Open-access Controle de ferrugem na cultura do alho com uma nova mistura de fungicidas

Rust control in the garlic culture with a new mixture of fungicides

Resumos

Com o objetivo de verificar a vantagem da adição do fungicida trifloxystrobin ao tebuconazole no controle de ferrugem (Puccinia porri) na cultura do alho, foi instalado um experimento na Fazenda Escola "Capão da Onça" da UEPG, em Ponta Grossa, PR, no ano de 2003. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos constaram de tebuconazole na dose de 200 g ha-1 (1,00 L ha-1 de Folicur 200 CE); e das misturas formuladas (prontas) de trifloxystrobin e tebuconazole nas doses de 50 e 100 e 75 e 150 g ha-1 (0,50 e 0,75 L ha-1 de Nativo SC); trifloxystrobin e tebuconazole nas doses 50 e 100 e 75 & 150 g ha-1 (0,20 e 0,30 kg ha-1 de Nativo WG) e testemunha. Foram realizadas três aplicações dos tratamentos, aos 85, 96 e 103 dias após a emergência da cultura, cultivar Caçador. As avaliações de controle foram realizadas aos 11, 18 e 27 dias após a primeira aplicação dos fungicidas. Nas condições em que foi desenvolvido o experimento, de alta severidade da doença, pode-se concluir que a mistura de trifloxystrobin e tebuconazole na dose de 75 e 150 g ha-1 das formulações SC e WG é adequada ao controle da ferrugem do alho pela similaridade de controle ao tebuconazole que é recomendado para o controle da doença e por não causar danos visíveis na cultura.

Allium sativum L.; Puccinia porri; tebuconazole; trifloxystrobin


An experiment was carried out in Ponta Grossa, Paraná State, Brazil, to evaluate the advantage of the addition of the fungicide trifloxystrobin to tebuconazole, to control the garlic rust (Puccinia porri). The experimental design was of complete randomized blocks with six treatments and four replications. The treatments consisted of tebuconazol in the rate of 200 g ha-1 (1,00 L ha-1 of Folicur 200 CE); and of the formulated mixtures of trifloxystrobin and tebuconazol in the rates of 50 and 100 e 75 and 150 g ha-1 (0.50 and 0.75 L ha-1 of Nativo SC); trifloxystrobin and tebuconazol in the rates of 50 and 100 e 75 and 150 g ha-1 (0.20 and 0.30 kg ha-1 of Nativo WG) and non sprayed control. Three applications of the fungicides were carried out at 85, 96, and 103 days after the plant emergence, cultivar Caçador. Disease was assessed at 11, 18 and 27 days after the first application of fungicides. Under Puccinia porri high severity observed in the experiment, the mixture of the trifloxystrobin and tebuconazol in the rate of 75 and 150 g ha-1 of SC and WG, showed similar control of the garlic rust as compared to tebuconazol, fungicide recommended for the rust control and for not causing visible damages in the culture.

Allium sativum L.; Puccinia porri; tebuconazol; trifloxystrobin


COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Controle de ferrugem na cultura do alho com uma nova mistura de fungicidas

Rust control in the garlic culture with a new mixture of fungicides

Maristella Dalla PriaI; Jeferson ZagonelI; Eliana C FernandesII

IUEPG, Depto Fitotecnia e Fitossanidade, Av. Carlos Cavalcanti, 4748, 84030-900 Ponta Grossa-PR

IIUEPG, mestranda em agricultura; jefersonzagonel@uol.com.br; mdallapria@uol.com.br; elianacfernandes@uol.com.br

RESUMO

Com o objetivo de verificar a vantagem da adição do fungicida trifloxystrobin ao tebuconazole no controle de ferrugem (Puccinia porri) na cultura do alho, foi instalado um experimento na Fazenda Escola "Capão da Onça" da UEPG, em Ponta Grossa, PR, no ano de 2003. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos constaram de tebuconazole na dose de 200 g ha-1 (1,00 L ha-1 de Folicur 200 CE); e das misturas formuladas (prontas) de trifloxystrobin e tebuconazole nas doses de 50 e 100 e 75 e 150 g ha-1 (0,50 e 0,75 L ha-1 de Nativo SC); trifloxystrobin e tebuconazole nas doses 50 e 100 e 75 & 150 g ha-1 (0,20 e 0,30 kg ha-1 de Nativo WG) e testemunha. Foram realizadas três aplicações dos tratamentos, aos 85, 96 e 103 dias após a emergência da cultura, cultivar Caçador. As avaliações de controle foram realizadas aos 11, 18 e 27 dias após a primeira aplicação dos fungicidas. Nas condições em que foi desenvolvido o experimento, de alta severidade da doença, pode-se concluir que a mistura de trifloxystrobin e tebuconazole na dose de 75 e 150 g ha-1 das formulações SC e WG é adequada ao controle da ferrugem do alho pela similaridade de controle ao tebuconazole que é recomendado para o controle da doença e por não causar danos visíveis na cultura.

Palavras-chave:Allium sativum L., Puccinia porri, tebuconazole, trifloxystrobin.

ABSTRACT

An experiment was carried out in Ponta Grossa, Paraná State, Brazil, to evaluate the advantage of the addition of the fungicide trifloxystrobin to tebuconazole, to control the garlic rust (Puccinia porri). The experimental design was of complete randomized blocks with six treatments and four replications. The treatments consisted of tebuconazol in the rate of 200 g ha-1 (1,00 L ha-1 of Folicur 200 CE); and of the formulated mixtures of trifloxystrobin and tebuconazol in the rates of 50 and 100 e 75 and 150 g ha-1 (0.50 and 0.75 L ha-1 of Nativo SC); trifloxystrobin and tebuconazol in the rates of 50 and 100 e 75 and 150 g ha-1 (0.20 and 0.30 kg ha-1 of Nativo WG) and non sprayed control. Three applications of the fungicides were carried out at 85, 96, and 103 days after the plant emergence, cultivar Caçador. Disease was assessed at 11, 18 and 27 days after the first application of fungicides. Under Puccinia porri high severity observed in the experiment, the mixture of the trifloxystrobin and tebuconazol in the rate of 75 and 150 g ha-1 of SC and WG, showed similar control of the garlic rust as compared to tebuconazol, fungicide recommended for the rust control and for not causing visible damages in the culture.

Keywords:Allium sativum L., Puccinia porri, tebuconazol, trifloxystrobin.

A ferrugem é uma doença de ocorrência generalizada em todas as regiões do globo desde que, durante o cultivo das plantas suscetíveis, ocorram condições ambientais favoráveis ao seu desenvolvimento. A doença ocorre mais freqüentemente em condições de alta umidade relativa do ar e baixo índice pluviométrico. Temperaturas moderadas favorecem a infecção, sendo a mesma inibida quando valores acima de 24ºC e abaixo de 10ºC são registrados (Massola Jr. et al., 2005). Apesar de incidir sobre várias espécies do gênero Allium, a doença é especialmente importante para o alho (Allium sativum L.) e para a cebolinha (Allium fistulosum L.), sendo menos freqüente e apresentando importância relativa às demais plantas daquele gênero. Nas condições do Sul do Brasil, se situa entre as doenças de maior importância, sendo muitas vezes responsável por queda acentuada da produção de culturas nas quais não são adotadas as medidas de controle necessárias (Sanchez et al., 2003; Massola Jr. et al., 2005).

As plantas de alho são suscetíveis à ocorrência da ferrugem em qualquer fase do seu desenvolvimento. A doença, causada por Puccinia porri (D.C.) Rud. é caracteriza pelo aparecimento no limbo foliar de numerosas pústulas pequenas, elípticas, a princípio recobertas pela cutícula da folha. Com o rompimento desta há exposições de massa pulverulenta, de cor amarela, constituída por uredosporos do fungo. Numa fase mais avançada da doença, a massa pulverulenta formada na pústula mostra-se de cor castanho-escura ou preta, devido à formação de teliósporos (Massola Jr. et al., 2005).

Com relação ao manejo da cultura, é importante evitar o plantio em solos compactados, de baixada, bem como adubações desequilibradas. A utilização de cultivares mais resistentes à doença é recomendada e o controle químico é efetivo, sendo utilizado com freqüência nas lavouras de alho.

Fungicidas do grupo dos triazóis são recomendados para o controle da ferrugem (Massola Jr. et al., 2005). Entre eles o tebuconazole é utilizado com bons resultados de controle da doença e seletividade à cultura (Sanchez et al., 2003; Andrei, 2005). Os produtos do grupo das estrobilurinas são de uso mais recente e mostram bons resultados de controle de diferentes doenças e culturas, especialmente quando em mistura pronta com triazóis, aumentam o espectro de controle e a ação residual do tratamento (Picinini & Prestes, 1994; Picinini & Fernandes, 1998). Para o controle da ferrugem do alho ainda não há relatos na literatura a respeito do uso combinado de trifloxystrobin com tebuconazole, mas essa mistura mostra resultados eficientes no controle de ferrugem em cevada (Rizzi et al., 2006), ferrugem em feijão (Modesto et al., 2005) e brusone no arroz (Lobo, 2004) sem causar efeitos fitotóxicos nas plantas.

O presente trabalho teve como objetivo avaliar se há a vantagem da adição do fungicida trifloxystrobin ao tebuconazole no controle de ferrugem na cultura do alho.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado na Fazenda Escola "Capão da Onça" da UEPG, Município de Ponta Grossa, PR, em um Cambissolo distrófico de textura argilosa, no ano 2003. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições. As parcelas apresentaram área total de 6,0 m2 (5,0 x 1,2 m) e área útil de 4,0 m2 (4,0 x 1,0 m).

O plantio do alho, cultivar Caçador, foi realizado manualmente em 15/07/03, em fileiras espaçadas de 0,25 m e 0,10 m entre plantas. A adubação consistiu da aplicação de 1.000 kg ha-1 de adubo de fórmula comercial 04-20-20 no plantio e 50 kg ha-1 de nitrogênio em cobertura na forma de uréia. O controle de plantas daninhas foi realizado manualmente na área do experimento.

Os tratamentos constaram de tebuconazole na dose de 200 g ha-1 (1,00 L ha-1 de Folicur 200 CE, concentrado emulsionável); e das misturas formuladas de trifloxystrobin e tebuconazole nas doses de 50 e 100 e 75 e 150 g ha-1 (0,50 e 0,75 L ha-1 de Nativo SC, suspensão concentrada); trifloxystrobin e tebuconazole nas doses 50 & 100 e 75 e 150 g ha-1 (0,20 e 0,30 kg ha-1 de Nativo WG, granulado dispersível) e testemunha. Os fungicidas foram aplicados através de pulverizador costal, à pressão constante de 35 lb pol-2, mantida por CO2 comprimido, com pontas de jato plano "leque" XR 110.02 e volume de calda de 500 L ha-1. Foram realizadas três aplicações dos tratamentos, aos 85, 96 e 103 dias após a emergência do alho.

Foi avaliada a severidade de Puccinia porri, determinando-se a severidade, utilizando a escala diagramática de Azevedo (1997). Foram avaliadas as folhas de 10 plantas por parcela aos 85, 96 e 103 dias após a emergência das plantas de alho, correspondente a 11, 18 e 27 dias após a primeira aplicação dos tratamentos.

Os dados foram submetidos à análise da variância (teste F) e as diferenças entre as médias, quando significativas, comparadas pelo teste de Tukey no nível de 5% de probabilidade. Para as avaliações de severidade os dados foram transformados para arc sen .

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O clima no decorrer do experimento caracterizou-se por temperaturas amenas e alta umidade relativa do ar, o que é favorável ao desenvolvimento da ferrugem (Massola Jr. et al., 2005). Assim a severidade da doença foi bastante alta, como pode ser notado pelos resultados da testemunha (Tabela 1). A severidade foi máxima pela escala utilizada já aos 18 dias após a aplicação (DAA) dos tratamentos. Em razão dessa alta severidade, mesmo para o tebuconazole, que é recomendado para o controle da doença (Souza et al., 2003; Sanchez et al., 2003), ocorreu redução na porcentagem de controle nas avaliações realizadas aos 18 e 27 DAA. Em relação ao trifloxystrobin e tebuconazole (SC) e a trifloxystrobin e tebuconazole (WG) nas maiores doses (75 e 150 g ha-1 e 75 e 150 g ha-1 respectivamente), os resultados foram similares e o controle não diferiu do tebuconazole na avaliação aos 18 DAA, com controle acima de 74%. Estes mesmos produtos e formulações nas menores doses foram estatisticamente inferiores às maiores doses, aos 18 DAA, indicando o aumento da eficiência do controle da ferrugem com o aumento das doses dos produtos.

Em trabalho realizado por Sanchez et al. (2003), foi observado que o tebuconazole na dose de 200 g ia ha-1 apresentou excelente eficácia de controle da ferrugem na cultura do alho, o que não aconteceu no presente trabalho pela alta severidade em que a doença ocorreu.

Embora houvessem diferenças no controle entre os fungicidas, essas não foram suficientes para se refletir na produção, que foi similar entre esses (Tabela 2). O único tratamento que proporcionou produção superior ao da testemunha foi tebuconazole. Não foram observadas diferenças substanciais no controle entre as formulações da mistura de trifloxystrobin e tebuconazole, sendo ambos adequados no controle da ferrugem.

Não foram observadas alterações nas plantas de alho que pudessem ser atribuídas aos fungicidas utilizados. Nas condições em que foi desenvolvido o experimento, de alta severidade de ferrugem, pode-se concluir que a mistura de trifloxystrobin e tebuconazole na dose de 75 e 150 g ha-1 das formulações SC e WG é adequada ao controle da ferrugem do alho pela similaridade de controle ao tebuconazole, que é recomendado para o controle da doença, e por não causar danos visíveis na cultura. As misturas formuladas de trifloxystrobin e tebuconazole contêm a mesma quantidade de tebuconazole do Folicur 200 CE e preço superior em 5 a 15%, sendo vantajosa a utilização da mistura por conter o trifloxystrobin que, mesmo não tendo sido observada vantagem no controle da ferrugem, é um fungicida que controla outras doenças, especialmente quando aplicado preventivamente (Venâncio et al., 1999). Ainda, o uso de produtos de grupos químicos diferentes em mistura formulada constitui importante estratégia para evitar a resistência dos patógenos a fungicidas (Reis et al., 2007). Das misturas formuladas, a empresa fabricante optou por registrar a formulação SC, que permite o uso de menores quantidades de tebuconazole na mistura em comparação ao produto isolado. Isso confere ao agricultor a possibilidade de escolha dos produtos em função das doenças que ocorrem, com pequeno acréscimo de preço.

(Recebido para publicação em 9 de janeiro de 2007; aceito em 18 de abril de 2008)

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2008
  • Data do Fascículo
    Jun 2008

Histórico

  • Aceito
    18 Abr 2008
  • Recebido
    09 Jan 2007
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