Open-access Estudo de um antígeno intradérmico para o diagnóstico da cisticercose: nota prévia

Study of an intradermic antigen for cysticercosis diagnosis: communication

Resumos

Propõe-se um antígeno intradérmico para o diagnóstico da cisticercose, mostrando a maneira de aplicá-lo e prepará-lo. A leitura é feita após 30 minutos de aplicada a injeção, medindo-se o diâmetro da pápula. O antígeno já foi testado em 31 pacientes de cisticercose cerebral e em 64 pessoas não parasitadas; os cisticercóticos apresentaram pápulas medindo em média 14,6 mm, com um desvio padrão de 7,3 mm, enquanto que nos "normais" a pápula mediu 4,9 ± 1,8 mm. Entre os cisticercóticos não houve reações negativas e entre os "normais" 26,5% não reagiram ao antígeno. Não foram narradas complicações posteriores. Encontram-se em fase inicial os testes em portadores de cestóides intestinais. O antígeno parece ter boa sensibilidade e possuir os requisitos necessários para ter valor epidemiológico: economia, fácil obtenção, aplicação e leitura simples, inocuidade, sensibilidade.

Cisticercose; Antígeno intradérmico; Diagnóstico


An intradermic antigen for the diagnosis of cysticercosis is being proposed. The manner of preparation and application is also shown. The reading of the result is proceeded 30 minutes after the intradermic injection by measuring the papule's diameter. Up to now the antigen has been tested on 31 cerebral cysticercotic patients and on 64 non-infested persons: The papule mean diameter was 14,6 mm (s.d. ± 7,3 mm) for the patients and 4,9 mm (s.d. ± 1,8 mm) for the control group. There were no negative reactions among the patients and 26,5% of the non-infested presented no reaction whatsoever to the antigen. Later complications were not refered. Testing on patients with cestoid enteric infestation is now being carried out. It seems that the antigen has fairly good sensibility and fulfils the necessary epidemiological requirements of easy preparation, simples application and reading, inocuity, sensitiveness and low cost.

Cysticercosis diagnosis; Intradermic antigen


NOTAS E INFORMAÇÕES / NOTES AND INFORMATION

Estudo de um antígeno intradérmico para o diagnóstico da cisticercose: nota prévia

Study of an intradermic antigen for cysticercosis diagnosis: communication

José M. Marlet

Do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina de Catanduva e do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP – Av. Dr. Arnaldo, 455 – São Paulo, SP – Brasil

RESUMO

Propõe-se um antígeno intradérmico para o diagnóstico da cisticercose, mostrando a maneira de aplicá-lo e prepará-lo. A leitura é feita após 30 minutos de aplicada a injeção, medindo-se o diâmetro da pápula. O antígeno já foi testado em 31 pacientes de cisticercose cerebral e em 64 pessoas não parasitadas; os cisticercóticos apresentaram pápulas medindo em média 14,6 mm, com um desvio padrão de 7,3 mm, enquanto que nos "normais" a pápula mediu 4,9 ± 1,8 mm. Entre os cisticercóticos não houve reações negativas e entre os "normais" 26,5% não reagiram ao antígeno. Não foram narradas complicações posteriores. Encontram-se em fase inicial os testes em portadores de cestóides intestinais. O antígeno parece ter boa sensibilidade e possuir os requisitos necessários para ter valor epidemiológico: economia, fácil obtenção, aplicação e leitura simples, inocuidade, sensibilidade.

Unitermos: Cisticercose*; Antígeno intradérmico*; Diagnóstico*.

SUMMARY

An intradermic antigen for the diagnosis of cysticercosis is being proposed. The manner of preparation and application is also shown. The reading of the result is proceeded 30 minutes after the intradermic injection by measuring the papule's diameter. Up to now the antigen has been tested on 31 cerebral cysticercotic patients and on 64 non-infested persons: The papule mean diameter was 14,6 mm (s.d. ± 7,3 mm) for the patients and 4,9 mm (s.d. ± 1,8 mm) for the control group. There were no negative reactions among the patients and 26,5% of the non-infested presented no reaction whatsoever to the antigen. Later complications were not refered. Testing on patients with cestoid enteric infestation is now being carried out. It seems that the antigen has fairly good sensibility and fulfils the necessary epidemiological requirements of easy preparation, simples application and reading, inocuity, sensitiveness and low cost.

Uniterms: Cysticercosis diagnosis*; Intradermic antigen*.

INTRODUÇÃO

A cisticercose humana e em especial a cerebral é doença importante pela dramaticidade dos quadros clínicos que apresenta, pela precariedade dos meios terapêuticos disponíveis e o descaso observado na sua profilaxia (PESSOA 19). Só o número de cisticercóticos com sintomatologia neurológica é suficientemente grande para chamar a atenção: 3% dos pacientes internados na Clínica de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo (1947-1955) eram portadores de cisticercose cerebral. Queremos lembrar ainda os pacientes psiquiátricos que se revelam portadores de cisticercose e as complicações oftalmológicas da parasitose.

A incidência da moléstia aumenta à medida que os recursos semiológicos aprimoram suas técnicas.

Nada se sabe, contudo, da prevalência real da moléstia, pois só temos dados da cisticercose-doença, ignorando tudo a respeito da cisticercose-infecção. Isto se deve à carência de um recurso semiológico adequado, capaz de ser aplicado em massa e fornecei as informações epidemiológicas necessárias.

Parece-nos que a introdermo-reação é o único meio semiológico capaz de reunir os requisitos necessários para ser aplicado a grandes grupos humanos: economia e facilidade de obtenção, aplicação e leitura simples, inocuidade, sensibilidade. Os antígenos propostos até agora não satisfazem estes requisitos, especialmente pela dificuldade de obtê-los em quantidade e regularidade suficientes para tornar possíveis estudos epidemiológicos; na cutir-reação de Robin-Fiesinger, por exemplo, emprega-se como antígeno o líquido da própria vesícula cisticercótica.

Iniciamos este trabalho visando a obtenção de um antígeno que satisfaça as exigências enumeradas.

MATERIAL E MÉTODOS

Aproveitamos os cisticercos da carcaça de suínos e, depois de limpá-los da gordura externa, os estocamos com salina no congelador.

Depois de suficientemente lavados com salina os esmagamos num gral. Homogeneizamos a suspensão aplicando algumas vezes o ultrassonizador e a alcalinizamos até pH 9,0.

Deixamos uma noite extraindo, com agitação e refrigeração constantes; filtramos a suspensão em filtro Zeiss e distribuímos alíquotas de 5 ml em vidros estéries e liofilizamos a suspensão. Os vidros são guardados no refrigerador até o momento de uso, quando seu volume é reconstituído com salina estéril.

O antígeno assim preparado foi testado por injeção intradérmica de 0,1 ml do mesmo na face anterior do antebraço em, até agora, 31 portadores de cisticercose cerebral e em 64 pessoas aparentemente não parasitadas.

Os testes com pacientes portadores de cestóides intestinais encontram-se em fase inicial.

Em todos os casos desenhamos por transparência o perfil da pápula 30 minutos depois da injeção. Quantificamos a leitura medindo o diâmetro máximo da pápula. Não levamos em consideração o eritema.

RESULTADOS

Os cisticercóticos apresentaram um diâmetro médio de pápula igual a 14,6 mm, com um desvio padrão de 7,3 mm; os "normais" apresentaram um diâmetro médio de 4,9 mm, com desvio padrão de 1,8 mm.

É de se observar que 26,5% dos "normais" não apresentaram reação alguma, não tendo sido computados na medição e que todos os cisticercóticos reagiram ao antígeno.

Quando interrogados os "normais" a respeito de sinais e sintomas aparecidos nas primeiras 24 horas, responderam que nada aconteceu (62%), que sentiram leve prurido local (35%) ou que o eritema perdurou igual ao que era no momento da leitura ou maior ainda (19%). Não houve nenhum caso de pertubação mais séria.

DISCUSSÃO

Parece-nos que nosso antígeno possui todos os requisitos exigidos a um recurso semiológico voltado para obtenção de informações epidemiológicas: inocuidade; obtenção em quantidade ilimitada, contínua e a baixo custo; aplicação e leitura simples; sensibilidade.

É precoce ainda para se fazerem apreciações quanto ao grau de especificidade do antígeno.

Recebido para publicação em 26/7/1974

Aprovado para publicação em 4/10/1974

Referências bibliográficas

  • 1. PESSOA, S. Parasitologia Médica. 9.a ed. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara Koogan, 1974.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Ago 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 1974

Histórico

  • Recebido
    26 Jul 1974
  • Aceito
    04 Out 1974
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