Open-access Obituário: Raimunda Conceição de Vilhena Potiguara - 1947 - 2011

OBITUÁRIO

Raimunda Conceição de Vilhena Potiguara - 1947 - 2011

Ricardo de S. Secco

Museu Paraense Emilio Goeldi

Nasceu em Belém do Pará, em 29 de janeiro de 1947. Em 1972, graduou-se em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal do Pará, durante o curso foi monitora da disciplina de Botânica, como auxiliar da Dra. Normélia Cláudia de Vasconcellos. Após a graduação, atuou como bolsista da seção de Botânica do Museu Goeldi e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA.

Em 1975, concluiu o curso de Mestrado em Ciências Biológicas, pelo INPA, sob a orientação do Prof. Sir Ghillean T. Prance, com o tema anatomia foliar de espécies de Humiriaceae. Em 1976, foi contratada pelo CNPq, para atuar como pesquisadora do Museu Goeldi, na antiga seção de Botânica, implantando a linha de pesquisa em Anatomia Vegetal. Assim, publicou seu primeiro artigo no Boletim do Museu Goeldi, versando sobre anatomia de Podocarpus sellowii Klotzsch, como parte de um estudo sobre as Gimnospermas da Amazônia. Em 1987, concluiu o doutorado em Ciências Biológicas, pelo INPA, sob a orientação do Dr. João Murça Pires, tendo estudado a anatomia de espécies de Quiinaceae.

Foi professora da Universidade Federal Rural da Amazônia e atuava como docente e orientadora do curso de pós-graduação em Botânica Tropical, do convênio UFRA/Museu Goeldi. Em 1996, realizou estágio de aperfeiçoamento em anatomia histológica no Jodrell Laboratory (Inglaterra), sob o patrocínio do PPG7. Foi bolsista de produtividade do CNPq. Teve participação ativa na organização do curso de pós-graduação em Botânica Tropical UFRA/MPEG, e desempenhou as funções de chefe interino e vice-coordenador da Coordenação de Botânica do Museu Goeldi. Além disso, organizou a carpoteca do Herbário MG, a histoteca e o laboratório de anatomia da instituição, bem como aprovou diversos projetos de pesquisa, inclusive sobre coleções botânicas. Teve uma participação bastante expressiva na organização da Carpoteca, para a qual dedicou parte de suas pesquisas. Era membro do Lions Club de Belém, juntamente com o esposo, participando de várias ações em favor de comunidades carentes e ribeirinhos.

Proferiu várias palestras, organizou uma série de mini-cursos sobre sua especialidade, também enfatizando frutos e sementes, bem como apresentou diversos trabalhos em congressos nacionais e internacionais, sempre com seus alunos. Era pesquisadora titular, nível III, do Museu Paraense Emílio Goeldi e tinha como principal meta a formação de jovens para o exercício da Botânica, e tanto era assim que orientou mais de 50 bolsistas, sendo que a maioria deles encontra-se atuando como docente e/ou pesquisador de diversas instituições da região Norte, como Museu Goeldi, UFRA, UEPA, UFPA, IEPA, entre outras, ou estão engajados em cursos de pós-graduação. Tinha uma especial predileção pelas Palmeiras, mas também pesquisou os aspectos anatômicos de Quiinaceae, Sapotaceae, Araceae, Myrtaceae, Leguminosae, entre outras, sempre liderando a equipe do laboratório. Publicou 33 artigos em periódicos, um livro e oito capítulos de livros, sendo que deixou vários trabalhos ainda por concluir.

Ela tinha como uma de suas metas a elaboração de algumas publicações e kits didáticos, com base em plantas de ocorrência na Amazônia, como por exemplo, um laminário, voltado para estudantes, que os auxiliasse no aprendizado da anatomia vegetal. E sempre sob especial entusiasmo, comentava que, no Brasil, esse ramo da Botânica teve início em Belém, a partir de um estudo do botânico suíço Jacques Huber, sobre os aspectos anatômicos do "jambú" (Acmella oleracea (L.) R.K. Jansen = Spilanthes oleracea L.), uma planta de múltiplas utilidades na culinária paraense, ressaltando que o resultado foi publicado em 1898, no Boletim do Museu Goeldi [Museu Paraense] de Historia Natural e Ethnographia (idealizado em 1894, por Emilio Goeldi), hoje Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, Ciências Naturais.

Era casada com o Sr. Ely Potiguara, com quem formava um casal feliz, que gostava muito de dançar e participar de trilhas ecológicas, especialmente nos ecossistemas de campina da Amazônia.

Raimundinha, como era carinhosamente conhecida, apesar de ter uma saúde muito delicada, destacava-se por ser uma figura alegre, comunicativa, bastante colaboradora e extremamente carinhosa em relação aos colegas de trabalho, e especialmente com seus orientandos, que para ela eram como verdadeiros filhos. Mas no dia 10 de junho de 2011, após um longo período de internamento em uma casa de saúde, ela partiu, deixando uma enorme lacuna nos corações de uma verdadeira legião de amigos, os quais ela tão bem conquistou. Tanto é assim que, hoje, não será exagero dizer que ela se imortalizou, pois continua muito querida na lembrança de todos nós, caminhando sorridente, miudinha e (quase sempre) descalça pelos corredores da Coordenação de Botânica do Museu Goeldi.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Nov 2011
  • Data do Fascículo
    Set 2011
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