Nos países desenvolvidos, quando uma criança com câncer é atendida precocemente e recebe tratamento adequado, acessível e completo, suas chances de cura são de 80%. Contudo, a maior parte da população pediátrica está concentrada nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento e, nessas localidades, a chance de cura chega a menos de 20%.1
No Brasil, avançamos muito nessa área: nos últimos anos, a definição do câncer infantil como um problema de saúde pública propiciou a contribuição dos serviços de saúde e a participação das instituições da sociedade civil com a busca pela ampliação da compreensão e da inclusão do câncer infantil nos meios de comunicação, que se traduziram no esforço pela construção de uma rede de atenção à oncologia infantojuvenil, buscando as ações necessárias; por exemplo, já existem mais de 20 centros de registros de câncer de base populacional, e essas informações auxiliam as políticas públicas.2
Além disso, a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) promove e estimula ações no sentido de melhorar a possibilidade diagnóstica, o tratamento, bem como o acompanhamento da criança com câncer. A disseminação de diretrizes diagnósticas e terapêuticas por meio dos protocolos realizados por grupos cooperativos brasileiros, que refletem a nossa realidade, gera melhor atendimento da criança em nível nacional. Em nosso país, são estimados 10.000 casos novos/ano de câncer em menores de 15 anos e contamos com 174 centros de câncer infantojuvenil. Já no estado de São Paulo, são estimados 1.000 casos/ano com 20 centros especializados para tratamento desse tipo de câncer. Muitos desses são também centros formadores de pessoas, inclusive com residência médica e multiprofissional, replicando, assim, profissionais qualificados para todos os cantos do Brasil.
Além disso, os avanços médico-científicos nessa área foram notáveis. A melhoria do diagnóstico com as técnicas de imuno-histoquímicas, citometria de fluxo, biologia molecular, citogenética e imagem está propiciando maior conhecimento dessas doenças e contribuindo para a individualização do tratamento com novos conceitos, desde o uso de altas doses de poliquimioterapia até as terapias metronômicas, bem como cirurgias complexas e radioterapia. Isso foi possível graças à terapia de suporte, como os modernos antieméticos, o esforço nutricional, anti-infecioso, respiratório, psicológico, fisioterápico etc. As taxas de cura de centros especializados como o Instituto de Oncologia Pediátrica do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC/IOP) já ultrapassam os 70%.
Estamos seguindo aquilo que aprendemos com a experiência de outros países: formação de grupos cooperativos, investimento em pesquisa, tecnologia e principalmente educação.3,4
Aulas de sinais e sintomas para professores e profissionais de saúde e o ensino da Oncopediatria nos cursos de profissionais da saúde contribuem para o diagnóstico precoce.
Entretanto, o diagnóstico depende da suspeita clínica e da avaliação periódica da criança, geralmente sob responsabilidade do médico pediatra dedicado à atenção primária à saúde. Esse profissional é fundamental para o diagnóstico e o encaminhamento adequado da criança com câncer. Portanto, a divulgação das manifestações clínicas dos tumores em revistas de Pediatria é um bom exemplo de colaboração no âmbito do conhecimento, pilar essencial para a melhoria da oncologia pediátrica no Brasil.
REFERÊNCIAS
- 1 Arora RS, Challinor JM, Howard SC, Israels T. Improving care for children with in low- and middle-income countries - a SIOP PODC initiative. Pediatr Blood Cancer. 2016;63:387-91.
- 2 Instituto Nacional de Câncer (Brasil). Coordenação de Prevenção e Vigilância de Câncer. Câncer da criança e adolescente no Brasil: dados dos registros de base populacional e de mortalidade/Instituto Nacional de Câncer. Rio de Janeiro: INCA; 2008.
- 3 Sullivan R, Kowalczyk JR, Agarwal B, Ladenstein R, Fitzgerald E, Barr R, et al. New policies to address the global burden of childhood cancers. Lancet Oncol. 2013; 14:e125-35.
- 4 Ribeiro RC, Antillon F, Pedrosa F, Pui CH. Global pediatric oncology: lessons from partner ships between high-income countries. J Clin Oncol. 2016;34:53-61.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Jul-Sep 2018
Histórico
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Recebido
14 Jun 2018