Resumos
O presente trabalho teve por objetivo a análise de parâmetros fitossociológicos em um fragmento de floresta estacional semidecídua, no município de São Carlos - SP, situado entre 21º 55' e 22º 00' Sul e 47º 48' e 47º 52' Oeste. Para o levantamento da vegetação foram estabelecidas 50 parcelas de 10 m x 20 m (200 m²), distribuídas perpendicularmente a uma trilha existente no interior do fragmento. Em cada parcela foram amostrados todos os indivíduos com diâmetro à altura do peito (DAP) igual ou maior a 5cm, onde foi medido o diâmetro, a altura, anotado o nome da espécie e coletado material para herborização. Foram encontrados 1343 indivíduos por hectare. As espécies que apresentaram maior valor de importância (VI) foram: Metrodorea nigra (33,09%), Pachystroma longifolium (22,64%), Aspidosperma ramiflorum (20,41%), Actinostemon communis (17,38%), Croton floribundus (12,70%), Savia dictyocarpa (12,14%), Ocotea pretiosa (10,24%) e Machaerium stipitatum (10,01%), que juntas somaram 46,20% do VI total e as 92 espécies restantes somaram 53,80%.
Estrutura da comunidade; fragmento florestal; floresta semidecídua
The objective of was a to analise the phytosociological parameters of a semideciduous forest fragment in a secondary forest, São Carlos, São Paulo State (21º 55" S and 47º 48" W). Fifty plots of 10 m x 20 m (200 m²) were established and distributed perpendiculary to a path in the forest fragment. Trees with a breast height of at least 5 cm of diameter (DBH) were tagged, measured, and identified. 1,343 individuals were sampled in the phytosociologic study. The species with the highest importance value (IV) were: Metrodorea nigra (33.09%), Pachystroma longifolium (22.64%), Aspidosperma ramiflorum (20.41%), Actinostemon communis (17.38%), Croton floribundus (12.70%), Savia dictyocarpa (12.14%), Ocotea pretiosa (10.24%) and Machaerium stipitatum (10.01%), that together comprised 46.20% of total IV and while the 92 remaining species comprised 53.80%.
Community structure; forest fragment; semideciduous forest
LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO EM UM FRAGMENTO DE FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECÍDUA, NO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS, SP1
Luciana Álvares da Silva2
João Juares Soares3
Recebido em 16/02/2001. Aceito em 10/12/2001.
RESUMO (Levantamento fitossociológico em um fragmento de floresta estacional semidecídua, no município de São Carlos, SP). O presente trabalho teve por objetivo a análise de parâmetros fitossociológicos em um fragmento de floresta estacional semidecídua, no município de São Carlos SP, situado entre 21o 55' e 22o 00' Sul e 47o 48' e 47o 52' Oeste. Para o levantamento da vegetação foram estabelecidas 50 parcelas de 10 m x 20 m (200 m2), distribuídas perpendicularmente a uma trilha existente no interior do fragmento. Em cada parcela foram amostrados todos os indivíduos com diâmetro à altura do peito (DAP) igual ou maior a 5cm, onde foi medido o diâmetro, a altura, anotado o nome da espécie e coletado material para herborização. Foram encontrados 1343 indivíduos por hectare. As espécies que apresentaram maior valor de importância (VI) foram: Metrodorea nigra (33,09%), Pachystroma longifolium (22,64%), Aspidosperma ramiflorum (20,41%), Actinostemon communis (17,38%), Croton floribundus (12,70%), Savia dictyocarpa (12,14%), Ocotea pretiosa (10,24%) e Machaerium stipitatum (10,01%), que juntas somaram 46,20% do VI total e as 92 espécies restantes somaram 53,80%.
Palavras-chave Estrutura da comunidade, fragmento florestal, floresta semidecídua
ABSTRACT (Phytosociological survey of arboreal vegetation of a mesophyllous semideciduous forest fragment, in municipality São Carlos, São Paulo State). The objective of was a to analise the phytosociological parameters of a semideciduous forest fragment in a secondary forest, São Carlos, São Paulo State (21o 55" S and 47o 48" W). Fifty plots of 10 m x 20 m (200 m2) were established and distributed perpendiculary to a path in the forest fragment. Trees with a breast height of at least 5 cm of diameter (DBH) were tagged, measured, and identified. 1,343 individuals were sampled in the phytosociologic study. The species with the highest importance value (IV) were: Metrodorea nigra (33.09%), Pachystroma longifolium (22.64%), Aspidosperma ramiflorum (20.41%), Actinostemon communis (17.38%), Croton floribundus (12.70%), Savia dictyocarpa (12.14%), Ocotea pretiosa (10.24%) and Machaerium stipitatum (10.01%), that together comprised 46.20% of total IV and while the 92 remaining species comprised 53.80%.
Key words Community structure, forest fragment, semideciduous forest
Introdução
No Brasil pode-se considerar a ocorrência dos seguintes biomas: a Floresta pluvial (Amazônica e Atlântica), a Floresta temperada quente, a Floresta estacional (Semidecidual e Decidual), o Cerrado, a Caatinga, os Campos e o Pantanal, sendo que a localização geográfica destes biomas, segundo Ribeiro e Walter (1993), é condicionada, predominantemente, por fatores climáticos e edáficos.
Nas regiões sul e sudeste, as florestas tropicais vêm sofrendo um aumento constante de intensidade, freqüência e tamanho das perturbações antrópicas, mas, muitas vezes, é possível recuperar a cobertura florestal através da regeneração natural (Viana 1987).
No Estado de São Paulo, os ecossistemas florestais que antes cobriam mais de 80% da superfície, desde o início de seu processo de desenvolvimento, foram reduzidos, drasticamente, a menos de 5% da área do Estado (CONSEMA 1985).
A introdução da cultura cafeeira foi a principal bandeira de desenvolvimento do estado. Sendo exigente em clima e solo, com a sua expansão, ocorreu a ocupação de terras virgens e cobertas por matas (Victor 1975).
Os fragmentos florestais remanescentes são definidos como qualquer área de vegetação natural contínua, interrompidos por barreiras antrópicas ou naturais capazes de diminuir significativamente o fluxo de animais, pólen e/ou sementes (Viana 1990). Estes fragmentos apresentam sérios problemas, como um grande número de árvores mortas, alta ocorrência de cipós, um grande número de espécies raras e poucos indivíduos e espécies pertencentes a estádios mais avançados da sucessão (Almeida 1996, Viana 1990), porém, são fundamentais para a conservação da biodiversidade, devendo-se adotar técnicas apropriadas para a recuperação e o manejo.
Para um manejo sustentável efetivo existe a necessidade de desenvolvimento de sistemas de manejo adequados às florestas tropicais, sendo necessários conhecimentos de suas características biológicas e ecológicas, que possibilitem um bom manejo sob bases sustentáveis ambiental, econômica e social (Ferreira, 1997).
O presente trabalho teve por objetivo o levantamento da estrutura da comunidade arbórea em um fragmento de floresta estacional semidecídua da Fazenda Canchim, São Carlos, SP.
Material e métodos
O presente trabalho foi realizado na Reserva de Floresta Estacional Semidecídua, na Fazenda Canchim, de propriedade da Embrapa Pecuária Sudeste CPPSE, localizada no município de São Carlos, São Paulo, entre 21o 55' e 22o 00' Sul e 47o48' e 47o 52' Oeste. O clima da região de São Carlos, segundo a classificação de Köppen, é do tipo de transição entre Cwai - Awi (clima quente de inverno seco para tropical com verão úmido e inverno seco) (Tolentino, 1967). A precipitação média anual foi de 1440 mm. A temperatura média das médias anual foi de 26,82o C e a média das mínimas 15,63o C. A reserva apresenta topografia plana, levemente ondulada e altitude média de 850 m. A unidade de solo predominante é a do Latossolo Vermelho Distrófico típico.
O fragmento apresenta uma área de aproximadamente 112 ha de floresta estacional semidecídua, segundo a classificação do IBGE (1993).
Para o levantamento fitossociológico foram utilizadas parcelas retangulares de área fixa de 0,02 ha (10 m x 20 m). Foram demarcadas 50 parcelas, totalizando uma área de amostragem de 1 ha. A demarcação das parcelas foi feita seguindo uma orientação perpendicular à trilha principal que corta o fragmento. A distância entre as parcelas foi de 10 m e entre cada linha 50 m. Em cada parcela foi feito o levantamento de todos os indivíduos arbóreo-arbustivos, vivos ou mortos em pé, com DAP igual ou superior a 5 cm. Os indivíduos foram marcados com plaquetas e identificados pelo nome científico, e quando não identificados, foram coletados para posterior identificação. Os indivíduos que apresentaram estruturas férteis foram depositados no Herbário do Departamento de Botânica da UFSCar. Foi medido o diâmetro com fita métrica e a altura total foi estimada visualmente por comparação com uma vara de 10 m (Silva 2001).
Os parâmetros da estrutura horizontal foram calculados por meio das expressões descritas por Curtis & McIntosh (1950), Mueller-Dombois & Ellenberg (1974) e Lamprecht (1990).
Resultados e discussão
Foram amostradas 50 parcelas envolvendo 1343 indivíduos, sendo 1239 vivos e 104 mortos ainda em pé. As espécies amostradas no levantamento fitossociológico estão apresentadas na Tab. 1. A análise estrutural, representada pelos parâmetros fitossociológicos, é apresentada na Tab. 2, a qual mostra a relação das espécies em ordem decrescente de valor de importância (VI) e seus respectivos parâmetros fitossociológicos.
Excluindo as árvores mortas, 21 espécies contribuíram com aproximadamente 75% da soma total do VI, sendo que apenas oito espécies apresentaram VI igual ou maior a 10.
Um grande número de espécies (55%) apresentou VI menor que 1%, e, segundo Martins (1979), é uma característica das florestas tropicais a presença de um grande número de espécies com baixo VI. Poucas espécies detêm altos valores relativos de densidade, de freqüência e de dominância, enquanto muitas espécies, com poucos indivíduos, têm baixo VI.
Foram encontradas 104 árvores mortas, perfazendo um total de 7,74% dos indivíduos amostrados, o que parece ser normal em florestas brasileiras. Como apresentou elevada freqüência, ocorrendo em 84% das parcelas, indica que não está havendo uma perturbação localizada. Dentre o total de árvores amostradas, Cavassan (1982) encontrou 5,8% de árvores mortas, Struffaldi-De-Vuono (1985) 11,5%, Martins (1991) 7,4% e Tabanez et al. (1997) 11,3%. A morte das árvores pode estar relacionada a acidentes (ventos, tempestades, queda de grandes ramos), doenças, perturbações antrópicas, ou ocorrer naturalmente por velhice (Martins 1991).
Para Lopes (1998), as árvores mortas, ainda em pé, têm valor ecológico para a fauna silvestre, fornecendo abrigo, local de nidificação, fonte indireta de alimento, entre outros.
Em fragmentos recém-isolados, a morte de árvores deve-se, provavelmente, às mudanças microclimáticas que ocorrem por ocasião do isolamento e, em fragmentos isolados há muito tempo, um grande número de árvores mortas mostra que o aumento de mortalidade de árvores não ocorre só imediatamente após o isolamento, mas persiste por muito tempo (Tabanez et al. 1997).
Segundo resultados apresentados na Tab. 2, há 37 espécies com um indivíduo por hectare, o que representa 37% do número de espécies encontradas no fragmento. É um número muito elevado de espécies que ocorrem com apenas um indivíduo amostrado, indicando uma alta susceptibilidade à extinção local da espécie no fragmento, caso ocorra morte ou corte desses indivíduos. Pode ser devido à grande diversidade da flora, ao padrão de distribuição da espécie e a baixa densidade das populações, sendo que este número pode ser ainda maior, pois, segundo Tabanez et al. (1997), à medida que, provavelmente, todas as espécies mais comuns foram coletadas, muitas espécies raras podem ter passado despercebidas por problemas de amostragem.As dez espécies mais importantes com relação ao VI foram: Metrodorea nigra (33,09%), Pachystroma longifolium (22,64%), Aspidosperma ramiflorum (20,41%), Actinostemon communis (17,38%), Croton floribundus (12,70%), Savia dictyocarpa (12,14%), Ocotea pretiosa (10,24%) e Machaerium stipitatum (10,01%), que juntas somaram 46,20% do VI total e as 92 espécies restantes somaram 53,80%.
A espécie Metrodorea nigra apresentou maior VI (33,09%) em decorrência da grande abundância de sua população, com elevados valores de freqüência e densidade (Fig. 1). Já a espécie Pachystroma longifolium (22,64%) apresentou o segundo maior VI, devido principalmente pela dominância.
Para o VC a posição das espécies não alterou muito, a não ser para a espécie Holocalyx glaziovii, por apresentar maior valor de dominância queOcotea pretiosa, ocupando a sua posição (Fig. 2).
A maioria dos fragmentos, encontram-se, atualmente, bastante degradada, com uma alta porcentagem de árvores mortas, alta ocorrência de lianas e algumas populações específicas instáveis, o que pode comprometer o futuro desses fragmentos. O estudo do manejo adequado do fragmento, de proteção contra incêndios, de análise da influência das lianas na queda de árvores e regeneração de clareiras e das populações de espécies instáveis, principalmente de secundárias tardias, deveria receber atenção especial para a recuperação e manutenção deste fragmento florestal.
Os resultados aqui apresentados fornecem subsídios para estratégias de recuperação e manejo de fragmentos de florestas estacionais semideciduais.
Agradecimentos
A Embrapa Pecuária Sudeste CPPSE, pela permissão para a realização deste trabalho na Reserva de Floresta Estacional Semidecídua. Ao Dr. Odo Primavesi (CPPSE), pelas facilidades para realização do trabalho e informações obtidas. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, pelo financiamento do projeto.
2 Doutora do PPG-ERN UFSCar e-mail: lsilva@cenargen.embrapa.br
3 Departamento de Botânica UFSCar e Prof. visitante da UEM. e-mail: juares@power.ufscar.br Rodovia Washington Luiz, KM 235, São Carlos SP Cep: 13565-905 C.P. 676.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
23 Set 2002 -
Data do Fascículo
Abr 2002
Histórico
-
Aceito
10 Dez 2001 -
Recebido
16 Fev 2001