Resumo
Este artigo analisa parte da trajetória profissional da enfermeira e socióloga Haydée Guanais Dourado, desde sua formação como normalista no Instituto Ponte Nova (Bahia, Brasil) até a sua adesão ao grupo de enfermeiras da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. O estudo é possível pela recriação dos contextos nos quais ela viveu e é indissociável da compreensão das características sociais do grupo do qual participou, o de enfermeiras diplomadas. A trajetória de HGD oscila entre similitudes e singularidades relativas ao grupo profissional. A investigação usa a redução da escala de análise e um estudo intensivo do material analisado. Por meio da trajetória de HGD conclui-se que grande parte das enfermeiras diplomadas brasileiras atuou em instituições de saúde pública ou hospitalares e outras poucas se tornaram intelectuais que planejavam o ensino superior em enfermagem e refletiam sobre os destinos da profissão.
Palavras-chave: Educação em enfermagem; Trajetória das enfermeiras; História da enfermagem; Enfermagem profissional no Brasil; Saúde pública
Abstract
This article analyzes part of the professional trajectory of nurse and sociologist Haydée Guanais Dourado, from her training as a primary school teacher [normalista] at Instituto Ponte Nova (Bahia, Brazil) to her joining the group of nurses at the School of Nursing at the University of São Paulo. The study is possible by recreating the contexts in which she lived and is inseparable from understanding the social characteristics of the group in which she participated, that of qualified nurses. HGD’s trajectory oscillates between similarities and singularities in relation to the professional group. The investigation uses a reduction in the scale of analysis and an intensive study of the material analyzed. Throughout HGD’s trajectory, it is concluded that a large part of Brazilian registered nurses worked in public health institutions or hospitals and a few others became intellectuals who planned higher education in nursing and reflected on the destiny of the profession.
Keywords: Education in nursing; Female nurses trajectory; History of nursing; Professional nursing in Brazil; Public healthcare
Este artigo tem como objetivo analisar uma fase específica da trajetória profissional da enfermeira e socióloga Haydée Guanais Dourado (HGD), nascida em 1915 e falecida em 2005. Entre os anos 1930 e 1940, ela ocupou lugares estratégicos na institucionalização da enfermagem profissional no Brasil. Acompanhar a trajetória de HGD, no entanto, só é possível pela compreensão dos contextos nos quais ela viveu e das características de um grupo específico de mulheres no qual ela estava inserida: o das enfermeiras diplomadas brasileiras.
De acordo com Benito Schmidt (2000), durante muito tempo os estudos sobre trajetória foram vistos como modelo de história tradicional, voltados para narrativas apologéticas. Eles promoviam descrições lineares de personagens com destaque político ou militar, característica da escola “metódica”, também chamada positivista vigente entre fins do século XIX e início do século XX.
Nas últimas décadas, o retorno aos estudos biográficos ou de trajetórias no âmbito da história não significou a retomada de um “gênero velho”. Esse retorno acompanhou as reflexões teóricas e metodológicas da disciplina, com ênfase na relação entre indivíduo e sociedade e nas formas de narrativas do conhecimento histórico (SCHMIDT, 2000). A compreensão de trajetórias demanda um diálogo micro histórico, a partir da redução da escala de observação, em uma análise microscópica, com um estudo intensivo do material documental e a compreensão da representatividade da personagem analisada. Mas, por mais singular que seja um indivíduo, existem sempre pontos de contato entre suas vivências e concepções e as de seus contemporâneos. Todos eles compartilham, em maior ou menor grau, determinados códigos culturais que permitem a convivência e a comunicação (SCHMIDT, 2004). A partir desses pressupostos, compreende-se que a trajetória de HGD se assemelha à trajetória de uma elite profissional da enfermagem brasileira (FERREIRA, 2020),4 mas também apresenta singularidades que lhes dão um status de excepcionalidade.
A historiografia dedicada ao estudo da institucionalização de enfermagem na América Latina (VESSURI, 2001; BIERNAT, CERDÁ, RAMMACIOTTI, 2015; CLARCK, 2012) aponta que a origem social e a escolaridade prévia das mulheres engajadas na enfermagem foram fatores determinantes na formação da profissão. Na composição social da elite profissional da enfermagem brasileira se destacaram mulheres descendentes de profissionais liberais bem-sucedidos, grandes comerciantes, diplomatas, políticos, intelectuais, militares de alto escalão e fazendeiros. A educação escolar foi obtida em escolas privadas tradicionais e, eventualmente, em escolas públicas. Todas essas mulheres tinham domínio de pelos menos duas línguas estrangeiras. Um atributo escolar comum foi o diploma de professora. As professoras primárias, popularmente conhecidas como normalistas, despontavam como o grupo de mulheres melhor preparado para ingressar nas escolas de enfermeiras, mas também nos cursos de educação sanitária e outros cursos universitários implantados no país nas décadas de 1920 e 1940 (ROCHA, 2005; FARIA, 2006; AZEVEDO, FERREIRA, 2006).
Assim como outras enfermeiras diplomadas brasileiras da primeira metade do século XX, HGD obteve formação inicial de normalista. Mas, entre as características que a distinguiram destaca-se a região em que ela nasceu. Haydée era oriunda dos sertões do estado da Bahia, lugar eminentemente rural, distante de médios e grandes centros urbanos. Ela também se diferenciou por ter recebido uma formação protestante, em um instituto educacional criado por uma missão presbiteriana naquela região. O catolicismo havia sido separado do Estado pela Constituição de 1891, mas ainda tinha grande força na crença e na formação da população brasileira. A vivência em um contexto educacional protestante possibilitou que pelo menos outras duas irmãs de HGD (Anitta e Radcliff) e três primas (Adair, Alzira e Ida) também se tornassem enfermeiras diplomadas.
Após a diplomação na Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), no Rio de Janeiro, HGD foi financiada pela Fundação Rockefeller (FR) para estudar pós-graduação na Escola de Enfermagem da Universidade de Toronto (EEUT). Esse era um benefício oferecido a um grupo seleto de enfermeiras naquele período. A experiência proporcionada pelo programa de bolsas de estudo no exterior foi importante não apenas para a formação acadêmica das enfermeiras contempladas, mas também foi decisiva na definição do rumo de suas trajetórias e status profissional (FERREIRA, 2020).
A FR é uma agência filantrópica internacional criada em 1913. Desde o início das suas atividades, seus membros seguiram os princípios filantrópicos de John D. Rockefeller, milionário norte-americano que investiu na agência internacional com o dinheiro oriundo da exploração, refino e comércio de petróleo e defendeu que a filantropia não poderia ser confundida com a caridade. Ela deveria ser encarada como um investimento oferecido a agências governamentais e não a indivíduos, com duração limitada para não se tornar dependência, destinada a organizações comprometidas com a continuidade do trabalho quando o auxílio terminasse (FARLEY, 2004).
Faria (2002) afirma que a noção de “efeito-demonstração”, propagada pela agência internacional, significava que estados mais progressistas na saúde deveriam servir como exemplo para as regiões mais atrasadas. A partir desse ideal, eram oferecidos financiamentos por determinado período às instituições e os dirigentes do país beneficiado deveriam se responsabilizar pela sua manutenção, posteriormente. As enfermeiras compuseram um grupo específico entre os bolsistas contemplados pela Rockefeller, devido a um viés de gênero. A profissionalização da enfermagem ocorreu ao longo do século XX, no Brasil, como uma atividade eminentemente feminina. É possível afirmar que, enquanto as bolsas da FR para agronomia, medicina, engenharia eram destinadas para homens, foi pelo ingresso na enfermagem que as mulheres conseguiram acesso ao financiamento internacional no período analisado.
Um destaque na trajetória de HGD como bolsista da agência internacional foi o método “não convencional” utilizado para alcançar o financiamento. Ela viajou ao exterior de forma independente e sem garantias formais de que receberia uma bolsa. A partir da experiência no Canadá, a enfermeira consolidou sua carreira internacional. Entre os trabalhos que realizou, posteriormente, foi diretora de uma grande pesquisa financiada pela FR, com participação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP).5 A investigação intitulada “Levantamento de recursos e necessidades de enfermagem no Brasil”, realizada entre 1956 e 1958, tinha como objetivo diagnosticar o número de enfermeiras diplomadas e suas condições de trabalho no país. Outra atividade desenvolvida por HGD foi a participação como membro do corpo editorial da International Nursing Review, na década de 1980 (INTERNATIONAL, s.d.).
Para a reconstituição da trajetória profissional de HGD, iremos recorrer a historiografia que remeta a história das instituições responsáveis pela sua socialização profissional e a um tipo especifico de documentação institucional que registra características socioculturais e fornece informações sobre as atividades e o desempenho de HGD em fases específicas de seu caminho formativo. Estamos nos referindo aos prontuários das estudantes de enfermagem que estão sob a guarda do Centro de Documentação (CEDOC) da Escola de Enfermagem Ana Nery (EEAN), instituição de ensino superior atualmente vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e aos cartões de bolsistas de enfermeiras financiadas pela Fundação Rockefeller para estudo nos Estados Unidos e Canadá, depositados no Rockefeller Archive Center. Os prontuários são compostos por registros que acompanham o percurso escolar das estudantes desde o ingresso até a conclusão do curso de enfermagem. Os cartões de bolsistas registram a experiência das bolsistas e informações sobre a sua atuação nos países de origem, após a formação, ao longo de toda a sua vida. Essa era uma forma de acompanhamento dos resultados do investimento, por parte da Fundação Rockefeller. Além disso, foram utilizadas entrevistas de HGD e outros documentos coletados no Rockefeller Archive Center, sobre a Escola de Enfermagem de Toronto.
O estudo intensivo do corpo variado de fontes utilizado neste artigo dificulta uma compreensão, de forma equitativa, sobre todas as posições adotadas por HGD ao longo da sua trajetória. Essa é uma questão comum na pesquisa sobre personagens ainda não estudados pela historiografia, sobre personagens não letrados, ou mesmo sobre intelectuais que não deixaram acervos pessoais organizados para a posteridade.6 Os prontuários de estudantes da EEAN e as fichas de bolsistas da FR oferecem dados objetivos como idade, filiação, estado civil de HGD e de outras enfermeiras diplomadas brasileiras, que contribuem para formar quadros descritivos dos contextos e das personagens que transitaram neles. As entrevistas cedidas por Haydée tratam de aspectos da sua vida profissional, especialmente sobre a tentativa de conseguir uma bolsa da FR. Junto à documentação coletada no Rockefeller Archive Center, essas entrevistas permitem um maior grau de percepção sobre possibilidades de ação de HGD naquele momento específico de sua vida.
Além dessa introdução, o texto conta com mais quatro seções e considerações finais. A primeira seção apresenta aspectos familiares e o contexto no qual HGD realizou a sua formação inicial, marcado pela educação presbiteriana. A seção seguinte descreve o quadro encontrado por HGD na EEAN. Havia disputas entre enfermeiras norte-americanas e enfermeiras brasileiras pelo controle dos rumos da Escola. Esses conflitos implicaram a possibilidade de a EEAN oferecer uma bolsa da FR para a HGD. Também se compreendem as características presentes na socialização de mulheres na Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), o único meio de ascender ao status profissional de enfermeira diplomada naquele momento. Apontam-se singularidades na trajetória de HGD em relação às mulheres da mesma família formadas naquela instituição: ela não se casou e insistiu na tentativa de conseguir uma bolsa da FR. Em seguida, a ênfase recai sobre o Programa de Bolsas da FR e o SESP. HGD foi deslocada da profissionalização internacional para atuar em saúde pública e encaminhada para o trabalho no projeto SESP, que criou novas escolas de enfermagem no Brasil. Por fim, são discutidos aspectos sobre a formação de enfermeiras em Toronto, lugar onde HGD estudou. As considerações finais apresentam uma breve síntese do que foi discutido no artigo.
No sertão da Bahia: possibilidades de escolarização feminina
No início do século XX, a educação formal não era recorrente entre a maior parte das mulheres brasileiras, visto que não possuíam acesso à leitura e à escrita. De acordo com as normas sociais de gênero vigentes, o destino feminino provável era que contraíssem matrimônio, tivessem filhos e vivessem para o lar. Apesar dos discursos recorrentes, que defendiam a construção da nação brasileira através da educação, aquele era um projeto ainda a ser realizado. Havia poucas escolas em boas condições e poucos professores. Muitos deles eram mal formados, os métodos de ensino na prática docente eram ausentes e havia embates com o Estado em torno do pagamento de salários (LUZ, 2013). A formação de professores nos sertões baianos, por exemplo, era ainda mais precária do que na Capital, Salvador. O decreto n. 215, de 29 de dezembro de 1903, fechou a Escola Normal das cidades de Barra do rio São Francisco e Caetité, ignorando a importância dessas instituições para a formação de professores da região (LUZ, 2013). No entanto, como será possível observar, um grupo específico de mulheres dos sertões baianos foi favorecido por um projeto educacional religioso que as distinguiu de outras tantas mulheres nascidas no seu contexto.
A socialização e a educação formal foram elementos determinantes na formação dessas mulheres. HGD foi favorecida pelo seu pai, o presbítero José Augusto da Silva Dourado, e pela sua mãe, a professora Anna Guanais de Lima. Eles eram missionários protestantes brasileiros vinculados à Missão Presbiteriana do Brasil Central que, desde 1871, mantinha polos de atividades (station works) em Salvador e no sertão da Bahia (Bonfim, Ponte Nova e Caetité). Os filhos e filhas da família Guanais Dourado foram educados no Instituto Ponte Nova (IPN), instituído em 1906, na cidade homônima ao Instituto, para centralizar o projeto educacional da missão presbiteriana. Os princípios pedagógicos e evangelizadores do IPN estavam vinculados às propostas missionárias desenvolvidas desde fins do século XVIII e início do XIX, com o chamado “Grande Despertar”, nos Estados Unidos. Esse movimento previa a possibilidade de construir uma civilização cristã, para além das fronteiras norte-americanas, pautada na ordenação da vida segundo o tripé religião-moralidade-educação e cumprindo sua função “civilizadora” (NASCIMENTO, 2007). O IPN era formado por uma escola normal, que preparava professoras (normalistas) para as escolas paroquiais rurais e evangelistas, e por um curso de auxiliar de enfermagem.
Para a missão presbiteriana, as ações sociais no campo da educação e da saúde estavam revistadas de uma concepção de mundo utilitarista e racional. Elas visavam ocupar o espaço vazio deixado pela ausência do estado nacional e estadual no atendimento das necessidades das populações rurais. A respeito desse vazio, ao longo das primeiras décadas do século XX, as elites brasileiras desenvolveram uma consciência sanitária que as impulsionou a criar as primeiras instituições e políticas públicas de saúde (HOCHMAN, 2012 [1998]). Isso foi possível a partir das viagens realizadas por sanitaristas do Instituto Oswaldo Cruz, na década de 1910, que denunciaram a situação em que a população pobre brasileira se encontrava. Se ao longo da segunda metade do século XIX o povo brasileiro era considerado degenerado devido à mistura racial, naquele momento “permanecia” degenerado devido ao completo estado de abandono dos poderes públicos instituídos na recente República, regida pelo federalismo (LIMA; HOCHMAN, 1996).
A partir da criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), em 1920, diferentes unidades federativas fizeram acordos com a União para realizar ações de saúde. Na Bahia, o acordo foi instituído em 1921, na gestão do governador José Joaquim Seabra, e renovado em 1924 pelo governador Francisco Marques de Góes Calmon. O Governo Federal passou a apoiar o estado tecnicamente e financeiramente em ações de saneamento rural, controle da lepra e doenças venéreas, da tuberculose, e cuidado com a higiene infantil (BATISTA, 2017). Contudo, em um estado com a longa extensão territorial da Bahia, a presença estatal em uma região distante da capital Salvador, como aquela em que nasceu HGD, demoraria de se efetivar.
Em certa medida, é possível afirmar que o trabalho médico missionário proposto pelos presbiterianos funcionava como ação complementar à assistência oferecida pelos poderes públicos da Bahia. Esse trabalho teve início em 1916, quando o primeiro médico da Missão Central Brasil, formado pela Universidade de Stanford e chamado Walter Welcome Wood, chegou à cidade de Ponte Nova. Uma década depois, em 1926, ele inaugurou o Grace Memorial Hospital, hospital moderno, com 30 leitos que possuía os serviços de Clínica Médica, Cirurgia, Obstetrícia, Pediatria, Ginecologia, Urologia, Raios-X, Diatermia e Laboratório (SILVA, BATISTA, 2019). A ação médica presbiteriana tinha muitos sentidos: “ajudava no combate as resistências ao trabalho protestante, contribuía na disseminação do saber médico oficial, auxiliava em trazer um alto número de pessoas para ouvirem a mensagem protestante e cuidava da saúde dos missionários e dos alunos do IPN” (SANTOS, 2017, p. 166).
Uma das inovações trazidas junto com o hospital missionário foi a organização da Escola de Enfermagem do Grace Memorial Hospital. Entre 1926 e 1931, duas enfermeiras norte-americanas diplomadas, Janet Graham e Lidya Hepperle, atuaram na estruturação do curso. A historiografia que estamos consultando (SANTOS, 2017) não é específica quanto ao currículo que organizava o ensino na escola de enfermagem protestante. Provavelmente, devido a presença de duas enfermeiras norte-americanas supostamente diplomadas na Universidade de Stanford (BARREIRA; BAPTISTA, 2002), tenha-se adotado o currículo padrão das escolas de enfermagem nos Estados Unidos e no Canadá formulado no conhecido Nursing and Nursing Education in United States (1923)7 elaborado pela assistente social Josephine Clara Goldmark.
O relatório estabeleceu novos parâmetros para o ensino de enfermagem. Um deles foi a necessidade do curso secundário ou equivalente para admissão na escola, com vistas a atrair candidatas de qualidade. Também se instituiu a correlação de trabalho prático com instrução teórica. O tempo de 28 meses foi estabelecido para a realização do curso, com possibilidade de especialização posterior em nível de pós-graduação. Recomendou-se que o trabalho das estudantes, incluindo serviço de enfermaria e períodos de sala de aula, não deveria exceder 48 horas semanais. E a essas recomendações, acrescentavam-se os requisitos que deveriam compor o perfil ideal do estudante de enfermagem: ser mulher, jovem, com capacidade cultural, e educação sólida e ampla.
HGD estudou no Instituto Ponte Nova entre 1927 e 1931, e recebeu o diploma de professora primária, o que não a impedia de compartilhar vivências no ambiente da Escola de Enfermagem do Grace Memorial Hospital, mas não apenas ela. Outras três mulheres da família protestante Guanais Dourado - Annita, Adair e Radcliff - também foram socializadas para exercer as profissões de professora e/ou de enfermeira, duas titulações que as habilitavam a prosseguir no processo de profissionalização. Circular nos arredores da Escola de Enfermagem foi um incentivo para que HGD almejasse uma profissão que não lhe obrigasse a seguir o caminho do matrimônio. Ao se referir a uma enfermeira do Grace Memorial Hospital, ela afirmou que: “ela era da universidade, de uma Universidade do Oeste dos Estados Unidos, era muito competente e nós então admirávamos muito essa profissão de enfermeira” (DOURADO, 1986, p. 1). Não havia instituições de ensino superior nas proximidades de Ponte Nova que pudessem oferecer parâmetros a HGD sobre como funcionava a formação em nível avançado. Mas, certamente, a figura imponente da enfermeira do IPN reverberava em sua imaginação e fez com que a normalista baiana seguisse para o Rio de Janeiro em busca de um curso superior. Essa era uma carreira incentivada nacionalmente desde a criação, em 1923, da Escola de Enfermeiras do DNSP, conhecida como EEAN.
Tempos Anna Nery (década 1930)
A mãe de HGD parece ter sido a responsável pelo envio das filhas para estudo no Rio de Janeiro (DOURADO, 1986). Talvez tenha compreendido a importância disso quando ela mesma se tornou uma normalista, em 1909, formada pelo IPN. Um dos seus filhos estudou na Escola de Engenharia do Mackenzie College, instituição que também integrou a Missão Presbiteriana no Brasil, com atuação na região Sul do país. Haydée não foi a primeira mulher da família a ser enviada para a EEAN. Anitta Guanais Dourado ingressou na instituição no início de 1932 e logo recebeu uma carta da sua mãe que dizia: “Veja se você coloca aí também sua irmã, porque ela está aqui aguardando uma nomeação de professora, mas eu creio que é aí que dá mais certo” (DOURADO, 1986, p. 1).
Ao ingressar no corpo estudantil da escola, HGD e Anitta construíram uma boa impressão daquela instituição que possuía docentes fluentes em inglês. Ao comparar as realidades rural e urbana, Haydée destacou que no interior da Bahia ela tinha acesso a livros, mas que na capital o conhecimento estava acessível em diferentes oportunidades. Ela fez cursos de datilografia, de pintura e a cada ano se matriculava no curso de inglês por apenas dois meses. Essa estratégia foi adotada porque a sua família não tinha dinheiro para pagar o curso de idiomas, e ela desejava não esquecer o que já sabia daquela língua (DOURADO, 1986). Era necessário treinar, nem que fosse por um tempo breve.
O ingresso da primeira geração de mulheres da família Guanais Dourado na EEAN, coincidiu com uma conjuntura de mudanças institucionais que repercutiram sobre a formação do grupo social das enfermeiras diplomadas. Foi um tempo conturbado politicamente, de reformas e reorientações institucionais nas áreas de saúde e educação. Em 1921, havia sido celebrado um acordo de cooperação técnica entre o DNSP e a FR que viabilizou a criação de uma missão de enfermeiras norte-americanas enviada ao Rio de Janeiro (SAUTHIER; BARREIRA, 1999). Essas enfermeiras foram responsáveis pela organização do serviço de enfermagem e da escola de enfermeiras do DNSP. A Escola entrou em funcionamento em 1923 e possibilitou a formação da maioria das enfermeiras diplomadas em atuação no Brasil até meados do século XX. Em 1931, encerrou-se o ciclo de 10 anos de atuação da Missão de Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem no Brasil (Missão Parsons) junto ao DNSP.
Em 1928 a direção da EEAN era exercida por Bertha Lucille Pullen, enfermeira norte americana que sucedeu a também enfermeira americana Loraine Geneviève Dennhardt. A sucessora de Pullen foi a enfermeira Rachel Haddock Lobo (1891-1933), primeira brasileira a ocupar o cargo. Ao contrário do que se poderia esperar, a escolhida não pertencia à primeira de geração de enfermeiras diplomadas na EEAN. Filha de uma família da elite do Rio de Janeiro, frequentou, entre 1922 e 1924, o curso de enfermagem da École dês Enfermiéres de L’Assistance Publique de Paris. Ao retornar ao Brasil, em 1925, foi convidada pela chefe da Missão de Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem no Brasil, a enfermeira norte-americana Ethel Parsons, para ingressar no corpo docente da EEAN. Rachel Haddock foi cuidadosamente preparada para assumir, futuramente, o cargo de diretora. Para isso, em 1927, foi enviada aos Estados Unidos, como bolsista da FR, para se especializar em administração e docência em enfermagem. Ao retornar ao Brasil, em 1929, foi nomeada para o cargo de assistente de direção, permanecendo na função até ser designada diretora da EEAN, em 1931 (OLIVEIRA; SANTOS; OLIVEIRA, 2002).
Além da direção da EEAN, as enfermeiras norte americanas também cuidaram da preparação de uma sucessora brasileira para ocupar o cargo de superintendente do Serviço de Enfermeiras do DNSP. Aquela era uma função estratégica exercida pela própria chefe da Missão, Ethel Parsons. A escolhida foi Edith de Magalhães Fraenkel (1889-1968) que, como Rachel Haddock Lobo, não pertencia à primeira geração de enfermeiras brasileiras diplomadas na EEAN. Oriunda também de uma família da elite do Rio de Janeiro, Edith tinha formação em enfermagem e saúde pública adquirida na Cruz Vermelha Brasileira. Como parte da preparação para assumir o lugar chefe das enfermeiras do DNSP, Fraenkel foi envida ao Estados Unidos, na condição de bolsista da FR para frequentar o curso de graduação em enfermagem no Philadelphia General Hospital. Ao retornar ao Brasil, em 1925, trabalhou como professora na EEAN. Finalmente, em 1928, assumiu o cargo de Superintendente do Serviço de Enfermeiras do DNSP (OGUISSO; FREITAS; TAKASHI, 2013).
Mas a morte repentina de Rachel Haddock Lobo, ocorrida em 1933, interrompeu a transição de poder para as enfermeiras brasileiras. Bertha Pullen, que exercia o cargo de Diretora Associada (Associate Dean) na Escola de Enfermagem da Universidade de Baylor, em Dallas, Texas, EUA, retornou em 1934 ao Brasil com o apoio da FR para assumir, mais uma vez, a direção da EEAN. Esse fato prolongou a gestão das enfermeiras norte americanas até 1938.
Para Ieda de Alencar Barreira (1999, 2005), o retorno inesperado das enfermeiras norte-americanas despertou um movimento de resistência por parte das “enfermeiras nativas” diplomadas na EEAN. Era um grupo constituído por cento e vinte enfermeiras, sendo dezessete com curso de pós-graduação nos Estados Unidos. A disputa entre as enfermeiras as “nativas” e as “norte-americanas” expunha os interesses em jogo nas reformulações dos serviços federais de saúde pública. Elas foram desencadeadas com a criação, no começo da década de 1930, do Ministério da Educação e Saúde (MES). O MES incorporou o antigo DNSP ao qual a EEAN estava subordinada. O conflito também envolveu os interesses da Igreja Católica, que desejava ter influência no processo de profissionalização da enfermagem. A instituição religiosa queria preservar seu controle sobre uma vasta rede de hospitais de caridade e criando uma rede própria de escolas dirigida por religiosas diplomadas em enfermagem.
A segunda gestão de Bertha Pullen à frente a EEAN foi marcada pelo esvaziamento da autoridade da diretora e pelo “distanciamento” da instituição em relação ao MES. As dificuldades enfrentadas pela diretora estão relacionadas ao período de reforma dos serviços federias de educação e saúde, conhecido como Reforma Capanema (1934-1937). Durante essa fase de reorganização institucional, a EEAN foi subordinada administrativamente ao Departamento de Defesa Sanitária Internacional e da Capital da República e tecnicamente à Superintendência Geral do Serviço de Enfermagem. Em 1937, previa-se a incorporação da EEAN à Universidade de Brasil, mas a transferência não foi imediatamente efetivada. A escola de enfermeiras permaneceu vinculada provisoriamente ao Departamento Nacional de Saúde (DNS) (BARREIRA, 1999). Posteriormente, em 1946, a Escola Anna Nery passou a integrar a Universidade do Brasil com o estabelecimento de ensino superior equivalente a outras faculdades. Isso “constituiu uma vitória de grande significado pelo fato de contribuir para firmar o ‘status’ profissional da enfermeira” (OGUISSO, 1976, p. 207).
A contestação à autoridade de Bertha Pullen foi uma ação externa ao ambiente da EEAN, motivada por “desentendimentos” ocorridos durante sua primeira gestão. As expectativas frustradas de algumas “enfermeiras nativas” e, sobretudo, a intervenção da Igreja Católica na política nacional de formação de enfermeiras acirram as animosidades internas à profissão (BARREIRA, 1999). Os principais agentes da contestação foram o médico, ex-professor da EEAN, José P. Fontenelle, e a enfermeira Laís Netto dos Reis, diplomada na primeira turma em 1925 e bolsista da FR. No novo contexto institucional da saúde, Fontenelle assumiu o cargo de diretor do Serviço de Saúde Pública do Distrito Federal que tinha a diretora da escola como subordinada. Já Laís Netto foi comissionada pelo governo federal para organizar a Escola Enfermeiras Carlos Chagas, na Capital do estado de Minas Gerais. Apesar de ser uma instituição pública, ela foi efetivamente controlada pela Igreja Católica mineira. A contestação à autoridade de Bertha Pullen culminou com sua exclusão do processo de incorporação da EEAN à Universidade do Brasil e a subsequente nomeação, em 1938, da católica e nacionalista Laís Netto dos Reis para o comando da EEAN, em uma gestão que duraria até 1950.
Apesar da presença de Bertha Pullen, o clima encontrado por HGD na EEAN foi dominado pelo catolicismo e nacionalismo. O ajustamento do modelo norte-americano de formação de enfermeiras ao contexto sociocultural brasileiro implicou a incorporação de valores e hierarquias locais referentes à origem de classe, gênero e raça. Nas décadas de 1920 e 1930, a socialização das enfermeiras foi envolvida pelo intenso debate político e cultural sobre a “construção da nação” e sobre os rumos da república brasileira (OLIVEIRA, 1990). Para solucionar os problemas nacionais, o nacionalismo militante da época propunha a adoção de políticas educacionais e sanitárias que visavam erradicar o analfabetismo e prevenir as doenças contagiosas endêmicas. A formação de professoras primárias e de enfermeiras de saúde pública estava inserida no projeto de “construção da nação”. A profissionalização de mulheres para que exercessem a enfermagem e o magistério foi assumida como uma política de estado que envolvia instituições e agentes e instituições nacionais e internacionais.
A socialização de enfermeiras na EEAN ocorreu em um ambiente social benéfico à imposição de “critérios discriminadores e não democráticos para a seleção das primeiras turmas de enfermeiras que comporiam a elite profissional” (CASTRO SANTOS; FARIA, 2009, p. 84). A adoção de “critérios discriminadores e não democráticos” fez com que a escola de enfermeiras não estivesse acessível a todas as mulheres capazes de atender aos requisitos físicos, intelectuais e morais exigidos. Os métodos de recrutamento utilizados para atrair potenciais alunas não escondiam a preferência por um determinado perfil sociocultural: mulheres jovens e solteiras, de cor branca, de classe média e com escolaridade secundária. O grupo social que mais se aproximava do tipo idealizado era o das normalistas e, por isso, as professoras primárias foram fortemente incentivadas a aderir à nova profissão feminina.
De modo geral, a adesão de mulheres que atendiam plenamente aos pré-requisitos exigidos pela EEAN foi baixa. Podemos citar três fatores culturais que ajudam a entender o que ocorria. O primeiro é que a escolaridade secundária requerida não era comum nem mesmo entre as mulheres oriundas das classes médias urbanas. O rigoroso processo de socialização era incomum mesmo nas escolas normais. E, por fim, havia preconceito quanto ao status social da enfermagem, cujas práticas eram culturalmente associadas a uma forma de trabalho manual.
As características socioculturais das mulheres diplomadas nas primeiras turmas da EEAN nas décadas de 1920 e 1930 eram sobremaneira específicas: mulheres jovens (20 anos em média), solteiras, católicas, provenientes das classes médias urbanas e portadoras de diploma de normalista (MENEZES; BAPTISTA; BARREIRA, 1998). Outro aspecto relacionado à dinâmica do processo de socialização das enfermeiras foi o alto índice de evasão (LIGEIRO; BAPTISTA, 1999). Cerca de 42% das alunas matriculadas entre 1930 e 1938 foram excluídas por motivos variados, como desempenho escolar insatisfatório, inadaptação ao regime de internato ou indisciplina. O alto percentual de exclusão de alunas indica que os mecanismos “discriminadores e não democráticos” permaneciam ativos mesmo depois de superada a fase de admissão.
O perfil sociocultural de HGD não coincidia exatamente com o acima referido. Ela não era uma mulher proveniente das classes médias urbanas e nem era católica. Ela também não foi a única mulher de procedência do interior do estado da Bahia e nem também a única de religião protestante que ingressou na EEAN entre as décadas de 1930 e 1950. Foram contabilizados nos prontuários das estudantes de enfermagem que estão sob a guarda do Centro de Documentação (CEDOC) da Escola de Enfermagem Ana Nery (EEAN), cerca de 50 mulheres de origem do estado da Bahia. Entre elas 29 migraram de cidades do interior do estado e 22 declararam ser de religião protestante.8 Todas as Guanais Dourado eram normalistas e tinham um diferencial importante que era o treinamento prévio em enfermagem e o domínio da língua inglesa, adquirida no IPN, no interior da Bahia.
O Quadro 1 apresenta a sequência de ingressos de mulheres da família Guanais Dourado na EEAN ao logo das décadas de 1930 e 1940. A sua socialização profissional ocorreu sob a vigência da legislação que determinava que o currículo escolar e a organização administrativa da EEAN constituíssem o modelo a ser seguido, obrigatoriamente, por todas as escolas de enfermagem brasileiras. Dessa forma, sob a vigência do regime “escola padrão”, que vigorou entre 1931 e 1949, a formação profissional de enfermeiras era padronizada nacionalmente e seguia o modelo curricular proposto no Standard Curriculum for Nursing Schools, da National League of Nursing Education.9 A formação de enfermeiras proporcionada na EEAN seguiu, na medida do possível, no seguinte modelo: 1. duração de dois anos e quatro meses, isto é, vinte meses intensivos, com apenas duas semanas de férias por ano. 2. exigência do diploma de escola normal ou aprovação em exame de seleção. 3. quatro primeiros meses essencialmente teóricos e depois prestação obrigatória de oito horas diárias de serviços no hospital com direito a residência. 4. pequena remuneração mensal e duas meias-folgas por semana, o que corresponderia a uma carga horária semanal de trabalho de 48 horas, excluídas as horas de instrução teórica e de estudos (BARREIRA, 1992, p. 174).
Ingresso de mulheres da família Guanais Dourado na Escola de Enfermeiras Ana Nery (década 1930-1950)
O desempenho escolar de HGD indica que ela se adaptou ao exigente regime de formação profissional quando muitas estudantes não se adaptaram ao estilo de socialização adotado. Isso foi rapidamente reconhecido. Um elemento que a difere das enfermeiras diplomadas da família Guanais Dourado é que se manteve solteira até o fim da vida, enquanto as demais se casaram. Como será observado, o casamento podia funcionar, em muitos momentos, como impedimento para se galgar status na profissão.
Naquele contexto, um elemento que produzia diferenciação entre as estudantes da EEAN era a possibilidade de formação internacional. Segundo HGD:
[...] na Escola Anna Nery, corria de boca em boca, as alunas sabiam disso, que as primeiras colocadas teriam bolsas de estudos nos Estados Unidos. Que assim foi Maria de Oliveira Régis, foi para materno-infantil, na América do Norte e muitas, muitas. Nesse sistema de bolsa, foi Hilda Krish, foi Elisete Cabral. Nós tínhamos aqui educação continuada, planejada, e completando o corpo docente da Anna Nery que estava muito perto dos anos em que foi criada. Então, quando chegou a nossa vez, então aquela expectativa (BARREIRA, 1986, p. 3).
Depois de diplomada, em 1935, Annita Guanais Dourado foi recomendada pela diretora Bertha Pullen para se especializar em nível de pós-graduação na América do Norte com uma bolsa da FR. Mas ela desistiu e solicitou o cancelamento da bolsa alegando motivos pessoais. Em carta ao Diretor da Defesa Sanitária, Bertha Pullen afirmou: “[...] venho informar-vos que essa candidata à viagem aos Estados Unidos veio a meu escritório hoje comunicar seu contrato de matrimônio e pedir para ser desobrigada da responsabilidade de preparar-se para assumir o cargo de instrutora futuramente” (OFÍCIO, 1935, p. 1). O casamento se tornava um empecilho para Annita, que desistiu de viajar para o exterior. A ausência da formação internacional, em sua trajetória, implicou um destino profissional diferente daquele seguido pelas bolsistas da FR após o seu retorno ao país.
A trajetória profissional de Annita está registrada sobretudo por sua atuação no movimento associativo das enfermeiras na década de 1940 (TEIXEIRA, 2015). Há registro de sua contratação como enfermeira-chefe do Hospital de Doenças Tropicas do Instituto Oswaldo Cruz. Nos registros arquivísticos, são citadas quatro enfermeiras diplomadas na EEAN - Haydée Neves da Cunha, Elisa Werber, Maria José Ximenes e Annita Guanais Dourado - que tiveram curta passagem, entre 1934 e 1945. Essas enfermeiras foram contratadas como enfermeiras-chefe, a função mais importante atribuída à uma profissional de enfermagem no âmbito de um hospital. Contudo, elas não completaram um ano no cargo. Todas foram exoneradas, a pedido, meses após a admissão. Os destinos dessas enfermeiras foram, geralmente, a vinculação a algum órgão do DNSP, posteriormente incorporado ao MES (AZEVEDO; FERREIRA; ROSSI, 2020).
A opção realizada por Annita não favoreceu o envio de sua irmã, HGD, como bolsista em seu lugar. A diretora da escola informou que, diante da desistência da candidata indicada, não tinham outra “em condições de substituí-la” (OFÍCIO, 1935, p. 1). Mesmo assim, a obtenção de uma bolsa de estudos no exterior se tornou o objetivo principal de Haydée após a conclusão do curso na EEAN. Como muitas enfermeiras diplomadas de sua geração, ela se engajou, em 1937, no serviço público federal. Integrou a Divisão de Organização Sanitária do Departamento Nacional de Saúde, órgão do Ministério da Educação e Saúde. Também trabalhou na recém-criada rede de centros de saúde e depois foi encaminhada por Edith Fraenkel para atuar junto à Delegacia Federal de Saúde na região Nordeste, nos estados do Maranhão e Piauí.
Já como enfermeira de saúde pública vinculada ao Ministério Educação e Saúde, HGD enviou um pedido à EEAN para a concessão de uma bolsa de estudos da Rockefeller. Naquele momento, a escola já estava sob a direção de Lais Reys, que negou o benefício com os seguintes argumentos:
Teria enorme prazer e boa vontade em trabalhar para que pudesse aperfeiçoar seus estudos nos Estados Unidos, como deseja, e como lhe seria de grande proveito e benefício para o Serviço de Saúde Pública. Infelizmente, porém, nada posso fazer no momento, e mesmo não me seria possível agir sendo a senhora enfermeira do Serviço de Enfermagem e não da Escola, cabendo, portanto, a D. Edith Frankeal ação no caso (OFÍCIO, 1937, p. 1).
As disputas entre enfermeiras “nativas” e norte-americanas, narradas nesse artigo, tiveram implicações na trajetória de HGD. A análise do contexto indica que a negativa de Lays Netto pode ter sido bem mais influenciada pelo distanciamento que a FR estabeleceu em relação à EEAN do que a sua própria competência enquanto diretora para indicar uma ex-aluna.
A partir daí, o destino profissional de Haydée poderia ter sido direcionado permanentemente à enfermagem de saúde pública. Aparentemente, obter o financiamento para estudo no exterior se tornava improvável, mas a enfermeira obteve o apoio do Delegado Federal de Saúde da região Nordeste que a indicou para uma bolsa da FR. O pedido foi realizado, mas com o início da II Guerra Mundial e a redefinição das prioridades da Fundação a viagem de estudos aos Estado Unidos foi cancelada.
HGD não comunicou que a bolsa foi cancelada à família do General Eugênio Pereira de Almeida, com a qual residia no Rio de Janeiro. Disse-lhes apenas que foi adiada. Mas não desistiu de encontrar uma forma de estudar no exterior. Alguns meses depois, a família recebeu a mãe do namorado de uma das filhas do militar, senhora L. C. Jones, que morava em Greenwich, Connecticut. Ela sofria de depressão e viajou ao Brasil para tentar se curar. A enfermeira baiana havia sido contratada para lhe oferecer cuidados no hotel e, a partir dos diálogos que estabeleceram, conseguiu ser levada aos Estados Unidos como enfermeira particular (DOURADO, 1993). Seu objetivo era tentar uma bolsa diretamente com a FR. Essa é uma das singularidades da trajetória profissional de HGD, visto que não há correspondência na historiografia brasileira sobre bolsistas da FR. Nenhum dos bolsistas estudados até o momento utilizou a estratégia colocada em prática por ela de viajar de forma independente, na incerteza de receber uma bolsa (DOURADO, 1993).
Já nos Estados Unidos, a enfermeira se apresentou à agência internacional para solicitar o financiamento e recebeu a seguinte resposta da secretária: “A FR não dá bolsa a quem pede” (DOURADO, 1993, p. 4). Esta atitude era parte das normas de seleção de bolsistas. Segundo Castro Santos e Faria (2004), o recomendado era que um funcionário da instituição onde o profissional trabalhava indicasse o seu nome e o representante da Fundação deveria ser informado a seu respeito em uma visita à respectiva instituição. Somente depois disso a bolsa poderia ser concedida.
No entanto, no dia seguinte HGD retornou ao escritório e explicou que aquele não era um pedido individual. Ela já havia sido contemplada em uma seleção no Brasil. Assim, o financiamento foi aprovado em 14 de fevereiro de 1941, quando ela tinha 25 anos, para estudar métodos de ensino e organização das escolas de enfermagem a partir do 1 de setembro daquele ano (DOURADO, 1993). Contudo, ela não foi designada para atuar na EEAN ou na saúde pública brasileira, mas em um novo projeto apoiado pela Rockefeller no Brasil.
Negociando com a Fundação Rockefeller
Logo nos seus primeiros anos de funcionamento, a FR atuou na erradicação de enfermidades como a ancilostomíase, na América Central (PALMER, 2015), e a febre amarela no Brasil. Esses projetos receberam um grande investimento financeiro (BATISTA, 2021). A Rockefeller também se tornou responsável pelo apoio a instituições de ensino, com o intuito de elevar a qualidade dos quadros profissionais dos países em que atuava. O objetivo das escolas de saúde pública às quais financiou era formar mão de obra para suprir operações relativas às campanhas de prevenção e quadros para a infraestrutura de manutenção do sistema de saúde pública. Treinavam professores, estudantes e profissionais qualificados dedicados à questão. A estratégia se apoiava na premissa de que essas instituições formariam “elementos-chave” para o sistema de saúde pública (MARINHO, 2013).
No caso brasileiro, a partir de 1916, a Fundação concordou em organizar e manter o Departamento de Higiene da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo por um período de cinco anos. Nos termos do acordo, a agência deveria fornecer equipamento inicial com valor estimado em $ 10 mil, além de despender anualmente, pelos cinco anos de vigência do acordo, uma quantia entre $ 15 mil e $ 20 mil. Também se comprometeu a conceder duas bolsas de estudo em higiene e saúde pública a brasileiros para estudo nos Estados Unidos, com a cobertura de despesas de ida, volta e estadia. E, por fim, prometeu enviar dois cientistas ao Brasil, para dirigir o Departamento de Higiene, por cinco anos, período em que supervisionariam dois assistentes. Em contrapartida, a Faculdade deveria pagar o aluguel e reforma das instalações para deixá-las adequadas ao trabalho acadêmico e de laboratório, e fornecer não menos que $ 3 mil anuais para as despesas de operação (MARINHO, 2013). Instituições de outros estados não receberam apoio institucional robusto como a Universidade de São Paulo, mas receberam concessões de bolsas, como a Faculdade de Medicina da Bahia, ao longo dos anos 1920 (BATISTA, 2020).
O Programa de Bolsas da FR se iniciou ainda na década de 1910, com uma turma de médicos que estudou na Escola de Higiene da Johns Hopkins University, primeira instituição de ensino apoiada pela agência filantrópica internacional. Segundo Fee (2016 [1987]), na primeira turma, iniciada em 1º de outubro de 1918, foram selecionados quatro estudantes de doutorado, dois candidatos a bacharéis em Higiene e dois alunos especiais. Entre os candidatos a doutorado, três foram enviados pelo IHB: John Ferrel, Francisco Borges Vieira e Geraldo Horácio de Paula Souza (os dois últimos, brasileiros enviados pela FMCSP).
De 1917 a 1962, mais de 1700 latino-americanos receberam bolsas de estudo da Rockefeller. Para brasileiros, foram concedidas 140 bolsas em Agricultura e Ciências Naturais; 274 em Ciências Médicas, da Saúde e da População; e 29 em Ciências Humanas e Sociais, somando um total de 443 bolsas (CUETO, 1994). A maior parte delas foi destinada a médicos e sanitaristas que, posteriormente, ocuparam cargos de responsabilidade na administração dos serviços de saúde pública do país (CASTRO SANTOS; FARIA, 2003).
Embora o Programa de Bolsas da FR tenha durado décadas, incorporado a diferentes projetos institucionais, é necessário compreender as especificidades do seu funcionamento. Essas especificidades implicaram os contextos locais e influenciaram na concessão (ou não) do financiamento. As bolsas para enfermeiras brasileiras se iniciaram na década de 1920, com a concessão para Edith Fraenkel, entre 1922 e 1925. Naquele momento, a formação de enfermeiras tinha como objetivo prepará-las para atuar nos serviços de saúde pública, no recém-criado DNSP e na EEAN.
Segundo Korndörfer (2019), a partir de consulta realizada ao Directory of Fellowships and Scholarships (1917-1970), 28 brasileiras foram financiadas para estudar enfermagem nos Estados Unidos e no Canadá, em um total de 31 bolsas (visto que algumas delas receberam mais de uma bolsa). Em pesquisa que realizamos no Rockefeller Center, foram encontrados cartões individuais com registros referentes a 32 bolsas oferecidas pela IHD - sendo três enfermeiras financiadas em dois momentos diferentes e uma desistência após 1 mês de financiamento - que auxiliam na compreensão sobre o momento em que HGD viajou ao exterior. Para o período entre 1920 e 1930, por exemplo, foram identificadas 15 bolsas concedidas a brasileiras para estudar, em sua maioria, Enfermagem em Saúde Pública ou para realizar Estudo de Enfermagem. Cinco delas ainda eram estudantes (não-diplomadas) da Escola São Francisco de Assis, como também foi chamada a EEAN, o que demonstra a dificuldade de encontrar enfermeiras diplomadas em número suficiente e com o perfil desejado para estudarem no exterior. Esse não era o caso de HGD.
Contudo, o “casamento” (BIRN, 2006) entre a Rockefeller e as instituições brasileiras ficou estremecido durante o conturbado processo de reorganização do sistema de saúde, entre 1930 e 1934, que culminou com a criação do MES e, especialmente, com a saída de Bertha Pullen da direção da EEAN, ao final da Missão Parsons. Entre 1931 e o retorno de Pullen à direção da Escola, em 1934, nenhuma bolsa foi concedida para enfermeiras brasileiras. A análise dos cartões de bolsistas da Rockefeller indica apenas cinco bolsas concedidas na década de 1930, uma iniciada em 1936 e quatro em 1937. E, com a saída definitiva de Pullen da direção da EEAN, o financiamento de estudantes pela FR foi redirecionado para um novo projeto: a Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, criada em 1942. Esse foi o projeto para o qual HGD foi direcionada.
Durante a aproximação entre Brasil e Estados Unidos, conhecida como Política da Boa Vizinhança, ao longo dos anos 1930 e 1940, tornou-se recorrente a circulação da ideia de cooperação interamericana no discurso político norte-americano (CAMPOS, 2008). O Office Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA), criado por Franklin Roosevelt e administrado por Nelson Rockefeller (TOTA, 2014),10 foi responsável pela aproximação entre estadunidenses e nações latino-americanas, com destaque para o Brasil. O órgão atuou em diversas áreas, para além da econômica e da cultural, e a cooperação em saúde foi realizada por meio do Instituto de Assuntos Interamericanos (IAIA) (CAMPOS, 2008).
Nesse clima de cooperação, em 1942, foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). Ele atendia aos interesses dos norte-americanos e, ao mesmo tempo, às aspirações do programa de desenvolvimento nacional do presidente Getúlio Vargas. Os Estados Unidos desejavam frear a influência alemã no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, instalar bases militares no Nordeste e controlar a produção de matérias-primas estratégicas brasileiras como a borracha e o minério de ferro. Com isso, os soldados norte-americanos estacionados no Brasil precisavam ser protegidos das “doenças tropicais” e, os produtores de borracha e minério de ferro, da malária e de outras doenças infecciosas. Os projetos de saúde, para alcançar esses objetivos, foram operacionalizados pelo SESP. Ele surgiu após o Terceiro encontro de Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, no Rio de Janeiro, como resposta ao ataque japonês a Pearl Harbor. As conclusões do encontro eram que os países do hemisfério sul deveriam mobilizar recursos para a guerra, romper relações com a Alemanha e implementar políticas de saúde pública através de acordos bilaterais (CAMPOS, 2005).
Uma das cláusulas do Acordo Básico que criou o SESP determinava, como parte de suas funções, o treinamento de médicos, engenheiros sanitários e enfermeiras, visto que a carência de pessoal qualificado era considerada uma grave deficiência do sistema de saúde do país. O Programa de Enfermagem do SESP se iniciou oficialmente em agosto de 1942, quando o IAIA aprovou o projeto “Mais enfermeiras de Saúde Pública para o Brasil”, com o apoio da Associação de Hospitais Católicos dos Estados Unidos e as fundações Rockefeller e Kellogg. Um estudo realizado pelo OCIAA sobre o ensino de enfermagem na América Latina, em 1943, mostrou um quadro complexo e variado para o qual não havia uma solução simples e abrangente. A enfermeira Elizabeth Tennant, da IHD, foi enviada para avaliar a situação da enfermagem no país e traçar um plano para reformulação dos padrões de formação profissional. “O relatório Tennant sugeriu que o Ministério da Educação e Saúde supervisionasse as escolas de enfermagem a serem criadas em todo o país e que o SESP fosse responsável pela organização das quatro primeiras escolas: no Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Belém” (CAMPOS, 2008, p. 884).
Organizado a partir desse relatório, o Programa de Enfermagem do SESP tinha como objetivo formar enfermeiras graduadas e auxiliares para os programas de saúde pública e assistência médica da agência bilateral nas regiões Norte e Nordeste, incluindo regiões específicas do sudeste em Minas Gerais e Espirito Santo, além de apoiar o plano geral de profissionalização da enfermagem no Brasil. Para isso, foram traçadas quatro estratégias: 1. o IAIA enviaria enfermeiras ao Brasil, encarregadas da reorganização de escolas já existentes; 2. com o apoio da FR, o SESP criaria escolas para a formação de enfermeiras profissionais; 3. a Fundação Kellogg concederia bolsas de estudo de graduação e pós-graduação para enfermeiras brasileiras nos Estados Unidos, enquanto o SESP proveria bolsas para formação nas escolas brasileiras; e 4. cursos de curta duração seriam criados para enfermeiras práticas e visitadoras sanitárias (CAMPOS, 2008).
A EEUSP foi a primeira criada pelo SESP no Brasil. Para colocar esse projeto em execução, enfermeiras visitadoras do Instituto de Higiene de São Paulo receberam bolsas da FR para se graduarem em Enfermagem, no exterior. Das 10 bolsistas encontradas para a década de 1940, cinco foram treinadas para atuar na EEUSP, duas eram bolsistas para a criação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (EEUFBA), que também integrava o projeto de enfermagem do SESP, uma para o SESP Araraquara (São Paulo) e duas não tiveram o destino identificado. Assim, é possível afirmar que nos anos 1940, a FR redirecionou o financiamento para a formação de enfermeiras brasileiras patrocinando essencialmente aquelas que trabalhariam no SESP.
O caminho percorrido por HGD entre o Brasil e os Estados Unidos, marcado por elementos singulares em relação às demais enfermeiras-diplomadas, se encontrou com o das bolsistas SESP. Em dezembro de 1941, ela foi selecionada como 3ª instrutora da Escola de Enfermagem de São Paulo, para começar a trabalhar assim que retornasse ao Brasil. Assim, sua trajetória acompanhou a transição do financiamento da FR da EEAN para o projeto SESP.
Tempos em Toronto
Após a seleção de bolsistas, a FR recomendava que os estudantes partissem para os Estados Unidos antes do início das aulas em outubro, para aperfeiçoar o desempenho na língua inglesa (BATISTA; FERREIRA, 2021). Antes de iniciar as atividades como bolsista da FR, HGD teve a oportunidade de estagiar na Escola de Enfermagem de Yale, em Connecticut. Como registra seu cartão de bolsista: “A senhorita D. [Dourado] trabalhou em todas as enfermarias, exceto na maternidade, onde ela observava apenas. Há tantas trabalhando na ala da maternidade que agora não precisam dela e, por causa das férias, não há cursos para ela fazer” (ROCKEFELLER, s.d., p. 1).
Com o início da vigência da bolsa, Haydée matriculou-se na Escola de Enfermagem da Universidade de Toronto, no sul do Canadá, no curso Teaching and Supervision in Schools of Nursing, o que correspondia a um curso de pós-graduação de um ano, em Pedagogia, Didática e Supervisão. Além dos estudos realizados, seu aproveitamento deu-se também em termos da experiência da vida cotidiana, porque quatro outras moças brasileiras estudaram enfermagem na universidade de Toronto àquela época: Maria Rosa de Souza Pinheiro, Zilda Carvalho, Glete de Alcântara e Lúcia Jardim. Elas eram educadoras sanitárias do estado de São Paulo que faziam o curso de graduação em enfermagem e se preparavam para trabalhar, sob o comando de Edith de Magalhães Fraenkel, na criação da EEUSP (BARREIRA, 2005).
A escolha da Escola de Toronto para a formação internacional de enfermeiras estava relacionada ao apoio da FR para o seu desenvolvimento, como uma “Escola Rockefeller de Enfermagem”. A partir da ideia de efeito-demonstração, propunha-se o financiamento pelo período de cinco anos, quando o Estado deveria assumir sua manutenção. Embora a aprovação do Conselho da Rockefeller tenha ocorrido em 1929, somente em 1932 a parceria foi estabelecida. A escola foi organizada em 1 de julho de 1933 e recebeu sua primeira turma em 1 de setembro do ano seguinte, em um prédio adequado (ROCKEFELLER, 19--). As principais características do curso de enfermagem oferecido eram: 1. Alguma redistribuição da teoria, 2. Seleção mais adequadas de serviços hospitalares para o trabalho das enfermeiras, 3. Apresentação mais precoce e constante da medicina preventiva, 4. Maior quantidade de experiência prática no trabalho de saúde pública (ROCKEFELLER, 19--).
Quando HGD e as educadoras sanitárias/enfermeiras paulistas se encontraram no exterior, a EEUT já estava consolidada e recebia muitas bolsistas da IHD. No ano de 1937, por exemplo, quase metade das enfermeiras era enviada para lá. Além disso, se considerava que “muitos estudantes visitantes vieram para a Escola de países onde a formação de enfermeiros de saúde pública se tornou um tema importante e esses visitantes receberam orientação valiosa ao estudar o plano de organização que é seguido (ROCKEFELLER, 19--, p. 1). Como exemplo de outras mulheres estudadas pela historiografia que frequentaram Toronto é possível citar o caso da portuguesa Maria Palmira Macedo Tito de Morais e da brasileira, nascida no estado do Ceará, Maria Clayde Teixeira Barroso (BATISTA, 2023; BATISTA, FERREIRA, 2023).
No retorno ao Brasil, HGD atuou como professora/instrutora ao lado das enfermeiras-diplomadas treinadas para a EEUSP, entre 1942 e 1946. Como atividade do Programa de Enfermagem do SESP, participou da seleção de bolsistas de outras regiões brasileiras para estudarem na EEUSP. Posteriormente, essas enfermeiras diplomadas iriam reforçar a política de criação de mais escolas de enfermagem no território nacional. A esse respeito, em 2 de novembro de 1943, o jornal carioca Gazeta de Notícias publicou uma notícia com a chamada “Para aumentar o nosso quadro de enfermeiras: serão fundadas várias escolas no Norte e Nordeste do país”. O objetivo era informar às elites do Rio de Janeiro sobre o retorno das enfermeiras Gertrud E. Hodgman e Haydée Guanais Dourado, de Belém do Pará, capital do estado do Pará, na Amazônia brasileira. Elas visitaram estados do Norte e do Nordeste para escolherem as bolsistas daquela região (Gazeta de Notícias, 1943, p. 4). Hodgman era formada em Enfermagem pela Universidade Johns Hopkins. Em junho de 1943, foi destinada ao Brasil para dirigir a Divisão de Enfermagem do SESP e assumir o comando do seu Programa de Enfermagem, após a saída de Miss Kieninger (BONINI, 2014).
Em 3 de novembro de 1943, o jornal A Noite também comunicou a chegada das enfermeiras ao Rio, com a seguinte chamada: Difundindo a enfermagem (Gazeta de Notícias, 1943, p. 9). Além de explicar o objetivo da viagem, o articulista realizou uma entrevista com HGD, na sede do SESP, para coletar as suas impressões sobre a experiência vivida recentemente. Ela contou que já havia passado pelo Sul do Brasil, em período anterior, e que o SESP destinou 30 bolsas para enfermeiras brasileiras que desejassem estudar na EEUSP. Além disso:
[...] o principal escopo da excursão foi o de entrar em contacto com grupos e instituições, como, por exemplo, a Cruz Vermelha, a Legião Brasileira de Assistência, as Escolas Normais, que congregam ou reúnem jovens brasileiras, para nelas incutir ou despertar o interesse e o ideal pela enfermagem, mostrando-lhes ao mesmo tempo o futuro que aguarda aquelas que quiserem tornar-se enfermeiras. A enfermagem não é mais simplesmente um ofício vulgar, como foi no passado. É uma profissão que exige cursos de alto padrão, cursos especializados (Gazeta de Notícias, 1943, p. 9).
Embora tivesse estudado na EEAN, Haydée não constituiu vínculos institucionais com o grupo de enfermeiras do Rio de Janeiro nas décadas de 1930 e 1940. A finalização de sua socialização profissional no exterior a direcionou para o projeto de expansão numérica e de interiorização da profissão de enfermeira conduzido pelo SESP com o apoio da FR. HGD se tornou uma enfermeira diplomada a serviço desse projeto, que atuou na consolidação do projeto da agência bilateral em outros estados do Brasil.
Considerações finais
Na fase específica da trajetória profissional de HGD tratada nesse artigo, observamos que o meio social-cultural protestante da família Guanais Dourado no interior da Bahia foi propício e incentivou a profissionalização das jovens mulheres. Além de professoras primárias rurais, duas gerações de mulheres com laços de parentesco com a família Guanais Dourado se tornaram enfermeiras diplomadas pela EEAN.
Depois de migrarem para Rio de Janeiro para se profissionalizarem como enfermeiras na EEAN, as sertanejas e presbiterianas Guanais Dourado se juntaram ao grupo de mulheres predominantemente de classe média urbana, normalistas e católicas que compunham corpo estudantil da EEAN. A formação em enfermagem nos anos 1930 ocorreu em um momento conturbado politicamente e de reformas e reorientações institucionais nas áreas de saúde e educação. A passagem de HGD pela EEAN ocorreu quando se processava a longa transição do poder institucional das mãos de enfermeiras norte americanas para a elite das enfermeiras diplomadas “nativas”. O destino profissional mais provável seria o mesmo de muitas enfermeiras diplomadas de sua geração: o ingresso no serviço público e a atuação em serviços de saúde pública ou hospitalares federais ou estaduais. Uma outra possiblidade de profissionalização seria o magistério, mas, na década de 1930, as oportunidades de colocação de uma enfermeira diplomada na EEAN em alguma escola de enfermagem já existente ou implantação eram restritas. Contudo, suas trajetórias foram distintas na medida que foram selecionadas para realizar estudos de pós-graduação nos Estados Unidos e Canadá com bolsa da FR. A experiência proporcionada pela bolsa de estudo alterou o rumo da trajetória de Haydée Guanais Dourado. O estágio no exterior (1941-1942), status também alcançado por Radcliff Guanais Dourado (1947-1948), e a obtenção de formação de nível pós-graduado, além de ser uma forma de obter distinção e status profissional, deu a Haydée a oportunidade de se desviar do destino previsível da enfermeira e se tornar uma “intelectual” ou uma institutional builder atuando na organização de políticas e de instituições de enfermagem.
Após o seu retorno ao Brasil, HGD auxiliou na criação da EEUSP e foi a diretora-fundadora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, em 1946. Teve papel de destaque na Associação Brasileira de Enfermagem. Além disso, e entre várias outras atividades, ocupou o cargo de Superintendente de Enfermagem da Campanha Nacional contra Tuberculose. Diante da sua importância para a consolidação da enfermagem no Brasil, é importante visibilizar a trajetória dessa mulher nas ciências, enquanto tantas outras trajetórias ainda permanecem invisibilizadas pela historiografia.
Fontes
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» https://archive.org/details/sim_international-nursing-review_may-june-1980_27_3/mode/2up?q=%22hayde%C3%A9+guanais+dourado%22 - OFÍCIO n. 316, Centro de Documentação (CEDOC) da Escola de Enfermagem Ana Nery, 1935.
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Referências Bibliográficas
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AZEVEDO, Nara; FERREIRA, Luiz Otávio. Modernização, políticas públicas e sistema de gênero no Brasil: educação e profissionalização feminina entre as décadas de 1920 e 1940. Cadernos Pagu, Campinas, v. 27, p. 213-54, 2006. ISSN 1809-4449. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cpa/a/bhnwWTMfWJLnKTxVLg4NbDJ/abstract/?lang=pt Acesso em: 13 nov. 2023. Doi: 10.1590/S0104-83332006000200009.
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1
Artigo não publicado em plataforma preprint. Todas as fontes e bibliografia utilizadas são referenciadas.
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A “elite profissional” foi constituída pelas seguintes enfermeiras: Edith Magalhaes Fraenkel, Rachel Haddock Lobo, Laís Neto dos Reis, Walesca Paixão, Clarice Ferrarini, Haydée Guanais Dourado, Isaura Lima, Glete Alcantara, Maria Rosa Souza Pinheiro, Olga Verderese, Wanda Aguiar Horta, Zaira Vidal e Lieselotte Ornellas.
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5
O SESP foi uma agência bilateral Brasil/Estados Unidos criado durante a Política da “Boa Vizinhança”, um contexto em que os Estados Unidos tentavam se aproximar dos países da América Latina.
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Isso também pode ser observado em trajetórias de grupos considerados como “minorias” sociais, a exemplo de mulheres, indígenas, negros, praticantes de religiões de matriz africana, entre outros.
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Em 1919 a Fundação Rockefeller criou o Comitê para o Estudo da Educação em Enfermagem de Saúde Pública. A condução das investigações ficou a cargo da pesquisadora e assistente social, Miss Josephine Goldmark, secretária do Comitê. O relatório conclusivo, denominado Nursing and Nursing Education in United States, datado de 1923, usualmente conhecido como Relatório Winslow-Goldmark.
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. Informações retiradas do banco de dados dos prontuários das estudantes da EEAN.
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A National League of Nursing Education, liga constituída por diretoras de escolas dos Estados Unidos e do Canadá, tinha como propósito principal tentar exercer controle sobre o ensino de enfermagem naqueles países e foi a responsável também por modificações importantes no currículo de enfermagem. Publicou, em 1917, uma obra que tratava especificamente do ensino da enfermagem, o “Standard Curriculum for Nursing Schools”, a primeira tentativa concreta para a padronização dos currículos das escolas de enfermagem norte-americanas.
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Nelson Rockefeller foi herdeiro de John D. Rockefeller, filantropo que acumulou riqueza na exploração, refino e venda de petróleo, e manteve atividades voltadas à saúde em diferentes lugares do mundo, como na América do Sul (com direcionamento de recursos expressivos para o Brasil), África e Ásia.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Nov 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
10 Jan 2024 -
Aceito
29 Maio 2024