Open-access A voz das mentes famintas: a relevância de Danilo Dolci para a Psicologia Cultural da Educação

Resumo

Danilo Dolci (1924-1997) foi um intelectual italiano, ativista social, sociólogo, educador popular e poeta, que passou a maior parte de sua vida nas áreas rurais da Sicília, tentando desenvolver uma visão progressista da educação como parte da emancipação da população da pobreza e do crime organizado. O cerne da pedagogia de Dolci era a ideia do cidadão como aprendiz e do aprendiz como cidadão. O ideal de educação promovido, também se referindo a Freire e Gandhi, era o de “cidadão do mundo”, capaz de superar uma atitude colonialista e opressora. Ao contrário, o que o sujeito é se origina nas raízes culturais e o torna capaz de reconhecer que ele é igual às outras pessoas no mundo. Para desenvolver seu ideal pedagógico, Dolci apostou na estética e na práxis, reconhecendo o valor do ser humano como parte da natureza. Finalmente, discute-se neste trabalho como as visões de Dolci sobre a educação podem fornecer novas perspectivas úteis para o desenvolvimento da psicologia cultural da educação.

Palavras-chave Estética; Inclusão; Escolar; Psicologia Educacional

Abstract

Danilo Dolci (1924-1997) was an Italian intellectual, social activist, sociologist, popular educator, and poet, who spent his life in the rural areas of Sicily, trying to develop a progressive view of education as part of the population’s development and liberation from both poverty and organized crime. The core of Dolci’s pedagogy was the idea of the citizen as a learner and the learner as a citizen. His ideal of education, also referring to Freire and Gandhi, was the “citizen of the world”, able to overcome a colonialist and oppressive attitude to say that one’s own heritage is better than any other in the world. Instead, to Dolci, what I am originates in my cultural roots and makes me able to recognize that I am equal to the other people in the world. To develop his pedagogical ideal, Dolci relies on aesthetics and praxis, recognizing the value of the human being as part of the nature. I finally discuss how Dolci’s views on education can provide new useful perspectives to the development of the cultural psychology of education.

Keywords Aesthetics; Educational Mainstreaming; Psychology; Educational

O período entre 1950 e 1975 viu florescer uma série de ideias, ações, reflexões e utopias a respeito do papel da educação como instrumento de libertação, emancipação, desenvolvimento social e redução de desigualdades (Faure et al., 1972; Tateo, 2018a; 2018b). Neste período, a iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) promoveu um debate sobre a ideia de “educação continuada”, entendida como a aspiração ao contínuo aperfeiçoamento dos seres humanos em direção a um ideal de emancipação (Faure et al., 1972). Isto muito antes da ênfase neoliberal em “habilidades”, que toma a educação continuada como um processo constante de adaptação às novas demandas do mercado de trabalho, tendo em vista o prolongamento da vida laboral. Nesse contexto histórico, emergiu uma figura particular e frequentemente negligenciada: o sociólogo, ativista, poeta e educador Danilo Dolci (1924-1997). Dolci e Paulo Freire (1921-1997) foram contemporâneos e se encontraram diversas vezes – em particular, Freire participou de duas conferências organizadas por Dolci na Sicília, em 1969 e 1976. Nesse texto, apresento de forma imbricada a vida, as ações e o pensamento de Danilo Dolci nos campos da educação e da vida social, buscando identificar pontos relevantes para a discussão sobre o desenvolvimento da psicologia cultural da educação (Bruner, 1996; Marsico, 2018).

Quem foi Danilo Dolci

É impossível separar as elaborações teóricas de Dolci de sua vida e ações; é preciso, ao contrário, começar de sua biografia para chegar aos pontos centrais de sua perspectiva sobre a educação. Danilo Dolci nasceu no vilarejo de Sesana, no nordeste da Itália e atualmente parte do território esloveno. Seu pai era italiano/alemão e sua mãe era eslovena. Por conta do trabalho de seu pai, empregado na ferrovia estatal italiana, sua família viveu em diversas regiões do país, tendo passado alguns anos, durante a Segunda Guerra Mundial, em Trappeto, um vilarejo de pescadores extremamente pobre, a oeste de Palermo. Depois do fim da guerra, a família retornou ao norte da Itália e Dolci se formou em arquitetura em Milão (Baldassaro, 2015; Vitiello & Polidoro, 1980).

Sua biografia tem várias versões que variam da hagiografia à rejeição, como é de se esperar com um homem de tamanho impacto (Vitiello & Polidoro, 1980). Contudo, em todas as versões, o jovem adulto Danilo Dolci encontrava-se insatisfeito e inquieto com a perspectiva de se tornar um arquiteto de classe média na Itália do boom econômico pós-Guerra. Então, ele se engajou em uma busca pela “unificação da consciência e da vida” (Ragone, 2001, p. 15, tradução minha)2 trabalhando em recém-estabelecidas comunidades cristãs de base. Em janeiro de 1952, ele se mudou para o vilarejo de Trappeto, na Sicília, onde havia morado com sua família por alguns anos e observado as condições de extrema pobreza em que as pessoas se encontravam. Ele chegou à Sicília sem planos, acampando na orla e recebendo auxílio das famílias dos pescadores. Logo, ele comprou um pequeno terreno e construiu uma casa que chamou de Borgio di Dio. Apesar da perspectiva quase mística e profundamente espiritualizada de Dolci, nosso interesse se encontra em sua percepção quase imediata de que a melhoria das condições de vida da população naquela área não se daria em razão de qualquer iniciativa missionária, mas a partir da construção de um tecido social e da resposta a questões muito concretas.

As condições sociais da Sicília do pós-Segunda Guerra Mundial eram de intensa privação e injustiça. No vilarejo de Trappeto, quase todos os homens estavam desempregados, exceto nos meses do verão, quando pescavam. A terra era seca e propriedade de alguns senhores feudais que mantinham seus latifúndio3 quase sem cultivos agrícolas. As casas não tinham camas, tratamento de esgoto ou água. As crianças não frequentavam a escola e não tinham roupas, vagando pelas ruas e campos. Aquela área da Itália era vista mais ou menos da mesma forma como as classes médias das sociedades atuais pensam nas favelas mais pobres e os vilarejos mais isolados de alguns países africanos. A primeira consequência de tamanha privação é que os próprios habitantes, assim como o restante da sociedade, não vislumbravam saída dessa situação. A miséria e a desventura eram condições naturalizadas, atribuídas diretamente às pessoas, e não à injustiça social deliberada. Na Sicília, as ações injustas vinham da máfia em cooperação com a antiga classe de proprietários, advogados e médicos, que constituíam o pessoal que atuava na política. A máfia explorava as pessoas, controlando as poucas fontes de água e reduzindo a pouca comida disponível com a pesca ilegal.

Dolci narra um ponto de virada em suas ações em 1952, quando ele viu uma criança morrer de inanição nos braços de sua mãe. Ele imediatamente iniciou um jejum de oito dias no quarto em que a criança havia morrido, enviando cartas às autoridades locais e convocando jornalistas para denunciar as condições de vida inadmissíveis da população local (Figura 1).

Figura 1
Dolci em uma greve de fome que durou oito dias, na casa de Mimmo e Giustina, cujo filho havia morrido de fome (Fotógrafo desconhecido).

A greve de fome teve um impacto enorme na Itália e Dolci obteve financiamento público para criar uma escola e implantar um sistema de esgoto em Trappeto. Graças à iniciativa, Dolci iniciou uma rede de colaboração com intelectuais, acadêmicos e voluntários convidados a Trappeto. Ele então estabeleceu um método sistemático de formação comunitária, análise e intervenção que chamou de autoanálise popular. O nome indicava que as comunidades deviam debater e identificar suas próprias necessidades e os meios para resolvê-las, o que promoveria sua conscientização e o empoderamento.

O trabalho de base havia identificado duas principais questões que simbolizavam a injustiça social na área: o desemprego e a seca. Abordar essas duas questões coletivamente era um ato de empoderamento para a comunidade local e, ao mesmo tempo, a abertura de um confronto direto com os poderes, políticos e máfias locais, que controlavam os recursos. A segunda iniciativa representativa da trajetória de Dolci se deu em 1956. Nos meses de janeiro e fevereiro, Dolci organizou um jejum coletivo com 1.000 pessoas da região, pescadores e agricultores, na praia de Trappeto, que se contrapunha à pesca ilegal e pedia a construção de uma barragem no Vale do Jato para combater a seca. Depois de alguns dias, ele organizou uma “greve reversa”: juntou voluntários desempregados para consertar um dos principais acessos ao vilarejo, uma rodovia que estava completamente abandonada pelas autoridades. Essas iniciativas foram organizadas e publicizadas amplamente, chamando pela intervenção das autoridades públicas que, em primeira mão, apareceram na figura da força policial para encerrar essas ações.

O método de não-violência de Dolci, similar à estratégia de Gandhi, era provocar a reação das autoridades com flagrantes atos de resistência civil perante à imprensa. Dolci e outros quatro foram presos (Figura 2) e sentenciados à prisão em um julgamento público que teve ainda mais repercussão na Itália do que os atos que levaram a ele, fazendo com que o governo a se comprometesse com a barragem e as estradas. De alguma forma, Dolci antecipava os movimentos pela água como bem público, cujo acesso deveria constituir um direito humano fundamental, ligando a água ao desenvolvimento e à emancipação (Mazzoni & Cicognani, 2013).

Figura 2
Prisão de Danilo Dolci, fevereiro de 1956 (autor desconhecido).

Em 1957, Dolci recebeu o Prêmio Lenin da Paz e usou o dinheiro para se mudar para Partinico, um subúrbio pobre de Palermo, onde abriu um centro para mudança social ampla e pleno emprego. Isso animou os grupos de base na região, levando à criação de cooperativas de agricultores que produziam vinho e que passaram a administrar os recursos hídricos obtidos graças à construção da nova barragem no Vale do Jato. Nos 25 anos seguintes, Dolci desenvolveu trabalhos em duas frentes. De um lado, produziu uma série de análises sociológicas e políticas sobre as condições de vida da população baseados em métodos inovadores, que discutirei na próxima seção, debatendo problemas como o desemprego, a máfia e a política, a relação entre os territórios rural e urbano, planejamento urbano e educação. De outro, iniciou uma intensa atividade de criação de redes internacionais, viagens e a organização de congressos e seminários de treino em Partinico, onde recebeu uma série de intelectuais e jovens para aprender sobre a experiência e se voluntariar no centro. O trabalho também levou à criação de vários grupos de “Amigos de Danilo Dolci” por todo o mundo, que levantaram fundos e enviaram voluntários (Amato, 1978).

A última parte da vida e das atividades de Dolci foram voltadas à educação. O entendimento comum à época era que a educação era central para a justiça social e a emancipação dos oprimidos (Faure et al., 1972; Freire, 2000; Tateo, 2018a). Compartilhada por Dolci, essa visão foi relacionada à construção de uma nova humanidade, baseada no diálogo e na compreensão, e uma nova geração de profissionais e políticos, educados desde cedo com pedagogias. Toda pedagogia é baseada em um sistema de valores que define as formas aceitáveis e não aceitáveis de desenvolvimento, os objetivos legítimos de aprendizado e as formas de abordá-lo (Tateo, 2018a, 2018b). No caso de Dolci:

A educação se torna revolucionária quando não é “um investimento no treinamento de força de trabalho adequada e em número suficiente para responder às necessidades da sociedade industrial”, mas um processo de tomada de consciência e de construção dos cidadãos de uma nova sociedade, que se adaptam apenas ao que consideram justo

(Dolci, 1968, p. 127, tradução minha)4

Até sua morte, Dolci trabalhou na construção de um centro educacional comunitário em Trappeto, desenhado pelos esforços participativos da comunidade local, que deveria aplicar seus princípios pedagógicos a crianças muito pequenas (Dolci, 1976). Dolci escreveu longamente contra o modelo transmissor de escola. Ecoando a discussão de Freire (2000) sobre o modelo bancário de educação, ele criticou a escola como ferramenta para a reprodução de estruturas sociais injustas e ações violentas contra o desenvolvimento pessoal. Segundo ele:

O domínio do príncipe passou das instituições seculares para as escolas, refinando as estratégias e tácticas e hierarquizando os objetivos. O aprendizado dos guias, mais experientes em regras do que em valores, enfatiza o papel do líder-preceptor-estimulador-programador-gerente, as técnicas de alimentação forçada e o produto final, “o indivíduo educado”, “o subordinado”, que docilmente aceita a submissão e se adapta

(Dolci, 1985, p.115, minha tradução)5.

Como vários de seus contemporâneos, Dolci desconstruiu a ideologia da educação, o modelo de transmissão e a contradição inerente de um modelo meritocrático em uma sociedade de mercado (Tateo, 2018b) em favor de um modelo dialógico de ensinamento/aprendizado (Coppola, Mollo, & Pacelli, 2019; Gomes, Dazzani, & Marsico, 2018). Ele também salientou as estreitas conexões entre escola e exercício de poder:

É suficiente considerar a terminologia que costuma ilustrar o que está iminente sobre o subordinado: instruir (construir sobre ou dentro), ensinar, guiar, estimular (i.e. incentivar), formar (“transmitir a forma correta para o pupilo”), recomendar, corrigir, inculcar, admoestar, moldar, esculpir, modelar, dirigir, exortar, proteger, incentivar (quer dizer, forçar); doutorar e doutrinar; é o que é feito, mas quase nunca dito.

(Dolci, 1985, p.176, tradução minha)6.

Como para Freire (2000), portanto, o sistema educacional produz sua própria dialética de opressão e liberação. O trabalho educacional pode ser tanto uma forma de naturalizar as desigualdades sociais, ensinando que a sociedade é como é, ou uma forma de emancipar as pessoas ao oferecer a elas o contexto para o desenvolvimento de suas próprias inclinações e potencial (Tateo, 2018b).

Essa mirada sintética sobre a vida de Dolci foi necessária para introduzir sua abordagem teórica, já que seu pensamento nunca esteve separado de suas intervenções na realidade; ao contrário, eles se alimentavam mutuamente, com o apoio do terceiro pilar de seu trabalho: a poesia.

Os princípios da filosofia e da metodologia de Dolci

O interesse na obra de Dolci teve início por conta das inovações metodológicas introduzidas em seu trabalho político e sociológico, primeiro na Sicília, depois na periferia industrial de Milão. Sua distinção fundamental é aquela entre o poder como o exercício de uma força e, em oposição, o conceito de dominação, sempre exercida pela violência. O poder não é necessariamente negativo, pois indica uma condição necessária para a realização de qualquer trabalho ou para o estabelecimento da organização de um sistema. Quando o exercício do poder se dá de forma a criar desigualdade e opressão, ele se torna dominação, que só pode ser mantida pela violência simbólica ou material. As dicotomias poder-dominação e força-violência são construídas por meio de diferentes modalidades de relacionamento, que Dolci chamou de transmissão e comunicação, respectivamente. Dolci e Freire partilharam a visão dos seres humanos como incompletos, razão pela qual as pessoas seriam naturalmente abertas ao aprendizado e predispostas a superar sua condição presente (Freire, 1996). Dolci explicitou dois diferentes caminhos possíveis: a forma autoritária dominação-violência-transmissão e a forma democrática, poder-força-comunicação. A primeira levou às desigualdades contra as quais ele lutou na Sicília, enquanto a segunda pode levar à plena realização dos potenciais individuais e coletivos para o bem. Partindo da experiência cotidiana, Dolci buscou elaborar as práticas específicas de comunicação que poderiam levar ao exercício de um poder coletivo e democrático, respeitoso às vozes e necessidades de cada pessoa. Primeiro, ele aplicou esse conceito à ação cívica e, depois, à educação. Para o que nos importa, Dolci pôde teorizar uma metodologia que integrava investigação social, ação afirmativa e educação e que teve grande interesse para a psicologia cultural da educação.

A autoanálise das necessidades

Danilo Dolci foi um dos primeiros intelectuais na Itália a introduzir a abordagem atualmente conhecida como psicologia comunitária, que ele chamou de “autoanálise popular”. O método consistia no estabelecimento de uma discussão tão participativa quanto possível, que envolvia a população local, para que as necessidades básicas compartilhadas emergissem. O segundo passo era identificar uma solução concreta para cada uma das necessidades coletivas (por exemplo, a falta de água limpa ou de tratamento de esgoto). A partir daí, as pessoas se organizariam em movimentos de base para pressionar a opinião pública e as autoridades a adotarem as soluções necessárias para cada problema. Os métodos de ação deveriam ser estritamente não violentos (como greves inversas, greves de fome, ocupações e bloqueios, petições, etc.) para evitar qualquer alegação instrumental de subversão, o que daria às autoridades pretexto para a repressão (Ragone, 2011). A estratégia não violenta requeria habilidades específicas:

(1) O desenvolvimento de consciência e autoanálise pelas populações envolvidas; (2) promover a participação dos fracos, alienados e rejeitados; (3) interrelacionar grupos novos, abertos e democráticos, que valorizem a todos; (4) desenvolver em todos os participantes valores profundos que apoiem o modelo não-violento; (5) levar a população à realização de atos precisos que denunciem as estruturas violentas existentes; (6) inventar continuamente as formas mais efetivas de pressão não violenta; (7) criar novos grupos; (8) promover um planejamento orgânico e democrático em cada zona e região; (9) efetivar a dialética essencial entre consciência e tomada de responsabilidade individual; (10) contribuir para a formação dos centros necessários para a consolidação mundial

(Amato, 1978, p. 227).

Tal abordagem é fundamental por combinar os três aspectos seguintes: investigação, na produção de conhecimento sobre as condições reais; educação, à medida que a autoanálise e a investigação desenvolvem novos conhecimentos e competências no grupo; e intervenção, porque o processo leva a ações concretas afirmativas e transformadoras (Savarese et al., 2019). Tal abordagem não é inocente nem arbitrária, pois é baseada em um esquema metodológico forte.

A expressão dos participantes

A metodologia de investigação no trabalho de Dolci é baseada em dois instrumentos principais, as “entrevistas de história de vida” e a “maiêutica recíproca”. Ao coletar suas histórias em primeira pessoa, Dolci introduziu em primeira mão à pesquisa social italiana a ideia de expressão direta dos membros da comunidade. Ele aplicou esse método em complementaridade aos métodos sociológicos tradicionais pela primeira vez na Sicília, ao tentar compreender as condições que levaram camponeses pobres a se tornarem criminosos (Dolci, 1960). A perspectiva em primeira pessoa, a rememoração quase nua das narrativas de vida, tentando não alterar o texto original, era algo revolucionário naquele tempo, implicando a legitimação das vozes da população – no caso, pescadores e agricultores sicilianos, então considerados quase selvagens ou sub-humanos. Essa escolha metodológica implicava em várias considerações de caráter epistemológico, por exemplo, acerca da objetividade dos dados obtidos em relatórios em primeira pessoa, dos dialetos como formas legítimas de expressão cultural e das relações de poder entre pesquisador educado e informantes não letrados.

A segunda ferramenta fundamental desenvolvida por Danilo Dolci é a chamada maiêutica recíproca. A partir do exercício filosófico da maiêutica, introduzido por Parmênides de Eléia e desenvolvido por Sócrates, ele introduziu a dimensão fundamental do que hoje se chamaria construção colaborativa de conhecimento. A Maiêutica é baseada em um diálogo entre duas pessoas, mas o grupo maiêutico desenvolvido por Dolci é um método de trabalho democrático no qual pessoas sentadas em um círculo se revezavam para expressar suas posições, sem ansiedade ou pressão. Cada um aguardava em silêncio a sua vez de falar e isso fazia com que as pessoas ouvissem genuinamente umas às outras e refletissem sobre suas opiniões, usando esse tempo para repensar sua posição inicial antes de expressá-la. A maiêutica levava ao desenvolvimento do potencial de todos para a descoberta e a criação. De acordo com Dolci, esses encontros maiêuticos desencadeariam uma dinâmica dialética que levaria à construção de uma nova utopia cotidiana (Dolci & Rodari, 1979).

O grupo maiêutico é baseado em teorias psicológicas específicas, com premissas similares à perspectiva histórico-cultural – isto é, que o self se desenvolve por meio de interações sociais que tomam a forma de comunicação. De certa forma, o self é um nódulo em uma rede de comunicações pessoais que emerge apenas através de atos comunicativos (Ragone, 2011). Aqui se encontra a crítica ao modo de comunicação transmissivo: se o self se desenvolve por meio de atos comunicativos, qualquer ato de transmissão, cuja natureza é unidirecional e diretiva, exerce sobre ele uma espécie de violência, inibindo as possibilidades de um verdadeiro diálogo e, portanto, de um processo maiêutico de construção de conhecimento. Por essa razão, Dolci era bastante avesso à televisão, que ele via como o protótipo da comunicação transmissiva, que jamais serviria ao desenvolvimento das pessoas.

Pode-se imaginar qual teria sido sua posição em relação às redes sociais. Acredito que ele teria sido bastante crítico a elas. Na verdade, a maior parte do que chamamos de rede social é dialógica apenas na aparência. Essas redes substituem a interação pessoal, que, para Dolci, era a base da comunicação. Além disso, embora a chamada comunicação de muitos-para-muitos replique a comunicação em grupo, ela estabelece uma espécie de efeito “gota d’água em um tanque”. Cada pessoa produz mensagens endereçadas a uma multidão, que, como uma gota de chuva caindo num tanque, geram uma série de círculos. Com a multiplicação infinita das mensagens, a soma caótica de comunicações transmissivas unidirecionais de tipo um-para-muitos produz o mesmo efeito que a chuva, gerando um número infinito de círculos na superfície da água. Esses círculos têm uma duração curta, alcançam uma audiência limitada e definida e seus efeitos se contrastam uns com os outros, gerando uma ordem caótica. O diálogo não é possível nessas condições, pois requer tempo e estrutura; o resultado é que um efeito cumulativo de monólogos termina inibindo a criação de novo conhecimento. O único uso das redes sociais que se pode imaginar que Dolci teria apreciado é o fato delas poderem ser usadas para organizar reuniões coletivas de forma bastante efetiva e extensa. Em outras palavras, elas podem ser usadas para organizar rapidamente ações coletivas não violentas.

Outra ferramenta metodológica muito relevante empregada por Dolci foi a poesia. Ele escreveu diversos livros de poemas que constituíram parte integrante de seu entendimento da realidade e de sua busca por incluir as dimensões emocionais e existenciais em sua elaboração teórica e ação (Ragone, 2011). O método que Dolci frequentemente empregava começou a ser aceito pela psicologia por seu valor epistêmico apenas recentemente (Rhodes et al., 2018). A poesia era uma forma de comunicar os resultados de suas investigações e de explorar a realidade.

Os princípios pedagógicos

No fim dos anos 1960, Danilo Dolci passou a aplicar sua metodologia à educação. Ao afirmar que nenhuma ação afirmativa para o empoderamento coletivo seria efetiva sem a formação de uma classe de líderes comunitários educados, ele marcava a necessidade de atuar sobre o sistema educacional. Assim, ele começou a debater com a comunidade o projeto de construir um novo modelo de escola ou centro educacional, como ele chamava, no pequeno vilarejo de Mirto (Dolci, 1973, 1976). O centro começou como uma creche que recebia crianças de menos de seis anos, com o plano de abrir uma escola para todo o ciclo educacional. Esse foi seu esforço controverso até sua morte. A pedagogia de Dolci é baseada no papel fundamental do grupo no cultivo da curiosidade natural do indivíduo (Coppola, Mollo, & Pacelli, 2015). O aprendizado e o desenvolvimento se iniciam com as descobertas individuais, aprimoradas com o processo de discussão em grupo. As aulas começavam todas as manhãs com uma discussão do plano do dia por meio de grupos maiêuticos e nenhuma atividade era iniciada até que a sala tivesse chegado a um acordo. Isso visava desenvolver os interesses pessoais e o compromisso dos pupilos, bem como a atitude social maiêutica. Como a escola era na zona rural, os interesses e curiosidades dos participantes frequentemente se situavam na possibilidade de observar o meio ambiente, incluindo tanto a natureza como o patrimônio cultural:

A relação dialética entre descoberta e original, redescoberta criativa e aquisição do patrimônio cultural em desenvolvimento; esses métodos para usar com sujeitos individuais – métodos individuais e em grupo – que são melhor calculados para promover a consciência ampliada e o desenvolvimento orgânico; o desenvolvimento de uma percepção de que não é possível criar apenas análises ou apenas sínteses e gerá-las muito cedo; coordenação no planejamento, para produzir coisas em curto ou longo prazo e, em cooperação com os grupos envolvidos no desenvolvimento da região

(Dolci, 1973, p. 138).

O processo de aprendizado coletivo descrito por Dolci segue a progressão seguinte:

Observação, concentração; elaboração maiêutica do enunciado inicial do problema e da hipótese; estabelecimento de um plano de experimentos (individual e grupal) para testar a hipótese; pensar o problema (individualmente e em grupos); formulação ou verificação provisória da teoria; verificação da hipótese sugerida; ajuste da teoria

(Dolci, 1973, p. 139).

A pedagogia de Dolci é relevante por promover (velhos) novos sentidos para alguns dos termos-chave nas abordagens educacionais correntes. Ele realmente defendeu a ideia de uma pessoa em constante desenvolvimento (aprendizagem continuada). As mesmas competências que uma pessoa deve desenvolver enquanto aprendiz são as que ela ou ele vão usar como cidadãos da comunidade local e cidadãos do mundo (habilidades de vida) (Tateo, 2018a). O que é aprendido deve ser cuidadosamente avaliado por meio da autoanálise e deve ser útil para atuação no mundo para construir uma sociedade mais justa (aprendizado visível). O aprendizado acontece na dinâmica entre pessoa e grupo através da maiêutica recíproca (aprendizado dialógico). Dolci não se referiu diretamente a Vygotsky, mas concebeu uma ideia de desenvolvimento pessoal muito próxima à compreensão original da Zona de Desenvolvimento Proximal: não apenas a emergência de habilidades para solucionar problemas por meio da interação social, mas o processo de construção continuada de um horizonte pessoal em transformação, voltado à cidadania e à humanidade plenas (Tateo, 2019). Dolci falava fervorosamente sobre a dimensão utópica inerente a qualquer processo educacional. Seu discurso é muito necessário nos dias atuais, quando a educação parece voltada a eliminar qualquer utopia ou condições de desenvolvimento futuro em favor de uma visão instrumental da educação, como algo que realiza níveis e modos de performance determinados pela dinâmica do mercado de trabalho.

Dolci e a psicologia cultural da educação

Danilo Dolci não foi um psicólogo da educação, mas um ativista e intelectual eclético, que tentou abordar o problema da injustiça social pela perspectiva da ação na base.

A psicologia cultural da educação atualmente enfrenta problemas metodológicos colocados por um mundo multicultural e cada vez mais complexo (Schliewe, Chaudhary, & Marsico, 2018; Tateo, 2020). A psicologia cultural é capaz de desconstruir a lógica benevolente, etnocêntrica e baseada em evidências que vigora em muitas intervenções psicológicas interculturais. Contudo, é difícil reconciliar a perspectiva ideográfica e culturalmente atenta da psicologia cultural, seu alto nível de elaboração teórica, com a intervenção psicológica em contextos concretos. Recentemente, Marsico (2017) buscou identificar os elementos básicos que deveriam caracterizar os desenvolvimentos futuros da psicologia cultural da educação. Se entendemos que educação está no centro da dialética entre continuidade e mudança social, percebemos que ela é a “borda externa do desenvolvimento humano” (Marsico, 2017, p. 10). O desenvolvimento é um processo que implica um movimento constante, um horizonte pessoal móvel e locomoção entre diferentes contextos. Então, se se quer observar o desenvolvimento enquanto ele acontece no processo educativo, deve-se concentrar o olhar não em estruturas consolidadas, mas nos processos liminares de transição de uma condição para outra.

A educação é uma instanciação culturalmente situada de um processo de desenvolvimento universal. Na ecologia, reconhecemos a existência de configurações locais de organismos e ambientes chamadas ecossistemas, que são fenomenologicamente únicos, embora suas leis possam ser generalizadas. Na educação, deve-se reconhecer a existência de “edu-sistemas”, configurações únicas e locais de pessoas e ambientes, a partir das quais são desenvolvidas as relações de aprendizado. Qualquer problema educacional só pode ter uma solução local, porque nenhuma forma de desenvolvimento pode ser generalizada a despeito de seu ambiente. Não se pode esperar o cultivo de oliveiras no Polo Norte, mesmo que o processo de fitogênese seja universal. Qualquer generalização deve ser construída apenas no nível teórico dos processos, não no nexo causal de meios e resultados (Tateo, 2020). A psicologia cultural da educação está dando nova vida a um princípio fundamental do movimento educacional entre os 1950 e 1970, a chamada “revolução do aprendizado” (Tateo, 2018a): a ideia da natureza incompleta ou inacabada dos seres humanos, que resulta na busca constante e no desejo por aprendizado. Isso significa que “(a) a educação serve ao desenvolvimento futuro; (b) ela é um processo complexo por meio do qual os indivíduos se tornam humanos; (c) e que se dá na fronteira entre o real e o possível” (Marsico, 2017, p. 12).

A primeira lição que podemos aprender da pedagogia de Danilo Dolci é que o aprendizado requer tempo e esforço. Essa afirmação pode parecer trivial, mas é o exato oposto da orientação corrente na educação. À medida que o aprendizado se tornou um instrumento e a educação se tornou uma mercadoria, a ideia de efetividade se infiltrou sorrateiramente na educação ao ponto de ser naturalizada. O progresso dos estudantes e dos sistemas educacionais são avaliados em termos de desempenho, a relação mais produtivista possível entre tempo e esforço. Em outras palavras, o tempo é um recurso limitado e as práticas educativas precisam ser adaptadas a esse axioma. O desempenho substituiu a maturação; um conceito industrial substituiu um conceito biológico.

A segunda é que o aprendizado e o desenvolvimento requerem comunicação, em vez de transmissão. A forma de comunicação proposta por Dolci, o maiêutico, demanda tempo e justiça epistêmica: todos os participantes devem ter condições e legitimidade para contribuir. A perspectiva sociológica de Dolci, compartilhada na psicologia cultural, é que a sociedade é um sistema de sistemas (Tateo, 2020). A ação só pode ser iniciada a partir de um sistema local feito de pessoas concretas, com histórias concretas para contar, necessidades e, porventura, soluções locais. Uma intervenção que não expresse essa teleogênese no nível local é um ato de violência colonial que força o desenvolvimento do sistema a partir de uma janela de aceitabilidade estabelecida pelas forças sociais dominantes (Tateo, 2019). Isso é verdadeiro tanto para o desenvolvimento individual como para a comunidade. Nessas premissas, é evidente que a psicologia cultural da educação deve se concentrar primeiramente no relato em primeira pessoa, desenvolvendo ferramentas metodológicas que permitam que todas as vozes sejam ouvidas da forma mais alta e clara possível. Essas ferramentas devem ser mais sensíveis do que simples entrevistas e devem ser pautados na integração entre comunicação, práxis e experiência afetiva. Muitos métodos são adequados, como os baseados em arte, a autoanálise popular, os métodos para elucidar ambivalências e o Modelo de Equifinalidade de Trajetória (Sato, Mori, & Valsiner, 2016). Comunicação e entendimento requerem tempo, logo, qualquer método deve considerar os desdobramentos históricos do relacionamento entre os participantes e pesquisadores por meio de vários encontros. Entrevistas pontuais não são suficientes.

Apresentei algumas sugestões para uma releitura possivelmente frutífera do trabalho de Dolci a partir da psicologia cultural da educação. Acredito que vários dos problemas que emergiram no contexto sócio-histórico em que Dolci operou continuam relevantes nos dias de hoje. Se entendermos a intervenção psicológica como um ato comunicativo, uma forma de maiêutica recíproca, podemos superar as atuais formas agressivas de intervenção que “colocam as pessoas de volta nos trilhos”. Isso é ainda mais importante quando lidamos com indivíduos e grupos que experimentam uma condição de silenciamento, opressão e discriminação. Será que seremos corajosos a ponto de pegar as nossas coisas, ir para outro lugar e apenas começar a falar com as pessoas para aprender com elas sobre seus problemas, expectativas, utopias e imaginação, em vez de forçá-las a uma prática psicológica pretensamente universal?

Como citar este artigo

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    Texto original: “unificare coscienza e vita” (Ragone, 2001, p. 15).
  • 3
    Um latifundio (latifundium) é uma enorme parcela privada de terra, frequentemente integrando o legado de famílias nobres e tornado lucrativo pela exploração de trabalhadores locais sem direitos. Quando o lucro não era possível, os proprietários preferiam deixar as terras abandonadas, proibindo aos agricultores o desenvolvimento de agricultura de subsistência. Na Sicília, latifundia dominavam a ilha desde os tempos medievais. Algumas de suas formas persistiram mesmo após a abolição formal dos latifúndios na reforma de terras de 1950-1962.
  • 4
    No original: “L’educazione diventa rivoluzionaria quando non è ‘investimento per la formazione di personale adatto, e in numero sufficiente, a corrispondere ai bisogni della civiltà industriale’, ma processo di sensibilizzazione e costruzione di cittadini di una nuova società, che si adattano solo a quanto ritengono accettabile” (Dolci, 1968, p. 127).
  • 5
    No original: “Il dominio del principe si è trasferito attraverso le secolari istituzioni nelle scuole affinando strategie e tattiche, gerarchizzando anche gli obiettivi. L’insegnare delle guide, più esperte in normative che a valorizzare, rimarca il ruolo del leader-precettore-stimolatore-programmatore-gestore, le tecniche dell’imboccare e il prodotto finale: “l’individuo educato”, “il subordinato” docile a sottomettersi adattato” (Dolci, 1985, p. 115).
  • 6
    No original: “Basta considerare la terminologia che generalmente illustra l’incombere sul subordinato: istruire (costruire sopra, o dentro), insegnare, guidare, stimolare (cioè pungolare), formare (“imprimere la giusta forma all’allievo”) raccomandare, correggere, inculare, ammonire, modellare, plasmare, foggiare, dirigere, sollecitare, tutelare, spronare (cioè speronare); addottorare e addottrinare: si fa ma quasi non si dice” (Dolci, 1985, p. 176).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    04 Set 2020
  • Revisado
    21 Out 2020
  • Aceito
    30 Out 2020
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