Open-access ENTRE A FÉ E A EXPRESSÃO POLÍTICA. ETNOGRAFIA DAS INTERAÇÕES ENTRE PASTORES E FIÉIS EVANGÉLICOS DURANTE AS ELEIÇÕES DE 2022 NO RIO DE JANEIRO

BETWEEN FAITH AND POLITICAL EXPRESSION. ETHNOGRAPHY OF THE INTERACTIONS BETWEEN PASTORS AND EVANGELICAL FAITHFUL DURING THE 2022 ELECTIONS IN RIO DE JANEIRO

Resumo:

Este artigo examina as interações entre pastores e evangélicos durante a campanha eleitoral de 2022 na periferia do Rio de Janeiro. Por meio de entrevistas e observações etnográficas, mostra-se como o pastor de uma pequena igreja evangélica de bairro introduz questões políticas nos cultos e tenta moldar as preferências eleitorais da congregação. Observa-se que o discurso político é limitado e regulado por preocupações econômicas e normas cerimoniais. Em seguida, examina-se como os fiéis e a equipe pastoral reagem à crescente politização dos sermões e tentam transmitir suas próprias representações políticas. Por fim, analisa-se como o apoio dado ao candidato Jair Bolsonaro gera conflito e dissensão entre a congregação, levando alguns deles a se distanciarem e a se retirarem temporariamente do culto.

Palavras-chave:  Evangélicos; Eleições Presidenciais de 2022; Rio de Janeiro; Etnografia

Abstract:

This article explores the interactions between pastors and evangelicals during the 2022 election campaign on the outskirts of Rio de Janeiro. Through interviews and ethnographic observations, I show how the pastor of a small neighbourhood evangelical church introduces political issues into services and tries to shape the electoral preferences of the congregation. I observe that political discourse is limited and regulated by economic concerns and ceremonial norms. I then examine how the faithful and the pastoral team react to the increasing politicisation of sermons and try to convey their own political representations. Finally, I analyse how the support given to candidate Jair Bolsonaro generates conflict and dissension among the congregation, leading some of them to distance themselves and temporarily withdraw from attending worship.

Keywords:   Evangelicals ; 2022 Presidential Elections ; Rio de Janeiro ; Ethnography

Introdução

As questões religiosas ocuparam um lugar central na campanha presidencial de 2022 no Brasil. Dada a importância demográfica dos evangélicos, que representam cerca de 30% da população brasileira, os candidatos se esforçaram para mobilizar essa parcela confessional do eleitorado. Em 2018 e 2022, o candidato Jair Bolsonaro pôde contar com o apoio de figuras públicas evangélicas, como o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, e o pastor da poderosa Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo (Almeida, 2019 ; Burity, 2020 ). A encenação de seu batismo nas águas do Jordão em 16 de maio de 2016, seu slogan de campanha “Brasil acima de todos, e Deus acima de tudo”, os sermões de sua esposa Michelle Bolsonaro, bem como sua participação na Marcha para Jesus em 20 de maio de 2019, são alguns exemplos de estratégias usadas para atrair esse eleitorado cobiçado. A defesa da família e dos valores cristãos, bem como a preservação de uma ordem moral ameaçada pela corrupção e pelo marxismo, temas que surgem de forma recorrente tanto durante seu mandato (2019-2023) quanto nas campanhas eleitorais das quais participa, constituem a pedra angular de seu discurso ultraconservador (Camurça, 2020 ; Burity, 2021 ).

Em 2018, segundo uma pesquisa Datafolha 1 , cerca de 60% dos fiéis evangélicos votaram em Jair Bolsonaro, número que se manteve em 2022. A figura do pastor parece central na formação das preferências políticas dos evangélicos, uma vez que, de acordo com Carvalho Junior e Oro ( 2018 ), Bohn ( 2004 ) e Ferreira e Fuks ( 2021 ), a adesão aos valores morais e a frequência significativa aos cultos estão entre os principais fatores que explicam o voto dos fiéis.

No entanto, poucos pesquisadores explicaram detalhadamente, de forma processual e qualitativa, como alguns pastores desconhecidos do público em geral mobilizam as bases eleitorais e buscam influenciar a construção das representações políticas dos fiéis. A cobertura midiática das igrejas evangélicas e as declarações de vários líderes religiosos deram a impressão de um apoio maciço e afirmado de todos os representantes evangélicos às teses de Jair Bolsonaro. Contudo, esses discursos e representações midiáticas não revelam a complexidade desse fenômeno político e religioso e alimentam a ideia de uma igreja evangélica homogênea. Eles ocultam a falta de posicionamento ou a escolha explícita de neutralidade pelas quais muitos pastores optaram. Além disso, tendem a super-representar os pastores mais famosos, com discursos mais virulentos e que incentivam aberta e repetidamente a votar no candidato de sua escolha. Por fim, omitem a interação entre fiéis e pastores, esquecendo que estes últimos adaptam seus discursos à audiência que enfrentam. Como veremos neste artigo, tais dinâmicas, que não são unanimemente favoráveis ao governo de Jair Bolsonaro, regulam as formas de expressão política dos pastores.

Se a ascensão da Bancada Evangélica (Quadros e Madeira, 2018 ) (Dip, 2018 ; Prandi e Santos, 2017 ), o apoio de figuras evangélicas famosas a Jair Bolsonaro e a crescente visibilidade de seus discursos conservadores nos últimos vinte anos (Barros Júnior, 2022 ; Cunha, 2016 ) afirmaram a existência de um forte vínculo entre religião e política no Brasil, a expressão política dentro dos locais de culto permanece pouco estudada. Alguns pesquisadores, como Fabio Lacerda ( 2017 ) e Vinicius do Valle ( 2019 ), destacaram o posicionamento de pastores evangélicos em eleições locais, ou para cargos de deputados, desde o início dos anos 2000, mas verificaram uma relativa ausência de orientações de voto em eleições presidenciais. As eleições de 2018 e 2022 representam uma virada nesse sentido, com vários pastores pedindo votos para um candidato específico. Ainda faltam pesquisas, contudo, que iluminem e apresentem as nuances na forma como as eleições presidenciais adentraram os cultos nesse período.

O objetivo deste artigo é examinar como os pastores de uma pequena igreja local introduziram o debate eleitoral presidencial nos espaços da igreja, no grupo de WhatsApp e, até mesmo, em seus sermões durante o período eleitoral de 2022. Compreender como os atores evangélicos almejaram impactar na construção social das representações políticas dos fiéis exige considerar as relações próximas e as trocas que eles têm com os fiéis, tanto dentro do local de culto quanto fora, no pátio da igreja ou mais amplamente no bairro. Os momentos de festividade ou encontros improvisados no final do culto também serão examinados para analisar o conteúdo político transmitido pelos pastores e membros da igreja. Dada a importância das pequenas igrejas no tecido social dos bairros populares dos grandes centros urbanos, pareceu-me importante analisar os discursos produzidos pelo pastor de uma pequena e qualquer igreja evangélica de bairro. Esta pesquisa foi desenvolvida durante a campanha eleitoral, pois as opiniões políticas são mais vivas e visíveis nesse período. Assim, embora esta pesquisa leve em consideração a politização dos discursos religiosos, ela aborda superficialmente os discursos políticos produzidos a longo prazo.

Este artigo também não aborda em profundidade a recepção diferenciada dos discursos das autoridades religiosas ou os comportamentos políticos dos fiéis ou de uma parte dos fiéis – por exemplo as mulheres – estudados por outras pesquisadoras (Teixeira e Reis, 2023 ), mas destaca como as divergências e os conflitos internos na igreja são expressos e gerenciados pelas autoridades religiosas. Não estamos aqui interessados apenas nos discursos dos pastores, mas também naqueles produzidos por alguns fiéis que participam da cerimônia. Assim, optei por uma abordagem interacionista, que destaca como os indivíduos agem e interagem em uma determinada situação. Os momentos de culto são fortemente marcados pela organização ritual e cerimonial. Pareceu-me pertinente observar como as questões da campanha eleitoral se infiltram nessa ordem cerimonial e examinar até que ponto e de que maneira a organização cuidadosa da prática religiosa permite ou limita a expressão política.

Alguns debates da literatura balizaram a expectativa de como seria introduzido o debate eleitoral na igreja e nos cultos. Baseando-me nos trabalhos de Goffman ( 1982 , 1996 ), observo que as interações entre fiéis e autoridades religiosas são configuradas por convenções sociais e normas, que condicionam as falas. Como demonstraram Michelat e Simon ( 1977 ), a fala pública dos pastores por longas horas constitui uma importante oportunidade para transmitir opiniões políticas. No entanto, é importante ressaltar que a expressão política é regulada pelas sensibilidades dos fiéis. De fato, a consideração das sensibilidades plurais dos crentes é necessária para o pastor se ele deseja manter ou aumentar o número de fiéis, empreendimento que pode falhar se as opiniões políticas expressas forem muito diretas ou repetitivas, em detrimento da palavra religiosa. Além disso, como vários pesquisadores em ciências sociais observaram, reuniões públicas, religiosas (Lichterman, 2005 ) ou não (Eliasoph, 2010 ), são pouco propícias à expressão de preocupações políticas, pois essas são percebidas como conflituosas. Como enfatiza Hamidi ( 2006 ): “manter a ficção comunitária pressupõe, entre outras coisas, evitar qualquer assunto, ou qualquer tratamento de um assunto que destacaria as divisões dentro do grupo”, assim as igrejas seriam locais pouco propícios para a formulação de dissensões políticas. Além disso, a análise em termos de carreira constitui um fator presumivelmente relevante para “compreender como, em cada etapa da biografia, as atitudes e comportamentos são determinados por atitudes e comportamentos passados e, por sua vez, condicionam o campo de possibilidades futuras, reposicionando assim os períodos de engajamento no ciclo de vida como um todo” (Fillieule, 2001 ). O objetivo é, portanto, identificar as disposições sociais que fundamentam o engajamento religioso e os posicionamentos políticos dos pastores, integrando-os às diversas esferas da vida (conjugal, profissional) que compõem a existência do indivíduo. Os relatos biográficos dos pastores serão complementados por dados etnográficos para entender, in situ , como eles e os fiéis atuam dentro e fora da igreja.

Esta pesquisa baseia-se em um trabalho etnográfico de campo de três meses, desenvolvido entre agosto e novembro de 2022, durante a campanha eleitoral. Por etnografia, entendo a imersão prolongada em um grupo e um espaço definido, nos quais o pesquisador desenvolve relacionamentos pessoais. Nesse sentido, compartilho a perspectiva de Desmond de que “a etnografia consiste em tentar entender as pessoas deixando que as vidas delas se misturem com a sua da forma mais completa e sincera possível” ( 2019 , p. 414). Esse método nos oferece a oportunidade de nos familiarizarmos com os atores envolvidos e de tornar suas experiências, percepções e atitudes mais inteligíveis. Selecionei a igreja evangélica na qual conduzi meu estudo com ajuda da mulher que me acolheu, Ana Paula, mulher de 55 anos, evangélica. Ela facilitou a minha inclusão no seu grupo de fiéis sem despertar qualquer desconfiança. Tive mais facilidade em estabelecer vínculos com as mulheres do que com os homens. Devido a normas sociais e de gênero muito fortes, temia ser rotulada de sedutora se conversasse por muito tempo com os respectivos maridos. O meio religioso local é marcado por um forte “ entre soi ” e um controle social rigoroso. O pastor me fez uma série de perguntas sobre minhas origens, convicções e o objeto do meu trabalho antes de me autorizar a entrevistar os membros de sua igreja. Assim como outros fiéis, eu era repreendida quando faltava a um culto ou precisava avisar o pastor se estivesse ausente por vários dias. Fiz observações etnográficas em 35 cultos e conduzi 18 entrevistas com fiéis evangélicos da igreja local e 3 entrevistas com os pastores. Como outros etnólogos que pesquisaram em campos religiosos (Fancello, 2008 ; Teixeira, 2016 ), pareceu-me impossível contornar as normas do meio pentecostal. Portanto, aprendi e reproduzi as “maneiras de ser” evangélicas e participei dos diversos rituais que marcam as cerimônias.

Quadro 1.
Um contexto político e eleitoral marcado por tensões

Inserção da igreja no tecido social local e trajetórias dos pastores

História da igreja Pão e Amor

A Assembleia de Deus Pão e Amor 2 , na qual me envolvi, está localizada em um bairro caracterizado pela presença de numerosas igrejas evangélicas. Duas outras igrejas pentecostais estão a menos de cinquenta metros da igreja estudada, e o bairro abriga cerca de cinquenta igrejas evangélicas e duas igrejas católicas. As mega-igrejas de denominações famosas (Universal, Igreja Batista Atitude) estão localizadas no principal eixo viário que liga o bairro à área urbana luxuosa da Barra da Tijuca, no sudoeste do Rio de Janeiro, enquanto as pequenas igrejas estão situadas nas ruas adjacentes. A entrada da igreja se faz por um pequeno pátio. Localizado atrás de uma imponente grade branca, esse espaço é um local de encontro para os fiéis que se encontram antes e depois dos cultos ou em momentos de convívio. A igreja foi inaugurada em 2021, logo após a pandemia de covid-19. As paredes e o chão de concreto evidenciam essa inauguração recente. De um local de culto local modesto, reunindo entre cinco e dez pessoas, o número de fiéis cresce e a igreja ganha importância, reunindo cerca de cinquenta crentes em cada cerimônia. Para lidar com o influxo de novos membros, o pastor compra o local vizinho e se junta aos fiéis pioneiros em trabalho de mutirão para expandir a igreja. Agora, ela corresponde à imagem um tanto estereotipada do local de culto evangélico improvisado em uma garagem: o ambiente é escuro, dez fileiras de cadeiras plásticas estão alinhadas em frente a um palco simples onde estão dispostos os instrumentos musicais da igreja e o altar. Uma grande cruz de madeira decora a parede central atrás do palco. Ventiladores fixados nas paredes laterais acompanham os sermões e refrescam os fiéis nos dias quentes. Uma televisão suspensa acima do palco e no centro do teto permite que os fiéis acompanhem a letra das canções difundidas sobre um fundo de tela com padrões de cores vivas.

O aumento no número de fiéis também leva à implementação de uma organização hierárquica que existe na maioria das igrejas. A igreja é hierarquizada da seguinte forma: o pastor-presidente, um pastor, os diáconos responsáveis pela intercessão e os obreiros que garantem o bom andamento do culto. Cinco cultos são planejados por semana. Eles reúnem um número variável de fiéis, de dez a cinquenta pessoas. Além desses momentos cerimoniais, há atividades para-religiosas semanais: aulas de alfabetização para crianças e adultos, aulas de música e ensaios musicais. Algumas festas e atividades de lazer (cinema) pontuam a agenda dos fiéis. Ao lado da sala de culto, há uma igreja para crianças e uma para adolescentes. Eles se reúnem lá durante os cultos para receber o ensino religioso ministrado por Diana, diaconisa, que também é professora em uma escola particular confessional. A divisão do trabalho religioso por gênero é muito marcada: os homens são porteiros, enquanto as mulheres geralmente cuidam das crianças, da limpeza e dos momentos de convívio. Os fiéis geralmente se sentam em casais, enquanto os solteiros preferem as fileiras dominadas por pessoas do mesmo sexo. As autoridades religiosas, principalmente homens acompanhados de suas esposas, sentam-se na primeira fileira. Na igreja Assembleia de Deus Pão e Amor, assim como observado por outros pesquisadores em igrejas que eles estudam (Algranti, 2007 ; Spyer, 2020 ; Boas, 2020 ), a participação dos fiéis nos cultos é muito mais dedicada e intensa do que a dos praticantes das confissões católica, espírita ou de matriz africana. No entanto, ao contrário das grandes igrejas, onde o pastor desempenha um papel solene e mantém laços muitas vezes mais frouxos com os fiéis, o pastor está muito próximo deles e mantém relações cordiais e às vezes amigáveis com eles. Uma análise do perfil deste último e do segundo pastor é essencial para entender os diferentes estilos de administrar os cultos e de se posicionar politicamente.

As autoridades religiosas da igreja

Com 39 anos, sorridente e dinâmico, o pastor cultiva um certo ideal de juventude e exibe seu entusiasmo. Vestido com jeans, uma camiseta larga e um boné, sua aparência contrasta com a imagem cerimonial da autoridade religiosa. Sua aparência descontraída também tem uma função social: serve para transmitir a imagem de uma igreja moderna e aberta a todos - em oposição a outras igrejas pentecostais mais rígidas em questões de vestuário - contanto que essa atenda às normas de decência. Essa originalidade do vestuário também é uma marca assumida de seu passado como dono de um bar de rock local. A trajetória biográfica de Manuel nos esclarece sobre seu envolvimento religioso e a percepção de seu papel tanto social quanto político.

O pastor Manuel nasceu na Baixada Fluminense. Seu pai seguiu seu avô, que também era pastor. Ambos ministravam em um bairro popular da Baixada. O chamado pastoral (revelação do pastorado), que ele detalha durante a entrevista, ocorreu durante seu serviço no bar de rock que gerenciava com um colega, e que o levou à escolha radical de abandonar suas partes nesse estabelecimento para “voltar para Cristo”. Ele descreve sua vida passada, marcada por seu gosto pelo rock e pelas noites embriagadas entre amigos, de maneira oposta à vida atual como pai de família e pastor. Após sua revelação, ele deixou o bar, e se dedicou à oração por vários meses, frequentando uma pequena igreja local. Durante um culto, enquanto os fiéis ficam impacientes com o atraso do pastor, ele pega o microfone e anima a cerimônia. Essa experiência de improvisação confirma sua vocação pastoral. Seu pai o encoraja a abrir uma igreja em seu próprio bairro. O pastor descreve o processo tortuoso para encontrar um espaço adequado às suas ambições de receber dezenas de fiéis e aos seus recursos financeiros. Ele explica as estratégias usadas para tornar a igreja visível. Assumindo a dimensão econômica e de marketing do local, ele destaca que “ o evangelismo, ele funciona como uma divulgação de uma empresa ”. Fala sobre a construção artesanal do local de culto, animando as reuniões, tocando guitarra, evangelizando, preparando as cerimônias. Ele desenvolve a rede social da igreja, instala um painel na parede onde os fiéis podem tirar fotos e manda fazer moletons com uma citação bíblica e o nome da igreja. Graças ao esforço individual, “ o apoio de alguns fiéis e a ajuda de Deus ”, cada vez mais crentes afluíram para o local de culto. Para desenvolver esse empreendimento, ele destaca a importância do papel do líder, e a necessidade de respeitar a ordem hierárquica da igreja. Ao respeito pela hierarquia dos status religiosos, adiciona-se também um respeito estrito pela hierarquia de gênero: durante a entrevista, ele mostra a autoridade que exerce sobre sua esposa ordenando-lhe que nos faça um café, e perguntando-lhe sobre a necessidade da esposa se submeter à sua autoridade. A autoridade não é entendida como uma forma de austeridade, o pastor combinando um registro sério e disciplinado com um registro cômico. Durante os cultos, ele conjuga um estilo descontraído, engraçado e sarcástico que adota no início e no final dos cultos com um estilo muito teatral, caracterizado por uma boa ocupação do espaço, uma voz forte e grandes movimentos no palco enquanto realiza seu sermão. O humor, que ele usa frequentemente durante o culto, é usado para criar um sentimento de comunhão, para criar um ambiente agradável (“ o humor é contagioso ”) e contribui, segundo ele, para romper com o peso que pode haver na espiritualidade. No campo político e eleitoral, o pastor diz ter votado em Lula em 2002 e em 2006 “ como todo mundo ”. Fervoroso defensor de Bolsonaro desde 2018, ele participou de duas marchas em apoio ao candidato.

O pastor Diogo nasceu em 1958 na favela de Nova Holanda. Seus pais, espíritas, converteram-se à religião evangélica. Diogo frequenta o culto, expressa sua curiosidade pela espiritualidade, mas vive a prática religiosa com a distância e a despreocupação da infância. Seu pai é operário e sua mãe é dona de casa, eles vivem em uma pequena casa, “modesta”, mas “melhor” do que a de muitos vizinhos da favela. Ele deixou a escola aos quinze anos. Na mesma época, descobriu “os prazeres do álcool”; e aos vinte anos, a cocaína. Trabalhou como operário em uma fábrica têxtil e depois se tornou chefe de setor nesse campo. Para complementar seu salário, roubava tecidos, que ele vendia na favela. Casou-se aos 22 anos e se tornou pai de dois filhos. A morte de seu terceiro filho aos 7 meses, fez com que mergulhasse em um período de angústia e mal-estar, que o levou a intensificar seu uso de cocaína. Deixou sua esposa aos 30 anos, “ abandona a família para se juntar à boca de fumo ”, ponto de venda local de drogas nas favelas. Frequentou assiduamente o grupo de traficantes do bairro que, naquela época, “ controlava a vida cotidiana na favela: tudo era nosso ”. Entrou em conflito com seu chefe, perdeu o emprego e ficou sem teto. Vivia de sofá em sofá, não tinha mais dinheiro para pagar seu consumo de drogas e entrou em uma fase difícil de abstinência. Em 1992, enquanto planejava matar seu chefe, ligou o rádio e ouviu um programa evangélico. Diogo, então, começou uma conversa espiritual com Deus, desistiu do assassinato e ficou prostrado por vários dias antes de se refugiar em uma igreja: “ um lugar de tranquilidade ligado à infância ”. Seu novo compromisso religioso o levou a uma mudança radical em sua vida: parou totalmente de usar drogas, saiu de um longo período de vida tumultuada (“ eu estava realmente no fundo do poço ”) e se engajou na vida religiosa do bairro. Sua reputação de “depravado” sumiu e ele recuperou o respeito dos moradores do bairro. Tornou-se pastor, e em 2020 conheceu o pastor Manuel e a igreja Pão e Amor. Ele não compartilha da visão empreendedora do pastor Manuel, e insiste mais no desenvolvimento de iniciativas sociais e nos laços de solidariedade formados na igreja. No campo político, seu trabalho na fábrica e suas origens populares o levou a aderir às ideias do PT em 2002. A revelação de escândalos de corrupção que atingiram o partido afetou seu apoio e o levou a votar em Jair Bolsonaro em 2018, o que ele mais tarde passou a lamentar amargamente.

Nas duas trajetórias analisadas anteriormente, há um contraste entre uma vida passada marcada pela depravação e a vida atual caracterizada pela devoção e pelo equilíbrio mental e espiritual; especialmente no caso do pastor Diogo, cuja afiliação a uma gangue é ainda mais surpreendente, já que este último, sempre vestido com um terno preto, exibe uma postura de austeridade. Sua aparência também visa romper totalmente com o período passado marcado por um estilo mais relaxado. Esse contraste, que os pastores gostam de lembrar aos fiéis durante os cultos, como observam outros pesquisadores (Semán, 2021 ), serve para realçar os efeitos transformadores e salvadores da fé sobre os indivíduos, para suscitar a empatia dos fiéis e mostrar que a igreja está aberta a todos, independentemente dos problemas sociais ou econômicos que os fiéis podem enfrentar. As trajetórias também mostram as múltiplas retribuições simbólicas (Gaxie, 2005 ) que os pastores sacam do seu engajamento religioso, como o reconhecimento público, o prestígio ou exercício do poder. A apresentação dessas trajetórias biográficas permite entender melhor os estilos diferenciados dos dois pastores e as divergências políticas que os opõem e se cristalizaram durante a campanha eleitoral de 2022. Também, mostra os diversos interesses dos pastores na sua atuação dentro da igreja. Enquanto o pastor Manuel, presidente da igreja, busca aumentar o número de fiéis por meio de técnicas empresariais e de marketing, o pastor Diogo, com mais idade, membro externo da igreja, centra sua participação na vida espiritual.

O pastor e o eleitor: a introdução da política nos cultos

Justificar a introdução das questões políticas

Pão e Amor é uma pequena igreja de bairro, que a princípio não parece particularmente favorável a um candidato ou outro. Somente a imersão prolongada permite entender a formulação implícita de orientações eleitorais. No segundo dia de minha pesquisa, durante uma entrevista, o pastor-presidente me confidenciou sua vontade de abordar as questões políticas. Ele também diz ainda não ter encontrado a maneira adequada de fazê-lo, mas insiste na necessidade de comunicar sobre o assunto. Ele associa sua posição partidária a um dever e a uma responsabilidade moral e política, enquanto se apressa em acrescentar que não importa as questões políticas na igreja:

Como evangélicos, nós temos essa responsabilidade política. Como eu falei, essa autoridade, ela veio de Deus, nós precisamos obedecer a lei da terra. Não precisa? Se você não obedecer a lei do teu país o que que vai acontecer com você? Hum? Vai ser punida. E a política, hoje, exemplo, eu tenho hoje o político a qual eu apoio, o meu candidato, mas eu não levo isso pra igreja mais próximo e nem coloco ele no altar pra poder falar de política. E a política é bíblica. Porém, eu não vou usar o altar que é santo pra pedir voto pra ninguém. O que eu tenho que passar pra igreja é que eis que vai chegar essa hora, tô esperando chegar um pouco mais próximo, né? As eleições. É eles ficarem ligado na proposta de cada candidato. Principalmente aquela proposta, entendeu? Que tem a ver com o nosso lado cristão.

(Pastor Manuel, 25 de agosto de 2024)

Sua recusa em mencionar os nomes dos candidatos Bolsonaro e Lula é uma forma de reforçar sua desaprovação em trazer questões eleitorais para a igreja, ao mesmo tempo em que preserva uma estatura solene que está acima dos conflitos partidários. O pastor está preso em uma tensão entre a consolidação de seu grupo de fiéis, o que envolve o fortalecimento numérico da igreja, e a “responsabilidade” de participar das questões políticas mais importantes da campanha eleitoral. Como membro da rede local de pastores (o que ele enfatizou na entrevista), ele está ciente das posições tomadas por seus colegas e sente que ele também, à sua maneira, tem um papel a desempenhar na campanha. Entretanto, ao contrário das grandes igrejas, que estão em uma situação econômica favorável, as igrejas independentes, recentes e pequenas, por exemplo a Pão e Amor, têm recursos financeiros limitados e – dependentes do dízimo – não podem correr o risco de ver diminuir o número de fiéis. Como as questões políticas são consideradas conflituosas, o pastor deve primeiro garantir o consentimento da congregação antes de fazer uma declaração política explicitamente favorável a um candidato específico. Por fim, ao expressar uma opinião no período que antecede uma eleição, é menos provável que ele provoque mal-entendidos entre os membros da igreja.

Com relação à sua posição política, o pastor usou insinuações sobre o candidato que apoia, escolha que seria evidente, devido à suposta adequação deste último aos valores cristãos. Argumentou sobre sua escolha referindo-se aos valores morais e religiosos que “seu candidato” representaria e aos perigos representados pela possível eleição de Lula:

O que me faz escolher um candidato é que ele tem valores que se aproximam do nosso lado cristão. Então, para mim, é evidente. Eu tenho que pesquisar e buscar um pouco. Mas eu já decidi quem vou votar porque sei o que ele pode nos trazer. É a minha escolha. Quanto ao Lula, ele tem sua história. Mas os valores que ele representa hoje não são necessariamente os meus. E depois, ele se afastou um pouco da Igreja, eu ouvi dizer que ele disse algumas coisas […] Não sei, mas ele não é necessariamente um candidato que eu… Eu estou do lado desse candidato porque eu sei que ele pode trazer coisas boas para nós.

(Pastor Manuel, 25 de agosto de 2022)

Dessa forma, a escolha política do pastor não expressa tanto um desejo de apoiar Jair Bolsonaro quanto uma obrigação moral de votar contra o candidato que, em sua opinião, promove políticas que autorizam práticas desviantes contrárias à moral cristã, nesse caso a descriminalização das drogas e do aborto. Em vez de defender o projeto político do candidato que apoia, ele desqualifica o PT. Conforme demonstrado por Araújo ( 2022 ), essa rejeição ao PT (conhecida como antipetismo) é compartilhada por muitos pastores brasileiros e se baseia principalmente em uma crítica à agenda moral e à corrupção do PT. A corrupção política, vista como um mal absoluto, não deve ser combatida por medidas institucionais, mas pela moralidade e pelas ações cotidianas dos “cidadãos do bem” (Almeida, 2019 ). Eu acrescentaria que o ódio ao PT, que é encontrado em metáforas religiosas – Lula sendo associado à figura do demônio – oferece aos pastores a oportunidade de não ter que apoiar explicitamente Jair Bolsonaro, evitando assim que eles tenham que tomar uma posição pública, ao mesmo tempo em que espalham a mensagem implícita seguinte: “tudo menos o PT”. A representação de Lula veiculada nos comentários do pastor, que reproduz fakes news disseminadas nas redes sociais, é justificada (pelo pastor) pelos efeitos que sua eleição teria em seu cotidiano e, especialmente, naqueles que ele considera vulneráveis: viciados, mulheres e meninas. Ao mobilizar essas figuras, legitima sua posição política, guiada pelo altruísmo (em favor do próximo) e afirma uma postura paternal: ele fica do lado dos defensores da moral cristã e das pessoas mais fracas. Se o pastor reitera sua responsabilidade de levantar questões políticas, é também porque ele está ciente do lugar central que ocupa na vida cotidiana dos fiéis e da autoridade moral e espiritual que exerce sobre eles.

Vários autores (Michelat e Simon, 1977 ; Déloye, 2007 ; Algranti, 2007 ) mostraram que as igrejas católicas e evangélicas difundem imagens e mensagens que implicitamente veiculam certos valores ligados a correntes políticas ou econômicas. Alguns pesquisadores, por exemplo, têm demonstrado em outros contextos latino-americanos que as igrejas evangélicas participam da legitimação do modelo econômico neoliberal (Feria e García, 2021 ). No entanto, ao contrário da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), cuja ética está mais centrada na acumulação de capital através da teologia da prosperidade, o esforço individual e o trabalho, são mais valorizados pelas autoridades religiosas das igrejas pentecostais (Spyer, 2020 ), como a igreja Pão e Amor. Nesse sentido, a ética religiosa do trabalho promovida nesta igreja se assemelha mais àquela das igrejas do protestantismo histórico (Weber, 2017 ). Durante os cultos, os pastores dão a palavra aos fiéis que testemunham sua transformação individual e a experiência da transição de um estado repreensível (vícios, violência, roubo) para uma atitude piedosa e mais ou menos exemplar. A partir desses testemunhos, os pastores defendem o esforço individual. Durante um culto, o pastor Manuel critica a preguiça e incentiva os fiéis a “ não depender do Estado ” e a perseverar na busca por emprego. Em outro, ele exorta a não contestar a autoridade do patrão, mas a se submeter a ela. Como observado por Algranti ( 2007 ) sobre as mega-igrejas argentinas, “os esquemas de percepção da ética evangélica se orientam para uma aceitação da ordem social, com suas hierarquias e desigualdades”. Assim, os sermões não convidam a uma transformação coletiva das estruturas que regem as desigualdades sociais, nem questionam o acesso ao trabalho ou a precariedade do emprego, mas sugerem, ao contrário, a necessidade de os fiéis realizarem uma transformação individual em suas práticas e comportamentos sociais. Além disso, discursos sobre moralidade e decência, na maneira de se comportar, agir ou se expressar verbalmente, são recorrentes. A apresentação pessoal, mais rigorosa para as mulheres, é então concebida como chave para o sucesso nos campos do trabalho ou na construção de relações sociais e familiares.

Esses discursos, delineiam diretrizes para os fiéis e os incentivam a adotar uma atitude piedosa e a aderir a uma visão de mundo dicotômica, dividida entre o bem e o mal. Como em outras igrejas (Deloye, 2007 ), a hierarquia religiosa articula a moralidade religiosa com visões de mundo políticas implícitas das quais tenta facilitar a aquisição por meio de figuras de oposição simplificadas: “bem ou mal”, “justo ou injusto”, “salvação ou danação”. Os discursos sobre a guerra espiritual também incentivam os crentes a estarem atentos às manifestações do mal na terra, que às vezes se sobrepõem, em alguns sermões proferidos pelo pastor, especialmente perto das eleições, a certas características negativas associadas ao PT: roubo, corrupção, preguiça. Se essas mensagens podem contribuir para moldar as opiniões políticas, oferecendo uma leitura simplificada da realidade social e política, elas não estão, pelo menos a princípio, associadas a um candidato em vez de outro.

No entanto, se o pastor não expressa claramente suas preferências políticas durante o culto, essas transparecem em algumas ocasiões. Durante uma refeição de convívio, organizada no pátio da igreja, três homens da igreja e o pastor Manuel discutiam a necessidade dos fiéis se unirem em torno da candidatura de Jair Bolsonaro. Notei que as conversas políticas ficavam limitadas ao círculo masculino, e as mulheres raramente falavam sobre esse assunto na presença dos homens. Um sentimento de incompetência ou desinteresse político, bem como a construção social da expressão política como competência masculina (Alvarez e Parini, 2005 ), explicam em parte essa distância. Os debates políticos televisivos também são discutidos após o culto. Em 29 de outubro de 2022, por exemplo, quatro homens e uma mulher, Gabi, com quem me dou bem, reuniram-se para falar sobre política e me incluíram na conversa. Eles criticaram o tratamento dado a Bolsonaro pela Globo, zombando dos oponentes de Bolsonaro “Ciro, alcoólatra, bebedor de cachaça”, “Lula, ex-presidiário, bandido”, expressaram dúvidas sobre o funcionamento das urnas eletrônicas e anunciaram o caos em caso de vitória de Lula no primeiro turno. Além das conversas nos bastidores da igreja e das conversas informais, durante os cultos, outros sinais de adesão ao candidato Bolsonaro se tornaram mais visíveis à medida que as eleições se aproximavam. Uma semana antes do primeiro turno, a bandeira do Brasil foi colocada no centro da igreja, no altar, ligando de forma simbólica a espiritualidade ao nacionalismo. Em seguida, em um desses sermões, uma das diaconisas da igreja pediu a Deus para evitar que Satanás se sentasse na cadeira presidencial, alusão pouco disfarçada ao candidato Lula. Por fim, dois dias antes do primeiro turno, o pastor decidiu alertar os fiéis sobre as eleições. Ele não mencionou os nomes dos candidatos, mas usou os números que os identificam nas urnas eletrônicas: 22 para Bolsonaro e 13 para Lula.

Vocês sabem que não falo de política no altar. Em nome de Jesus, pensem bem em quem vão votar amanhã. Eu repito 22 vezes, precisamos apertar 22 e conferir. Por quê, meus irmãos? É necessário lembrar: crente de verdade vota 22. Quantos discípulos Jesus tinha? 13! Então, meus irmãos, olhem bem para mim, todos vamos votar 22, em nome do Senhor Jesus. Quem vai votar 13 aqui levante a mão? Ninguém? Ok, de qualquer jeito, aquele que votar 13 vai vir aqui e vai ser disciplinado.

(Pastor Manuel, 30 de setembro de 2022)

Essas declarações são feitas durante o culto da palavra, uma aula de estudo bíblico sobre um tema específico (como a família ou o amor). Se o pastor faz essas instruções de voto nesse momento, é porque esse culto é considerado menos solene e mais livre, mais parecido com um ensinamento. Além disso, o próprio formato do culto, que consiste em fornecer conselhos práticos aos fiéis para viverem de acordo com as normas religiosas e com base em versículos da Bíblia, acaba autorizando mais facilmente uma intervenção sob a forma de recomendações. Por fim, os fiéis que participam desses cultos são moradores do bairro envolvido nas obras da igreja e não visitantes a serem fidelizados, que estariam frequentando a igreja pela primeira vez. Assim, acompanhado de pessoas bem conhecidas cujas sensibilidades políticas são em parte conhecidas, ele minimiza o risco de criar uma situação embaraçosa. A formulação indireta e cômica, que arranca risos da audiência, também permite suavizar a seriedade de suas declarações e cobre um registro paternalista, marcado pelo afeto, mas também por um lembrete da autoridade que exerce “eu vou discipliná-lo”. Enquanto grande parte da plateia se alegra com seu discurso e aplaude suas palavras, observo que o pastor Diogo, sua esposa e Ana Paula, baixam a cabeça e se mostram cautelosos. Embora estejam acostumados a conversar no final de cada cerimônia, eles saem imediatamente após o culto. Mais tarde, o pastor Diogo expressará o constrangimento que sentiu durante essa intervenção do pastor-presidente.

Redes sociais e igreja como espaços de conflito político

O Grupo Whatsapp como espaço de expressão política

Assim como outras igrejas evangélicas (Mochel, 2023 ), a Igreja Pão e Amor utiliza intensamente o grupo Whatsapp da igreja. Com cerca de trinta fiéis, esse grupo é usado para compartilhar informações sobre a agenda da igreja, mas também pode servir como meio de difundir opiniões políticas conservadoras – como é o caso de muitos grupos Whatsapp ligados a igrejas (Rodrigues, 2019 ) – ou de vigiar os fiéis. Assim, em junho, quando uma juíza de Santa Catarina proibiu o aborto de uma criança de 11 anos vítima de estupro, uma das fiéis manifestou sua indignação no Facebook. A resposta do pastor foi imediata e coletiva: ele enviou uma mensagem aos fiéis perguntando se um cristão pode apoiar o aborto? As respostas, todas negativas, reforçaram a autoridade do pastor e humilharam a dissidente sem identificá-la. Assim, a rede social é usada tanto para controlar a expressão política dos fiéis quanto para reprimir práticas e discursos considerados desviantes, mesmo que se insiram em um contexto privado.

O sucesso do pastor em sua abordagem política durante o culto da palavra o levou a reiterar sua orientação de voto por meio desse recurso. Assim, no dia do primeiro turno da eleição, em 29 de outubro, ele enviou para o grupo do Whatsapp da igreja uma selfie com seu título eleitoral, sob o qual estava escrito “22”. Sua mensagem desencadeou uma cascata de respostas entusiasmadas, combinando memes e imagens de Bolsonaro representado como salvador da nação, ou com imagens de Lula na cadeia. Ana Paula, obreira da igreja e fiel com quem convivo, decidiu enviar uma mensagem para mostrar sua desaprovação à introdução de assuntos políticos no grupo. Diante das múltiplas respostas desordenadas, marcadas por solicitude ou por zombaria, o pastor Diogo enviou um áudio em tom solene, expressando sua reprovação à politização das questões religiosas:

Olá, pessoal, a Paz do senhor Jesus. Eu estou algum tempo aqui querendo falar com vocês. Eu vi algumas movimentações de vocês no grupo, algumas movimentações do nosso pastor também na igreja, de algumas pessoas nas igrejas também se pronunciando. Eu decidi falar aqui um pouco a respeito de uma situação. Eu, quando criança, existia no Brasil dois partidos, ARENA e o MDB, então as pessoas na rua, eu era criança em 64 mesmo quando teve aquele movimento, aquele movimento que os militares ocuparam o governo né, nos éramos questionados na rua para saber, eu como criança né, perguntavam ‘em quem que o seu pai vai votar?’, se dissesse tal, que era no MDB, provavelmente a casa seria visitada, e o pai seria detido então havia uma polarização com esses dois partidos. Não havia liberdade para você expressar o que você gostaria de votar, o que você gostaria de fazer. Essa liberdade ela foi dada com a democracia, a democracia. Então hoje eu estou vendo novamente a polarização de 64, não dão o direito de a pessoa discordar daquilo que ele acha que é certo. Agora, nós somos um país democrático, eu voto em quem eu quiser […]. Eu ouvi tantas coisas, numa das reuniões de pastores que eu participei levantou-se um pastor e falou ‘crente vote em crente’, eu disse ‘pastor, crente vota em crente competente pastor’, porque dirigir uma nação não é dirigir uma igreja, não é dirigir uma congregação, não é dirigir um ponto de pregação. Dirigir uma nação, tem que ser se é crente, um crente com consciência que ele vai dirigir uma nação de católicos, de budistas, de adventistas, espiritas, candomblecistas, umbandistas. A nação, ele vai dirigir uma nação, não é uma igreja. Igreja é para pastor. […]. Quem quer votar em A, vote em A e gloria Deus, quem quer votar em B, vote em B e gloria Deus. […] Respeita o outro que não votou e se ganhar ou perder nós vamos continuar sendo mais que vencedores porque a nossa bandeira é cristo. Nosso alvo é cristo, e ele pode governar qualquer nação, independente de quem esteja sentado na cadeira presidencial. […] Desculpa esta pregação pela manhã mas eu precisava falar com vocês, ta bom? Que deus os abençoe em nome de Jesus.

(Pastor Diogo, 29 de outubro de 2022)

Em seu discurso, o pastor mobiliza sua experiência e sua idade avançada para oferecer palavras consideradas sábias ou ponderadas. Ele não se pronuncia a favor de outro candidato, mas promove valores de respeito e tolerância em um contexto local marcado pela polarização política e uma crescente hostilidade em relação às religiões de matriz afro-brasileira. A combinação de um registro secular e religioso, sem tomar claramente partido por um candidato, bem como sua postura solene como homem idoso, que adota certa distância em relação aos debates políticos, o expõe menos a julgamentos negativos ou a uma repreensão por parte do pastor-presidente. A reação deste último é quase imediata: ele responde com dois vídeos: o primeiro representa um jovem “satanista” que reivindica sua filiação ao PT e realiza um ritual para expressar seu apoio a Lula. O segundo, filmado à noite de dentro de um carro, mostra vários grupos de indivíduos vestidos de branco, reunidos ao redor de velas acesas e praticando rituais do candomblé. Em ambos os casos, sem entrar em um conflito aberto com o pastor Diogo, o pastor-presidente alerta sobre a necessidade de se manifestar diante da ameaça que o PT representaria, sendo associado a satanistas e a cultos do candomblé, considerados como demoníacos.

Após essa intervenção, o pastor-presidente, Manuel, bloqueou o acesso à conversa do WhatsApp. Ana Paula decidiu sair do grupo durante o tempo da campanha eleitoral. A esposa do pastor pediu para encontrá-la e a questionou sobre os motivos de sua saída, incentivando-a a voltar o mais rápido possível para a rede social. O pastor prefere que sua esposa converse com Ana Paula em vez de intervir diretamente. Sua escolha é provavelmente motivada pelo desejo de evitar qualquer confronto, de promover o vínculo afetivo entre as duas mulheres e, em última instância, de evitar a saída de uma membra ativa da igreja.

A Expressão cerimonial das divergências políticas dentro da igreja

Embora a igreja pareça preservada de conflitos no WhatsApp, os momentos informais e para-religiosos são marcados por uma certa crispação política. As questões religiosas, colocadas no centro do segundo turno, intrometem-se nas conversas entre praticantes e deterioram as sociabilidades locais. Os rumores mancham as reputações uns dos outros e o conflito às vezes se estendem para além dos muros da igreja. Às vezes, alguns fiéis se envolvem nas frequentes brigas entre o vendedor de legumes, fervoroso defensor de Bolsonaro, cuja barraca fica ao lado da igreja, e o vizinho do outro lado da rua, ardente apoiador de Lula.

As poucas pessoas que se opõem a uma crescente politização dos cultos tomam cuidado para não expressar sua discordância, mas decidem se afastar das conversas ou momentos de convívio. Após a votação do primeiro turno, eles continuam participando ativamente do culto e aproveitam para apelar à paz e à concórdia, enquanto dissimulam mensagens políticas em metáforas bíblicas, permitidas pelo registro religioso. Assim, no dia seguinte ao primeiro turno, Ana Paula, que organiza o culto de consagração toda segunda-feira, dirige-se aos 15 fiéis presentes diante dela. Ajoelhada, com uma voz que gradualmente ganha força e um tom exaltado, ela pronuncia a seguinte oração:

Mas desperta o teu povo, meu pai, vai falando meu pai, desperta a tua igreja espiritualmente, ouça nos nesta terra, que nós possamos compreender o teu querer. A própria igreja se preparar. Desperta, aqueles que estão dormindo. […] Que cada um de nós possa compreender que nosso socorro não vem da política, não vem de dinheiro, não vem do material, o nosso socorro vem da igreja. Que nós possamos olhar para ti senhor, o teu sacrifício, o teu sangue derramado. Tira, meu pai, tira o mau, tira, ó meu pai, vai trabalhando o pensamento, os corações. Vai jogando por terra o bezerro de ouro, trabalha em nome da tua igreja, manifesta o teu poder, a tua a glória. Vai trabalhando pelo Brasil, vai abatendo, meu pai, a mentira, vai abatendo a corrupção, vai jogando por terra a mentira e o engano, vai trazendo toda a verdade, vai jogando por terra o ódio, a divisão da família, a divisão dos amigos, a divisão da igreja, vai queimando meu povo. Vai despertando a igreja, meu pai, vai despertando a igreja. Abraça cada visitante. Vai comover este país, meu país, entra na tua paz, meu Deus, vai jogando por terra este espírito de guerra, vai jogando por terra estes demônios que se levantaram neste país, vai queimando, vai queimando o ódio, vai queimando. Entra no coração do povo, entra no coração da humanidade, coloca amor sobre o Brasil, joga por terra este demônio de guerra que se levantou sobre nosso país.

(Ana Paula, 5 de outubro de 2022)

Essa oração está repleta de referências ao contexto político do momento e à deterioração das relações sociais causada pela campanha eleitoral. Poucos dias antes, Ana Paula havia divulgado no WhatsApp sua rejeição à interferência política nos assuntos da igreja. Em sua pregação, ela usa três argumentos principais, baseados em metáforas: a cegueira, a idolatria e o inferno. A metáfora do sono “ desperta os que estão dormindo ” se refere à desobediência dos fiéis, que, segundo ela, estão mais preocupados com a política e a economia do que com sua salvação. A segunda, a do bezerro de ouro, refere-se a um famoso episódio da Bíblia sobre idolatria. Assim, o apoio fervoroso ao candidato Bolsonaro é comparado à adoração de um ídolo, que levará a perdição dos crentes. Em seguida, a fiel usa uma metáfora que associa a situação atual do Brasil ao inferno bíblico: “ Destruam os demônios que se levantaram sobre este país, queimem […], destruam o demônio da guerra e do ódio que se abateu sobre o Brasil ”. Finalmente, ao longo de seu discurso, o campo lexical da hipocrisia é usado para descrever o governo como “mentiroso”, “corrupto” e “enganador”.

Denunciar de forma analógica e tácita a situação política desde o altar, adotando um tom solene e exaltado e uma postura de oração, confere ao discurso político de Ana Paula uma legitimidade, e ao dotá-lo de um registro sagrado, permite-lhe escapar das acusações de politização do culto. Os fiéis, longe de se ofenderem, respeitam a ordem cerimonial do culto e fingem não compreender os subentendidos políticos: participam na oração, fecham os olhos, levantam as mãos ao céu e entoam “ Glória a Deus ”. A intervenção da Ana Paula reflete sua posição social dentro da igreja: ao contrário dos pastores, homens que podem abertamente falar de política, ela eufemiza o conteúdo político e não se autoriza a expressar a sua opinião política. De acordo com as análises de Mahmoud e Butler (Mahmood, 2009 ; Butler, 2012 ), eu postulo que a agentividade da fiel não pode ser analisada através do prisma da resistência ou do desejo de autoafirmação, mas que continua a obedecer a normas, aqui a normas sociais e religiosas, e a uma estrutura de autoridade.

Etnografia dos cultos no dia dos resultados e no dia seguinte

No Brasil, a realização de cultos durante os dias das eleições (ao contrário de países como a Argentina, onde os cultos são proibidos nessas datas) proporcionou a oportunidade de observar as reações dos fiéis ao anúncio dos resultados. Assim, na igreja Pão e Amor, o culto da família de domingo ocorreu ao mesmo tempo que o anúncio dos resultados do segundo turno da eleição. A tensão era palpável antes de entrarmos na igreja, e alguns homens reunidos no pátio se alegravam da vantagem temporária de Jair Bolsonaro e previam sua vitória. Enquanto alguns fiéis entoavam os primeiros cânticos, um missionário da igreja de 52 anos se aproximou de mim para expressar sua opinião sobre o segundo turno. Pensava que o primeiro turno havia sido uma fraude e considerava que uma intervenção militar seria necessária e obrigatória em caso de vitória de Lula. Os cânticos se intensificaram, encerraram a conversa e nos convidaram a nos sentar. Apenas dois fiéis vestiam a camisa do Brasil, mostrando apoio a Bolsonaro. Muitos fiéis, de olho em seus celulares, se viam distraídos pela corrida presidencial. Quando o resultado foi anunciado, largaram os telefones e intensificaram suas orações. O pastor-presidente se dirige aos crentes: “ Igreja, me deixa falar: Senhor está no controle de sua vida, o Senhor está no controle de sua família, o Senhor está no controle desta tempestade, mesmo que você pense ‘o Senhor perdeu o controle’, mas é você que perdeu o controle! O Senhor não perdeu o controle. O Senhor nunca perderá o controle de sua vida ”. Suas palavras ganham força e são ritmadas pela bateria. Assim, a situação política, comparada a uma “tempestade”, não é abordada diretamente e é rapidamente evacuada, com o pastor incentivando os fiéis a se voltarem para Deus.

No dia seguinte, o pastor Manuel e Ana Paula, ausentes no dia anterior para evitar discussões políticas, participam do culto de consagração. O pastor Diogo é um dos únicos homens presentes nesse culto reunindo principalmente mulheres. O pastor-presidente estava ausente pois estava oficiando numa mega igreja da Barra da Tijuca. No final do culto, as poucas mulheres presentes aproveitaram a ausência dos homens e do pastor-presidente para tomarem a palavra e expressarem sua opinião política.

Diana: Gente o Lula não vai ficar no poder, ele vai morrer.

Gabi - O que esta dizendo? Jesus, misericórdia.

Diana : Eu lembro que um amigo missionário falou isso e mandou para mim que alguém la de dentro falou que ia morrer. Ele sabe que ele vai morrer, entendeu?

Gabi : Ele vai morrer algum dia sim, como todos, mas não da para falar isso.

Diana : Em nome de Jesus que ele né ? se morrer..

Laura: O Bolsonaro não é convertido, mas talvez é melhor não falar porque tem gente a favor do Bolsonaro e do Lula

Diana: Para mim o Lula é o demônio.

Laura : Para mim, nenhum dos dois me representa só que um para mim, Lula é corrupto, mas o Bolsonaro também é vacilão, não é crente, mas ele se diz a favor da igreja

Diogo : Vamos orar para que siga o caminho que foi dado para o novo presidente, que prossiga no caminho. Vai dar certo, em nome de jesus.

Laura : Agora se me chamar, eu vou para rua eu não aceito o Lula no poder

Diana : Eu também vou para rua.

Diogo: A gente tem que se ajoelhar para orar, é a melhor coisa que nós podemos fazer

Diana : Vai ter rebelião, Deus já falou comigo e vai ter rebelião. Deus esta no controle.

Gabi : O nosso sentimento, o nosso achar faz a gente falar besteira e fugir da palavra. A gente fala demais e tem que parar de falar basteira. Eu falei isso para minha filha: ‘Não quero’, ‘não gosto’, ‘não aceito’, cala boca, porque o cara que vai te dar a salvação esta la em cima.

Ana Paula : Exatamente

Diana: Olha o Lula não vai governar, a bancada é maioria! Ele não vai governar.

Ana Paula - A gente não teria que mexer religião com política.

Diogo - Olha como é sério o que acontece quando a gente mexe política com religião. Em vez de ter um momento de confraternização e de paz, nos já começamos a defender pontos de vista, começamos a alterar a voz. Igreja, cada um faz a sua parte, só tem que orar. Se a igreja intervir nestes assuntos políticos, acabou.

Diana - A gente está conversando.

Ana Paula - Não, você está maldiçoando, não esta conversando.

Os comentários feitos por certos membros da igreja no dia da eleição, especialmente sobre a necessidade de intervenção militar – que é defendida principalmente pelos homens da igreja e menos pelas mulheres, como pode ser visto nos trechos mencionados acima – parecem ilustrar uma ruptura na adesão de uma parte dos evangélicos à ordem estabelecida. Embora, como em outros contextos, os evangélicos já tenham se oposto publicamente a projetos de lei (aborto, por exemplo), eles nunca saíram na rua para desafiar um processo eleitoral conduzido democraticamente. Assim – e isso merece análises mais aprofundados – as eleições brasileiras parecem marcar um ponto de inflexão, uma vez que a relação com a religião, longe de incentivar os fiéis conservadores a permanecerem na esfera religiosa e orarem, parece estar incentivando-os a expressar publicamente seu descontentamento (“Deus falou comigo, vai ter rebelião”). No entanto, como observamos ao longo deste artigo, a expressão política no local de culto permanece controlada pelas normas religiosas, por medo dos efeitos sociais e econômicos desta expressão e pela rejeição, por uma minoria de fiéis, da interferência política nos assuntos religiosos.

Considerações finais

Esta pesquisa demonstrou que os pastores ajustam a formulação de questões políticas à situação econômica e numérica da igreja, marcada pela necessidade de aumentar o número de fiéis, por um lado; e pela sensibilidade dos fiéis e da equipe pastoral, por outro. No caso estudado, as orientações de voto são realizadas durante os cultos mais restritos, direcionados aos fiéis mais comprometidos. Dessa forma, o pastor-presidente evita dar orientações de voto durante os cultos maiores para manter a ordem cerimonial e favorecer o retorno dos visitantes à igreja.

Os dados etnográficos permitem compreender as reações dos fiéis às orientações políticas dadas durante os cultos, frequentemente ausentes nos numerosos vídeos que registram as tomadas de posição política dos pastores. Assim, conforme a posição ocupada pelo fiel na hierarquia da igreja e nas relações de gênero, os indivíduos que se opõem à politização do culto conseguem expressar sua opinião tanto fora quanto dentro do local de culto, por meio de sermões que vinculam suas preferências políticas. Portanto, apesar de contribuírem a longo prazo para a socialização dos fiéis nos ideais conservadores, as igrejas pentecostais, mais participativas e menos elitistas do que as católicas (Semán, 2021 ), também podem representar, em certa medida, espaços onde os fiéis podem expressar divergências políticas. É certo que essas expressões de resistência à politização dos cultos são limitadas e seguem obedecendo às normas sociais e religiosas, além de uma estrutura de autoridade. Por fim, é importante ressaltar que este estudo foi desenvolvido durante um período marcado por fortes tensões políticas, e que as posições públicas dos pastores e dos fiéis não são firmes e definitivas. Três meses após a eleição de Lula, o pastor pediu desculpas por ter sentido e expressado ódio contra ele. Os conflitos experimentados em várias igrejas do país durante a campanha eleitoral, como na Pão e Amor, certamente contribuirão para uma reconfiguração da expressão política dentro dos locais de culto.

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  • WEBER Max. (2017). L’éthique protestante et l’esprit du capitalisme. 4. ed. Paris: Flammarion.
  • 1
    Uma pesquisa do Datafolha publicada em 23 de outubro de 2018, mostra que 59% dos evangélicos teriam votado em Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial de 2018.
  • 2
    Os nomes da igreja e de todos os seus membros foram modificados para preservar o sigilo.
  • Pesquisa financiada pelo Fonds National de la Recherche Scientifique (FNRS)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    22 Abr 2024
  • Aceito
    05 Jun 2024
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