Open-access PAULO FREIRE: PRESENTE! LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO EM EDUCAÇÃO & SOCIEDADE

PAULO FREIRE: PRESENT! BIBLIOGRAPHIC SURVEY IN EDUCAÇÃO & SOCIEDADE

PAULO FREIRE: ¡PRESENTE! ENCUESTA BIBLIOGRÁFICA EN EDUCAÇÃO & SOCIEDADE

RESUMO

Com ampla produção, a obra de Paulo Freire é referência para diferentes pesquisadores do campo educacional. Parte da seção comemorativa do centenário do autor, o presente artigo se dedica a compreender sua presença na revista Educação & Sociedade, por meio de levantamento bibliográfico. Para tanto, consultamos os 41 volumes, publicados entre 1978 e 2020, localizando todos os textos que referenciaram Freire e sua obra. Além do mapeamento por ano e da catalogação das obras citadas, procuramos identificar os conceitos freireanos utilizados. Como resultado desse levantamento, destacamos dez dimensões conceituais, sendo os conceitos mais frequentemente empregados relacionados a “Pedagogia do oprimido/Libertação”, “Diálogo/Dialogicidade/Comunicação dialógica”, “Método Paulo Freire” e “Mudança/Transformação social”.

Palavras-chave Paulo Freire; Educação; Levantamento bibliográfico; Educação & Sociedade

ABSTRACT

With a wide production, Paulo Freire’s work is a reference for different researchers in the educational field. Part of the commemorative section of the author’s centenary, this article is dedicated to understanding his presence in the journal Educação & Sociedade (from the Portuguese, Education and Society), through a bibliographical survey. Therefore, we consulted the 41 volumes, published between 1978 and 2020, locating all the texts that referenced Freire and his work. In addition to mapping by year and cataloging the works cited, we sought to identify the Freirean concepts used. As a result of this survey, we highlight ten conceptual dimensions, being the concepts most frequently used related to “Pedagogy of the oppressed/Liberation”, “Dialogue/Dialogicity/Dialogic communication”, “Paulo Freire Method”, and “Change/Social transformation”.

Keywords Paulo Freire; Education; Bibliographic survey; Educação & Sociedade

RESUMEN

Con una amplia producción, la obra de Paulo Freire es referencia para diferentes investigadores en el campo educativo. Este artículo, que forma parte de la sección conmemorativa del centenario del autor, está dedicado a comprender su presencia en la revista Educação & Sociedade (desde el português, Educación y Sociedad), a travês de una búsqueda bibliográfica. Para eso, consultamos los 41 volúmenes, publicados entre 1978 y 2020, localizando todos los textos que hacían referencia a Freire y su obra. Además de mapear por ano y catalogar las obras citadas, buscamos identificar los conceptos freireanos utilizados. Como resultado de esta búsqueda, destacamos diez dimensiones conceptuales, siendo los conceptos más frecuentemente utilizados relacionados a “Pedagogia del oprimido/ Liberación”, “Diálogo/Dialogicidad/Comunicación dialógica”, “Mêtodo Paulo Freire” y “Cambio/Transformación social”.

Palabras-clave Paulo Freire; Educación; Búsqueda bibliográfica; Educação & Sociedade

Figura 1
Paulo Freire1

Paulo Freire (1921-1997), representado na Fig. 1, ê o educador brasileiro mais conhecido nacional e internacionalmente. No ano em que comemoramos o que seria seu centenário, o Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES) e a revista Educação & Sociedade dedicam uma seção comemorativa a fim de olhar atenta e cuidadosamente para seu legado.

Com ampla produção, entre cartas, entrevistas, ensaios, artigos e livros, a obra de Freire permanece como referência para diferentes pesquisadores das ciências humanas. Compondo a seção comemorativa do centenário do autor, o presente artigo se dedica a compreender sua presença na revista supracitada. Para tanto, delineamos uma investigação bibliográfica em que foram consultados os volumes completos publicados pela revista, em seus quase 43 anos de existência.

Importância e Atualidade de Freire

Ao situar a conjuntura nacional, explicitando que, no programa de governo do atual presidente do Brasil, está registrada a pretensão de “expurgar a ideologia de Paulo Freire”, Kohan (2019) nos conta que essa pretensão surpreende a muitos, já que Freire é o educador brasileiro mais conhecido internacionalmente, tendo sua obra e seus conceitos estudados em muitos países.

Fora do país, onde tive oportunidade de apresentar em diversos contextos essa situação, a impressão é sempre a mesma: como assim, expurgar a ideologia de Paulo Freire da educação brasileira? Nada menos que Paulo Freire? O mesmo que escreveu o terceiro livro mais citado do mundo das ciências sociais, segundo uma pesquisa no Google Scholar? Aquele que tem o grupo de trabalho mais numeroso e produtivo da American Educational Research Association (AERA)? O que recebeu o título de honoris causa de universidades em cinco continentes? Um dos poucos brasileiros, senão o único, a constar em programas de filosofia da educação de universidades mundo afora?

(KOHAN, 2019, p. 273)

Essa dimensão internacional de Freire fica bastante evidente no livro organizado por Peters e Besley, Paulo Freire: The Global Legacy (2015). Organizado em três seções, a segunda delas traz as abordagens freireanas usadas em várias partes do mundo: “Austrália, África Subsaariana, Reino Unido, Brasil, República Democrática do Congo, Nova Zelândia, Paquistão, Sri Lanka, Japão e Emirados Árabes Unidos” (PETERS; BESLEY, 2015, p. 11).

Peter MacLaren (1998), pouco depois da morte de Paulo Freire, registra a importância do brasileiro no campo educacional e assinala que o autor brasileiro foi um dos primeiros internacionalmente reconhecidos a tratar da inter-relação entre educação, política, imperialismo e libertação. Em um retorno histórico, evidencia a influência e o legado de Freire em diferentes países no período em que esteve exilado do Brasil em decorrência do golpe cívico-militar de 1964.

Foram dezesseis anos de exílio, no Chile, nos EUA, na Suíça e na Guiné-Bissau, com importantes produções e reflexões no campo da educação, as quais expõem não apenas uma incursão teórico-reflexiva das questões por ele postuladas, mas sua atuação comprometida e implicada no campo educacional, aspecto extremamente coerente com sua propositura da práxis como instrumento primordial da atuação dos educadores. Nas palavras do próprio autor:

As experiências que tive em África, na Ásia, na Europa, na América Latina, nas Caraíbas, nos Estados Unidos, no México e no Canadá, discutindo com educadores dos vários países os problemas fundamentais dos seus sistemas educativos; a minha participação em cursos e seminários de universidades norte-americanas, latino-americanas, africanas, europeias e asiáticas; os meus encontros com líderes de diversos movimentos de libertação em África e na América Latina, tudo isto está guardado na minha memória, não como algo do passado ou algo que passou, um objecto de recordações nostálgicas. Pelo contrário, tudo isto está bem vivo. E, quando penso em tudo isto, algo me faz acreditar que uma das marcas mais nítidas da minha trajectória profissional é a busca contínua da unidade entre teoria e prática. É neste sentido que os meus livros, bons ou maus, são crónicas teóricas “daquilo que foi feito” em ligação aos acontecimentos em que estive envolvido

(FREIRE apud MACLAREN, 1998, p. 62, grifos do autor).

Patrono da educação brasileira desde 2012, por meio da Lei n. 12.612 – sancionada durante o primeiro governo da presidenta Dilma Rousseff –, é difícil negar sua importância dentro do campo da educação. Nóvoa nos remete a isso ao registrar a homenagem de entrega do título de Doutor Honoris Causa a Freire na Universidade de Lisboa, em 1996, um ano antes de sua morte:

É conhecida a imperfeição, talvez mesmo injustiça, com que tratamos os nossos. E Paulo Freire é, definitivamente, um dos nossos. Ele é o mais importante pedagogo de língua portuguesa do século XX. A sua vida e a sua obra impõem-no como uma referência obrigatória, uma vez que transporta memórias e conceitos essenciais para o esforço científico de pensar a educação e a escola. A designação de pedagogo, hoje em dia reservada apenas para os grandes pedagogos, cola bem à pele deste homem, que cruza o pensamento humanista cristão com uma ideologia de transformação social. Paulo Freire é uma personalidade apaixonante, que sabe que o seu contributo vai muito além de sua existência como homem, e que sabe também que, num certo sentido, a sua obra já não lhe pertence. Hoje, aos 74 anos de idade, a tranquilidade do sábio permite-lhe a liberdade do intelectual, que não renuncia a chamar as coisas pelo nome. E que não cala a indignação perante as misérias do mundo e perante a forma como a educação contribui para estas misérias. Ele sabe, acredita, que tudo pode ser diferente (1998, p. 172).

Mais que comemorar o centenário desse que é “um dos nossos”, o mais conhecido educador brasileiro, reconhecer a importância de Paulo Freire é contribuir com os processos de resistência. Em momento que, como bem pontua Arroyo, a opressão não apenas continua, mas seus processos se aperfeiçoam em refinamentos e os oprimidos aumentaram, sendo inclusive decretados como criminosos e extermináveis, “somos obrigados a repor o pensamento de Paulo Freire” (2019, p. 3).

Aspecto observável em Walsh (2021), que ao buscar debater como podemos pensar sobre a pedagogia e a educação formal em tempos de Covid-19, racismo estrutural, ganância capitalista, desemprego e desterritorialização, toma Freire como fonte de diálogo. Precisamos, portanto, reafirmar a força das ideias freireanas, a fim de fazermos frente aos retrocessos que temos vivenciado nos últimos anos no campo social, como um todo, e no educacional, de forma mais específica, realimentando o sonho de uma sociedade verdadeiramente democrática e justa, livre das opressões.

Nessa via, analisar como o autor tem se feito presente na revista Educação & Sociedade nos pareceu um caminho promissor em dois sentidos: por um lado, colaboramos com a merecida homenagem prestada pela revista ao grande educador brasileiro e, por outro, contribuímos com o realimentar da luta contra as antigas e novas formas de opressão que têm buscado nos vencer, negando e retirando direitos já conquistados. Confirmando essa perspectiva, o editorial do número 4 da revista já é bastante emblemático. Registrando o significado pedagógico da presença de Freire após o exílio, lembra-nos que as posições na história podem ser alteradas.

Paulo Freire nos faz lembrar que o Brasil tem uma história da educação importante, que, na evolução dessa história, educadores, representando tendências diferentes a até contraditórias se defrontaram. Paulo Freire nos faz lembrar que toda condição de vencido também é histórica, como as ideias

(COMITÊ EDITORIAL, 1979, p. 3).

Resta-nos tomar a lição dada por Freire ao voltar ao Brasil e buscar reaprender nosso país, retomando e reinventando os conceitos que poderão nos mobilizar a agir. Registra-se, no mesmo editorial, que Freire não foi ingênuo de tentar trazer as soluções dos problemas educacionais deste país em sua mala. Pelo contrário, ao descer no aeroporto de Campinas (SP), afirmou imediatamente o desejo de “reaprender” o Brasil, porque tinha a clareza de que aplicar suas ideias significava exatamente isso: “reaprendê-las no novo contexto brasileiro, vale dizer, reinventá-las” (COMITÊ EDITORIAL, 1979, p. 3).

Assim como na Pedagogia da Esperança (FREIRE, 1992b), em que Freire se coloca contra a desesperança, derivada do sentimento de impotência diante dos acontecimentos, caso regressasse hoje, certamente não se furtaria a “reaprender” o Brasil. Ele nos convidaria a reconstruir o significado de suas ideias, rumo à continuidade da luta.

Na entrevista dada ao Jornal da Educação, do CEDES, em 1980, Freire afirma a necessidade de se partir do concreto para entender e atuar na realidade. Declara: “Tive tempo de pensar, ver e começo a aprender muito [...] O ponto de partida é o aqui e o agora” (PAULO..., 1980, p. 5).

Nesse mesmo espírito, parecem bastante acertadas as palavras de Gadotti:

Dar continuidade a Freire não significa tratá-lo como um totem, no qual não se pode tocar, mas se deve apenas adorar; não significa também tratá-lo como um guru, que deve ser seguido por discípulos, sem questioná-lo. Nada menos freiriano do que esta ideia. Paulo Freire foi, sobretudo, um criador de espíritos. Por isso, deve ser tratado como um grande educador popular. Adorar Freire como um totem significa destruir Freire como educador. Por isso não devemos repetir Freire, mas reinventá-lo, como ele mesmo

(1998, p. 122, grifos do autor).

Retomar e entender as contribuições de Freire é continuá-lo, ressignificando seus conceitos de forma a alimentar os processos de resistência. Como bem pontua Marin-Gonzáles, “[...] una concientización actualizada del pensamiento de Paulo Freir, sería de una gran utilidad, para apoyar a la resistencia política y la creación de alternativas, para asumir los problemas que agobian el Brasil de nuestros días” (2020, p. 75). Entender, portanto, como Freire está presente nas produções registradas na história da revista Educação & Sociedade, mais do que nos permitir um panorama dos principais conceitos e obras tomados pelos estudiosos que dialogam com o autor, possibilita-nos retomar o senso de luta, tão urgente na contemporaneidade, em vias de revisitar e reinventar nossas formas de ver e ser no campo educacional, pensando, vendo e aprendendo, aqui e agora.

Paulo Freire em Educação & Sociedade: Um Panorama Geral

Com a intencionalidade de compreender como Paulo Freire, autor e obra, tem se feito presente na revista Educação & Sociedade, procedemos a uma pesquisa de cunho bibliográfico (MARCONI; LAKATOS, 2003), abarcando o levantamento de todos os textos publicados no periódico que referenciaram o autor. Tal mergulho nas publicações da revista exigiu a consulta a seus 41 volumes já finalizados, publicados entre 1978 e 2020, tanto em seu acervo físico, até 1996, quanto virtual, disponível na Scientific Electronic Library Online (SciELO) a partir de 1997.

Como delineamento de busca, definimos o levantamento dos textos publicados nas diferentes seções da revista, a partir da presença do autor entre as referências bibliográficas dos textos ou como foco do debate, como é o caso do editorial do número 4, volume 1, em que se marca a volta de Paulo Freire do exílio (COMITÊ EDITORIAL, 1979).

Importa destacar, a partir do levantamento junto ao acervo físico do CEDES, que a padronização de uma seção voltada ao registro das referências bibliográficas só se fez frequente a partir de meados da década de 1980. Até então, havia vários textos que se utilizavam das notas de rodapé para registrar as obras citadas e outros que, embora não citassem explicitamente o autor no corpo do texto, incluíam uma ou mais de suas obras na seção de referências.2

Nossa busca localizou um total de 89 textos enquadrados no delineamento proposto (“Apêndice”) e permitiu a construção de um panorama geral da presença de Freire nos 43 anos da revista. São 89 textos distribuídos em dois editoriais, uma entrevista com o autor, duas resenhas e 84 artigos, sendo um deles do próprio Paulo Freire no primeiro número da revista. A distribuição temporal nas publicações se revela de forma bastante irregular, como evidenciado na Fig. 2, sendo que, nos últimos nove anos, desde 2012, não houve nenhum volume sem que a presença de Freire pudesse ser registrada.

Figura 2
Frequência de publicações por ano

Embora a referenciação ao autor ou à sua obra apareça nesses 89 textos publicados, a forma como foi utilizada se mostrou bastante diversa e com amplitude e profundidade distintas. Dos 89 textos localizados, 84 referenciam Freire em sua construção textual e cinco, ainda que o elenquem em suas referências bibliográficas, não o citam diretamente. Em uma análise transversal, em que buscamos localizar em que momento e com qual perspectiva Paulo Freire foi citado pelos autores, observamos tanto uma abordagem mais central de sua obra e seus conceitos quanto uma utilização mais periférica do autor.

Dos 84 textos que utilizam explicitamente a obra de Freire, podemos dizer que 25, incluindo o artigo de sua própria autoria, assumem o autor propriamente dito ou se utilizam de seus conceitos de forma central, aqui entendida como o emprego na argumentação analítica do texto. Outros 59 tomam o autor e sua obra de maneira periférica, utilizando suas referências para sustentar afirmações ou reforçar ideias, sem que seus conceitos sirvam como ancoradouro de análises desenvolvidas.

Das obras referenciadas, algumas são mais recorrentemente citadas, enquanto outras são registradas por apenas um texto. Observamos várias edições diferentes de uma mesma obra e a utilização em idiomas também diversos. Além do português, notamos referências em inglês, francês e espanhol. Na Tabela a seguir, apresentamos as obras citadas indicando a frequência com que aparecem, mas sem fazer diferenciação por edição ou idioma. O livro Pedagogia do Oprimido é, sem dúvida, a obra mais emblemática do autor.

Tabela 1
Obras de Freire referenciadas nas publicações

Sem a pretensão de uma categorização dos conceitos freireanos, tarefa para seus estudiosos,3 mas buscando compreender a presença de Freire na revista, optamos por classificar os conceitos citados nas publicações agrupando-os a partir de dimensões e termos presentes na obra de Freire. Para tanto, utilizamos como suporte para a delimitação das dimensões aqui propostas o Dicionário Paulo Freire (STRECK; REDIN; ZITKOSKI, 2010), o qual, segundo seus organizadores, buscou apreender elementos centrais da obra freiriana, delimitando seu significado a partir de um exercício de reflexão rigorosa e metódica, ainda que sem a pretensão de uma significação derradeira das palavras do autor.

Nessa perspectiva, buscamos os conceitos freireanos utilizados nos textos publicados, rotulando-os, inicialmente, a partir dos termos registrados nas próprias publicações para, em seguida, agrupá-los classificando-os em dimensões mais gerais que os comportassem, essas construídas e delimitadas a partir da obra do próprio Freire e com o apoio do Dicionário Paulo Freire. Essa análise focou na localização da citação ao autor e no exame do contexto de sua utilização dentro dos textos publicados.

Como alguns textos tomam o autor e sua obra como elemento central de sua análise, vários deles (dezoito) citam mais de um conceito em sua produção. Por outro lado, alguns dos textos que tomam Freire de forma periférica (seis) não explicitam clara e diretamente os conceitos freireanos com os quais estariam dialogando. Esses últimos referenciam o autor para embasar afirmações ou fazer ponderações pontuais e genéricas, sem contudo aludir a algum de seus conceitos de forma mais específica e explícita, como é o caso, por exemplo, do artigo de Leclerc (2002), o qual, na seção em que debate o Sistema Único de Ensino e a proposição do modelo de Estado democrático, cita Freire, mas sem a identificação específica de algum de seus conceitos; ou o de Semeraro (2014), o qual utiliza Freire apenas para reforçar seu argumento sobre a presença de Gramsci na configuração da produção sobre os movimentos populares brasileiros e latino-americanos.

Sabemos que para ter o Estado atuando na definição da política educacional não se pode atribuir à educação o poder que ela não tem. Não estamos é negando a ela qualquer poder (Freire, 1997)4

(LECLERC, 2002, p. 209).

Paulo Freire – só para citar a figura mais emblemática de um fenômeno que envolve numerosos intelectuais – refere-se a Gramsci em várias ocasiões e elabora não poucos conceitos a partir do seu pensamento

(SEMERARO, 2014, p. 71).

A partir do universo encontrado, passamos à delimitação das dimensões a fim de agruparmos os conceitos utilizados. Ainda que a terminologia apresentada nos textos nem sempre coincida com a delimitada por nós como dimensão, nossa preocupação foi a de agrupar os conceitos apresentados, preservando o significado contextual em detrimento da terminologia exata utilizada nas publicações, como no caso da dimensão “Ação-Reflexão/Práxis” em que unimos publicações que utilizaram a terminologia “ação-reflexão-ação”, “práxis” ou “reflexão” apenas, mas em um mesmo contexto de sentido.

É importante destacar que a utilização de conceitos freireanos nem sempre se dá em concordância com o autor, sendo o agrupamento relacionado ao conceito utilizado, independentemente do posicionamento do artigo em relação a ele. Há textos (quatro) que estabelecem discordâncias ou questionam aspectos importantes da obra de Paulo Freire. Deles, podemos destacar Lôbo Júnior (1986), que constrói uma crítica ao autor tomando a Pedagogia da Libertação como exemplo de populismo na educação e a assemelhando ao movimento escolanovista; ou Medeiros (1991), que distancia sua posição analítica de práxis, baseada em Castoriadis, como mais abrangente que o uso feito na perspectiva freiriana da “ação-reflexão”.

Dimensões Conceituais Freirianas Presentes nas Publicações de Educação & Sociedade

A partir do anteriormente exposto, os conceitos presentes nas publicações analisadas nos permitiram a delimitação de dez dimensões conceituais. Tais dimensões possibilitam observarmos uma utilização diversa e abrangente dos conceitos freireanos na produção registrada na revista Educação & Sociedade, com distribuição de ocorrências bastante distinta entre elas, como explicitado na Tabela 2, a seguir.

Tabela 2
Ocorrências por dimensão

Como podemos mais facilmente visualizar na Fig. 3, de todos os conceitos, os mais frequentemente utilizados se referem às dimensões “Pedagogia do Oprimido/Libertação”, com 21 ocorrências, seguida de “Diálogo/Dialogicidade/Comunicação dialógica”, com quinze ocorrências, “Método Paulo Freire”, com treze ocorrências, e “Mudança/Transformação social”, com onze ocorrências.

Figura 3
Nuvem de palavras - Dimensões conceituais freirianas

Interessa destacar, todavia, que essas dimensões não são completamente separadas entre si, considerando que os conceitos freireanos permeiam-se mutuamente na construção mais ampla do pensamento educacional do autor. Esse aspecto é observado, por exemplo, em Kellner e Share, que, utilizando mais de um conceito freireano, afirmam:

A alternativa de problematização que Freire exercita requer a comunicação dialógica entre alunos e professores, que devem aprender uns com os outros e ensinar uns aos outros. Isso demanda a práxis, a reflexão crítica juntamente com a ação, para que se possa transformar a sociedade (2008, p. 706).

Ação-Reflexão / Práxis

Essa dimensão se refere à reflexão crítica sobre a prática como elemento essencial para a atuação na realidade e sua decorrente transformação. Nas palavras de Kronbauer:

Ação-reflexão é expressão recorrente na obra de Freire. Ela designa o binômio da unidade dialética da práxis, supondo que esta seja o fazer e o saber reflexivo da ação. O saber que realimenta criticamente o fazer, cujo resultado incide novamente sobre o saber e, assim, ambos se refazem continuamente (2010, p. 23).

Nas publicações da revista, observamos essa dimensão, por exemplo, no artigo de Fernandes, em que a autora explicita que a “[...] verdadeira reflexão deve sempre levar à ação; e a ação só está envolvida em uma práxis autêntica, no lugar de um ativismo simples, se os seus resultados são objetos da reflexão crítica” (2016, p. 482).

Conscientização

Essa dimensão se refere ao desenvolvimento de consciência crítica sobre o mundo em que há a mudança da consciência ingênua para a consciência crítica, engajada e alicerçada na práxis, em um movimento que se opõe aos processos de alienação. Nas palavras de Freitas:

A conscientização, compreendida como processo de criticização das relações consciência-mundo, é condição para a assunção do comprometimento humano diante do contexto histórico-social. No processo de conhecimento, o homem ou a mulher tendem a se comprometer com a realidade, sendo esta uma possibilidade que está relacionada à práxis humana. É através da conscientização que os sujeitos assumem seu compromisso histórico no processo de fazer e refazer o mundo, dentro de possibilidades concretas, fazendo e refazendo também a si mesmos (2010, p. 88).

Nas publicações da revista, essa dimensão está presente, por exemplo, no artigo de Santamaría-Rodríguez et al. sobre a formação de professores, em que os autores destacam que a proposta de Freire

[...] es transformar el acto educativo desde la humanización, concienciación, resistencia y emancipación de sus agentes. [...] Freire busca desarrollar una conciencia crítica ante la invasión tecnológica que recae sobre la educación, no porque la tecnología sea nociva en sí misma, sino porque su uso atiende a la ética neoliberal que se impone en la sociedad capitalista del siglo XX y XXI, la cual va en detrimento del ser humano y su proyecto vital. [...] Freire está interesado en transformar la realidad a partir del proceso de concienciación de los sujetos (2019, p. 7-11).

Criticidade

Essa dimensão se refere à capacidade dos homens e mulheres, educandos e educadores, refletirem criticamente a realidade na qual estão inseridos, de forma que se abra a possibilidade de sua transformação. Assume a necessidade do “pensar certo”, em que se passa da “curiosidade ingênua” à “curiosidade epistemológica”. Nas palavras de Moreira:

Essa capacidade exige um rigor metodológico, que combine o “saber da pura experiência” com o “conhecimento organizado”, mais sistematizado. O seu principal objetivo é fazer com que as pessoas e as classes oprimidas, que aceitam esse desafio, possam pensar certo e se constituírem como sujeitos históricos e sociais, que pensam, criticam, opinam, têm sonhos, se comunicam e dão sugestões (2010, p. 97).

Entre os artigos publicados na revista, essa dimensão aparece em Franco e Pimenta (2016) ao tratarem da didática. As autoras reiteram que, para Freire, o desenvolvimento da criticidade é fundamental, sendo que “[...] o educador deve ajudar os alunos a questionar sua realidade, problematizá-la e tornar visível o que antes estava oculto, desenvolvendo novos conhecimentos sobre ela” (FRANCO; PIMENTA, 2016, p. 541).

Diálogo / Dialogicidade / Comunicação Dialógica

Essa dimensão se refere à possibilidade de um encontro horizontal entre homens e mulheres, e deles com o mundo, numa interação que permita o ato de criação rumo à transformação. Nas palavras de Zitkoski, em Freire:

[...] o diálogo é a força que impulsiona o pensar crítico-problematizador em relação à condição humana no mundo. Através do diálogo podemos dizer o mundo segundo nosso modo de ver. Além disso, o diálogo implica uma práxis social, que é o compromisso entre a palavra dita e nossa ação humanizadora. Essa possibilidade abre caminhos para repensar a vida em sociedade, discutir sobre nosso ethos cultural, sobre nossa educação, a linguagem que praticamos e a possibilidade de agirmos de outro modo de ser, que transforme o mundo que nos cerca (2010a, p. 117).

Nas publicações da revista, essa dimensão está presente, por exemplo, em Hirchzon e Copit, quando destacam:

[...] diálogo significa práxis. Não se trata de reflexão intelectual afastada de realidade, nem de prática inócua dissociada de seu significado. Trata-se da interação de ação e reflexão, uma não podendo prescindir da outra, senão à custa de um intelectualismo vazio ou de uma atuação cega. Por esta razão, a mediação do mundo é imprescindível: o conhecimento deste é fundamental para a formação da consciência; a consciência propicia o conhecimento do mundo (1984, p. 155).

Educação Popular / Escola / Formação / Currículo

Essa dimensão se refere à educação em diferentes espaços e contextos, sem menosprezar a importância da instituição escolar. Isso porque a educação ultrapassa os muros da escola e se faz em múltiplos espaços, sendo essencialmente ação política e, portanto, não neutra. Nas palavras de Paludo:

Em síntese, para Freire, a expressão educação popular designa a educação feita com o povo, com os oprimidos ou com as classes populares, a partir de uma determinada concepção de educação: a educação Libertadora, que é, ao mesmo tempo, gnoseológica, política, ética e estética (2010, p. 139).

Ainda que tome os espaços não formais como campo de educação popular, a instituição escolar, seu currículo e a formação política de seus profissionais tiveram importante lugar analítico na obra do autor, por poderem servir tanto para a manutenção das relações de opressão quanto para a sua superação, rumo à transformação social. Sendo vista como espaço de relações sociais e humanas, a escola é tomada como importante cenário de luta pelas formações crítica, ética, estética, política e emancipatória da população.

Nas publicações da revista, observamos essa dimensão, por exemplo, no artigo de Zamora, que, ao falar dos jardins infantis comunitários no Chile, permite-nos observar a amplitude do conceito freireano, ao afirmar que “[...] estos programas tienen una base teórica crítica, muy permeada por el pensamiento de Paulo Freire, ya que surgen de contextos comunitarios y territoriales concretos centrados en las necesidades de los niños y niñas y con participación parental” (2020, p. 3).

Humanização / Desumanização

Essa dimensão se refere à defesa do autor de uma construção constante da humanização dos homens e mulheres, do que ele chama de “ser mais” e da luta contra a desumanização dos oprimidos. Nas palavras de Zitkoski:

A pedagogia freiriana assume posição radicalmente comprometida com as lutas por humanização e resistência contra toda e qualquer forma de desumanização em relação à vida concreta das pessoas. [...] A luta pela superação das situações-limite em que nos encontramos condicionados é a razão de ser de nossa existência e o impulso prático a partir do qual nos humanizamos por sermos capazes de construirmos novos sentidos e formas de viver no mundo. Esse é o caminho que nos aponta Freire enquanto seres dotados de capacidade ético-política para intervir no mundo e construir algo novo na história. Ou seja, somos seres do inédito viável, pois ainda não somos totalmente prontos, viemos nos fazendo na história e podemos sempre nos reinventar segundo a busca por mais humanidade (2010b, p. 2010).

Entre os artigos publicados na revista, Streck toca nesta dimensão ao tratar da mudança no cenário educacional. Analisando o que chama de “pedagogias da exclusão” e tomando a Pedagogia do Oprimido, afirma que “[...] continua o desafio do trânsito da consciência, do ser humano e da sociedade em direção ao ser mais” (STRECK, 2009, p. 555, grifos do autor).

Método Paulo Freire

Essa dimensão se refere tanto à proposição pedagógica mais específica do autor para a alfabetização de adultos quanto ao horizonte mais amplo de defesa de práticas pedagógicas que valorizem a cultura dos educandos. Apresenta algumas ações que vinculam a aprendizagem e o exercício de “leitura da palavra” ao que o autor chamou de “leitura do mundo”, em que a experiência e as dimensões sociais, culturais e políticas não são desvinculadas da prática pedagógica, sendo valorizadas. Nas palavras de Brandão:

O Método Paulo Freire de alfabetização e educação de adultos realiza-se em sua geometria didática com pessoas ao redor de um círculo de cultura. E ele se inicia com um diálogo em que, através de sucessões de imagens sugestivas, os educandos se descobrem como seres do mundo da cultura. Um mundo criado por eles por meio do trabalho, da práxis (2010, p. 263).

Nas publicações da revista, observamos essa dimensão tanto diretamente relacionada à análise dos processos de alfabetização quanto de forma mais ampla, à forma de vinculação entre a prática pedagógica e o contexto sociocultural e político. Entre outros, o artigo de Faundez sobre o método Paulo Freire registra, na nota de rodapé número 4, que:

[...] Se é verdade que grande parte de sua contribuição em matéria de ensino provém de experiências feitas no Brasil ou em outros países da América Latina – o que aparece claramente em suas obras desse período e na elaboração do que conhecemos pelo nome Método Paulo Freire –, acreditamos que o trabalho que ele realizou durante sua permanência no Conselho Mundial das Igrejas e seu encontro com a África – e, sobretudo, com São Tomé e Príncipe - contribuiu enormemente para enriquecer sua prática e sua teoria pedagógica (1984, p. 76-77).

Mudança / Transformação Social

Essa dimensão se refere ao processo pelo qual podemos contrapor o existente em vias de sua superação, a partir da intervenção e da modificação das relações e das estruturas sociais. Pode-se dizer que compõe essa possibilidade de mudança/transformação o lidar com as “situações-limite”, construindo os “atos-limite” que possibilitem o “inédito-viável”. Nas palavras de Weyh:

Em Paulo Freire, mudança e transformação social assumem um caráter de comprometimento e engajamento nas lutas em favor das causas dos oprimidos. [...] Apresenta-se ainda como contraponto da estabilidade e ferramenta para intervir na estrutura social, na medida em que demanda ação e reflexão para alterar a estrutura social, característica da transformação. A transformação é entendida como um ato de criação dos homens que busca resgatar a visão de totalidade a partir da ação sobre as partes

(2010b, p. 276, grifos do autor).

Nas publicações da revista, essa dimensão está presente, por exemplo, no artigo de Almeida e Dalben (2020). Ao analisarem a ação de uma escola enquanto reorganizava seu trabalho em tempos de pandemia, os autores mencionam a possibilidade de transformação tomando a perspectiva freireana:

[...] pode-se pensar nesse movimento como certa materialização rumo a um inédito viável. Mesmo sem a configuração de atos-limite que romperiam as situações-limite vivenciadas, as atitudes dos profissionais, entre si e em relação aos seus alunos e à gestão da rede, demonstram mobilização para enfrentamento da situação-limite localmente colocada

(ALMEIDA; DALBEN, 2020, p. 17, grifos dos autores).

Participação / Democratização

Essa dimensão se refere à atuação efetiva e não figurativa nos espaços públicos de forma geral e nos espaços educacionais de forma específica, abarcando as dimensões política, cultural e histórica em que temos a democratização da educação e a possibilidade de efetiva participação dos homens e mulheres numa perspectiva política. Na obra de Paulo Freire, segundo Weyh, a participação emerge dos movimentos de mobilização social pela democratização da sociedade. Nas palavras do autor:

Em Educação e mudança (1983) participar está relacionado com a presença das massas populares na tomada de decisões sobre os rumos da sociedade (p. 37), característica de uma sociedade aberta. Uma crescente participação do povo em seu processo histórico resulta da vontade emergente por democratização fundamental. O povo descruza os braços, renuncia a ser simples espectador e exige participação. Já não se satisfaz em assistir; quer participar; quer decidir (p. 66)

(WEYH, 2010b, p. 302, grifos do autor).

Nas publicações da revista, observamos essa dimensão, por exemplo, no artigo de Villas Boas. Citando a obra de Freire e Shor (1986), a autora afirma que “[...] é impossível ensinar participação sem participação! É impossível só falar em participação sem experimentá-la” (VILLAS BOAS, 2005, p. 304).

Pedagogia do Oprimido / Libertação

Essa dimensão se refere ao papel da educação no processo de mudança e emancipação da sociedade. Engloba a relação entre opressores e oprimidos, defendendo que os educadores e educadoras devam estar ao lado dos oprimidos, trabalhando com e por eles.

Abarca a análise e o papel dos processos educacionais como possibilidade de instrumentalização e de abertura a uma reflexão mais aprofundada das dimensões da vida social, esclarecendo as desigualdades e abrindo como possibilidade histórica a superação das relações de exploração e opressão rumo a uma sociedade mais justa e humanizada. São os delineamentos conceituais que definem a que e a quem serve dada perspectiva pedagógica. Nas palavras de Streck:

A qualificação da pedagogia - da esperança, do conflito, da revolução, do diálogo - indica que para ele não existe uma única pedagogia. Existem pedagogias que correspondem a determinadas intencionalidades formativas e se utilizam de instrumental metodológico diverso. Essas pedagogias estão assentadas em matrizes ideológicas distintas, o que as posiciona em lugares diferentes ou mesmo antagônicos na dinâmica social (2010, p. 306).

Entre os artigos publicados na revista que se enquadram nessa dimensão, Gadotti afirma que não acredita numa educação neutra. Diz que ou fazemos uma pedagogia do oprimido ou acabamos por fazer uma pedagogia contra ele.

[...] Se amanhã uma educação revolucionária for possível é apenas porque, hoje, no interior de uma educação conservadora e reacionária, os elementos de uma nova educação, de uma outra educação, libertadora, se formaram dentro de uma educação conservadora e reacionária. Essa mudança de espaço dominado para espaço dominante não se fará nem espontaneamente, nem de um momento para o outro; por isso, é necessária uma verdadeira pedagogia do conflito que evidencie as contradições em vez de camuflá-las, com paciência revolucionária, consciente do que historicamente é possível fazer, mas sem se omitir (1978, p. 9; 15).

Importa dizer que, pela forma assumida na apropriação conceitual de Freire pelos textos publicados, não há coincidência exata na amplitude da definição das dimensões com a abordagem assumida nas publicações. Há textos em que os conceitos são mais amplamente debatidos e definidos, enquanto outros remetem a aspectos mais específicos e pontuais. De qualquer forma, ficam evidentes tanto a presença, anteriormente demonstrada, quanto a importância dos conceitos-chave da obra freiriana no debate promovido e registrado nos 43 anos de Educação & Sociedade.

Considerações Finais

Reflexo não preciso, mas marcante, de sua presença no debate da área, o pensamento de Paulo Freire se faz presente na história da revista Educação & Sociedade. Com artigo publicado já no primeiro número da revista, em 1978, e ao menos 88 textos que fazem referência ao autor, a multiplicidade de olhares registrada nos permite analisar uma diversidade grande de temas pelos olhos daqueles que tomam de empréstimo os conceitos freireanos para poder ver, ao mesmo tempo que oferecem à perspectiva do autor novas possibilidades de enxergar.

Tomar Freire – autor avesso a análises cristalizadas, por acreditar na dimensão histórica de nossa construção humana –, mesmo no exame de temas recorrentes, é reconhecer a provisoriedade de nosso conhecimento do mundo, bem como as potencialidades de nossa ação na transformação da realidade. Em seu artigo, no primeiro número da revista, Freire já chamava nossa atenção para a necessidade de olhar curiosamente para os diversos temas, assim como de não nos seduzirmos pela falácia da neutralidade em nosso fazer cotidiano.

Toda vez, porém, que sou chamado a refletir sobre os mesmos temas, me ponho diante deles com a mesma curiosidade, com a mesma inquietação – a de quem busca. A “convivência” com os mesmos temas jamais foi capaz de “burocratizar” a minha curiosidade. Aproximo-me deles, enquanto deles tomo distância, apreendo-os como problemas e, por isso mesmo, como desafios a serem desvelados. No ato de revê-los, de reexaminá-los, revejo e reexamino também a percepção que deles tive na minha passada reflexão sobre eles. Mais ainda e sobretudo, revejo e reexamino a prática que tive, a prática que tenho e a prática de outros, que tomo como objeto de minha análise crítica – a prática na qual os temas se configuram como problemas. [...] Assim, o permanente exercício de reflexão a que me obrigo se encontra sempre orientado ao concreto em que me acho problematizado. [...] A prática de pensar a prática é a melhor maneira de aprender a pensar certo. O pensamento que ilumina a prática é por ela iluminado tal como a prática que ilumina o pensamento é por ele iluminada. [...] Os defensores da neutralidade da alfabetização não mentem quando dizem que a clarificação da realidade simultaneamente com a alfabetização é um ato político. Falseiam, porém, quando negam o mesmo caráter político à ocultação que fazem da realidade

(FREIRE, 1978, p. 64-65; p. 70)

Defensor de uma educação democrática e emancipatória, o que diria Freire sobre a atual conjuntura política e histórica do Brasil? Se voltasse, na atualidade, ficaria assustado com o retrocesso na esperança democrática que vislumbrou ou apenas constataria que a democracia e o direito à educação são elementos constantemente ameaçados? Teria orgulho do caminho que nós educadores percorremos ou se espantaria, 24 anos após sua partida, por ainda termos sido incapazes de ultrapassar o simples falar sobre a democratização da escola e a vivência democrática na vida social rumo a ensiná-las em seu sentido mais profundo?

Talvez ele tivesse muito a lamentar, mas certamente reconheceria a grande e honrosa luta travada e nos convidaria, como fez ao descer no aeroporto de Campinas após o exílio, a “reaprender o Brasil”. Não tem sido pequena a esperança e não somos poucos aqueles que, como ele e ensinados e inspirador por ele, estamos a esperançar: para além da fé e da espera, construindo e agindo para concretizar o esperado.

Seu legado, registrado nos 43 anos da revista Educação & Sociedade, certamente é parte do que alimenta esse esperançar e do que o faria se orgulhar desse reaprender constante que temos alimentado. Olhar para esse legado, trazendo à tona o que tem marcado a produção dos que com ele dialogam, é o que pudemos ofertar neste texto.

Contudo, mais que a presença de Freire na produção publicizada, esperamos que esse olhar para as dimensões freirianas presentes nessa produção encoraje e fortaleça a luta, a partir da força de suas ideias. Que os conceitos e proposições que outrora construíram resistência contra o obscurantismo e em favor dos oprimidos, possam contribuir para o fortalecimento da necessária luta contra o retorno e o aprofundamento desse mesmo obscurantismo, o qual pensamos ter enfrentado, mas estava apenas esperando o tempo propício para se reerguer e mostrar sua força e sua capilaridade no modelo de sociedade que temos.

Façamos da simbologia do centenário de Paulo Freire fonte de energia para a continuidade da construção de um mundo mais justo e liberto das opressões. O caminho, registrado nas páginas da revista, permite-nos novas ideias. Parafraseando o editorial do número 4, já citado anteriormente, devemos manter a ilusão política, mas sem negligenciar as relações e questões concretas, o que nos levaria a uma desilusão pedagógica. Não podemos deixar de enxergar as pequenas árvores por medo de não ver a floresta.

Diante da ilusão política e a desilusão pedagógica resta o “historicamente possível”, no dizer de Paulo Freire. [...] O possível não é o que é permitido ser feito, mas o que é conquistado, o que é projetado. Fazer o que é possível historicamente significa abrir possibilidades, ampliar e estender os espaços já conquistados. O possível é também a utopia de hoj e que, graças a uma prática social transformadora de hoje, será a realidade de amanhã

(COMITÊ EDITORIAL, 1979, p. 4).

Nesse mesmo sentido, tudo que estamos vivendo, talvez dissesse Paulo Freire, é nosso pior momento desde o golpe cívico-militar de 1964, mas, dialeticamente, pode se transformar em nosso “melhor momento”, na medida em que são as “situações-limite” que permitem potencialmente a construção dos “atos-limite”, dando lugar à criação de novos projetos em vias de transformarmos a realidade: a construção do “inédito viável” (FREIRE, 1992).

Exercitando o otimismo pedagógico, permitamo-nos ir de mãos dadas com todos aqueles e aquelas que se sentem representados(as) nos princípios político-pedagógicos defendidos por Freire, para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e democrática. Permitamo-nos ter esperança: uma esperança em ação, que reaprende o Brasil e contribui para o movimento de construção de um mundo melhor.

Paulo Freire: Presente!

Notas

  • 1
    Painel exposto no Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional Prof. Milton de Almeida Santos -Secretaria Municipal de Educação, Campinas (SP).
  • 2
    Seção nomeada “Bibliografia” nas publicações menos recentes.
  • 3
    Tarefa que exigiria a análise mais pormenorizada dos textos freireanos, tanto numa abordagem em profundidade de sua obra quanto num estudo minucioso dela, tomando sua historicidade a fim da apreensão das delimitações conceituais que foram se modificando, reformulando ou, em última instância, sendo substituídas ao longo da produção teórica do autor.
  • 4
    Neste caso específico, por exemplo, embora a citação remeta o leitor à referência “Freire (1997)”, as obras listadas são de 1993 e 1995, não coincidindo, portanto, com a citação e prejudicando quaisquer tentativas de inferência acerca dos conceitos freireanos utilizados.

Referências

  • ALMEIDA, L. C.; DALBEN, A. (Re)organizar o trabalho pedagógico em tempos de Covid-19: no limiar do (im)possível. Educação & Sociedade, Campinas, v. 41, 2020. https://doi.org/10.1590/ES.23968
    » https://doi.org/10.1590/ES.23968
  • ARROYO, M. G. Paulo Freire: outro paradigma pedagógico? Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 35, e214631, jan./dez. 2019. https://doi.org/10.1590/0102-4698214631
    » https://doi.org/10.1590/0102-4698214631
  • BRANDÃO, C. R. Eva viu a luta: algumas anotações sobre a Pedagogia do Oprimido e a Educação do Colonizador Educação & Sociedade, Campinas, v. 1, n. 3, p. 15-23, maio 1979.
  • BRASIL. Lei n. 12.612, de 13 de abril de 2012. Declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 abr. 2012.
  • COMITÊ EDITORIAL. Editorial: Ilusão política, desilusão pedagógica. Educação & Sociedade, Campinas, v. 1, n. 4, p. 3-4, 1979.
  • FAUNDEZ, A. Notas sobre a cultura oral, a cultura escrita e o processo de alfabetização nas Ilhas de São Tomé e Príncipe. Educação & Sociedade, Campinas, v. 6, n. 19, p. 73-90, 1984.
  • FERNANDES, S. Pedagogia crítica como práxis marxista humanista: perspectivas sobre solidariedade, opressão e revolução. Educação & Sociedade, Campinas, v. 37, n. 135, p. 481-496, jun. 2016. https://doi.org/10.1590/ES0101-73302016140795
    » https://doi.org/10.1590/ES0101-73302016140795
  • FRANCO, M. A. S.; PIMENTA, S. G. Didática multidimensional: por uma sistematização conceitual. Educação & Sociedade, Campinas, v. 37, n. 135, p. 539-553, jun. 2016. https://doi.org/10.1590/ES0101-73302016136048
    » https://doi.org/10.1590/ES0101-73302016136048
  • FREIRE, P. Educação e Atualidade Brasileira 1959. Tese (Concurso para a Cadeira de História e Educação) - Escola de Belas Artes de Pernambuco, Recife, 1959.
  • FREIRE, P. Educação como prática de liberdade Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1965.
  • FREIRE, P. Education for critical consciousness New York: Seabury, 1973.
  • FREIRE, P. Las iglesias, la educación y el proceso de liberación humana en la historia Bueno Aires: Editorial La Aurora, 1974.
  • FREIRE, P. Pedagogia do oprimido Porto: Afrontamento, 1975.
  • FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos Rio de janeiro: Paz e Terra, 1976.
  • FREIRE, P. Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência. Paz e Terra: 1977a.
  • FREIRE, P. Educação política e conscientização: Lisboa: Sá da Costa, 1977b.
  • FREIRE, P. A alfabetização de adultos: é ela um quefazer neutro? Educação & Sociedade, Campinas, v. 1, n. 1, p. 64-70, set. 1978.
  • FREIRE, P. Educação e mudança Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
  • FREIRE, P. Cartas aos animadores e às animadoras culturais República de São Tomé e Príncipe: Ministério da Educação e Desporto, 1980a.
  • FREIRE, P. Conscientização São Paulo: Moraes, 1980b.
  • FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática de libertação. Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo: Moraes, 1980c.
  • FREIRE, P. Tonbandprotokll, Freire Seminar Frankfurt 1978 Frankfurter Blatter zur Erziehung und Entwicklung 3/81, Frankfurt, 1981.
  • FREIRE, P. Extensão ou comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 1985.
  • FREIRE, P. Apresentação. In: HARPER, B. et al. Cuidado, Escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas. 22. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.
  • FREIRE, P. Introduction. In: GIROUX, H. A. Teachers as intellectuals New York: Bergin & Garvey, 1988.
  • FREIRE, P. A educação na cidade São Paulo: Cortez, 1991.
  • FREIRE, P. A importância do ato de ler São Paulo: Cortez, 1992a.
  • FREIRE, P. Pedagogia da esperança: reencontro com a Pedagogia do Oprimido Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992b
  • FREIRE, P. Política e educação São Paulo: Cortez, 1993.
  • FREIRE, P. À sombra desta mangueira São Paulo: Olho D’água, 1995.
  • FREIRE, P. Letters to Cristina: reflections on my life and work. Tradução Donaldo Macedo; Quilda Macedo; Alexandre Oliveira. London: Routledge, 1996a.
  • FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996b.
  • FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Unesp, 2000.
  • FREIRE, P. Pedagogia da tolerância São Paulo: Unesp, 2004.
  • FREIRE, P. et al. Vivendo e aprendendo Experiências do Idac em Educação Popular. São Paulo: Brasiliense, 1980.
  • FREIRE, P.; FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta 3. ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1985.
  • FREIRE, P.; GADOTTI, M.; GUIMARÃES, S. Pedagogia: diálogo e conflito. São Paulo: Cortez, 1986.
  • FREIRE, P.; GUIMARÃES, S. A África ensinando a gente: Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. São Paulo: Paz & Terra, 2003.
  • FREIRE, P.; HORTON, M. O caminho se faz caminhando: conversas sobre educação e mudança social. Petrópolis: Vozes, 2003.
  • FREIRE, P.; MACEDO, D. Literacy: reading the word and the world. South Hadley: Bergin & Garvey, 1987.
  • FREIRE, P.; PAPERT, S. O futuro da escola e o impacto dos novos meios de comunicação no modelo de escola atual Produção de Márcia Moreno e Marco Aurélio Del Rosso. TV PUC de São Paulo com apoio do Jornal Data São Paulo, nov. 1995. Disponível em: http://www.paulofreire.ce.ufpb.br/paulofreire/Controle?o p=detalhe&tipo=Video&id=37. Acesso em: 2 mar. 2012.
    » http://www.paulofreire.ce.ufpb.br/paulofreire/Controle?o p=detalhe&tipo=Video&id=37
  • FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1986.
  • FREIRE, P.; SHOR, I. A pedagogy for liberation: dialogues on transforming education Londres: MacMillan, 1987.
  • FREITAS, A. L. S. Conscientização. In: STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
  • GADOTTI, M. Revisão crítica do papel do Pedagogo na atual sociedade brasileira: Introdução a uma Pedagogia do Conflito. Educação & Sociedade, Campinas, v. 1, n. 1, p. 5-16, 1978.
  • GADOTTI, M. Lições de Freire. Educação, sociedade & culturas, Porto, n. 10, p. 111-122, 1998. Disponível em: https://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC10/10-5-gadotti.pdf Acesso em: 28 maio 2021.
    » https://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC10/10-5-gadotti.pdf
  • HIRCHZON, C. M.; COPIT, M. Psicanálise e Paulo Freire. Educação & Sociedade, Campinas, v. 6, n. 18, p. 153-162, 1984.
  • KELLNER, D.; SHARE, J. Educação para a leitura crítica da mídia, democracia radical e a reconstrução da educação. Educação & Sociedade, Campinas, v. 29, n. 104, p. 687-715, out. 2008. https://doi.org/10.1590/S0101-73302008000300004
    » https://doi.org/10.1590/S0101-73302008000300004
  • KOHAN, W. O. O que nos faz pensar... Paulo Freire? O que nos faz pensar, Rio de Janeiro, v. 28, n. 45, p. 272-287, 2019. https://doi.org/10.32334/oqnfp.2019n45a658
    » https://doi.org/10.32334/oqnfp.2019n45a658
  • KRONBAUER, L. G. Ação-reflexão. In: STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
  • LECLERC, G. Sistema único de ensino: O desafio da construção e da ampliação do espaço público de direitos na escola pública de Mato Grosso. Educação & Sociedade Campinas, v. 23, n. 78, p. 199-222, 2002. https://doi.org/10.1590/S0101-73302002000200012
    » https://doi.org/10.1590/S0101-73302002000200012
  • LÔBO JÚNIOR, D. T. Sobre as relações entre as questões da educação e do populismo: uma contribuição. Educação & Sociedade, Campinas, v. 8, n. 24, p. 48-60, 1986.
  • MACLAREN, P. A Pedagogia da Possibilidade de Paulo Freire. Educação, sociedade & culturas, Porto, n. 10, p. 57-82, 1998. Disponível em: https://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC10/10-2-mclaren.pdf Acesso em: 28 maio 2021.
    » https://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC10/10-2-mclaren.pdf
  • MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
  • MARIN-GONZÁLES, J. Paulo Freire: el método de la concientización, en la educación, para analizar y comprender el contexto actual de la globalización. Revista Albuquerque, v. 12, n. 24, 2020. https://doi.org/10.46401/ardh.2020.v12.12096
    » https://doi.org/10.46401/ardh.2020.v12.12096
  • MEDEIROS, M. F. Compromisso social da tecnologia da educação: superação do discurso maniqueísta? Educação & Sociedade, Campinas, v. 12, n. 38, p. 45-62, 1991.
  • MOREIRA, C. E. Criticidade. In: STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
  • NÓVOA, A. Notas sobre um regresso adiado. Educação, sociedade & culturas, Porto, n. 10, p. 155-174, 1998. Disponível em: https://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC10/10-dialogos.pdf Acesso em: 28 maio 2021.
    » https://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC10/10-dialogos.pdf
  • PALUDO, C. Educação Popular. In: STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
  • PAULO Freire volta a trabalhar no Brasil em agosto. Jornal da Educação, Campinas, ano 1, n. 0, abr. 1980. Disponível em: https://www.cedes.unicamp.br/publicacoes/edicao/610 Acesso em: 28 maio 2021.
    » https://www.cedes.unicamp.br/publicacoes/edicao/610
  • PETERS, M. A.; BESLEY, T. (orgs.). Paulo Freire: The Global Legacy. New York: Peter Lang, 2015. 604 p.
  • SANTAMARÍA-RODRÍGUEZ, J. E. et al. Pedagogias críticas: criterios para una formación de docentes en investigación pedagógica. Educação & Sociedade, Campinas, v. 40, 2019. https://doi.org/10.1590/ES0101-73302019193786
    » https://doi.org/10.1590/ES0101-73302019193786
  • SEMERARO, G. Gramsci e os movimentos populares: uma leitura a partir do caderno 25. Educação & Sociedade, Campinas, v. 35, n. 126, p. 61-76, 2014. https://doi.org/10.1590/S0101-73302014000100004
    » https://doi.org/10.1590/S0101-73302014000100004
  • STRECK, D. R. Da pedagogia do oprimido às pedagogias da exclusão: um breve balanço crítico. Educação & Sociedade, Campinas, v. 30, n. 107, p. 539-560, ago. 2009. https://doi.org/10.1590/S0101-73302009000200012
    » https://doi.org/10.1590/S0101-73302009000200012
  • STRECK, D. R. Pedagogia(s). In STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
  • STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. 439 p. E-book Disponível em: http://www.famep.com.br/repositorio/ebook/Dicionario-Paulo-Freire-versao-1.pdf Acesso em: 1 jun. 2021.
    » http://www.famep.com.br/repositorio/ebook/Dicionario-Paulo-Freire-versao-1.pdf
  • VILLAS BOAS, B. M. F. O portfólio no curso de pedagogia: ampliando o diálogo entre professor e aluno. Educação & Sociedade, Campinas, v. 26, n. 90, p. 291-306, abr. 2005. https://doi.org/10.1590/S0101-73302005000100013
    » https://doi.org/10.1590/S0101-73302005000100013
  • WALSH, C. E. (Re)existence in times of de-existence: political-pedagogical notes to Paulo Freire. Language and Intercultural Communication, v. 21, 2021. http://doi.org/10.1080/14708477.2021.1916025
    » https://doi.org/10.1080/14708477.2021.1916025
  • WEYH, C. Participação. In: STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010a.
  • WEYH, C. Mudança/transformação social. In: STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010b.
  • ZAMORA, G. M. Jardines infantiles comunitarios en chile: una historia de resistencia. Educação & Sociedade, Campinas, v. 41, 2020. https://doi.org/10.1590/ES.209235
    » https://doi.org/10.1590/ES.209235
  • ZITKOSKI, J. J. Diálogo/Dialogicidade. In: STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010a.
  • ZITKOSKI, J. J. Humanização/Desumanização. In: STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010b.

Apêndice

Textos publicados em Educação & Sociedade que referenciam Paulo Freire (1978-2020)

Textos publicados em Educação & Sociedade que referenciam Paulo Freire (1978-2020)

  • Editora de Seção: Ivany Pino

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Out 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    07 Jul 2021
  • Aceito
    19 Ago 2021
location_on
Centro de Estudos Educação e Sociedade - Cedes Av. Berttrand Russel, 801 - Fac. de Educação - Anexo II - 1 andar - sala 2, CEP: 13083-865, +55 12 99162 5609, Fone / Fax: + 55 19 3521-6710 / 6708 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: revistas.cedes@linceu.com.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro