Apresentação
Dos sete artigos publicados neste número, três contêm o texto de trabalhos apresentados no "Colóquio Temático de Filosofia Analítica - Internalismo e Externalismo", realizado nos dias 23 e 24 de outubro de 2003, em Belo Horizonte. No primeiro artigo, Hilan Bensusan procura mostrar como a epistemologia deve reconhecer que nossas razões já estão no mundo, e não aquém dele, o que explica como elas podem ser objetivas. Na linha de J. McDowell, Bensusan aproxima discussões típicas da tradição analítica da crítica hegeliana à compreensão instrumental da prática de dar razões. Sofia Inês Albernoz Stein, no segundo artigo, defende a importância das vivências nos enunciados estruturais em Der Logische Aufbau der Welt de R. Carnap. Essas características inerentes às experiências elementares são particularmente importantes para a determinação do conteúdo desses enunciados. No terceiro artigo, Ernesto Perini-Santos examina argumentos pró e contra a aceitação de conteúdos não conceituais - em particular, o modo como a fineza de distinções perceptivas pode ser integrada à experiência. A atribuição local de tais conteúdos não impede a aplicação de limitações racionais a atitudes proposicionais nas quais eles figuram. O autor sugere que isso permite evitar alguns problemas que surgem tanto para os que defendem quanto para os que recusam essa noção. Os três artigos procuram examinar a objetividade do nosso pensamento, como podemos pensar e falar, ou como de fato pensamos e falamos do mundo em que vivemos. Trata-se, de fato, de um problema central, senão do problema central em discussões acerca de teorias internalistas e externalistas na epistemologia, na filosofia da mente e na filosofia da linguagem. Eles são resultados e amostras parciais das ricas discussões do colóquio.
Os demais artigos tratam de um tema comum, a que poderíamos chamar estatuto da percepção sensível na filosofia francesa desde Descartes até a contemporaneidade desconstrucionista, passando pelo marco merleau-pontyano. Assim, ainda que não se possa incluir Hannah Arendt na tradição francesa, o artigo de Bethânia Assy, sobre uma possível dimensão ética da visibilidade, não deixa de colocar a filósofa em diálogo com Merleau-Ponty e com Henri Bergson. Por sua vez, Ethel Menezes Rocha problematiza a tese cartesiana que nega a sensação aos animais não-humanos, o que compromete de modo inevitável, como demonstra a autora, a atribuição de sensações aos animais humanos. Luiz Damon Santos Moutinho discute a crítica de Merleau-Ponty ao idealismo moderno, bem como sua tentativa de superação da separação entre sensibilidade e entendimento, mostrando que tanto o conceito de forma quanto o do aspecto temporal da percepção desempenham uma função quase estratégica. Stéphane Huchet expõe os desdobramentos mais recentes da mesma temática, analisando as experimentações e conquistas da filosofia francesa contemporânea. Para tratar de uma hipótese original, que tenta reunir o estético ao ético, o autor convocou a obra de autores como Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Jean-Luc Nancy e Michel Serres.
Completam este número as resenhas de Fernando Rey Puente sobre o livro Être et Don. Simone Weil et la Philosophie, de E. Gabellieri, e de Guaracy Araújo sobre o livro Epistemologia das Ciências Humanas. Tomo 1: Positivismo e Hermenêutica, de Ivan Domingues.
Ernesto Perini-Santos
Virginia Figueiredo
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
09 Maio 2006 -
Data do Fascículo
Dez 2004