Diversidade de Calliphoridae (Insecta: Diptera) na base de extração petrolífera da Bacia do Rio Urucu, na Amazônia brasileira

Diversity of Calliphoridae flies (Insecta: Diptera) in the oil extraction field of Rio Urucu basin, in brasilian Amazonian

ZOOLOGIA

Maria Cristina Esposito^I; José Roberto Pereira de Sousa^II; Fernando da Silva Carvalho-Filho^III

^IUniversidade Federal do Pará - UFPA, E-mail: [e-mail] ^IIUniversidade Federal do Pará - UFPA, E-mail: [e-mail] ^IIIUniversidade Federal do Pará - UFPA, E-mail: [e-mail]

RESUMO

A diversidade e abundância de dípteros califorídeos de três ambientes (clareira artificial, clareira natural e mata) de Porto Urucu/AM foram avaliadas em coletas anuais realizadas em 2004, 2005 e 2006. Ao longo destes três anos foram coletados 2.121 exemplares pertencentes a 14 espécies. As espécies mais abundantes foram Chloroprocta idioidea (Robineau- Desvoidy), Eumesembrinella randa (Walker) e Hemilucilia semidiaphana (Rondani). Os habitats de matas e clareiras naturais apresentaram maior abundância de califorídeos quando comparados às clareiras artificiais, com índices de diversidade e equitabilidade também maiores do que em clareiras artificiais, onde a dominância foi mais elevada.

Palavras-chave: Calliphoridae, moscas varejeiras, abundância, riqueza de espécies, Amazônia.

ABSTRACT

The diversity and abundance of blow flies in three environments (anthropic gaps, tree-fall gaps, and primary "terra firme" forest) of Porto Urucu/AM were evaluated in annual collects realized in 2004, 2005, and 2006. During these three years were collected 2,121 specimens belonging to 14 species. The most abundant species were Chloroprocta idioidea (Robineau- Desvoidy), Eumesembrinella randa (Walker), and Hemilucilia semidiaphana (Rondani). Primary forests and tree-fall gaps enviroments, showed higher blow flies abundance than anthropic gaps, with diversity and equitability index higher than anthropic gaps, when the dominance value was high.

Keywords: Calliphoridae, blow flies, abundance, richness, Amazon.

INTRODUÇÃO

As moscas são conhecidas por utilizarem matéria orgânica em decomposição para alimentação e desenvolvimento de seus imaturos, desempenhando importante papel como organismos saprófagos. Vários graus de associações das moscas com o homem são encontrados, desde uma associação total, tornando-se dependentes de ambientes modificados pelo homem, até espécies que ocorrem apenas em ambientes naturais (Povolny, 1971). Essa sensibilidade em relação aos ambientes, aliada à rapidez de resposta em termos populacionais às modificações antrópicas, confere às moscas a capacidade de funcionarem como indicadores de interferências humanas nos ambientes naturais (Esposito, 1999)

Tanto os trabalhos mais recentes como os das décadas de 70 e 80 revelam o predomínio das espécies invasoras de Chrysomya Robineau- Desvoidy, 1830 e sua interferência sobre as espécies nativas de Cochliomyia macellaria (Fabricius, 1775) e Lucilia eximia Wiedemann, 1819 na maioria dos ambientes amostrados das regiões brasileiras (Baumgartner e Greenberg, 1984). No entanto, na Bacia do Alto Rio Urucu (Paraluppi, 1996) e na Floresta Nacional de Caxiuanã (Esposito, 1997, 1999), que são ambientes ainda bastante preservados da Amazônia foi constatado que não estavam colonizados pelas espécies invasoras de Chrysomya na década de 90.

A região da bacia do rio Urucu oferece uma oportunidade para o estudo das populações de moscas em vários tipos de ambientes, inclusive os livres da influência humana, porque apresenta extensas áreas de florestas preservadas, bem como algumas áreas de clareiras que foram abertas para a prospecção de petróleo e gás natural pela Petrobrás S.A.

O objetivo deste estudo foi avaliar a diversidade e abundância de dípteros muscóideos da família Calliphoridae (Mesembrinellinae, Calliphorinae, Chrysomyinae) em três ambientes (clareira artificial, clareira natural e mata) de Porto Urucu/AM.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi desenvolvido na bacia do Rio Urucu, Amazonas ( 4° 53' 7"; S 65° 20' 59" W), na área de exploração petrolífera da Petrobrás a 600 Km oeste de Manaus. As coletas foram realizadas nos meses de setembro de 2004, junho de 2005 e junho de 2006, utilizando armadilhas com isca de 50 gramas de pulmão bovino. As armadilhas são de fabricação caseira, similar a descrita por Almeida et al. (2003) e utilizada por Parallupi (1996) e Esposito (1997).

Em cada coleta foram expostas 120 armadilhas durante 48 horas. Nas duas primeiras coletas, três tipos de ambientes foram amostrados: 05 matas primárias, 05 clareiras artificiais (abertas para atividades da Petrobrás) e 05 clareiras naturais decorrentes principalmente da queda natural de árvores na mata. Na terceira coleta, dois tipos de ambientes foram amostrados: 15 clareiras artificiais e 15 matas.

As moscas foram preparadas e depositadas na coleção do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). A identificação dos dípteros foi realizada a partir das descrições e chaves de identificação de Guimarães (1977), Mariluis (1982), Peris e Mariluis (1984), Dear (1985), Toma (1995), Ribeiro e Carvalho (1998) e Carvalho e Ribeiro (2000). A subfamília Mesembrinellinae foi considerada como tal, apesar de Guimarães (1977) ter elevado este táxon para o nível de Família. Este critério foi adotado porque trabalhos de sistemática de Rognes (1986) e Toma e Carvalho (1995) continuam a considerá-la como um grupo interno á Calliphoridae.

Os índices de diversidade de Shannon-Weaner (H'), equitabilidade (Shannon J') e dominância (Berger- Parker_D) foram utilizados para análise faunística dos três ambientes (clareiras artificiais, clareiras naturais e matas) (Magurran, 1988). Estes índices foram calculados pelo programa Species Diversity & Richness 2.5 (Henderson e Seaby, 1997) com base nos dados das duas primeiras coletas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A riqueza em Porto Urucu passou de sete espécies (Paraluppi, 1996) para um total de 14 espécies de califorídeos coletados neste trabalho, com o primeiro registro de Paralucilia adespota (Dear, 1985), Co. hominivorax, C. megacephala e as cinco espécies de mesembrinelíneos. Um total de 2.121 exemplares foi coletado e as espécies mais abundantes foram Chloroprocta idioidea (Robineau-Desvoidy, 1830), Eumesembrinella randa (Walker, 1849) e Hemilucilia semidiaphana (Rondani, 1850). As espécies Cochliomyia hominivorax (Coquerel, 1858), Chrysomya megacephala (Fabricius, 1805) e Cochliomyia macellaria (Fabricius, 1775) foram representadas por apenas um individuo (Tabela 1).

Estudos sobre a fauna de moscas na Floresta Nacional de Caxiuanã, Melgaço, PA e matas na região do Jarí, Monte Dourado, PA, verificaram também a predominância das mesmas espécies nativas Ch. idiodea, H. semidiaphana e E. randa (Esposito,1999; Esposito e Linhares 2002; Melo e Esposito 2006).

A espécie Ch. idioidea, que aparece em alta abundância, tem se mostrado um componente importante da fauna de califorídeos na região (Paraluppi, 1996). Já a coleta de apenas um indivíduo de Co. macellaria contrasta com os resultados anteriores, quando esta espécie representou cerca de 86% dos indivíduos coletados (Paraluppi, 1996), o que pode estar relacionado a uma possível alteração nas comunidades de Calliphoridae da região. Vários trabalhos relatam drásticos decréscimos populacionais de Co. macellaria após a chegada das espécies exóticas de Chrysomya no Brasil (Guimarães et al., 1979; Prado e Guimarães, 1982). No entanto, este não parece ser o motivo da referida alteração, pois apenas quatro indivíduos do gênero Chrysomya foram coletados, demonstrando que, quase doze anos após o trabalho de Paraluppi (1996), a situação não se alterou em relação à colonização das espécies deste gênero na região.

Comparando os três ambientes com base nas duas primeiras coletas, as matas e clareiras naturais apresentaram abundância de califorídeos maiores do que as clareiras artificiais (Tabela 2 e Figura 1). Apesar das mesmas três espécies terem predominado nos diferentes ambientes (Figura 2), a espécie E. randa foi mais abundante nos ambientes de clareiras naturais e matas. Os mesembrinelineos de maneira geral apresentam hábito silvestre, vivendo em matas densas e úmidas (Peris e Mariluis, 1984).

A comunidade de califorídeos é mais diversa nas matas e clareiras naturais, pois estes ambientes apresentaram os maiores índices de diversidade e equitabilidade quando comparado às clareiras artificiais. Os índices de dominância das matas e clareiras naturais foram menores que o das clareiras artificiais (Figura 3). A tendência de redução na diversidade de califorídeos nos ambientes mais antropizados foi registrada por Esposito (1999) na Floresta Nacional de Caxiuanã, Melgaço, PA e no município de Portel, PA.

No entanto, percebe-se que há uma forte influência do ambiente de mata do entorno, tanto nas clareiras naturais quanto nas artificiais. Resultados semelhantes também foram obtidos entre dípteros fitosaprófitos e aves da região, demonstrando que, apesar do forte impacto da produção das clareiras de poços e jazidas, a paisagem do Urucu ainda continua pouco alterada, com forte influência da mata primária (Aleixo et al., 2004).

BIBLIOGRAFIA CITADA

Recebido em 14/03/2008

Aceito em 31/07/2009

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Diversidade de Calliphoridae (Insecta: Diptera) na base de extração petrolífera da Bacia do Rio Urucu, na Amazônia brasileira

Diversity of Calliphoridae flies (Insecta: Diptera) in the oil extraction field of Rio Urucu basin, in brasilian Amazonian

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  04 Out 2010
• Data do Fascículo
  Set 2010

Histórico

• Recebido
  14 Mar 2008
• Aceito
  31 Jul 2009