Resumos
Utilizando a técnica de hidrodestilação, usando um adaptador Clevenger, foram extraídos óleos essenciais das espécies Pimenta dioica (folhas e frutos) e Syzygium aromaticum (botões florais, talos e folhas). A composição química dos óleos foi determinada através da analise CG-EM. Os teores de óleos essenciais variaram de 0,97 a 1,41% e 2,30 a 15,40% nas espécies Pimenta dioica e Syzygium aromaticum, respectivamente. O componente majoritário presente nessas espécies foi o eugenol, variando de 72,87 a 90,41%. Syzygium aromaticum forneceu maior teor de óleo essencial rico em eugenol. Em quantidades menores foram também encontrados chavicol e? β-cariofileno.
Syzygium aromaticum; Pimenta dioica; Myrtaceae; eugenol; Brasil; óleo essencial
Essential oils were extracted from the leaves and fruits of Pimenta dioica and leaves, stalks and floral buttons from Syziguim aromaticum by hydrodistillation using a Clevenger apparatus. The essential oil compositions were determined by CG-MS analyses. The yield varied from 0.97 to 1.41% and from 2.30 to 15.40% in the P. dioica and S. aromaticum, respectively. In both species the major component was the eugenol, varied from 72.87 to 90.41%, being richer the essential oil extracted from S. aromaticum. Chavicol and β-caryophyllene were identified in low percentage.
Syzygium aromaticum; Pimenta dioica; Myrtaceae; eugenol; Brazil; Essential oil
ARTIGO
Constituintes químicos voláteis de especiarias ricas em eugenol
Volatile chemical constituents of rich spices in eugenol
Rosilene Aparecida de OliveiraI, *; Tâmara Vieira ReisI; Célio Kersul do SacramentoII; Lucienir Pains DuarteIII; Fernando Faustino de OliveiraI
IDepartamento de Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade Estadual de Santa Cruz, 45656-900 Ilhéus-BA, Brasil
IIDepartamento de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Estadual de Santa Cruz, 45656-900 Ilhéus-BA, Brasil
IIIDepartamento de Química, Universidade Federal de Minas Gerais, 31270-901 Belo Horizonte-MG, Brasil
RESUMO
Utilizando a técnica de hidrodestilação, usando um adaptador Clevenger, foram extraídos óleos essenciais das espécies Pimenta dioica (folhas e frutos) e Syzygium aromaticum (botões florais, talos e folhas). A composição química dos óleos foi determinada através da analise CG-EM. Os teores de óleos essenciais variaram de 0,97 a 1,41% e 2,30 a 15,40% nas espécies Pimenta dioica e Syzygium aromaticum, respectivamente. O componente majoritário presente nessas espécies foi o eugenol, variando de 72,87 a 90,41%. Syzygium aromaticum forneceu maior teor de óleo essencial rico em eugenol. Em quantidades menores foram também encontrados chavicol e? β-cariofileno.
Unitermos:Syzygium aromaticum, Pimenta dioica, Myrtaceae, eugenol, Brasil, óleo essencial.
ABSTRACT
Essential oils were extracted from the leaves and fruits of Pimenta dioica and leaves, stalks and floral buttons from Syziguim aromaticum by hydrodistillation using a Clevenger apparatus. The essential oil compositions were determined by CG-MS analyses. The yield varied from 0.97 to 1.41% and from 2.30 to 15.40% in the P. dioica and S. aromaticum, respectively. In both species the major component was the eugenol, varied from 72.87 to 90.41%, being richer the essential oil extracted from S. aromaticum. Chavicol and β-caryophyllene were identified in low percentage.
Keywords:Syzygium aromaticum, Pimenta dioica, Myrtaceae, eugenol, Brazil, Essential oil.
INTRODUÇÃO
As especiarias são produtos vegetais aromáticos, naturais ou suas misturas, utilizados para dar sabor e aroma e para temperar os alimentos. Dentre as especiarias mais importantes cultivadas no mundo, a região Sul da Bahia (faixa litorânea compreendida entre Valença e Una) destaca-se na produção de pimenta-do-reino, cravo-da-índia, canela, pimenta-da-jamaica, gengibre, pimenta-horticola, noz moscada, baunilha e cardamomo. Dessas, o Brasil exporta cravo-da-índia, pimenta-do-reino e gengibre e importa os demais produtos.
A Pimenta dioica (L.) Merr., popularmente conhecida como pimenteira-da-jamaica, pertencente à família Myrtaceae, é uma árvore de porte médio e folhagem persistente. Na Bahia a P. dioica é cultivada na faixa litorânea entre Valença e Una (Fraile-Filho & Leite, 2005a). Como especiaria, seu principal produto são os frutos secos, que reúne as características de aroma e sabor do cravo, canela e noz moscada (Tainer & Grenis, 1996). O óleo essencial dessa espécie pode ser extraído da casca, das folhas e dos frutos, sendo os rendimentos bastante variáveis (Mendes-Ferrão, 1993). Além de ser utilizado na aromatização de alimentos e perfumaria, pode ser usada como uma importante fonte de eugenol, substância utilizada para produzir a vanilina. Além da vanilina, o eugenol pode ser usado como precursor para a preparação de naftoquinonas, antraquinonas, dentre outras (Costa, 2000). O óleo essencial da P. dioica, também exibe várias atividades biológicas. Oussalah (2006) relatou a atividade antimicrobiana desse óleo frente a Pseudomonas putida. Dando continuidade a seus trabalhos, Oussalah (2007) relatou a atividade bactericida do óleo essencial frente a Escherichia coli, Listeria monocytogenes, Salmonella Typhimurium e Staphylococcus aureus.
A espécie Syzygium aromaticum (L.) Merr. & L.M. Perry, popularmente conhecida como craveiro-da-índia, família Myrtaceae, é uma árvore de grande porte, podendo atingir de 12 a 15 m de altura e o seu ciclo vegetativo alcança mais de cem anos (Tainer & Grenis, 1996). No Brasil, praticamente apenas a Bahia, na região do Baixo Sul (Valença, Ituberá, Taperoá, Camamu e Nilo Peçanha), produz esta especiaria na forma comercial (Fraile-Filho et al., 2005b). Essa região destaca-se como produtora de uma das especiarias mais comercializadas no mundo, o botão floral do craveiro-da-india na forma desidratada, conhecido como cravo-da-índia (Sacramento et al., 2001). O cravo-da-índia é usado como aromatizante de molhos ou para confecção de cigarros perfumados ("kretek" ou "gudan") muito difundidos na Indonésia e Brasil (Mendes-Ferrão, 1993; Oliveira et al., 2007; Agra et al., 2008). Pesquisas mostram que o óleo essencial do cravo-da-índia pode, também, ser usado também como agente fungicida no combate de doenças no cultivo da banana e como alternativa em seu tratamento pós-colheita (Ranasinghe et al., 2002). Como antioxidante natural, segundo Ponce et al. (2003), reduz a atividade da peroxidase em vegetais folhosos. Extratos dessa espécie também apresentam atividades biológicas. Nascimento et al. (2000) relataram o alto potencial antimicrobiano e atividade bactericida frente a bactéria Pseudomonas aeruginosa testados com o extrato de S. aromaticum. Dietas a base de cravo-da-índia podem ter efeitos benéficos para o tratamento da diabete (Prasad et al., 2005). Testes do óleo essencial de S. aromaticum mostram atividade inibitória frente aos fungos Candia e Aspergillus (Pinto et al, 2009) e frente as bactérias Vibrio spp. Edwardsiella ssp. Aeromonas spp., Escherichia coli, e Pseudomonas ssp. (Lee et al, 2009). O eugenol, principal constituinte químico dos óleos essenciais das espécies P. dióica e S. aromaticum, exibe comprovadas atividades como antibacteriano, antimicótico antimicrobiano, antiinflamatório, anestésico, anti-séptico, antioxidante, alelopático e repelente (Gobbo-Neto & Lopes, 2007).
Fatores extrínsecos como a influência do clima e solo dos locais de cultivo podem ocasionar variações nos teores e nas composições químicas dos óleos essenciais das espécies P. dioica e S. aromaticum. A produção de especiarias na região Sul da Bahia é toda comercializada como matéria prima, e, por ser um produto in natura fica sujeito às oscilações de preços do mercado. Por outro lado, parte da matéria prima (folhas e pedúnculos), hoje, é descartada durante a colheita e beneficiamento. Nesse trabalho relatamos pela primeira vez à composição química dos voláteis extraídos das espécies P. dioica (folhas e frutos) e S. aromaticum L. (folhas, pedúnculos e botões florais) cultivados na região Sul da Bahia.
MATERIAL E MÉTODOS
Coleta do material vegetal
As espécies P. dioica (folhas e frutos) e S. aromaticum (folhas, pedúnculos e botões florais) foram coletados na região Sul da Bahia, na Rodovia Buerarema-Acuípe km 30 (município de Una) e na rodovia Ilhéus-Itabuna km 20 (município de Ilhéus), respectivamente. Os frutos da P. dioica (FTPJ); pedúnculos (TLCI) e botões florais (BFCI) da espécie S. aromaticum foram adquiridos diretamente dos produtores, na forma desidratada pela exposição direta ao sol. Parte das folhas foram secas em estufa de ventilação forçada (FSE), usando estufa marca "de Leo e CIA Ltda", a 50 ºC durante 5h. O restante foi exposto ao sol (FSS) no viveiro da UESC por cerca de oito dias. As plantas foram identificadas com base nos dados das exsicatas depositadas no Herbário da CEPLAC, sob registros n° 69881 - P. dioica e registro no 44944 - S. aromaticum.
Extração do óleo essencial
O material vegetal (cerca de 50 g) foi submetido ao processo de hidrodestilação usando um adaptador Clevenger, sendo necessárias 4 e 5 h para extração dos óleos das espécies S. aromaticum e P. dioica, respectivamente. Os óleos obtidos foram secos com Na2SO4 anidro. Os teores dos óleos essenciais foram determinados pelas massas dos óleos, em triplicata, usando balança analítica, e expressa em porcentagem massa/massa (g de óleo por 100 g de matéria vegetal) (Barbosa-Filho et al., 2008).
Analise dos óleos essenciais
As amostras de óleos foram analisadas por cromatografia gasosa, utilizando o aparelho Varian Saturno 3800 equipado com detector de ionização de chama (FID), utilizando coluna capilar de sílica fundida (30 m x 0,25 mm) com fase estacionária HP-5 (0,25 μm de espessura de filme), tendo hélio como gás arraste, fluxo de 1,4 mL/min. As temperaturas do injetor e detector foram de 250 °C e 280 °C, respectivamente. Foram injetados 1,0 μL de solução em clorofórmio a 10% no modo split (1:10). A programação de temperatura da coluna para as análises dos óleos da P. dioica teve inicio 60 ºC seguido de um aumento 3 ºC/min ate atingir 240 ºC. Para as análises dos óleos de S. aromaticum a temperatura da coluna foi mantida a 140° C por 3 min seguido de um aumento de 6 °C/min até atingir 280 °C. A concentração dos constituintes foi calculada através da área da integral de seus respectivos picos, relacionadas com a área total de todos os constituintes da amostra.
As análises qualitativas dos óleos foram realizadas utilizando o cromatógrafo a gás HP6890 acoplado a um espectrômetro de massas HP5989A. Foi usado coluna capilar de sílica fundida (30 m x 0,25 mm) com fase estacionária DB-5 (0,25 μm de espessura de filme), gás de arraste: Hélio (1,5 mL/min), temperatura do detector e injetor de 280 ºC. O modo de operação foi impacto eletrônico a 70 eV e o volume de amostra injetado foi de 1,0 μl no modo split (1:10). As programações de temperatura da coluna foram as mesmas usadas nas análises de cromatografia à gás. Os diversos constituintes químicos dos óleos essenciais foram identificados através da comparação computadorizada com a biblioteca do aparelho, literatura e índice de retenção de Kovats (Adams, 2001). Os índices de retenção de Kovats (IK) foram calculados através da injeção de uma série de padrões de n-alcanos (C8-C26) injetados nas mesmas condições cromatográficas das amostras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O material vegetal foi coletado em 2006, de acordo com o período de produção das especiarias na região Sul da Bahia. As folhas e frutos da P. dioica foram coletados no mês de março e as folhas, pedúnculo e botões florais do S. aromaticum no mês de outubro. Os teores de óleos essenciais encontram-se relatados na Tabela 1.
A análise dos dados da Tabela 1 mostra que na espécie P. dioica o maior teor de óleo essencial foi encontrado nas FSE, 2,01%. O fruto dessa espécie, a pimenta-da-jamaica (FTPJ), apresentou um teor bem menor, 0,97%, comparada aos teores de óleo das folhas. Dentre as variáveis folhas estudadas (FV, FSE e FSS) merece destaque o teor do óleo essencial das FSE. Na espécie S. aromaticum tanto folhas, pedúnculos (TLCI) e os botões florais (BFCI) são ricos em óleos essenciais, sendo que o menor teor de óleo essencial encontrado foi nas FV, 2,30%. Merece destaque o teor de óleo encontrado nos pedúnculos (9,40%), pois devido ao baixo valor de mercado na forma in natura, geralmente esse material é descartado pelos produtores.
As análises cromatográficas dos óleos extraídos da P. dioica, Tabela 2, permitiram a identificação de 26 compostos, dos quais os componentes majoritários são do grupo dos monoterpenos oxigenados, variando de 82,80% nos FTPJ a 90,05% nas FV, seguido dos monoterpenos não oxigenados, que variaram de 8,42% nas FV a 12,66% nos FTPJ.
Dos monoterpenos oxigenados destaca-se a presença do eugenol, que variou de 72,87% nas FSE a 82,56% nas FV. A composição química do óleo essencial da pimenta-da-jamaica (FTPJ) é mais complexa comparada com as folhas, e não apresenta o maior teor de eugenol. O chavicol foi o segundo componente encontrado em maior quantidade, variando de 7,04% nas FV a 12,76% nas FSE. O terpinen-4-ol foi encontrado em menores quantidades em todas as variáveis estudadas da P. dioica, já o α-terpineol não foi detectado nas FV. Os monoterpenos, α-felandreno,? p-cimeno e β-felandreno e os sesquiterpenos não oxigenados miristicina a δ-cadineno foram detectados em todas as variáveis. Nessas análises, merece destaque a quantidade do fenilpropanoide, eugenol, encontrado nos óleos essenciais. Considerando a quantidade de eugenol e o teor de óleo essencial nas variáveis estudadas para a espécie P. dioica, as folhas secas na estufa (FSE) mostram-se mais promissoras como fonte de óleos essenciais ricos em eugenol. A composição química dos óleos essenciais da espécie P. dioica, cultivada na região Sul da Bahia, mostrou-se rica em eugenol e chavicol, coerentes com relatos de Mendes-Ferrão (1993).
A análise cromatográfica dos óleos essenciais da espécie S. aromaticum permitiu a identificação de cinco componentes, perfazendo a identificação total de 97,05% a 100,00% nas variáveis FV, FSE, FSS, TLCI e BFCI, resultados apresentados na Tabela 3.
Semelhante aos óleos extraídos da espécie P. dioica, os óleos obtidos da espécie S. aromaticum são ricos em monoterpenos oxigenados, variando de 84,36% nas FV a 99,36% nos BFCI. Desse grupo de metabólitos a quantidade de eugenol variou de 82,47 nas FV a 90,41% nos TLCI. O acetato de eugenol não foi detectado nas FSE e FSS. Outra característica interessante é o teor de?acetato de eugenol, citado na literatura de ocorrência na espécie S. aromaticum. (Mendes-Ferrão, 1993), no entanto, na espécie cultivada no Sul da Bahia, foi detectado em menor teor, abaixo de 15%, e foi ausente nas FSS e FSE. O β-cariofileno foi encontrado em todos os óleos extraídos da espécie S. aromaticum cultivadas na Bahia. Segundo Mazzafera (2003) os óleos essenciais de S. aromaticum apresentam as seguintes variações: eugenol (70 a 85%), acetato de eugenol (15%) e β-cariofileno (5 a 12%). Uma importante característica dos botões florais, o cravo-da-índia, é a alta produção de óleo essencial, sendo que a produção de 15 % de óleo considerado como parâmetro para qualificar essa matéria como de boa qualidade (Tainter & Grenis, 1996).
Os óleos essenciais extraídos da espécie S. aromaticum, cultivada na região Sul de Ilhéus, apresentam um elevado teor de eugenol e teores de acetato de eugenol e β-cariofileno bem inferiores aos relatados na literatura. Merece destaque também a produção de óleo essencial dos pedúnculos, 9,40%, que contém cerca de 90% de eugenol, ou seja, esse material consiste em uma potente fonte de óleo rico em eugenol.
AGRADECIMENTOS
A FAPESB (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia) pelo suporte financeiro para a estruturação do LPPNS e a UESC pela concessão de bolsa de IC-PROIIC.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Jan 2010 -
Data do Fascículo
Set 2009