
Iris Kantor e Rafael Marquese
Organizadoras do Dossiê Moçambique em Perspectiva: Histórias Conectadas, Interdisciplinaridade e Novos Sujeitos Históricos
Maria Cristina Cortez Wissenbach
Juliana Paiva Magalhães
Lia Dias Laranjeira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Fev 2020
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    08 Mar 2018
  • Aceito
    23 Nov 2018
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