Open-access Is professional recognition in plastic surgery related to activity in research

O reconhecimento profissional na cirurgia plástica está correlacionado com atividade em pesquisa

Abstracts

OBJECTIVE:  To evaluate the relation of medical research, with the participation of prominent plastic surgeon in Congress.

METHODS:  We reviewed the scientific programs of the last 3 Brazilian Congress of Surgery, were selected 21 Brazilian plástic surgeons invited to serve as panelists or speakers in roundtable sessions in the last 3 congresses (Group 1). We randomly selected and paired by other members (associates) of the Brazilian Society of Plastic Surgery, with no participation in congress as speaker (Group 2). We conducted a search for articles published in journals indexed in Medline, Lilacs and SciELO for all doctors selected during the entire academic career and the last 5 years from March 2007 until March 2012. We assessed the research activity through the simple counting of the number of publications in indexed journals for each professional. The number of publications groups was compared.

RESULTS:  articles produced throughout career: Group 1- 639 articles (average of 30.42 items each). Group 2- 79 articles (mean 3.95 articles each). Difference between medias: p <0.001.

CONCLUSION:  The results demonstrate that the Brazilian Society of Plastic Surgery seeking professionals with a greater number of publications and journals of higher impact. This approach encourages new members to pursue a higher qualification, and give security to congressmen, they can rely on the existence of a technical criterion in the choice of speakers.

Surgery, Plastic; Congresses; Research; Bibliography as topic


OBJETIVO:  avaliar a relação da atividade médica em pesquisa com a participação de destaque, em congressos, do cirurgião plástico.

MÉTODOS:  analisamos os programas científicos dos três últimos congressos brasileiros de Cirurgia Plástica. Foram selecionados 21 palestrantes brasileiros convidados como conferencistas ou palestrantes nas sessões de mesa redonda (Grupo 1). Selecionamos aleatoriamente e por pareamento, outros membros (associados ou titulares) da sociedade, mas não palestrantes (Grupo 2). Foi realizada busca de artigos publicados em revistas indexadas ao Medline, Lilacs e SciELO por todos os médicos selecionados, durante toda a carreira acadêmica e de março de 2007 até março de 2012. Avaliamos a atividade em pesquisa através da contagem simples do número de publicações nas revistas indexadas para cada profissional. O número de publicações dos grupos foi comparado.

RESULTADOS:  artigos produzidos durante toda carreira: Grupo 1 - 639 trabalhos (média de 30,42); Grupo 2 - 79 trabalhos (média de 3,95). Diferença entre as médias: p<0,001. .

CONCLUSÃO:  os resultados demonstram que a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica colocou os especialistas com maior numero de publicações e, em revistas de maior impacto como palestrantes em seus congressos. Essa conduta estimula os novos membros a buscar uma maior qualificação e dá segurança aos congressistas, que podem confiar na existência de um critério técnico na escolha dos palestrantes.

Cirurgia Plástica; Congressos; Pesquisa; Bibliografia como assunto


INTRODUÇÃO

As pesquisas científicas geralmente são relacionadas com a pós-graduação estrito senso, em particular com o doutorado. No mundo acadêmico em geral, a moeda corrente é o artigo científico, e é esta produção que proporciona inclusive ganhos monetários e simbólicos adicionais para o pesquisador1.

Essa valorização acentuada da pesquisa tem gerado grande aumento da produção científica brasileira, tanto em quantidade como em qualidade. Um indicador desse crescimento é a participação brasileira na produção científica internacional, por meio de artigos científicos publicados em revistas internacionais e da internacionalização de nossos periódicos1 , 2.

O destaque que o médico alcança durante sua carreira profissional, é resultado de sua atuação clínica e de realizações na sua especialidade. Assim como ocorre em qualquer atividade, a posição, remuneração e o reconhecimento entre seus pares, é fruto de trabalho intenso e do talento natural de cada profissional3. Entre os médicos, ser convidado como palestrante em congresso é também receber destaque especial. Em congressos médicos, existe um sentimento velado de que alguns dos palestrantes seriam convidados por relacionamento pessoal ou indicação de conveniência política. O palestrante ganha visibilidade e até forma opinião entre seus colegas. Nos casos de grande envolvimento, torna-se referência com repercussões em seu consultório particular2. Entendemos como visibilidade a exposição do médico aos seus colegas, ao ser convidado como palestrante em eventos médicos. O objetivo do presente estudo foi avaliar a relação da atividade médica em pesquisa com a participação de destaque, em congressos, do cirurgião plástico.

MÉTODOS

Analisamos os programas científicos dos três últimos congressos brasileiros de Cirurgia Plástica e selecionamos 21 cirurgiões plásticos brasileiros convidados para atuarem como conferencistas ou palestrantes (Grupo 1) nas sessões de mesa redonda. Após essa etapa, selecionamos aleatoriamente e por pareamento, outros membros (associados ou titulares) da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), mas não palestrantes (Grupo 2). Na alocação dos grupos, respeitamos uma proporcionalidade por estado e por tempo de formatura.

Foram pesquisados os artigos publicados, em revistas indexadas no Medline, Lilacs e SciELO, por todos os médicos selecionados, durante toda a carreira acadêmica, desde o primeiro artigo publicado, período anterior a março de 2007, até março de 2012 e dos últimos cinco anos de março de 2007 até março de 2012.

Avaliamos a atividade em pesquisa através da contagem simples do número de publicações nas revistas indexadas para cada especialista. O número de publicações dos palestrantes foi comparado ao número de publicações de médicos, também sócios da SBCP, mas que não foram palestrantes. Selecionamos as dez revistas com maiores números de publicações pelos autores e três com maior fator de impacto e melhor classificação Qualis4. Realizamos comparações entre os dois grupos.

Pareamos os grupos de cada estado por tempo de formatura dos associados. Evitamos assim, comparações entre médicos com tempo de atuações profissionais muito distintas. Utilizamos o teste estatístico t de "Student" para comparação dos grupos, adotando-se nível de significância para p<0,05.

RESULTADOS

As revistas com o maior número de publicações de cada grupo podem ser vistas nas figuras 1 e 2. Foram selecionados 21 palestrantes (Grupo 1) e 20 médicos sócios da SBCP não palestrantes (Grupo 2). O Grupo 1 publicou um total de 639 manuscritos (média de 30,42 artigos); o Grupo 2, um total de 79 manuscritos (média de 3,95 artigos).

Figura 1
Distribuição dos artigos publicados pelo Grupo 1, por revista.

Figura 2
Distribuição dos artigos publicados pelo Grupo 2, por revista.

Nos últimos cinco anos o Grupo 1 publicou 84 manuscritos (4 por autor) em revistas brasileiras e 44 (2,1 por autor) em revistas estrangeiras e o Grupo 2, 18 manuscritos (0,9 por autor) em revistas brasileiras e 13 (0,65 por autor) em revistas estrangeiras (Figuras 3 e 4). O Grupo 1 publicou 53,9% dos artigos em revistas de maior impacto e com melhor classificação Qualis, com 31% das publicações na Revista Brasileira de Cirurgia Plástica e o Grupo 2 apresentou 10,76% dos artigos publicados em revistas de maior relevância sobre Cirurgia Plástica (Tabela 1). O Grupo 1 publicou, estatisticamente, mais trabalhos científicos que o Grupo 2 - média de 30,42 publicações para cada palestrante e 3,95 por membros da SBCP não palestrantes (p<0,001).

Figura 3
Distribuição dos artigos publicados nos últimos cinco anos pelo Grupo 1.

Figura 4
Distribuição dos artigos publicados nos últimos cinco anos pelo Grupo 2.

Tabela 1
Distribuição dos artigos publicados nas revistas de maior fator de impacto e melhor classificação Qualis.

DISCUSSÃO

Não se forma um bom pesquisador só no doutorado. Ele tem que começar a ser formado na graduação. E esta formação demanda que se supere um modelo que pode banalizar a própria pesquisa, quando seu "ensino" se circunscreve ao ensino de algumas técnicas de pesquisa ou à participação pontual e mecânica em alguma pesquisa já iniciada. A boa formação científica, na compreensão e no uso dos diferentes métodos, possibilita também uma leitura crítica da produção publicada nas revistas científicas.

O sucesso profissional tem como consequência o inevitável convite para eventos, entrevistas e matérias em meio jornalístico leigo. Através da intensidade e qualidade da produção científica, seria possível diferenciar o profissional de destaque, entre os convidados apenas bem relacionados e com conhecimento teórico insuficiente ou produção profissional irrelevante. A atividade em pesquisa se traduz principalmente pelo número de publicações, fator de impacto da revista e pelo número de citações que o autor recebeu3. Por outro lado, a produtividade científica é apenas um aspecto dos desafios que a evolução da medicina experimenta. Médicos com grande experiência prática não devem ser desqualificados porque têm uma grande contribuição a oferecer2.

Poderia ser argumentado que a dedicação para escrever um trabalho é inútil se ninguém o lê. Claramente, é impossível avaliar se trabalhos de investigação foram lidos, mas é possível identificar quando eles têm sido citados, o que é demonstrado pelo fator de impacto5. O número de publicações, as citações recebidas pelo autor e o fator de impacto da revista em que o trabalho foi publicado trazem uma boa noção da intensidade e qualidade da produção científica do autor. Trabalhos de visibilidade internacional (listadas no Science Citation Index database) ou local da publicação (publicações em língua nativa de revistas não indexadas) somam-se ao número de citações recebidas e fator de impacto da revista, e podem ser facilmente acessados na internet. Esses dados são usualmente utilizados em seleção profissional, para financiamento de pesquisa, e estão relacionados à exposição do profissional3.

Um dado interessante do estudo é a maior concentração das publicações do Grupo 1 em revistas de maior impacto e melhor classificação pelo Qualis (53,9%). Com isso estes autores alcançam uma maior visibilidade, pois são mais lidos e, consequentemente, mais reconhecidos. O Qualis é uma medida indireta que avalia a qualidade do periódico, com base no fator de impacto, calculado de acordo com a quantidade de vezes que um artigo é citado por outros artigos6. Os dados dos últimos cinco anos de publicação dos dois grupos mostram um aumento na produção científica do Grupo 2, com 51% dos artigos publicados neste período, o que sugere que estes cirurgiões estão buscando uma maior visibilidade profissional.

Um melhor desempenho, mesmo que discreto, confere ao vencedor todos os créditos e benesses. O profissional de sucesso transmite benefícios simultâneos e, no caso dos médicos, os beneficiários seriam eles mesmos (de forma pessoal), os pacientes em geral e os médicos que, com maior conhecimento adquirido, evoluem na carreira. No Brasil, a pesquisa pouco atrai os médicos envolvidos exclusivamente em assistência. O hábito de manter um banco de dados, publicar seus resultados e discuti-los com a literatura, mantém o cirurgião atualizado e o diferencia, direcionando sua prática à uma área específica. Com o maior conhecimento adquirido e com interesse focado em um assunto particular, o médico tem o potencial de tornar-se um expert com condições de propor refinamentos técnicos ou novos tratamentos.

Uma tendência observada em congressos recentes é dar exclusividade aos convidados estrangeiros nas sessões de conferência. Os poucos palestrantes brasileiros seriam médicos de grande renome e experiência, habitualmente com um volume grande publicações.

Estratificamos os grupos de cada estado por tempo de formatura dos associados. Não foi possível obter-se a idade de cada médico. Evitamos assim, comparações entre médicos com tempo de atuações profissionais muito distintas. Um cirurgião plástico, imediatamente após o término de sua residência, dificilmente seria um palestrante no congresso da SBCP, e, certamente, teria menor número de publicações que um médico sênior de um serviço, com grande volume de publicações.

Os nossos resultados demonstram que a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica insere, cada vez mais, os especialistas cientificamente qualificados como palestrantes em seus congressos. Essa conduta estimula os novos membros a buscar uma maior qualificação e dá segurança aos congressistas, que podem confiar na existência de um critério técnico na escolha dos palestrantes.

REFERÊNCIAS

  • 1 Palácios M. Pesquisa científica como eixo integrador da formação e prática médica. Rev bras educ méd. 2011;35(4):443-4.
  • 2 Teixeira RKC, Silveira TS, Botelho NM, Petroianu A. Citação de artigos nacion ais: a (des)valorização dos periódicos brasileiros. Rev Col Bras Cir. 2012;39(5):421-4.
  • 3 Brenner AS, Lima VZ, Varaschim M, Varella PZ, Lima BZ, Brenner S. Visibilidade em coloproctologia está correlacionada com atividade em pesquisa. Rev bras colo-proctol. 2008;28(3):319-23.
  • 4 Sistema Integrado Capes [homepage na internet]. Webqualis. Disponível em: http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam
    » http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam
  • 5 Reynolds TM, Wierzbicki AS. Does activity in research correlate with visibility? J Clin Pathol. 2004;57(4):426-7.
  • 6 Silva AL. Capes e revista de impacto. Rev Col Bras Cir. 2011;38(6):371.
  • Fonte de financiamento: nenhuma.

Publication Dates

  • Publication in this collection
    May-Jun 2014

History

  • Received
    10 May 2013
  • Accepted
    20 Aug 2013
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