Open-access Estudo comparativo entre larvitrampas e ovitrampas para avaliação da presença de Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) em Campo Grande, Estado do Rio de Janeiro

Comparative study between larvitraps and ovitraps for evaluating the presence of Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) in Campo Grande, State of Rio de Janeiro

Resumos

Objetivando-se avaliar a eficiência de armadilhas no monitoramento de vetores de dengue e febre amarela no Rio de Janeiro, foram utilizadas simultaneamente, 12 larvitrampas e 12 ovitrampas ao longo de 13 semanas. Resultados mostraram que as larvitrampas apresentam maior capacidade de positivar, destacando-se como importante ferramenta no monitoramento de vigilância vetorial.

Controle de mosquitos; Ecologia de vetores; Aedes; Dengue


With the objective of evaluating the efficiency of traps for monitoring dengue and yellow fever vectors in Rio de Janeiro, 12 larvitraps and 12 ovitraps were used simultaneously for 13 weeks. The results indicated that the larvitraps presented greater capacity for positive findings, thereby highlighting it as an important monitoring tool for vector surveillance.

Mosquito Control; Vector ecology; Aedes; Dengue


COMUNICAÇÃO COMMUNICATION

Estudo comparativo entre larvitrampas e ovitrampas para avaliação da presença de Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) em Campo Grande, Estado do Rio de Janeiro

Comparative study between larvitraps and ovitraps for evaluating the presence of Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) in Campo Grande, State of Rio de Janeiro

Vanderlei Campos SilvaI; Nicolau Maués Serra-FreireII; Júlia dos Santos SilvaIII, IV; Paulo Oldemar SchererV; Iram RodriguesV; Sergio Pereira CunhaV; Jeronimo AlencarIII

ILaboratório de Transmissores de Leishmanioses, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ

IILaboratório de Ixodides, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ

IIILaboratório de Diptera, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ

IVPrograma de Pós-Graduação em Zoologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ

VFundação Nacional de Saúde, Rio de Janeiro, RJ

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. Jeronimo Alencar Laboratório de Diptera/FIOCRUZ Av. Brasil 4365, Manguinhos 21040-360 Rio de Janeiro, RJ Tel: 55 21 2562-1450 e-mail: jalencar@ioc.fiocruz.br

RESUMO

Objetivando-se avaliar a eficiência de armadilhas no monitoramento de vetores de dengue e febre amarela no Rio de Janeiro, foram utilizadas simultaneamente, 12 larvitrampas e 12 ovitrampas ao longo de 13 semanas. Resultados mostraram que as larvitrampas apresentam maior capacidade de positivar, destacando-se como importante ferramenta no monitoramento de vigilância vetorial.

Palavras-chaves: Controle de mosquitos. Ecologia de vetores. Aedes. Dengue.

ABSTRACT

With the objective of evaluating the efficiency of traps for monitoring dengue and yellow fever vectors in Rio de Janeiro, 12 larvitraps and 12 ovitraps were used simultaneously for 13 weeks. The results indicated that the larvitraps presented greater capacity for positive findings, thereby highlighting it as an important monitoring tool for vector surveillance.

Key-words: Mosquito Control. Vector ecology. Aedes. Dengue.

Nas Américas, a dengue constitui uma doença de aspecto principalmente urbano, no qual os agentes etiológicos fazem parte do ciclo que envolve o mosquito Aedes aegypti (Linnaeus) e o ser humano7. O Aedes aegypti é considerado o principal vetor de dengue e febre amarela do mundo e apresenta alta eficiência na vetoração em populações humanas, fato que é atribuído em parte aos seus hábitos sinantrópicos12. Essa espécie está estreitamente relacionada ao homem, utilizando-se dos recipientes descartados por este, como criadouros para suas formas imaturas. Seu comportamento mostra preferência por recipientes de cor escura, contendo água limpa, pobre em matéria orgânica e disposto a sombra no intra ou peridomicílio1. A comparação entre a pesquisa larvária e armadilha de oviposição para detecção de Aedes aegypti vem sendo utilizada em vários programas de controle em diversos países. No Brasil, a Secretaria de Vigilância em Saúde ainda não adotou este método na sua rotina. Entretanto, vários autores têm demonstrado que essa técnica é sensível ao monitoramento desses vetores quando a pesquisa larvária nas unidades domiciliares não os detecta1 2 10. A utilização da armadilha de ovitrampa como ferramenta para detectar a presença de população de Aedes aegypti foi primeiramente proposta por Fay & Perry6. Fay & Eliason5, em 1966, compararam essas duas armadilhas, e verificaram que as ovitrampas foram superiores em relação às outras. Reiter cols11, em 1991, verificaram que adicionando feno à ovitrampa, estas tiveram seus índices aumentados se comparados com aquelas sem tal substância.

O presente estudo teve como objetivo avaliar comparativamente estas armadilhas no monitoramento de Aedes aegypti em bairro situado na zona oeste do município do Rio de Janeiro, Campo Grande, durante treze semanas. O bairro de Campo Grande tem coordenadas de 22º 53' S e 43º 33' W, dista cerca de 50km do centro do município do Rio de Janeiro, tem área territorial de 171,67km2, ocupada por cerca de 297.494 habitantes (IBGE, 2000). A escolha pelo bairro de Campo Grande foi levada em conta devido aos elevados índices de incidência de dengue e alta infestação de Aedes aegypti.

As armadilhas utilizadas nesse experimento foram: ovitrampas, constituídas de um recipiente artificial de plástico, de formato arredondado e cor preta, medindo 9cm de altura por 11cm de diâmetro, onde nessas armadilhas as paletas utilizadas eram de compensado de eucatex com 5mm de espessura, 12,5cm de comprimento por 2cm de largura. Cada paleta foi utilizada apenas uma vez, a fim de evitar erro na contagem dos ovos e fixada nas ovitrampas com auxílio de um clipe, posicionada verticalmente neste recipiente contendo aproximadamente 300ml de água destilada, onde foi adicionado serrapilheira; e larvitrampas, por sua vez consistiam de pneus cortados ao meio e penduradas a 1,60m de altura do solo em local sombreado e afastado das ovitrampas por cerca de 6m. A cada inspeção das armadilhas, as paletas eram identificadas e acondicionadas em sacos plásticos individuais e levadas ao laboratório para identificação e contagem dos ovos, e ainda, quando necessário, completava-se o volume de água. As larvas das larvitrampas eram acondicionadas em tubos, contendo álcool a 70% e levadas ao laboratório para identificação e contagem. Após cada busca ativa, as larvitrampas eram lavadas e escovadas em água corrente e flambadas na intenção de evitar erro no experimento. Em seguida adicionava-se água até atingir o nível inicial.

As pesquisas foram realizadas no horário da manhã, com intervalos de dois dias, de 27 de agosto a 26 de novembro de 2005, tendo como base para as observações do horário de oviposição, os referidos por Chadee & Corbert2, em estudos desenvolvidos com Aedes albopictus (Skuse). As armadilhas foram localizadas concomitantemente em imóveis residenciais de acordo com Jakob & Bevier8. Em virtude da grande dificuldade para identificar as espécies através do ovo, estas identificações foram realizadas preferencialmente em larvas de 3º ou 4º instar, através de um microscópio (Zeiss®), após eclosão espontânea em laboratório.

Para avaliar a eficiência das armadilhas das diferentes metodologias, foram calculados os coeficientes de dominância, abundância e intensidade média de captura. As larvitrampas apresentaram maior positividade. A comparação entre indicadores entomológicos, para as seis armadilhas de cada tipo, mostrou diferenças não significativas (p<0,05) entre as armadilhas, considerando-se então como válida a constatação de que nas áreas trabalhadas o Aedes aegypti é a espécie dominante, com abundância de aproximadamente 17 larvas e quatro ovos por semana de estudo, e cerca de 220 larvas, mais 53 ovos de positividade, em cada local de criação no período investigado. Resultado também constatado para Aedes albopictus, onde foi observado desempenho similar utilizando esse tipo de armadilhas ftab.5%=1,91>fcalc, e cerca de três larvas/semana.

Dentre as semanas pesquisadas, utilizando as armadilhas de larvitrampas, a décima terceira apresentou a maior abundância de espécimes encontrados, com 29,4%, enquanto a oitava semana foi a menor com 2,5% do total. As semanas de experimento três e quatro foram as que apresentaram maior número de larvitrampas positivas, totalizando dez. Já a semana nove, foi encontrada apenas uma armadilha positiva. Para as armadilhas ovitrampas, foi constatado o melhor desempenho de positividade apenas na décima semana de experimento, perfazendo 14,3% dos ovos encontrados nas 13 semanas de estudos. Nas semanas dois e treze, concentraram-se as armadilhas com maior positividade (quatro em cada uma), e menor número de espécimes aconteceu na 11ª semana, correspondendo a 0,95% do total.

Os casos de dengue durante o período da pesquisa entomológica tiveram as ocorrências concentradas no mês de outubro, resultado que coincide com a maior positividade de Aedes aegypti na área estudada. É importante destacar que este período sazonal para o município do Rio de Janeiro, corresponde às estações de inverno e primavera, período de baixos índices pluviométricos.

Neste estudo, foi constatado que as armadilhas de larvitrampas tiveram maior capacidade de positivar, quando comparadas com as armadilhas de ovitrampas em quase todo período do monitoramento entomológico. Observações realizadas por Cheng cols9, em 1982, e Lima cols9, em 1989, comparando diferentes tipos de armadilhas, relataram resultados semelhantes com as larvitrampas mais atrativas. Lima cols9 consideram que a superfície disponível e o volume de água influenciam a oviposição, fato que explica a maior eficiência da armadilha de pneu. Chadee2, em 1990, constatou que as armadilhas de ovitrampas apresentam-se como boa ferramenta para detecção precoce de vetores de dengue e febre amarela, fato que não foi comprovado no presente estudo. Entretanto, Marques cols10, em 1993, relataram que armadilhas ovitrampas positivaram-se mesmo na presença de criadouros naturais e possuíram eficiência superior as larvitrampas. No estudo, estes autores utilizaram nas armadilhas: paletas de eucatex de 20cm x 05cm e vasos plásticos pretos de 15cm de diâmetro por 15cm de profundidade. É possível que a diferença na confecção das armadilhas tenha influenciado a diferença de resultados, já que as paletas de eucatex apresentavam uma área menor de exposição, formada de 5mm de espessura e 12,5cm de comprimento por 2cm de largura.

Recebido para publicação em 17/08/2009

Aceito em 19/10/2009

Referências bibliográficas

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  • Endereço para correspondência:
    Dr. Jeronimo Alencar
    Laboratório de Diptera/FIOCRUZ
    Av. Brasil 4365, Manguinhos
    21040-360 Rio de Janeiro, RJ
    Tel: 55 21 2562-1450
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Fev 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009

    Histórico

    • Aceito
      19 Out 2009
    • Recebido
      17 Ago 2009
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