Resumos
Relataram-se oito casos de dermovilite exsudativa vegetante crônica em seis eqüinos de diferentes raças, com idades entre 14 meses e 19 anos. A lesão iniciava-se pelo aparecimento de um tecido podofiloso infiltrativo na região da ranilha e da sola do casco, caracterizado por crescimento rápido e desordenado, de aspecto papiliforme, de coloração esbranquiçada na raiz e escura nas pontas, com secreção necrótica de odor extremamente fétido. Microscopicamente, observou-se a presença de exuberante tecido epidérmico proliferativo, entremeado por escasso tecido conjuntivo. Bactérias gram negativas, associadas à má higiene e umidade, estão incluídas entre os fatores etiológicos, porém prescindem de confirmação científica. Os eqüinos foram divididos em dois grupos de tratamento. No primeiro grupo, constituído de três éguas jovens e um potro, portando lesões em apenas um membro, realizou-se inicialmente remoção cirúrgica da massa invasiva, seguida de cauterização das bordas restantes e posterior aplicação, diária, local de substâncias anti-sépticas. Em três desses pacientes ocorreram recidivas da lesão inicial, com rápido crescimento de tecido hiperplásico, atingindo quase toda a ranilha e metade da sola. Dois animais desenvolveram deformidades do casco, denominadas encastelamento. O segundo grupo, constituído por um macho e uma fêmea, com lesões em dois membros, após o debridamento cirúrgico do tecido, receberam aplicações diárias de ácido pícrico a 5%, associado ao uso local de oxitetraciclina. Embora um desses casos tenha requerido uma segunda intervenção cirúrgica para remoção da massa, os eqüinos apresentaram após um período de dois a três meses total desaparecimento do tecido infiltrativo. A utilização de ácido pícrico a 5% e oxitetraciclina local associada ao debridamento cirúrgico prévio mostrou-se mais eficiente que a utilização de substâncias anti-sépticas no tratamento da dermovilite exsudativa vegetante crônica de eqüinos.
Eqüino; cancro da ranilha; pododermatite hipertrófica
Chronic hypertrophic pododermatitis cases in six horses of different breeds, aging 14 months to 19 years are described. The lesion begun with a infiltrative tissue in the frog and sole regions of the hoof, characterized by a fast and disorganized growth, with a papillary aspect, white colored in the roots and dark on the extremity, with a necrotic secretion and an extremely fetid odor. Microscopically, an exuberant epidermic proliferative tissue was observed, intermingled with little connective tissue. The horses were divided into two treatment groups. In the first group, including three young mares and a foal, showing lesions in only one limb, a surgical resection of the invasive mass was performed, followed by cauterization of the remaining edges and subsequent daily local application of antiseptic substances. In three of these horses, recurrence of the initial lesion occurred, with fast growth of hyperplasic tissue, affecting almost all the frog and half of the sole. Two horses developed contraction deformities of the hoof. In the second group, one male and one female, each with lesions in two limbs, after surgical debridement of the tissue, the animals received daily applications of picric acid 5%, associated to local use of oxitetracyclin. Although one of these cases required a second surgical intervention for removal of the mass, the horses showed after a period of two to three months total absence of the infiltrative tissue. The use of local picric acid 5% and oxitetracyclin associated to previous surgical debridement showed to be more efficient than the use of antiseptic substances in the treatment of chronic hypertrophic pododermatitis.
Horse, canker; hypertrophic pododermatitis
Observações clínicas, anatomopatológicas e tratamento de seis casos de dermovilite exsudativa vegetante crônica (cancro da ranilha) de eqüinos
[Clinical aspects, anatomopathologic observations and treatment of six cases of chronic hypertrophic pododermatitis (equine canker)]
J.C. Lacerda Neto, L.P. Martins Filho, A.C. Alessi, G.C. Ferraz, J.A. Marques, C.A.A. Valadão
1Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP
Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellani, km5
14870-000, Jaboticabal, SP
Recebido para publicação em 12 de julho de 2000.
e-mail: jlacerda@fcav.unesp.br
RESUMO
Relataram-se oito casos de dermovilite exsudativa vegetante crônica em seis eqüinos de diferentes raças, com idades entre 14 meses e 19 anos. A lesão iniciava-se pelo aparecimento de um tecido podofiloso infiltrativo na região da ranilha e da sola do casco, caracterizado por crescimento rápido e desordenado, de aspecto papiliforme, de coloração esbranquiçada na raiz e escura nas pontas, com secreção necrótica de odor extremamente fétido. Microscopicamente, observou-se a presença de exuberante tecido epidérmico proliferativo, entremeado por escasso tecido conjuntivo. Bactérias gram negativas, associadas à má higiene e umidade, estão incluídas entre os fatores etiológicos, porém prescindem de confirmação científica. Os eqüinos foram divididos em dois grupos de tratamento. No primeiro grupo, constituído de três éguas jovens e um potro, portando lesões em apenas um membro, realizou-se inicialmente remoção cirúrgica da massa invasiva, seguida de cauterização das bordas restantes e posterior aplicação, diária, local de substâncias anti-sépticas. Em três desses pacientes ocorreram recidivas da lesão inicial, com rápido crescimento de tecido hiperplásico, atingindo quase toda a ranilha e metade da sola. Dois animais desenvolveram deformidades do casco, denominadas encastelamento. O segundo grupo, constituído por um macho e uma fêmea, com lesões em dois membros, após o debridamento cirúrgico do tecido, receberam aplicações diárias de ácido pícrico a 5%, associado ao uso local de oxitetraciclina. Embora um desses casos tenha requerido uma segunda intervenção cirúrgica para remoção da massa, os eqüinos apresentaram após um período de dois a três meses total desaparecimento do tecido infiltrativo. A utilização de ácido pícrico a 5% e oxitetraciclina local associada ao debridamento cirúrgico prévio mostrou-se mais eficiente que a utilização de substâncias anti-sépticas no tratamento da dermovilite exsudativa vegetante crônica de eqüinos.
Palavras-Chave: Eqüino, cancro da ranilha, pododermatite hipertrófica
ABSTRACT
Chronic hypertrophic pododermatitis cases in six horses of different breeds, aging 14 months to 19 years are described. The lesion begun with a infiltrative tissue in the frog and sole regions of the hoof, characterized by a fast and disorganized growth, with a papillary aspect, white colored in the roots and dark on the extremity, with a necrotic secretion and an extremely fetid odor. Microscopically, an exuberant epidermic proliferative tissue was observed, intermingled with little connective tissue. The horses were divided into two treatment groups. In the first group, including three young mares and a foal, showing lesions in only one limb, a surgical resection of the invasive mass was performed, followed by cauterization of the remaining edges and subsequent daily local application of antiseptic substances. In three of these horses, recurrence of the initial lesion occurred, with fast growth of hyperplasic tissue, affecting almost all the frog and half of the sole. Two horses developed contraction deformities of the hoof. In the second group, one male and one female, each with lesions in two limbs, after surgical debridement of the tissue, the animals received daily applications of picric acid 5%, associated to local use of oxitetracyclin. Although one of these cases required a second surgical intervention for removal of the mass, the horses showed after a period of two to three months total absence of the infiltrative tissue. The use of local picric acid 5% and oxitetracyclin associated to previous surgical debridement showed to be more efficient than the use of antiseptic substances in the treatment of chronic hypertrophic pododermatitis.
Keywords: Horse, canker, hypertrophic pododermatitis
INTRODUÇÃO
A dermovilite exsudativa vegetante crônica (DEVC) ou pododermatite hipertrófica é uma afecção de caráter crônico que acomete os cascos dos eqüinos. Popularmente conhecida como cancro da ranilha, é uma pododermatite eczematóide, caracterizada por crescimento progressivo e secreção úmida na ranilha e em estruturas adjacentes (Johnson, 1982; Wilson et al., 1989). Embora nenhum agente etiológico específico tenha sido identificado, acredita-se que esse processo tenha origem infecciosa. Tentativas de isolamento do agente causal foram infrutíferas em identificar um único agente como responsável pela lesão (Turner, 1989). Durante muito tempo considerou-se doença de manifestação predominante nos membros pélvicos de cavalos de tração associada à falta de higiene das instalações e dos cascos. Atualmente, o cancro é descrito em todas as raças e idades de cavalos, acometendo um ou mais cascos simultaneamente. Sua ocorrência é infreqüente e esporádica, e embora seja comum em animais mantidos em estábulos com má higiene, também pode aparecer em cavalos que vivem por longos períodos em pastagens úmidas (Hunt et al., 1995).
Na fase inicial, quando o seu caráter infiltrativo ainda não pode ser avaliado, a DEVC assemelha-se à pododermatite exsudativa da ranilha (PER), conhecida por broca de casco, de caráter mais benigno. A demora na adoção de medidas terapêuticas mais enérgicas pode permitir o acometimento de estruturas importantes localizadas sob o tecido dérmico, como o tendão flexor digital profundo e a falange distal. De acordo com Wilson (1994a), a observação mais detalhada da lesão revelará a presença de tecido proliferativo, característica de pododermatite hipertrófica, sem perda de tecido.
A terapia do cancro da ranilha dos eqüinos foi considerada difícil e freqüentemente ineficaz (Adams, 1974). Os tratamentos recomendados para essa condição têm variado desde a administração de antibióticos, sulfas, antimicóticos, adstringentes e outras drogas tópicas até o debridamento cirúrgico (Steckel, 1987; Stashak, 1987; Adkins, 1996).
De acordo com Wilson (1994a), o tratamento do cancro passa necessariamente por três etapas, limpeza e secagem do casco, debridamento do tecido hipertrófico e aplicação tópica de antibióticos. A remoção de uma margem significativa de tecido lesado é um passo importante na cura do processo hipertrófico, pois recidivas ocorrem com freqüência quando o tecido lesado não é totalmente removido (Turner, 1989).
Considerando as dificuldades na remissão da lesão, a diversidade de tratamentos pós-cirúrgicos e a escassez de informações encontradas na literatura internacional, objetivou-se comparar diferentes tratamentos utilizando-se associação de anti-sépticos e adstringentes e antibióticos na DEVC de eqüinos naturalmente acometidos.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram estudados seis eqüinos, dois machos e quatro fêmeas de diferentes raças, com idades entre 14 meses e 19 anos. Todos os animais, exceto uma égua, foram tratados com soluções anti-sépticas anterior ao encaminhamento para o Hospital Veterinário, por períodos que variaram de duas a 20 semanas. Uma égua Brasileiro de Hipismo e um garanhão Andaluz desenvolveram, em períodos diferentes, lesões em dois cascos. Apurou-se junto aos proprietários ou responsáveis que duas éguas das raças Árabe e Brasileiro de Hipismo permaneceram em ambiente úmido no período anterior ao desenvolvimento das lesões, onde se acumulavam detritos orgânicos. Os demais, mantidos em regime semi-extensivo, permaneceram a maior parte do tempo em baias. Em todos os casos havia em comum a falta ou a má higiene.
Nos animais estudados a lesão se iniciava pelo aparecimento de um tecido podofiloso infiltrativo na região da ranilha e da sola do casco, caracterizado por crescimento rápido e desordenado, de aspecto papiliforme, de coloração esbranquiçada na raiz e escura nas pontas, com secreção necrótica de odor extremamente fétido.
Quanto ao tratamento, dividiram-se os animais em dois grupos (G1 e G2). O grupo 1 foi constituído de quatro eqüinos, com acometimento de um casco cada. Invariavelmente, esses animais haviam recebido tratamento prévio de substâncias anti-sépticas por pelo menos seis semanas, sem resultados satisfatórios. Os dois animais do G2 apresentaram lesões em dois cascos. Em todos os casos realizou-se debridamento cirúrgico das lesões. Quando a lesão se restringia ao tecido superficial, sua remoção foi efetuada com auxílio de rinetas. Nos casos onde a massa do tecido anormal estendia-se até estruturas mais nobres, como tendão flexor digital profundo e/ou falange distal, o debridamento cirúrgico das lesões foi mais radical e era realizado com o animal submetido à anestesia geral. Após a cirurgia, os cascos eram enfaixados com uma bandagem de algodão recoberta com fita adesiva (Silver tape, Minessotta Manufacture Machines (3M). Durante as duas primeiras semanas, as bandagens eram removidas diariamente para realização de curativo, e posteriormente a cada dois dias até completar a cicatrização ou até se considerar o tratamento terminado. Nos animais do G1, a limpeza das secreções da ferida cirúrgica foi realizada com líquido de Dakin e, em seguida, após secagem da região com compressa de algodão, aplicaram-se soluções anti-sépticas. Em um animal utilizaram-se água oxigenada e tintura de iodo e em outro, solução de permanganato de potássio a 3%. Uma mistura de sulfato de cobre e formalina foi utilizada em dois eqüinos. Nos animais do G1 após limpeza com líquido de Dakin, aplicou-se ácido pícrico a 5% sobre a superfície do tecido, esperou-se o secamento da superfície e polvilhou-se oxitetraciclina (Oxitetraciclina, Pfizer) sobre a superfície da lesão, recobrindo-a. Após a administração das medicações tópicas, o casco foi enfaixado como descrito anteriormente.
Amostras de tecido podofiloso removido durante o ato cirúrgico foram depositadas em frascos com solução tamponada de formol a 10%, pH 7,2, para fixação e posterior inclusão em parafina. Cortes histológicos de 5mm de espessura foram obtidos e corados com hematoxilina e eosina para observação microscópica.
RESULTADOS
A aplicação de sulfato de cobre e formalina durante cinco meses foi eficiente em um dos casos. A utilização de solução de permanganato de potássio a 2% também mostrou-se satisfatória no único potro que recebeu essa medicação. Dois casos não responderam aos tratamentos de associação de água oxigenada a 10% com tintura de iodo a 5% e sulfato de cobre e formalina (Tab. 1). Dois eqüinos desse grupo, números 1 e 3, desenvolveram deformidade flexural e encastelamento dos cascos durante o desenvolvimento do cancro da ranilha.
Nos eqüinos do G2, após exerese do tecido hiperplásico, efetuaram-se aplicações de ácido pícrico a 5% e oxitetraciclina tópica. Nesse grupo, os eqüinos eram portadores de duas lesões em cascos diferentes. O período de recuperação para esses animais foi menor do que nos casos anteriores (Tab. 2). Na égua número 1, a lesão caracterizou-se pelo aparecimento de um tecido infiltrativo, de formato circular, parcialmente recoberto por secreção pastosa de coloração enegrecida e odor fétido. Quando removida essa secreção expôs um tecido de coloração esbranquiçada e superfície irradiada. Às expensas do tecido epidérmico, o processo espalhou-se pela superfície da ranilha ao mesmo tempo em que se infiltrava por sua estrutura, modificando o seu formato, tornando-o à medida que avançava parecido a couve-flor. A ranilha pouco a pouco foi perdendo seu formato piramidal característico, tornando-se uma massa disforme de bordos irregulares, por onde se projetavam formações pedunculosas, de coloração esbranquiçada na base e enegrecida na ponta. Com a evolução do processo as barras e a sola foram atingidas e englobadas pela massa tecidual. Nesse ponto, devido a falta de apoio do talão no solo, este tornou-se comprido conferindo ao casco um formato encastelado. Estruturas internas, como coxim digital e tendão flexor digital profundo, também foram envolvidas pelo enraizamento do processo (Fig. 1). O tamanho das lesões variou de 1,0 a 7,0cm para os eqüinos de G1 e de 1,0 a 1,5cm para G2.
Microscopicamente observou-se exuberante proliferação de células da epiderme, entremeada por escasso tecido conjuntivo. O processo se dava às custas de acantose sem hiperqueratose ou paraqueratose, formando projeções epidérmicas. Entre as projeções havia tecido conjuntivo com infiltrados focais de células inflamatórias, principalmente neutrófilos, em maior número na periferia da lesão, e presença de vasos sangüíneos (Fig. 2 e 3).
DISCUSSÃO
Historicamente a DEVC é uma doença relacionada aos cascos dos membros pélvicos de cavalos de tração. Entretanto, neste estudo 87,5% dos casos ocorreram nos membros torácicos. Acredita-se que, no passado, a alta ocorrência do processo nos membros posteriores devia-se ao fato de esses animais serem estabulados em baias estreitas que os impedia de se virarem. Sob essas condições, a urina e as fezes acumulavam-se na parte de trás das baias, expondo os membros pélvicos à condições piores de higiene que às dos membros torácicos (Wilson et al., 1989). Neste trabalho, quatro eqüinos desenvolveram a afecção enquanto estavam alojados em baias espaçosas que permitiam ampla movimentação, mas que apresentavam más condições de higiene, com acúmulo de fezes e detritos por períodos prolongados.
Uma situação que permitiu a umidade constante dos cascos também esteve presente em pelo menos mais dois casos, uma vez que esses animais permaneciam em locais permanentemente empoçados. Turner (1989) sugeriu que a umidade do ambiente onde ficam os animais é um fator predisponente importante no desenvolvimento do cancro da ranilha. Esse é o caso do estado norte-americano da Flórida, onde condições de umidade elevada estendem-se por vários meses do ano (Wilson et al., 1989).
O sucesso do tratamento da DEVC depende da precocidade do diagnóstico e da adoção de medidas terapêuticas específicas, uma vez que o tecido invasivo pode infiltrar-se profundamente, acometendo estruturas importantes como o tendão flexor digital profundo, a terceira falange e a bolsa podotroclear (Adams, 1974; Stashak, 1987). A freqüência relativamente alta de diagnósticos tardios deve-se a confusões feitas entre DEVC e PER. Quatro dos casos atendidos (G1) foram equivocadamente tratados como PER durante períodos que variaram de duas a 20 semanas, sem remição do quadro clínico. Entre esses, estavam dois eqüinos que apresentaram grave comprometimento de estruturas internas do casco devido à infiltração do tecido conjuntivo proliferado. A confirmação clínica da condição, especialmente nos casos em fase inicial de desenvolvimento, baseou-se na principal diferença entre DEVC e PER. Enquanto na primeira ocorreu proliferação de tecido e crescimento da lesão, na última houve perda tecidual e diminuição da estrutura devido à erosão produzida pela atividade bacteriana. A baixa ocorrência da DEVC diante da alta ocorrência de PER, além das semelhanças entre as secreções, odor e localização, fazem com que seja comum o diagnóstico incorreto (Wilson, 1994a). Quando persistiu alguma dúvida em relação ao diagnóstico, foi realizado o exame histopatológico. Segundo Wilson et al. (1989), na fase inicial o exame histopatológico é fundamental para a confirmação do diagnóstico. De fato, o exame realizado revelou-se apropriado à confirmação do diagnóstico.
Os tratamentos utilizados resultaram em 50% de casos resolvidos com tratamento convencional e 100% com o uso de ácido pícrico e oxitetraciclina, bastante próximos aos 86% referidos por Wilson et al. (1989). Segundo Turner (1989), a massa de tecido hiperplásico deve ser radicalmente removida, estendendo-se o debridamento até uma pequena margem de tecido peri-lesional sadio. Esse procedimento diminui a possibilidade de recidivas, a complicação mais comum, pois pode remover totalmente o agente infeccioso. Wilson et al. (1989) consideram que tal procedimento pode lesar estruturas importantes do casco e recomendam a remoção parcial da massa anormal, preservando o tecido germinativo epitelial. Segundo esses autores, o debridamento cirúrgico parcial apresenta melhores resultados que a remoção radical, além de períodos de recuperação significativamente menores.
O uso de substâncias anti-sépticas usuais não se mostrou satisfatório em 50% dos casos. Nos eqüinos que se recuperaram com essa terapia possivelmente houve remoção adequada do tecido hipertrófico e, posteriormente, adoção de medidas sanitárias que impediram a recidiva do processo. No grupo de animais nos quais se utilizaram ácido pícrico e oxitetraciclina os períodos de recuperação diminuíram nitidamente. Turner (1989) questionou a necessidade de antibioticoterapia com alegação de que ela atua no local apenas como adstringente. Considerando-se que a umidade parece ser um pré-requisito para o desenvolvimento da doença, nesta pesquisa a utilização do ácido pícrico a 5% ofereceu uma alternativa terapêutica satisfatória. Segundo Wilson (1994b), o uso de antibióticos contra microorganismos anaeróbicos facilita a resolução da doença e contribui para confirmar a hipótese de que bactérias anaeróbicas estão envolvidas na patogênese da condição. No presente trabalho, o uso tópico de oxitetraciclina apontaria também para essa evidência.
Os períodos de recuperação obtidos foram maiores que os relatados por Wilson et al. (1989) e Wilson (1994b). A remoção radical da massa lesionada, que atingiu em alguns casos o tecido germinativo, e a da maior extensão das lesões foram provavelmente as principais causas das diferenças entre este estudo e os dos autores citados.
Embora o cancro eqüino seja uma enfermidade esporadicamente diagnosticada, deve-se considerar sua ocorrência sempre que houver presença de tecido proliferado e odor pútrido na ranilha. O diagnóstico precoce diminui o comprometimento das estruturas nobres do casco e aumenta as chances de recuperação. A adoção de medidas sanitárias, como a manutenção dos animais em locais limpos e secos, parece ser a melhor forma de prevenção do cancro da ranilha. O exame histopatológico de material obtido por meio de biopsia pode ser decisivo no diagnóstico. A remoção da massa lesional e a aplicação de ácido pícrico a 5% e oxitetraciclina sobre a área retirada mostrou-se superior à administração de substâncias anti-sépticas.
AGRADECIMENTOS
A Francisca A. Ardison e Maria I.Y. Campos pela confecção das lâminas histológicas.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
07 Jun 2002 -
Data do Fascículo
Jun 2001
Histórico
-
Recebido
12 Jul 2000