COMUNICAÇÃO COMMUNICATION
I.F. VidalI; I.V. MartinsI; R.A. LiraII; M.N. TeixeiraIII; M.A.G. FaustinoIII; L.C. AlvesIII
IAluna de pós-graduação - UFRPE - Recife, PE
IICentro de Pesquisas Ageu Magalhães - FIOCRUZ - Recife, PE
IIIUniversidade Federal Rural de Pernambuco - Recife, PE
Palavras-chave: cão, enzima, função hepática, calazar canino
ABSTRACT
The serum levels of Gamma-GT in dogs naturally infected by Leishmania (Leishmania) chagasi were evaluated. Two groups of animals were used: the first with 41 naturally infect dogs and the second with 14 uninfect animals. The results showed 17.1% (7/41) dogs presented high levels of gamma-GT, but no difference between groups was observed. So, the serum level of gamma-GT is not a tool for diagnosis of visceral leishmaniasis in dogs
Keywords: dog, enzyme, liver function, kala-azar
Na leishmaniose visceral canina (LVC), as alterações hepáticas estão associadas à evolução da doença, em função da multiplicação das formas amastigotas nos macrófagos (Tryphonas et al., 1977; Tafuri et al., 1996). Em geral, a hepatite crônica observada em animais com LVC é caracterizada por infiltrado linfoistioplasmocitário periportal (Ferrer, 1992), com proliferação fibroblástica, hipertrofia e hiperplasia das células de Kupffer (Hag, 1994).
Assim, a estase biliar intra-hepática tem sido observada pelo acúmulo de bilirrubina nos ductos e canalículos biliares em animais com LVC, especialmente quando o processo inflamatório e a fibrose acometem o parênquima hepático de modo considerável (Luvizotto, 2006).
Entre os testes de função hepática realizados no diagnóstico de hepatopatias, a determinação dos níveis séricos de fosfatase alcalina (FA), alanina transaminase (ALT), aspartato transaminase (AST) e gama-glutamil transferase (gama-GT) tem sido relatada como marcadora das desordens hepatobiliares (Sutherland, 1989; Dial, 1995). Apesar de a enzima gama-GT ter sua maior concentração no tecido renal e pancreático (Keller, 1981), sua importância clínica está ligada no diagnóstico da colestase (Sutherland, 1989; Dial, 1995) e de lesões hepáticas de caráter inflamatórias e tóxicas (Valladares et al., 1997).
Contudo, pouco tem sido relatado sobre a utilização da gama-GT como método auxiliar no diagnóstico da LVC. Este trabalho teve o objetivo de avaliar os níveis séricos da gama-glutamil transferase em cães com infecção natural por Leishmania (Leishmania) chagasi.
Foram avaliados 55 cães adultos, distribuídos em dois grupos. O grupo infectado (GI) foi constituído por 41 animais com suspeita clínica de leishmaniose visceral, de raças e idades variadas, de ambos os sexos, com exames parasitológico positivo para Leishmania (Leishmania) chagasi, e sorológico pelo ELISA1, procedentes da região metropolitana de Recife. O grupo-controle (GC) foi composto por 14 animais sem sinais clínicos da infecção e com exames parasitológico e sorológico negativos para calazar canino, procedentes do Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz, Salvador-BA. Os animais foram escolhidos por amostragem não probabilística por conveniência (Costa Neto, 2002).
De cada um dos animais foram colhidos, aproximadamente, 5mL de sangue por venopunção cefálica, com seringa2 e agulha descartaveis. Ato contínuo, o material foi transferido para tubos estéreis e o soro resultante foi acondicionado em tubos de polipropileno e armazenado em freezer a -20ºC até a realização da prova bioquímica.
Todos os animais foram submetidos à determinação sérica de gama-GT, por meio do método cinético com emprego de kits comerciais3, de acordo com a instrução do fabricante, com leitura em espectofotômetro com absorbância de 405 nanômetros. Para comparação dos resultados de gama GT obtidos na prova bioquímica, foi utilizado o valor de referência de 1 a 10U/L (Shull e Hornbuckle, 1979; Willis et al., 1989). Para análise estatística dos resultados entre o GI e GC, empregaram-se os testes qui-quadrado e Mann-Whitney a 5% de probabilidade (Campos, 1979).
Não foi observada diferença estatística entre os grupos quanto à determinação sérica de gama-GT. O resultado da prova bioquímica revelou altos níveis da gama-GT em apenas sete (17,7%) dos animais do GI. Segundo Mattos et al. (2004), cães soropositivos apresentam valores bioquímicos séricos médios ligeiramente superiores aos dos cães soronegativos.
Os valores da média, mediana, P25 e P75 da gama-GT no GI foram considerados normais (Tab. 1). Nos animais do GI com elevado nível de gama GT, 42,8% (3/7) apresentavam valores de gama-GT duas a três vezes maior que o limite superior referencial utilizada para a espécie canina, o que é indicativo da doença hepática (Willis et al., 1989; Dial, 1995). Contudo, deve ser levado em consideração que o aumento é um indicador de doença hepatobiliar, e pode estar relacionado ao quadro de colestase em cães (Sutherland, 1989; Dial, 1995).
A gama-GT está presente no fígado assim como em outros órgãos, particularmente pâncreas e rins (Keller, 1981). A sua elevação pode ser relacionada à presença falha hepatobiliar observada em animais com LVC (Valladares et al., 1997).
Observou-se que 100% dos animais do GC e 82,9% GI apresentaram níveis basais compatíveis com a idade (1-10U/L), todavia, 17,7% do GI apresentaram alterações na atividade plasmática da enzima que excediam os valores de referência para faixa etária. Segundo Keller (1981), cães adultos saudáveis apresentam baixa concentração dessa enzima no soro, e a elevação significativa no nível de gama-GT ocorre particularmente em filhotes. Este achado confirma o grau de severidade do comprometimento hepático desses animais, considerando que o valor da GGT é um sinalizador das desordens hepatobiliares (Braun, 1983).
Quanto aos sinais clínicos nos animais do GI com elevado nível sérico da gama-GT, observou-se perda de peso em dois cães (28,6%) e presença de vômitos em apenas um (14,3%), sendo este último sinal menos comumente observado (Mattos et al., 2004). Segundo Noli (1999), a perda de peso e a presença de vômitos são manifestações clínicas da LVC, provocadas pela hepatite crônica que ocorre pela multiplicação do parasita nos macrófagos hepáticos. Desse modo, conclui-se que a determinação da gama-GT não constitui um método auxiliar no diagnóstico de leishmaniose visceral canina em razão da baixa sensibilidade do teste.
Recebido em 7 de agosto de 2008
Aceito em 25 de maio de 2009
E-mail: ivanafv@yahoo.com.br
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
13 Jul 2009 -
Data do Fascículo
Jun 2009