RESUMO
Dentre os vários temas que tratam sobre o Imperador Juliano, o assunto sobre a sua morte chamou nossa atenção. Vários autores da Antiguidade Tardia, cristãos ou não cristãos, forneceram várias versões sobre tal acontecimento. O sofista Libânio e o militar Amiano Marcelino registraram cenas relevantes da morte do Príncipe, redigiram seus textos na mesma época, eram antioquianos e provavelmente, se comunicavam. Porém, suas narrativas sobre a morte de Juliano se diferenciam. Portanto, temos como objetivo analisar as diversas mortes do Imperador Juliano apresentadas nos testemunhos de Libânio, assim como realizar a comparação desses relatos com o testemunho de Amiano Marcelino sobre o mesmo tema. A comparação servirá para termos uma melhor compreensão acerca da maneira como o sofista e o militar construíram uma memória virtuosa desse Imperador, transformando a morte daquele Príncipe em uma memória viva. Acrescentamos que os dois autores redigiram seus textos no período do Imperador Teodósio I. Logo, temos como hipótese que as diversas versões sobre a morte de Juliano estão relacionadas com eventos que permeiam os momentos da escrita das narrativas da morte. Dessa maneira, os autores tornam viva a memória sobre Juliano através dos vários relatos sobre o acontecimento fúnebre.
Keywords: Memória; Morte; Imperador Juliano; Guerra Pérsica; Libânio; Amiano Marcelino
ABSTRACT
Among the many topics regarding the emperor Julian, the subject of his death has caught our attention. Many authors of the Late Antiquity, Christians or not, provided many versions about such event. The sophist Libanius and the serviceman Ammianus Marcellinus registered relevant scenes of the Prince's death, wrote their texts at the same period, were antiochenes and probably communicated. However, their narratives about Julian's death differ. Therefore, our goal is to analyze the many deaths of Emperor Julian presented in the testimonies of Libanius, as well as perform the comparison of these reports with the testimony of Ammianus Marcellinus about the same subject. The comparison will serve for us to have a better understanding about the way that the sophist and the serviceman built a virtuous memory of this Emperor, turning the death of that Prince into a living memory. We add that both authors wrote their texts in Emperor Theodosius I's period. Ergo, we have a hypothesis that the many versions about Julian's death are related to events that permeate the timing of the writing of the death, thus the authors make the memory alive about Julian through the many reports about the mournful event.
Keywords: Memory; Death; Emperor Julian; Persian War; Libanius; Ammianus Marcellinus
Considerações preliminares
Dentre as diversas transformações ocorridas no período da Antiguidade Tardia (meados do século III ao início do VII d.C.), ressaltamos as guerras de manutenção do limes. No que diz respeito a essas guerras e aos inimigos do Império Romano, os persas merecem destaque. É nesse cenário das guerras pérsicas que em 363 d.C. morreu o Imperador Juliano ao tentar findar uma tradição de lutas seculares entre romanos e persas. Em seu panegírico "Elogio a Constâncio", na seção 14, o próprio Juliano se refere aos problemas que Constâncio teria enfrentado com os persas.Desse modo, a morte do Imperador Juliano teve ecos tanto nos testemunhos de autores cristãos como nos de autores não cristãos, a exemplo dos antioquianos Libânio e Amiano Marcelino, cujos relatos nos interessam na proposta aqui apresentada. Em especial, interpretaremos alguns pensamentos desses dois admiradores do Príncipe, os quais associam, em nosso entender, a sua morte a uma memória de um bom general, que deveria repercutir na posteridade como uma forma educativa de postura militar.
É nesse sentido que as diversas documentações sobre o Império Romano, em especial da Antiguidade Tardia, nos oferecem um modo bastante peculiar de pensar a nossa relação com a morte. Dessa forma, tal material faz com que os processos de preservação, armazenamento e a relação intrínseca entre memória e esquecimento, nos conduzam a pensar que sua produção e seus usos político-culturais destinam-se, em algumas situações, às construções de episódios memoráveis.
Essa memória é articulada, no momento das escritas das narrativas, aos processos de recriação de imagens do passado, pois tal como entende Matthew Roller (2009, p. 216), as imagens vinculam-se à produção de um passado para orientar o momento da escrita dos autores, partindo da elaboração dos exempla. Tudo isso ocorre à medida que as ações passadas podem se reproduzir no tempo presente. O interesse pelo passado não é meramente histórico, pois os espaços do lembrar dependem das condições políticas e culturais (Cf. ECKARDT; WILLIAMS, 2003; ASSMANN, 2011; OMENA; FUNARI, 2012), englobando a produção de uma memória articulada em torno de um passado comum. Logo,
O uso ideológico da memória era promover o que foi considerado digno de lembrança. A vida pública romana estava enraizada nas memórias do passado. Decidir quem ou o que seria lembrado, e como, foi um aspecto de poder e autoridade, o presente poderia ser definido e justificado por referência e controle do passado (HOPE, 2003, p. 115, tradução nossa).
Sendo assim, faz-se necessário compreender a associação entre memória, escrita e morte em função de sua não dissociabilidade. Tal como formula Jeanne Marie Gagnebin, túmulo e palavra coadjuvam no trabalho de memória, "que, justamente, por se fundar na luta contra o esquecimento, é também o reconhecimento implícito da força deste último: o reconhecimento do poder da morte" (GAGNEBIN, 2006, p. 45). A produção e a transmissão da memória fundam-se, sobretudo, no temor pela morte social, no processo de esquecimento, que implica, em outras palavras, tornar-se um sem nome no mundo dos vivos (VERNANT, 2001, p. 88).
Os discursos de Libânio e Amiano Marcelino tornam-se, em nossa proposta, responsáveis pela manutenção da memória do morto, isto é, mantendo o Imperador Juliano vivo. Os dois autores, cada um à sua maneira, fizeram com que esse processo fosse um marco educativo para o bem ou para o mal às gerações do Império Romano.
Partindo deste contexto, é possível inferir que os discursos do sofista Libânio e do militar Amiano Marcelino submetiam-se também à argumentação dos exempla.
Guerra: vida e morte do Imperador Juliano
É possível notarmos que nos últimos anos o estudo sobre as guerras vem se renovando e despertando o interesse de públicos diversos. A guerra não é mais estudada por ela mesma, ou seja, não se limita a uma observação tática e instrumental, mas é necessário observar todos os aspectos nela envolvidos, como as questões políticas, econômicas e culturais.
No quesito político-cultural, que é o que mais nos interessa aqui, vincularemos seções bélicas sobre o Imperador Juliano na guerra contra os persas com a sua morte.
As narrativas de Libânio e Amiano são os relatos mais completos existentes sobre as guerras do Imperador Juliano como César e Augusto, respectivamente contra os francos e alamanos e contra os persas. Apesar dos dois autores transmitirem informações valiosas e cruciais sobre o tema, devemos tomar cuidado com suas parcialidades e julgamentos sobre a figura de Juliano. Ambos se preocuparam em construir uma memória de louvor e admiração acerca de Juliano; porém, ressaltamos que esse fato não invalida a qualidade de seus escritos sobre a associação da guerra e da boa morte,1 pois os autores tiveram motivos determinados pelos seus contextos históricos que os levaram a relatar dados sobre a morte daquele Imperador.
Notamos que a historiografia referente à história militar de Roma é vasta e vem se desenvolvendo acentuadamente com o passar do tempo. No que diz respeito à documentação da Antiguidade Tardia, ressaltamos o testemunho de Amiano Marcelino sobre as participações dos Imperadores nas guerras do período. Nesse relato, alguns Imperadores são louvados, como é o caso de Juliano (361-363 d.C.), e outros são depreciados, como Valente (365-378 d.C.). Assim, percebemos que entre todos os príncipes citados, Juliano é um dos mais elogiados.
No tocante a Libânio, mais ainda do que Amiano Marcelino, seus discursos acompanharam toda a vida de Juliano. O mais curioso é que Libânio retrata, também, de uma maneira detalhada, as ações bélicas do Imperador. Enquanto Amiano foi protectore domesticus no contexto militar de Juliano, Libânio tinha uma troca intensa de cartas com nosso personagem principal. Essas missivas eram de conteúdo filosófico e se traduziam como mensagens de conforto para as dificuldades do momento passadas por Juliano.
As informações sobre os momentos da vida e das guerras efetuadas por Juliano parecem se cruzar nas narrativas dos dois autores. Há uma sociabilidade entre esses três - Juliano, Libânio e Amiano Marcelino - que deve ser salientada. Como já vimos, havia uma relação direta entre Amiano e Juliano, uma amizade entre Juliano e Libânio e uma comunicação entre Amiano e Libânio, ambos antioquianos.
Uma prova dessa última relação é o conhecimento que temos sobre a obra de Amiano Marcelino divulgada por Libânio.
Libânio para Marcelino (1) Eu invejo você por possuir Roma e Roma por possuir você. Pois você possui algo ao qual não há nada similar na Terra, e Roma, alguém não inferior aos seus próprios cidadãos, que descendem de semideuses. (2) Teria sido, portanto, uma ótima coisa para você apenas viver em tal cidade em silêncio e ouvir os discursos proferidos por outros: Roma produz muitos oradores que seguem os passos de seus antepassados. Mas na verdade, como alguém pode aprender daqueles que chegam de lá, você próprio (eu descobri) proferiu algumas recitações públicas e irá proferir mais, já que o seu trabalho foi dividido em muitas seções e o louvor outorgado ao que já apareceu convida uma outra edição. (3) Ouvi que Roma está coroando seu serviço e apresentou um veredito que você se mostrou superior a alguns e igual ao resto. Isto adorna com honra não meramente o autor, mas a nós também a quem o autor pertence. (4) Por favor, não pare de compor tais coisas e levá-las do escritório aos salões literários, e não se canse de ser admirado, mas torne-se ainda mais famoso e nos dê fama. Pois é uma marca do verdadeiro cidadão celebrado adornar sua cidade nativa com suas conquistas. (5) Que você continue em seu estado atual de felicidade [...] (LIBANIUS, Ep. 1063 apudBARNES, 1998, p. 55, tradução nossa).
Alan Cameron (1964) e Pierre-Louis Malosse (1998) atestam as consultas feitas por Amiano Marcelino à obra de Libânio. Dessa forma, em nosso caso, a qualidade dos testemunhos daqueles três autores deve ser investigada em conjunto.
As passionalidades dos autores e as formas técnicas de elaboração de seus escritos, como suas argumentações retóricas, precisam ser levadas em consideração. Nem a forma e nem o estilo de cada um nos impedem de compreender a tríade Juliano-guerra-morte por eles confeccionada. Tal tríade deve ser interpretada tendo como perspectiva a idealização de Juliano como um bom chefe de guerra e, por sua vez, essa concepção deve ser conectada à construção de sua memória. Essa poderá ser ativada em momentos políticos perturbadores da ordem na percepção de Amiano e Libânio, segundo os quais a memória positiva de Juliano poderia auxiliar na resolução de problemas de uma dada situação.
Amiano Marcelino escreveu suas Histórias no período de 379 a 392 d.C., ou seja, no período do Imperador Teodósio I. Nessa ocasião houve muitos acordos entre esse Imperador romano e os godos. Logo, é clara a crítica estabelecida a Teodósio por ter feito um acordo com estrangeiros, tornando-os federados e não negociando com eles à moda de Juliano. É nesse momento, quando o militar se mostra insatisfeito com as medidas de Teodósio I, que o autor reconstrói eventos gloriosos da vida e da morte de Juliano. Por meio da lembrança da morte, Amiano Marcelino dá vida às práticas bélicas de Juliano.
Amiano reconhece que o bom governante, o homem sóbrio, deve ter temperança, coragem e equilíbrio. Dessa forma, ele louva o Imperador Juliano o qual, para ele, era de temperamento são e enérgico como todo homem influente em sua sociedade deveria ser. Repara-se aqui uma ilustração de como o autor antioquiano elaborou a memória de Juliano.
Amiano parece ser sensível às qualidades do ser social: admira o homem culto, filósofo e educado. No livro 24, comenta que Juliano possuía um eminente grau de cortesia e uma doçura natural (AMIANO MARCELINO, XXIV, 1-3). Observamos, também, que em nenhuma passagem de sua obra ele critica a organização de sua sociedade; logo, mostra-se fiel ao seu governo. O Estado político presente é, sem contestação, o melhor a seus olhos, superior mesmo às antigas instituições republicanas. Desse modo, Amiano projeta a ideia do bom governante na memória do chefe militar e vice-versa.
O discurso de Amiano possui características arrojadas para o período, haja vista que, em várias partes de seu discurso, percebe-se a tolerância político-religiosa e a aceitação da adaptação de bárbaros ao exército romano.
Para além de Amiano, os testemunhos de Libânio são esclarecedores quanto às atitudes governamentais, filosóficas e bélicas do Imperador neoplatônico. Libânio não foi somente um sofista que fez panegíricos para Juliano. É um dos melhores testemunhos sobre a vida de Juliano, pois o acompanhou de sua infância até sua morte, principalmente o tempo em que o Imperador ficou na Antioquia, do verão de 362 d.C. à primavera de 363 d.C. As cartas de Juliano escritas na Antioquia revelam sua preocupação com a guerra contra os persas; preocupação que fora dividida com Libânio.
Libânio escreve em grego e divulga suas orações no oriente do Império, enquanto Amiano Marcelino redige sua obra em latim e a propaga no ocidente. Tal informação é transmitida por Libânio por meio de uma de suas cartas. Dessa forma, os dois autores construíram uma memória sobre a vida e morte do Imperador Juliano, dando-lhes um novo significado.
Assim, nota-se que os documentos desses dois autores, além de terem objetivos bem delineados, são permeados por uma subjetividade que lhes é peculiar.
Os testemunhos mais ricos que expressam a campanha do Imperador Juliano contra os persas e sua morte são os de Libânio: Monódia a Juliano, Oração XVII, escrita logo após a morte do Imperador, 363-364 d.C.; Epitáfios, Oração XVIII, redigida em 365 d.C.; Autobiografia, Oração I, primeira parte escrita em 374 d.C. e segunda parte escrita em 380-392 d.C. e a obra de Amiano Marcelino: Res Gestae, Livros XXIII e XXV, dissertados entre 390 a 392 d.C.
Segundo Malosse (1998, p. 60), Libânio, ao escrever Epitáfios, realizou uma vasta pesquisa coletando informações das missivas trocadas com o próprio Juliano e interrogando testemunhos oculares partícipes da guerra na qual Juliano faleceu.
Por sua vez, Amiano Marcelino acompanhou de perto as campanhas militares de Juliano trabalhando na parte administrativa do setor bélico. Portanto, Amiano viveu os momentos das guerras julianinas, tendo acesso direto às suas informações.
Em nossa opinião, os autores registram os acontecimentos militares de acordo com as suas propostas e intenções. Dessa forma, há diferenças de conteúdo entre os seus testemunhos que devem ser constatadas, comparadas e contrastadas para que possamos ter mais dados para analisar o acontecimento. Veremos que as diferenças entre os dois testemunhos são marcantes. Tanto Libânio quanto Amiano Marcelino utilizaram-se dos relatos sobre a guerra contra os persas para tecerem uma memória digna de ser rememorada sobre os feitos de Juliano que foram coroados pela boa morte.
Os testemunhos sobre a morte do Imperador neoplatônico.
Temos como hipótese que as diversas versões sobre a morte de Juliano estão relacionadas com eventos que permeiam os momentos das escritas das narrativas da morte. Dessa maneira, os autores tornam a memória viva sobre Juliano através dos vários relatos sobre o acontecimento fúnebre.
Quem então forjou a lança que teve tamanho poder? Qual deus enviou um ousado cavaleiro contra nosso Imperador, ou mirou a lança em seu peito? Ou não foi deus nenhum, mas sim seu zelo compulsivo em alertar e animar um exército lento, desacostumado à atividade e em sua maior parte desconhecedor de ferimentos? Ainda que ele não se preocupasse com sua própria segurança, a questão é que Afrodite ou Atena não o resgataram (LIBANIUS, Monódia, XVII, 23, tradução nossa).
[...] Todavia, o Imperador que governou tudo do oeste ao sol nascente, cuja alma era cheia de virtude, ainda um homem jovem e sem filhos para sucedê-lo, fora aniquilado por algum Persa (LIBANIUS, Monódia, XVII, 32, tradução nossa).
Na passagem 23 do discurso Monódia a Juliano, Libânio realiza um diálogo com os deuses e questiona o motivo pelo qual eles não livraram Juliano da morte. O Imperador teria se desviado do seu caminho, corajosamente, para persuadir fileiras de soldados à luta. Nesse momento, o governante não teria protegido o seu próprio corpo com cotas de malha. Assim, Juliano foi atingido por uma lança pelo inimigo. Nesse trecho, Libânio conta o assassinato do Príncipe, mas isenta a memória de Juliano de qualquer culpa. Ele teria sido bravo em tentar salvar os seus próprios soldados que o deixaram à deriva. Ainda na Monódia, Libânio, na passagem 32, acusa um Aquemênida do assassinato de Juliano, designando, assim, os persas como responsáveis.
Libânio, nessa passagem, pode estar comparando Juliano com a fraqueza do Imperador Valente, morto na batalha de Adrianópolis em 368 d.C. Logo, Juliano teria sido assassinado devido a um ato de coragem e não por ser um militar fraco.
268. Os persas estavam agora desesperados: eles haviam sido destruídos, e temiam que nosso exército, já possuidor do melhor de seu território, faria seu alojamento de inverno lá. Eles haviam escolhido seus emissários e estavam separando os presentes a serem mandados, incluindo até uma coroa, e eles tinham a intenção de despachar a expedição no dia seguinte para suplicar a paz, deixando Juliano definir os termos. Então, parte da coluna foi separada do resto; algumas das tropas estavam ocupadas em se defender contra seus assaltantes e o resto, sem perceber, continuou em seu caminho, enquanto uma tempestade violenta surgiu de repente, aglomerando nuvens de poeira e as rodopiando, um incentivo a qualquer um que queria nos atingir. O Imperador estava cavalgando com urgência com apenas um assistente como acompanhante para suprir a lacuna nas fileiras, quando uma lança de um soldado da cavalaria o perfurou. Ele estava sem armadura: confiante em seu sucesso, aparentemente, ele não tomara precauções, e a lança passou através de seu braço e penetrou o seu lado (LIBANIUS, Epitáfio - Discurso XVIII, 268, tradução nossa).
269. Nosso nobre Imperador caiu ao chão e, vendo o sangue a jorrar, queria esconder o que havia ocorrido. Ele voltou a montar imediatamente, mas quando as manchas de sangue mostraram que estava ferido, gritou a todos que encontrou para que não temessem pelo seu ferimento, pois este não era fatal. Isso foi o que ele disse, mas já estava começando a sucumbir. Ele foi carregado à sua tenda, à sua cama macia e à pele de leão e palha que a constituíam (LIBANIUS, Epitáfio - Discurso XVIII, 269, tradução nossa).
A segunda versão de Libânio encontra-se em Epitáfios. Nas passagens 268 e 269, o sofista apresenta as circunstâncias da morte do Imperador de maneira muito parecida com a passagem já mencionada da Monódia. Libânio relata que havia um destacamento do exército à frente lutando contra o inimigo quando um tornado se formou e a poeira teria facilitado o ataque opositor. O imperador, com a ideia de reunir todas as suas tropas, foi ao seu destino acompanhado somente de um soldado. Mas uma lança atirada contra ele, por um cavaleiro audacioso, o atingiu. A lança teria atravessado o seu braço e atingido uma de suas costelas. Juliano estaria desprotegido e Libânio justifica tal fato devido à sua coragem. Libânio ainda comenta que Juliano subiu no seu cavalo após o golpe e discursou para os seus soldados que a ferida que possuía não era mortal. Porém, o Príncipe morreu sucumbido pelo golpe.
Nesse episódio é possível perceber o esforço de Libânio em mostrar o quanto Juliano era um bom general para seus soldados, qualidade fundamental para aqueles que tinham como meta a liderança do exército romano-bárbaro.
Destaca-se também a tentativa de Libânio em esclarecer que Juliano teria vencido a guerra contra os persas e, além disso, seria um excelente negociador da paz entre os dois povos, romanos e persas. Mais uma vez, há uma crítica que subjaz às passagens de Libânio: Juliano sabia lidar com seu exército como nenhum outro Imperador do momento durante a escrita de seu texto.
274. Quem foi que o matou, você gostaria de saber. Eu não sei seu nome, mas que o seu assassino não pertencia ao inimigo é claramente provado pelo fato de que nenhum dos inimigos recebeu qualquer recompensa por matá-lo. Mas o rei Persa emitiu uma declaração pública e convidou o seu assassino para reivindicar uma recompensa, e caso tivesse se apresentado ele poderia ter obtido um grande prêmio. Contudo, ninguém vangloriou-se de ter feito isso, nem mesmo em seu desejo pela recompensa (LIBANIUS, Epitáfio - Discurso XVIII, 274, tradução nossa).
275. De fato, devemos ser muito gratos ao inimigo por não reivindicar crédito pelo que haviam feito, e por nos permitir procurar o seu assassino entre nós. Para aqueles companheiros, que achavam sua existência prejudicial a eles mesmos e cuja maneira de viver era contrária à lei, estes haviam por muito tempo conspirado contra ele e então por fim aproveitaram sua chance e agiram. Os motivos que os levaram a isso foram sua maldade natural, que não tinha chance sob seu governo, e, mais especificamente, as honras pagas aos deuses, de modo que suas ambições estavam em polos opostos às dele (LIBANIUS, Epitáfio - Discurso XVIII, 275, tradução nossa).
Nessa oração, nas passagens 274 e 275, o sofista transmite a ideia de que havia um acordo de paz programado entre Juliano e os persas, pois estes já haviam preparado presentes para aquele. Libânio reitera a ideia de que Juliano teria vencido a guerra e narra, também, que o rei persa teria oferecido um prêmio para o assassino do Imperador. Como ninguém apareceu, nem sequer atraído pela recompensa, ficou claro que não foi um dos persas que o matou. Assim, Libânio insinua que o assassino seria um cristão. Nessa versão, Libânio aludiu a um acontecimento político-religioso ocorrido entre Juliano e os cristãos: a proibição, por parte do Imperador, de professores cristãos lecionarem nas escolas. Há indicativos de que Libânio estivesse criticando o Imperador Joviano por ter revogado tal lei.
132. Acompanhado dos membros do boule, ele disse que iria viajar para Tarso, cidade da Cilícia, se Deus conservasse avida dele. 'Você coloca a esperança em quem será seu embaixador em torno de mim, mas ele também deverá se render lá fora comigo'. Eu chorarei quando ele me beijar mas ele não chorará, pois estará mediante os infortúnios da Pérsia. Após uma última carta que ele me enviou das fronteiras do Império, ele prosseguiu em seu caminho (LIBANIUS, Autobiografia - Discurso I, 132, tradução nossa).
133. [...] nós compartilhamos a alegria de quem viu tudo, cheios de confiança no futuro por causa do próprio passado de Juliano, no qual os nossos olhos estavam fixos. Mas Fortune estava em seu caminho: o exército contra os persas comemorou a grande festa dos massacres e derrotas... O Persa tinha decidido implorar a paz por embaixadas e presentes, porque 'a luta de um homem contra um ser divino é uma loucura'. É então, no momento em que os embaixadores apareceram em cima de seus cavalos, uma lança rasgou o mais sábio dos Imperadores... (LIBANIUS, Autobiografia - Discurso I, 133, tradução nossa).
Finalmente, nas passagens 132 e 133 de seu discurso Autobiografia, Libânio apresenta a terceira versão sobre a morte de seu amigo, por ele considerada prematura. Na passagem 132, Libânio destaca que Juliano teria lhe mandado uma carta contando a situação das fronteiras e que voltaria para Tarso após a guerra. Já na passagem 133, o sofista revela que Juliano teria sido morto no momento em que recebia representantes da diplomacia persa para a negociação da paz.
As passagens acima são elucidativas para a compreensão da credibilidade que o próprio Libânio tentou dar ao seu relato e moldar uma memória gloriosa a respeito da morte de um grande chefe de guerra. O sofista mostra a sua proximidade com Juliano e o coloca na posição de um homem guerreiro que queria negociar a paz. No entanto, Juliano é traído pelos persas e morre assassinado.
Amiano Marcelino comentou o seguinte:
5. Ele declarou que teria feito alguns arranjos para chegar a Tarso de Cilícia por uma via mais rápida. Juliano queria chegar nessa região no inverno. Após o resultado da expedição, ele iria escrever ao governador Mémorio para que fossem feitos todos os preparativos apropriados e úteis naquela cidade. Foi justamente o que aconteceu, após o corpo do próprio Juliano ter sido levado em uma procissão fúnebre modesta para ser enterrado na cidade de acordo com seus desejos (AMMIANUS MARCELLINUS, XXIII, 2, 5, tradução nossa).
6. Quando Juliano, esquecendo-se de se precaver, correu precipitadamente para a batalha, levantou os braços, e em voz alta tentou alertar seus soldados diante do inimigo; dessa forma, excitou a fúria do inimigo... de repente a lança de um cavaleiro inimigo arranhou a pele de seu braço, perfurou suas costelas e se fixou na parte inferior do fígado.
7. Sendo assim, Juliano estava tentando puxar sua mão direita quando sentiu os músculos de seus dedos cortados pelo ferro de dois gumes, assim Juliano caiu de seu cavalo. Ele foi levado rapidamente, pelas testemunhas do drama, de volta para o acampamento e foi medicado.
8. Pouco depois, sonolento e com muita dor, lutando contra a morte de forma magnânime, ele solicitou a sua armadura e seu cavalo, para retornar ao combate, tornando assim a sua confiança, recuperando a confiança alheia e, ao invés de se preocupar consigo, importou-se mais com os outros... enfim, Juliano morre por não aguentar a dor de suas feridas, porém foi visível que lutou até o fim (AMMIANUS MARCELLINUS, XXV, 3, 6-8, tradução nossa).
Amiano Marcelino também nos leva aos fatos sobre a morte de Juliano nos livros e passagens supracitados. No livro XXIII, seção 5, passagem 2, o autor nos relata que Juliano tinha interesse em voltar para Tarso após a campanha contra os persas. Isso não aconteceu, pois foi morto e seu corpo foi incinerado em um ritual simples, como havia pedido. Já no livro XXV, passagem 3, esse antioquiano desvela que Juliano não tomou cuidado com a sua própria segurança, pois teria se precipitado ao se lançar no meio da desordem de uma batalha contra os inimigos, sem a proteção das cotas de malha. Em meio à dispersão do inimigo, ele foi ferido por uma lança que o atingiu no braço, alcançando seu fígado.
Conclusão
Os testemunhos de Amiano demonstram um relato mais preciso sobre as circunstâncias da morte do Imperador, talvez por ter acompanhado mais de perto os momentos bélicos de Juliano. Tal autor militar parecia ser também mais tolerante em relação a questões político-religiosas do que Libânio. Amiano denuncia a imprudência de Juliano ao não se proteger devidamente na luta contra os soldados inimigos.
O desejo de Juliano de voltar para Tarso após a guerra é indicado nos dois relatos. Amiano, porém, informa outros detalhes sobre a morte do Príncipe; com uma percepção militar sobre o assunto, narra os momentos finais de Juliano com minúcias técnicas.
Há uma diferença que deve ser destacada entre os testemunhos de Libânio e Amiano Marcelino. Libânio apresenta três versões da morte do Imperador Juliano que variam de acordo com o tempo e suas necessidades de articular as circunstâncias da morte com os problemas políticos pelos quais estava passando. Amiano Marcelino, por sua vez, ressalta o Juliano guerreiro, mas não deixa de apontar as imperfeições do Imperador militar em suas decisões bruscas. Porém, apesar das diferenças esboçadas entre os dois testemunhos, ambos fazem da participação do Imperador na guerra contra os persas um monumento à memória de Juliano.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
2016
Histórico
-
Recebido
20 Abr 2016 -
Aceito
27 Maio 2016