CORRELAÇÃO CLÍNICO-RADIOGRÁFICA
Caso 6/2010 - Lactente de 14 meses, do sexo feminino, com coarctação dupla da aorta, em região ístmica
Edmar Atik; Patricia O. Marques; Fabiana M. Passos
Hospital Sírio Libanês, São Paulo, SP - Brasil
Correspondência Correspondência: Edmar Atik Rua Dona Adma Jafet, 74 conj.73 - Bela Vista 01308-050 - São Paulo, SP - Brasil E-mail: conatik@incor.usp.br eatik@cardiol.br
Palavras-chave: Cardiopatias congênitas; coarctação da aorta; procedimentos cirúrgicos cardíacos.
Dados clínicos
A paciente manteve-se assintomática e com bom desenvolvimento pôndero-estatural desde a descoberta da cardiopatia congênita, com 12 dias de vida, em vigência de infecção neonatal.
Ao exame físico, apresentava bom estado geral, eupneica e corada, com pulsos amplos em membros superiores e ausentes nos membros inferiores. Pesava 9.150 g, pressão arterial no membro superior direito: 120/80 mmHg, pressão arterial no membro inferior direito: 80 mmHg, FC: 120 bpm. A aorta não era palpada na fúrcula.
No precórdio, não havia impulsões na borda esternal esquerda e o ictus não foi palpado. As bulhas cardíacas eram normofonéticas e havia sopro sistólico discreto, + de intensidade, na área aórtica, sem irradiação. O fígado não era palpado.
O eletrocardiograma mostrava ritmo sinusal e não havia sobrecargas atrial e ventricular. O complexo QRS exibia morfologia rS em V1, qRs em V6 e repolarização ventricular normal. ÂQRS estava + 90 graus, ÂP a +60º e ÂT a +50º.
Imagem radiográfica
Mostra área cardíaca discretamente aumentada à custa do arco ventricular arredondado, com trama vascular pulmonar normal e pedículo vascular ligeiramente aumentado (Figura1).
Impressão diagnóstica
A imagem é compatível com o diagnóstico de cardiopatia que se acompanha de obstrução ao fluxo de sangue do lado esquerdo do coração. A maior proeminência do pedículo vascular pode orientar à presença da aorta dilatada, o que sugere o diagnóstico da coarctação da aorta.
Diagnóstico diferencial
Todas as demais cardiopatias congênitas acianogênicas com obstrução ao fluxo sanguíneo devem ser lembradas, como a estenose aórtica e mesmo as do lado direito, como a estenose pulmonar, mesmo na ausência de dilatação do arco médio.
Confirmação diagnóstica
Os elementos clínicos foram decisivos para o diagnóstico da coarctação da aorta. O ecocardiograma confirmou a existência do defeito vascular na região ístmica, com 3 mm de diâmetro. A ressonância magnética salientou a presença de dois estreitamentos nessa região. O primeiro logo após a emergência da artéria subclávia esquerda e o segundo logo a seguir de discreta dilatação na própria aorta descendente (Figura 2).
Conduta
À operação, através incisão látero-posterior esquerda, duas constrições no istmo da aorta foram identificadas, a primeira na altura do canal arterial, e a outra, após a emergência da artéria subclávia esquerda. A ressecção dessa região, através de anastomose término-terminal com a croça, permitiu diâmetro adequado da aorta. Como resultado houve resolução do quadro obstrutivo aórtico, após controle da hipertensão arterial paradoxal acentuada com o uso de nitroprussiato de sódio, anlodipina, propranolol e captopril.
Comentários
Nesse caso de coarctação da aorta na região ístmica, chama a atenção a presença de dois estreitamentos nítidos e subsequentes, com dilatação tecidual entre ambos. Essas constrições podem ter sido formadas por tecido ductal mais proeminente nas mesmas, com maior preservação entre elas. Essa diversidade anatômica é inusitada em coarctação da aorta, na região ístmica. Era falsa a impressão de arco aórtico hipoplásico evidenciado pela ressonância magnética.
Artigo aceito em 30/07/09; revisado recebido em 12/11/09; aceito em 12/11/09.