Resumos
Avaliou-se a ocorrência de distúrbios na coagulação plasmática e na plaquetometria de cães infectados por Ehrlichia spp., durante 15 semanas após o contágio. Doze cães, entre machos e fêmeas, nascidos em estação experimental e com idades entre um e dois anos, foram usados no experimento. Nove cães foram infectados experimentalmente com sangue de cão naturalmente portador de Ehrlichia spp. e três foram mantidos como controle. As alterações na coagulação plasmática não diferiram entre cães infectados e não infectados. A plaquetometria oscilou durante as 15 semanas entre 61x10³/μL e 830x10³/μL, e o menor valor médio foi de 113x10³/μL na sexta semana após a infecção. Concluiu-se que a coagulação plasmática não apresentou alterações significativas nas 15 semanas após infecção e que a contagem plaquetária oscilou entre valores normais, elevados e reduzidos durante esse período.
cão; Ehrlichia; coagulação plasmática; plaquetometria
The effect of Ehrlichia spp. in plasma coagulation and platelet count in dogs during 15 weeks after contamination was evaluated. Twelve male and female dogs one-to-two-year-old were born in the experimental station and were used for the experiment. Nine dogs were infected with blood of dogs naturally bearing Ehrlichia spp., and three were kept as controls. The variation of plasma coagulation did not significantly differ between infected and uninfected dogs. The platelet count oscillated during the period from 61x10³/μL to 830x10³/μL, and the lowest mean value was 113 x 10³/μL at the sixth week after contamination in infected dogs. In conclusion, the plasma coagulation did not significantly change and the platelet count oscillated between normal, increased, and reduced values during the first 15 weeks after Ehrlichia spp. contamination in dogs.
dog; Ehrlichia; plasma coagulation; platelet
MEDICINA VETERINÁRIA
Avaliação da coagulação plasmática e plaquetometria em cães não infectados e infectados experimentalmente com Ehrlichia spp.
Plasmatic coagulation and platelet count in dogs uninfected and experimentally infected with Ehrlichia spp.
M.S. XavierI; N.R.P. AlmosnyI; M.D. NascimentoI; G.V.O. SilvaII; G.G. BotelhoIII
IFaculdade de Veterinária UFF Rua Vital Brasil, 64 24320-340 Niterói, RJ
IIAluno de pós-graduação FV-UFF Niterói, RJ
IIIFaculdade de Veterinária UFRRJ Seropédica, RJ
RESUMO
Avaliou-se a ocorrência de distúrbios na coagulação plasmática e na plaquetometria de cães infectados por Ehrlichia spp., durante 15 semanas após o contágio. Doze cães, entre machos e fêmeas, nascidos em estação experimental e com idades entre um e dois anos, foram usados no experimento. Nove cães foram infectados experimentalmente com sangue de cão naturalmente portador de Ehrlichia spp. e três foram mantidos como controle. As alterações na coagulação plasmática não diferiram entre cães infectados e não infectados. A plaquetometria oscilou durante as 15 semanas entre 61x103/μL e 830x103/μL, e o menor valor médio foi de 113x103/μL na sexta semana após a infecção. Concluiu-se que a coagulação plasmática não apresentou alterações significativas nas 15 semanas após infecção e que a contagem plaquetária oscilou entre valores normais, elevados e reduzidos durante esse período.
Palavras-chave: cão, Ehrlichia, coagulação plasmática, plaquetometria
ABSTRACT
The effect of Ehrlichia spp. in plasma coagulation and platelet count in dogs during 15 weeks after contamination was evaluated. Twelve male and female dogs one-to-two-year-old were born in the experimental station and were used for the experiment. Nine dogs were infected with blood of dogs naturally bearing Ehrlichia spp., and three were kept as controls. The variation of plasma coagulation did not significantly differ between infected and uninfected dogs. The platelet count oscillated during the period from 61x103/μL to 830x103/μL, and the lowest mean value was 113 x 103/μL at the sixth week after contamination in infected dogs. In conclusion, the plasma coagulation did not significantly change and the platelet count oscillated between normal, increased, and reduced values during the first 15 weeks after Ehrlichia spp. contamination in dogs.
Keywords: dog, Ehrlichia, plasma coagulation, platelet
INTRODUÇÃO
A erliquiose é causada por várias espécies do gênero Ehrlichia, parasitas intracitoplasmáticos de leucócitos e plaquetas de várias espécies de mamíferos, e é transmitida por carrapatos (Huxsoll et al., 1969; Hoskins, 1991). Vários estudos têm mostrado que os animais e o homem são susceptíveis a infecções por várias riquetsias, inclusive as desse gênero, e as infecções têm caráter epidemiológico (Costa et al., 2005; Costa et al., 2006).
Segundo Jain (1993), pode haver alteração na hemostasia em caninos, equinos e bovinos pela diminuição do número de plaquetas. Os cães podem apresentar alterações em diversos mecanismos fisiológicos, dos quais a trombocitopenia é o mais frequente (Moreira et al., 2003; Dagnone et al., 2003) embora, em alguns casos, haja diátese hemorrágica em indivíduos sem redução da plaquetometria (Codner e Farris-Smith, 1986). Assim, a contagem de plaquetas nem sempre está correlacionada com a extensão ou severidade do sangramento, caracterizando disfunção plaquetária (Hibler et al., 1986). A trombocitopenia é um achado consistente com todas as fases da infecção por E. canis, e os mecanismos causadores dessa alteração hematológica são diferentes nas fases aguda e crônica da doença. (Waner et al., 1995; Harrus et al., 1999). A queda na contagem de plaquetas começa poucos dias após a infecção e pode ser causada por aumento no consumo ou por sequestro esplênico e/ou hepático de plaquetas. (Pierce et al., 1977; Woody e Hoskins, 1991). Segundo Smith et al. (1974), a meia-vida das plaquetas está diminuída provavelmente devido ao sequestro esplênico. Ademais, diversos mecanismos imunológicos e inflamatórios podem estar envolvidos com o consumo e a destruição de plaquetas (Waner et al., 1995; Scott, 2000).
Os valores apresentam flutuações dia após dia (Troy e Forrester, 1990), e a resposta medular como feedback à trombocitopenia justifica essas variações (Smith et al., 1975). O tempo de sangramento prolongado e a fraca retração do coágulo são evidências da trombocitopenia ou disfunção plaquetária (Troy e Forrester, 1990; Harrus et al., 1996).
A plaquetometria é considerada um teste sensível, embora pouco específico, na triagem de cães clinicamente suspeitos de erliquiose (Bulla et al., 2004; Macieira et al., 2005), e a magnitude da trombocitopenia pode aumentar a fidedignidade do diagnóstico (Bulla et al., 2004).
Em estudos com cães infectados experimentalmente, foram observados trombocitopenia mais acentuada em diferentes períodos após a infecção: no 35° dia (Huxsoll et al., 1972), entre o 10° e o 14° dia (Buhles et al., 1975), no 17° dia (Pierce et al., 1977), entre o quarto e o sétimo dia (Harvey et al., 1978), no 18° dia (Lovering et al., 1980), em apenas duas a quatro semanas após a infecção (SAI) (Kuehn e Gaunt, 1985), até a quinta SAI (Baker et al., 1987) e a partir do terceiro dia (Gaunt et al., 1990). Segundo Harrus et al. (1996), os menores valores ocorreram entre o 17° e o 24° dia após a infecção, mostrando como o comportamento de redução plaquetária é flutuante e variável. Nos cães com diátese hemorrágica, o tempo de protrombina (TP) e o tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) estão normais, e os produtos de degradação da fibrina (PDFs) não são detectados, indicando normalidade na coagulação plasmática. Entretanto, casos com coagulação intravascular disseminada (CID) podem levar a alterações nesses testes (Troy e Forrester, 1990). Buhles et al. (1975) descreveram as vasculites e Swango el al. (1989) as vasculites e as lesões endoteliais como os mecanismos capazes de causar CID. Tendo em vista as alterações plaquetárias que ocorrem na erliquiose e as consequências clínicas delas decorrentes, o presente experimento teve o objetivo de caracterizar a coagulação e a plaquetometria de cães infectados experimentalmente.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 12 cães sem raça definida, machos e fêmeas, entre um e dois anos de idade, nascidos na Estação Experimental para Pesquisas Parasitológicas W.O. Neitz, do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, onde o trabalho foi realizado. Nove animais foram infectados e três mantidos como controle. As infecções ocorreram a partir da inoculação de sangue de um cão naturalmente infectado e com diagnóstico laboratorial confirmado para E. canis. Analisou-se, durante 15 semanas, a coagulação plasmática por meio do TP e TTPA, enquanto a plaquetometria foi realizada para a avaliação da hemostasia primária, utilizando métodos manuais com o hemocitômetro segundo Coles (1986), ao usar como diluente o oxalato de amônio 1%. Para TP e TTPA utilizaram-se reativos comerciais
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O diagnóstico laboratorial foi realizado mediante a observação de mórulas intracitoplasmáticas em mononucleares e plaquetas em esfregaços de sangue periférico. A sorologia dos animais infectados foi positiva para E. canis e fracamente positiva para Anaplasma (Ehrlichia) platys. Segundo Hoskins (1991), essa associação entre as duas riquetsioses é frequentemente observada.
A variação semanal das médias da plaquetometria dos grupos infectado e controle foi significativamente semelhante durante as 15 semanas. A plaquetometria no grupo-controle não oscilou significativamente, enquanto no grupo infectado houve oscilação significativa nas 15 semanas (F = 1,14 e P = 0,34). Na Fig. 1, vê-se que a oscilação da trombocitopenia foi o resultado mais frequente da alteração hemostática, já descrita por Troy e Forrester (1990), Hoskins (1991) e Harrus et al. (1996). A mais baixa contagem de plaquetas, 113x103/µL, ocorreu na sexta semana, aproximadamente ao 42° dia, diferentemente dos experimentos de Baker et al. (1987), Gaunt et al. (1990) e Harrus et al. (1996), mostrando o comportamento cíclico e variável da plaquetometria em cães com Ehrlichia spp. Os valores mínimo, máximo e médio da plaquetometria foram: 61x103/µL na 11ª semana, 830x103/µL na quarta semana e 287x103/µL, respectivamente, mostrando que a plaquetometria pode estar normal, aumentada ou diminuída no período de avaliação, após a infecção. Nenhum cão infectado apresentou sinais evidentes de hemorragia espontânea durante todo o experimento, mesmo no período de maior trombocitopenia.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
23 Nov 2009 -
Data do Fascículo
Out 2009
Histórico
-
Recebido
24 Out 2008 -
Aceito
31 Ago 2009