Resumos
Resumo
O presente artigo tem por objetivo levantar o estado da arte sobre Inovação Tecnológica e/ou de Processos com foco na Agricultura Orgânica, por meio de uma revisão sistemática de literatura (RSL), classificada como exploratória, descritiva e com abordagem qualitativa. Para tal intento, foi utilizado o protocolo descrito por Cronin et al. (2008). Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados e analisados 29 artigos na base de dados Web of Science. Os resultados indicaram predominância de pesquisas teórico-empíricas que integram abordagens qualitativa e quantitativa. Adicionalmente, foram mapeados os principais autores, bem como instituições e periódicos com maior quantidade de publicações na área pesquisada. Evidenciou-se que as autoras Leila Amaral Gontijo (UFSC), Larissa Maas (UFSC) e Rosane Malvestiti (UFSC) são as que mais aparecem na lista entre os 29 artigos examinados na pesquisa. A instituição com maior destaque nas publicações é a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A análise de conteúdo indicou que os ecossistemas de inovação podem ser construídos por meio de uma densa rede de relações, que auxilia no desenvolvimento e difusão do conhecimento aliado a um forte senso de territorialidade. Por fim, apresenta-se agenda de pesquisas futuras para avanços nesse campo de conhecimento.
Palavras-chave:
agricultura orgânica; inovação; tecnologia; redes sociais
Abstract
This article aims to survey the state of the art on Technological and/or Process Innovation with a focus on Organic Agriculture, through a systematic literature review (SLR), classified as exploratory, descriptive and with a qualitative approach. For this purpose, the protocol described by Cronin et al. (2008) was used. After applying the inclusion and exclusion criteria, 29 articles were selected and analyzed in the Web of Science database. The results indicated a predominance of theoretical-empirical research that integrates qualitative and quantitative approaches. Additionally, the main authors were mapped, as well as institutions and journals with the highest number of publications in the researched area. It was evident that the authors Leila Amaral Gontijo (UFSC), Larissa Maas (UFSC) and Rosane Malvestiti (UFSC) are the ones that most appear in the list among the 29 articles examined in the research. The most prominent institution in the publications is the Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Content analysis indicated that innovation ecosystems can be built through a dense network of relationships, which helps in the development and dissemination of knowledge combined with a strong sense of territoriality. Finally, an agenda for future research is presented for advances in this field of knowledge.
Keywords:
organic agriculture; innovation; technology; social networks
1. INTRODUÇÃO
No atual cenário mundial, a tecnologia e a inovação tornaram-se uma marca registrada de países com significativa capacidade de crescimento econômico, geração de emprego e renda e desenvolvimento. Tal noção é aplicável a todos os setores produtivos, trazendo oportunidades para investimentos e crescimento oriundos da criação de novos produtos, serviços, processos e demais formas de organização.
Na perspectiva do agronegócio, o cenário é ainda mais acentuado. Desde a última década, esse setor econômico vem proporcionando lições exemplares aos demais, adotando novas estratégias para o fortalecimento da cadeia produtiva e a mecânica dos negócios. Historicamente, o referido setor foi impulsionado, entre as décadas de 1970 e 1990, mediante apoio da ciência, da inovação e da tecnologia. Tal impulso promoveu um avanço que possibilitou o acesso e a inclusão de regiões antes consideradas improdutivas e/ou inóspitas à agropecuária. Nesse cenário, surge, então, a oferta de um grande e diversificado portfólio de produtos para o mercado. Passamos, assim, a dominar a agricultura tropical. O Brasil atraiu os olhares do mundo e novas oportunidades de negócio emergiram.
Ao se deslocar da agricultura básica/rudimentar, o País começa a ensaiar uma caminhada por novos horizontes que demandarão maiores esforços nos campos da pesquisa, da educação, das políticas de Estado e dos incrementos à inovação, bem como de investimentos em tecnologia. Na esteira dessa discussão, Dutta et al. (2017)Dutta, S., Lanvin, B., & Wunsch-Vincent, S. (2017). The global innovation index 2017: innovation feeding the world (10th ed.). Ithaca: Cornell University/INSEAD/WIPO. salientam que embora o Brasil, em relação a outros países em desenvolvimento, seja detentor de um sistema de inovação avançado, com infraestrutura científica favorável e relevante papel na produção de conhecimentos, deve enfrentar muitos desafios frente à complexidade dos avanços que demandam cada vez mais investimentos e aplicações eficazes de recursos, além de políticas governamentais que fomentem e incrementem o negócio.
Se hoje somos potência na produção de soja, cana-de-açúcar, trigo, milho e outros, deve-se ao fato de que determinados nichos do setor produtivo oportunizaram e incrementaram a energia exigida de forma que a inovação e a tecnologia se tornassem realidade no agronegócio brasileiro.
A agricultura orgânica, por sua vez, marcada pelo não uso de agroquímicos, poderia ser imaginada como não sendo parte do processo de inovação tecnológica. Não obstante, conforme argumentam Mazzoleni & Oliveira (2010), aMazzoleni, E. M., & Oliveira, L. G. (2010). Inovação tecnológica na agricultura orgânica: estudo de caso da certificação do processamento pós-colheita. Revista de Economia e Sociologia Rural, 48(3), 567-586. alternativa orgânica resgata conceitos tradicionais e pode se renovar a partir de inovações tecnológicas intensivas em conhecimento.
Sendo assim, a questão que norteou esta pesquisa foi: “Que tipos de inovações tecnológicas têm sido abordados em artigos científicos sobre agricultura orgânica, publicados entre 2017 e 2020?” Dessa forma, este trabalho tem o objetivo de analisar os artigos nacionais e internacionais publicados na base Web of Science que tratem de inovações tecnológicas que abordem aspectos relacionados à agricultura orgânica. Assim, um panorama sobre o tema no Brasil e no mundo será estabelecido, com vistas ao entendimento mais abrangente e à disseminação de conhecimentos científicos que inter-relacionam os temas inovações tecnológicas e agricultura orgânica.
A agricultura é uma das mais antigas atividades desenvolvidas pelos seres humanos. No período neolítico, há mais de 10 mil anos, a principal causa para que as comunidades deixassem de ser nômades foi a utilização das primeiras técnicas e materiais para o cultivo de plantas e o confinamento de animais, o que permitiu a sua moradia fixa.
Com o avanço das técnicas e tecnologias agrícolas, a agricultura evoluiu significativamente ao longo dos anos. Inicialmente, a prática da agropecuária foi desenvolvida perto de grandes rios como o Tigre e Eufrates, Yangtzé, Nilo e Ganges. Essas regiões eram ideais para a agricultura devido à disponibilidade de água para irrigação e fertilidade do solo. Foi nessas regiões que surgiram as primeiras grandes civilizações. A agricultura permitiu o desenvolvimento do comércio através da produção de excedentes. Isso levou ao crescimento das cidades e ao surgimento de classes sociais especializadas em atividades não agrícolas. Com o tempo, as técnicas agrícolas foram aprimoradas e novas tecnologias foram desenvolvidas. Isso permitiu um aumento na produção agrícola e uma maior eficiência no uso da terra (Malavolta & Moraes, 2006Malavolta, E., & Moraes, M. F. (2006, abril 17-19). Fundamentos do nitrogênio e do enxofre na nutrição mineral das plantas cultivadas. In Anais do Simpósio sobre Nitrogênio e Enxofre na Agricultura Brasileira (pp. 189-250). Piracicaba: International Plant Nutrition Institute.).
Zhai et al. (2020)Zhai, Z., Martínez, J. F., Beltran, V., & Martínez, N. L. (2020). Decision support systems for agriculture 4.0: survey and challenges. Computers and Electronics in Agriculture, 170, 105256. afirmam que a agricultura evoluiu de um uso inicial de força humana e tração animal, além de ferramentas rudimentares (Agricultura 1.0) até o que se chama de Agricultura 4.0, marcada pelo uso de sistemas e dispositivos inteligentes. A versão 5.0 ainda é uma realidade distante no campo, mas já observada na indústria. A Agricultura 4.0, como a quarta revolução da tecnologia agrícola, apresenta quatro requisitos essenciais: “aumentar a produtividade, alocar recursos de maneira razoável, adaptar-se às mudanças climáticas e evitar o desperdício de alimentos” (Zhai et al., 2020, pZhai, Z., Martínez, J. F., Beltran, V., & Martínez, N. L. (2020). Decision support systems for agriculture 4.0: survey and challenges. Computers and Electronics in Agriculture, 170, 105256.. 1).
Ainda nesse contexto, os autores Zambon et al. (2019)Zambon, I., Cecchini, M., Egidi, G., Saporito, M. G., & Colantoni, A. (2019). Revolution 4.0: industry vs. agriculture in a future development for SMEs. Processes, 7(1), 36. http://dx.doi.org/10.3390/pr7010036.
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afirmam que a Indústria 4.0 e a Agricultura 4.0 apareceram muito recentemente na literatura científica e ainda estão limitadas a um número reduzido de empresas pioneiras. Os benefícios gerados pela Agricultura 4.0 são qualitativos (com melhores produtos) e quantitativos (com menor gasto de insumos e maior produção), o que possibilita a busca pela sustentabilidade ou negócio sustentável.
De acordo com Russo & Cirella (2019), aRusso, A., & Cirella, G. T. (2019). Edible urbanism 5.0. Palgrave Communications, 5(1), 1-9. Agricultura 5.0 pode ser considerada a quinta revolução alimentar que poderá alimentar 10 bilhões de pessoas. O urbanismo comestível é uma das opções sustentáveis que está sendo considerada para a Agricultura 5.0, permitindo que as áreas urbanas sejam transformadas em locais de produção de alimentos de forma eficiente e sustentável. Esta abordagem pode ajudar a alimentar o crescente número de pessoas em todo o mundo, bem como contribuir para a redução da pobreza e da fome. Além disso, a Agricultura 5.0 também é ideal para atender às necessidades da agricultura de precisão, aproveitando a tecnologia para tornar a produção de alimentos mais eficiente, produtiva e sustentável.
Depois desta introdução, o artigo está estruturado em mais 4 seções: Na seção 2 apresenta-se o referencial teórico que fundamenta o estudo com o intuito de examinar os principais conceitos e características da agricultura orgânica e inovação tecnológica, à luz de autores seminais e trabalhos até o ano de 2020. A seção 3 aborda os procedimentos metodológicos, uma vez que adota um protocolo inovador para se levantar e selecionar artigos científicos. Na seção 4 são discutidos os principais resultados, com base na análise em profundidade dos trabalhos examinados. Por fim, são elencadas as considerações finais, especificando-se as contribuições e os limites entre os quais a pesquisa deve ser compreendida, bem como delineada uma agenda de estudos futuros sobre os temas centrais aqui retratados.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O comércio de alimentos orgânicos está em expansão no Brasil, indicando uma nova tendência de consumo. Segundo Jansen et al. (2017)Jansen, A., Oliveira, C. A., & Padula, A. D. (2017, outubro 26-27). Alimentos orgânicos e o uso da digitalização na agricultura. In Anais do V Simpósio da Ciência do Agronegócio (pp. 32-39). Porto Alegre: CEPAN/UFRGS. Recuperado em 20 de maio de 2023, de https://www.researchgate.net/publication/331165068_Alimentos_Organicos_e_o_uso_da_digitalizacao_na_agricultura
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, os consumidores que buscam esses produtos são mais exigentes e buscam alimentos de melhor qualidade, que possuam certificação e que tenham sido produzidos por meio de métodos de manejo alternativos aos agrotóxicos, visando à preservação da saúde e do meio ambiente. Em resumo, os consumidores de alimentos orgânicos valorizam produtos saudáveis e produzidos de forma sustentável.
A agricultura convencional ou comum e a agricultura orgânica são dois sistemas de produção agrícola distintos que apresentam diferenças significativas em relação à especialização dos produtos produzidos. Enquanto a agricultura convencional tende a produzir uma ampla gama de produtos, a agricultura orgânica é mais especializada na produção de vegetais, frutas e leite. Essa especialização da agricultura orgânica é influenciada pela demanda do mercado varejista, no qual os produtos orgânicos mais populares são comercializados. A preferência dos consumidores por produtos orgânicos e a crescente conscientização sobre os impactos ambientais da agricultura convencional têm levado a um aumento na demanda por produtos orgânicos, o que tem contribuído para a especialização da produção orgânica (Dimitri & Effland, 2018Dimitri, C., & Effland, A. (2018). From farming to food systems: the evolution of US agricultural production and policy into the 21st century. Renewable Agriculture and Food Systems, 35(4), 391-406.).
A agricultura orgânica se destaca pela não utilização de produtos químicos sintéticos, como fertilizantes, pesticidas e organismos geneticamente modificados, segundo Matos & Braga (2020)Matos, K. F. S., & Braga, M. J. (2020). Direcionadores da produção de café orgânico no Brasil. Revista de Política Agrícola, 29(2), 21-34. . Essa prática agrícola traz benefícios econômicos, sanitários e ambientais, como redução de custos com insumos químicos, produção de alimentos mais seguros e preservação da biodiversidade.
Não apenas no Brasil, onde o crescimento da agricultura orgânica em volume de transações foi 20% maior em 2018 comparado a 2017 (segundo o Organis - Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável), mas em várias partes do mundo, os consumidores buscam mais por esse tipo de produto.
Caporal & Costabeber (2004)Caporal, F. R., & Costabeber, J. A. (2004). Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Botucatu: EMATER. enfatizam que a agricultura orgânica é uma forma de produção que busca preservar o meio ambiente e a saúde dos consumidores sem usar agrotóxicos ou transgênicos. Já a agroecologia é uma ciência que estuda os sistemas agrícolas sob uma perspectiva ecológica, social e política, buscando promover o desenvolvimento rural sustentável. Ele defende que a agroecologia pode orientar a agricultura orgânica para que ela seja mais coerente com os princípios da sustentabilidade.
González & Parga-Dans (2020)González, P. A., & Parga-Dans, E. (2020). Organic labeling controversies: a means to an end within global value chains. Renewable Agriculture and Food Systems, 35(2), 109-114. apontam para uma tendência mundial em relação à produção de alimentos orgânicos e sustentáveis. De acordo com os autores, uma parte significativa do setor agroalimentar tem se dedicado ao desenvolvimento de produtos comestíveis que possuam essas características. Isso tem resultado em uma melhoria geral na qualidade dos alimentos comercializados, o que tem sido reconhecido pelos mercados de alimentos. Os autores destacam que esse movimento representa uma mudança importante no modo como a produção de alimentos é vista atualmente. A sustentabilidade passa a ser considerada um elemento fundamental na escolha de matérias-primas e no processo produtivo, demonstrando uma maior conscientização por parte de consumidores e empresas acerca da importância do consumo responsável.
O Brasil se destaca como um dos principais produtores e exportadores de produtos agrícolas no cenário mundial. Esse resultado é fruto da articulação entre o avanço da ciência, da tecnologia e da inovação no setor agropecuário e a existência de fatores favoráveis, tais como: a abundância de recursos naturais, a implementação de políticas públicas estratégicas, a qualificação dos agricultores e a integração das cadeias produtivas (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 2022Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. (2022). Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira. Recuperado em 20 de maio de 2023, de https://www.embrapa.br/visao/o-futuro-da-agricultura-brasileira
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).
Seidler & Fritz Filho (2016, p. 389) apontam que, na literatura tradicional, o setor da inovação na agricultura é descrito como “dependente das inovações ocorridas no campo dos fornecedores de insumos agrícolas”. Ao citarem o importante economista Joseph Schumpeter, recordam que o fator fundamental para o desenvolvimento econômico é a inovação tecnológica, e consiste em novas maneiras de produção, incorporando novas técnicas produtivas, lançando mão de novas combinações de recursos produtivos no intuito de promover mudanças.
Para a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), ao lançar o Manual de Oslo em 1990, inovações tecnológicas em produtos e processos “compreendem as implantações de produtos e processos tecnologicamente novos ou substanciais melhorias tecnológicas em produtos e processos” (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 1997,Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE. (1997). Manual de Oslo: diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação (3. ed.). São Paulo: FINEP. p. 54).
Bernardo et al. (2018)Bernardo, L. V. M., Farinha, M. J. U. S., & Binotto, E. (2018). A produção do conhecimento no setor de agronegócios. HOLOS, 6, 16-33., embasados em Oliveira et al. (2012)Oliveira, M. A. C., Fonseca, D. F. M., Reis, C. V. S., Moreira, T. B., & Pinheiro, A. A. (2012). Impulso- resposta do choque de inovação tecnológica à luz da teoria dos ciclos reais de negócios (RBC): o caso do setor agropecuário brasileiro. Revista de Economia e Agronegócio, 10(1), 1-28. abordam a relevância do conhecimento e da troca de experiências entre produtores na geração de inovações no campo. Nesse sentido, os autores destacam que as inovações, que surgem a partir das necessidades identificadas pelos produtores rurais, têm desempenhado um papel crucial no desenvolvimento agrícola do Brasil. É importante ressaltar que a criação de inovações no setor agrícola tem sido resultado de um processo dinâmico e contínuo, em que a troca de conhecimentos e experiências entre os produtores é fundamental. Dessa forma, as soluções encontradas no campo, a partir da observação e experimentação, têm sido incorporadas ao conhecimento tradicional e científico, e assim contribuído para aprimorar as práticas e técnicas agrícolas.
Se esse processo atingiu os resultados esperados com relação à ampliação da produção, isso foi devido à aprendizagem contida no contexto e que influenciou o uso adequado das tecnologias. Sem isso, as consequências poderiam não ser tão eficazes. Também as Nações Unidas veem como fundamental a inovação, em particular o uso das TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação).
Bernal-Jurado et al. (2021)Bernal-Jurado, E., Mozas-Moral, A., Fernández-Uclés, D., & Medina-Viruel, M. J. (2021). Online popularity as a development factor for cooperatives in the winegrowing sector. Journal of Business Research, 123, 79-85. afirmam que as tecnologias de informação e comunicação (TICs) são essenciais para disseminar o conhecimento e as boas práticas entre os produtores orgânicos, bem como para aumentar a visibilidade e a competitividade desse setor. Os autores também destacam que as TICs são ferramentas transversais que podem auxiliar no cumprimento dos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) propostos pela ONU.
A inovação tecnológica está se tornando uma questão-chave quando se trata de pensar em maneiras de superar os desafios mais críticos da atualidade, relacionados ao desenvolvimento sustentável; e, complementarmente, as questões de sustentabilidade estão se tornando foco mais relevante em relação à inovação em todo o mundo.
No Brasil, na busca da resolução de problemas nos distintos campos produtivos, a tecnologia pode ser compreendida como uma forte aliada. No cenário do agronegócio, estima-se o aumento da produtividade e a minimização do impacto ambiental dos campos agrícolas cooperando na garantia das questões sanitárias.
Seidler & Fritz Filho (2016)Seidler, E. P., & Fritz Filho, L. F. (2016). A evolução da agricultura e o impacto gerado pelos processos de inovação. Economia e Desenvolvimento, 28(1), 388-409. defendem a importância dos subsídios destinados à agricultura. Eles afirmam que esses recursos contribuem para a modernização do setor. Além disso, os autores destacam que os subsídios também favorecem o crescimento e o aprimoramento da agricultura. Isso se deve às novas tecnologias empregadas e aos investimentos realizados no setor.
No contexto do agronegócio, a incorporação da tecnologia tem se mostrado essencial para a eficiente gestão dos negócios. Isso se deve, em grande medida, ao fato de que a tecnologia pode contribuir para a redução de custos na produção por meio de sua gestão adequada. De fato, a gestão tecnológica pode auxiliar os produtores na administração dos recursos disponíveis, proporcionando maior controle sobre os custos envolvidos na produção (Bernardo et al., 2018Bernardo, L. V. M., Farinha, M. J. U. S., & Binotto, E. (2018). A produção do conhecimento no setor de agronegócios. HOLOS, 6, 16-33.). Dessa forma, a adoção de tecnologias avançadas permite uma melhor utilização dos insumos, além de possibilitar a identificação de gargalos e oportunidades de otimização dos processos produtivos. Assim, a utilização da tecnologia tornou-se crucial para a manutenção da competitividade do agronegócio em um mercado cada vez mais exigente e dinâmico.
Na agricultura orgânica, a busca pela inovação requer uma abordagem que privilegie a construção de ações coletivas. Nesse sentido, de acordo com Canali et al. (2020), oCanali, S., Antichi, D., Cristiano, S., Diacono, M., Ferrante, V., Migliorini, P., Riva, F., Trinchera, A., Zanoli, R., & Colombo, L. (2020). Levers and obstacles of effective research and innovation for organic food and farming in Italy. Agronomy, 10, 1181. http://dx.doi.org/10.3390/agronomy10081181.
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sistema de conhecimento e inovação agrícola deve ser concebido de forma a permitir a participação ativa dos diferentes atores envolvidos em toda a cadeia do conhecimento, desde a pesquisa até a implementação das inovações.
As ciências sociais, com suas áreas do conhecimento como sociologia, psicologia e antropologia, cooperam para a constituição do modelo de Análise de Redes Sociais (ARS).
Um conceito para redes sociais é a representação de um conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados, valorizando elos informais e das relações, em detrimento das estruturas hierárquicas (Marteleto, 2001Marteleto, R. M. (2001). Análise de redes sociais - aplicação nos estudos de transferência da informação. Ciência da Informação, 30(1), 71-81. Recuperado em 20 de maio de 2023, de https://revista.ibict.br/ciinf/article/view/940/977
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).
De forma a identificar e compreender os diversos aspectos que influenciam as ações dos atores, a ARS tem sido muito utilizada, como são as redes de instituições ou pessoas, haja vista tais relações comprometerem os objetivos finais individuais ou coletivos.
De acordo com Silva et al. (2019), aSilva, J. M., Pantoja, M. J., Vieira, V. S. F., & Junqueira, A. M. R. (2019, julho 21-25). Redes interorganizacionais e agronegócio: uma revisão sistemática de literatura. In Anais do 57º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (pp. 1-20). Brasília: Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Análise de Redes Sociais (ARS) é uma ferramenta que permite caracterizar a estrutura de uma rede social por meio do estudo das relações sociais que existem entre os atores que a compõem. Essa abordagem tem como objetivo identificar e interpretar os padrões de interação e cooperação que se derivam dessas relações, bem como os fatores que influenciam na formação e na dinâmica da rede. Nos últimos anos o empenho de estudos pelo uso da análise de redes sociais vem aumentando. Reforçando esse contexto, Moraes et al. (2015)Moraes, M., Furtado, R. L., & Tomaél, M. I. (2015). Redes de citação: estudo de rede de pesquisadores a partir da competência em informação. Em Questão, 21(2), 181-202. afirmam que:
As redes sociais estão por toda parte. Aliás, tudo está ligado por redes: pessoas, organizações, instituições, grupos, documentos, e assim por diante. A atual dinâmica social, na qual a internet e a globalização já estão imbricadas no dia a dia das pessoas, há uma maior evidência das redes sociais se comparada às épocas anteriores. (Moraes et al., 2015, pMoraes, M., Furtado, R. L., & Tomaél, M. I. (2015). Redes de citação: estudo de rede de pesquisadores a partir da competência em informação. Em Questão, 21(2), 181-202.. 188).
Para Martins (2012)Martins, D. L. (2012). Análise de redes sociais de colaboração científica no ambiente de uma federação de bibliotecas digitais (Tese de doutorado). Recuperado em 20 de maio de 2023, de https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27151/tde-16042013-144121/publico/DaltonLopesMartins.pdf
https://www.teses.usp.br/teses/disponive...
, mapear uma área do conhecimento a partir da análise de suas redes sociais passa a se tornar tarefa viável devido à quantidade de dados hoje disponíveis e que podem ser coletados de forma automática.
A quantidade de dados e informações disponíveis e seu fácil acesso permite ao pesquisador qualidade no mapeamento de uma determinada área do conhecimento por meio da análise de redes sociais.
A próxima seção apresenta os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa, detalhando as etapas especificadas no protocolo de RSL desenvolvido por Cronin et al. (2008)Cronin, P., Ryan, F., & Coughlan, M. (2008). Undertaking a literature review: a step-by-step approach. British Journal of Nursing, 17(1), 38-43..
3. METODOLOGIA
O presente estudo é classificado, quanto aos procedimentos adotados, como uma revisão de literatura. Segundo Neuman (2014)Neuman, W. L. (2014). Métodos de pesquisa social (7. ed.). Porto Alegre: Penso. e Cronin et al. (2008), aCronin, P., Ryan, F., & Coughlan, M. (2008). Undertaking a literature review: a step-by-step approach. British Journal of Nursing, 17(1), 38-43. revisão da literatura parte do pressuposto de que o conhecimento se acumula e que é possível expandir e desenvolver novas bases de conhecimentos por meio de uma abordagem criteriosa, para identificar, avaliar, filtrar e sintetizar o conhecimento de determinada área, descrevendo os critérios adotados para selecionar a amostra de manuscritos examinados. Dessa forma, assegura-se que outros pesquisadores possam replicar a investigação científica.
Assim, a revisão sistemática de literatura é considerada uma pesquisa secundária porque utiliza estudos primários para sua análise, com a intenção de construir bases consistentes ao avanço do conhecimento e à delimitação de áreas relevantes para a realização de estudos futuros.
A abordagem utilizada na pesquisa é uma combinação de métodos qualitativos e quantitativos. De acordo com Günther (2006), aGünther, H. (2006). Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Psicologia: Teoria e Pesquisa, 22(2), 201-209. pesquisa pode ser classificada em qualitativa e quantitativa. A pesquisa qualitativa é baseada na análise de textos, ou seja, os dados coletados são interpretados hermeneuticamente por meio de diversas técnicas analíticas. Por outro lado, a pesquisa quantitativa utiliza a quantificação tanto na coleta quanto no tratamento das informações. Matias-Pereira (2016)Matias-Pereira, J. (2016). Manual de metodologia da pesquisa científica (4. ed.). São Paulo: Atlas. também destaca que a principal característica do método quantitativo é a utilização da quantificação. Ambos os métodos têm suas próprias particularidades e podem ser aplicados em diferentes contextos de pesquisa.
Neste trabalho, realizou-se uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL) com o intuito de investigar que tipos de tecnologias estão sendo desenvolvidas para a agricultura orgânica, bem como quais atores e instituições estão pesquisando sobre as tecnologias agrícolas na produção de orgânicos. De acordo com Laville & Dionne (1999), aLaville, C., & Dionne, J. (1999). A construção do saber: manual de Metodologia da Pesquisa em Ciências Humanas. Belo Horizonte: Penso. revisão da literatura é essencial para se compreender o estado atual da questão investigada pelo pesquisador. É uma caminhada crítica pelo campo, onde o pesquisador coleta e seleciona informações relevantes, construindo um “buquê” de flores. Essa caminhada deve estar intimamente relacionada à pergunta a ser respondida, permitindo uma análise crítica e aprofundada do problema em questão.
Adicionalmente, realizou-se uma análise bibliométrica com objetivo de identificar a estrutura intelectual do campo aqui pesquisado e sistematizar os dados relativos aos principais autores, trabalhos, periódicos utilizados para publicação das pesquisas, bem como redes de pesquisa. A bibliometria visa analisar a atividade científica ou técnica realizando estudos quantitativos de publicações, além dos indicadores quantitativos apoiarem a compreensão da dinâmica da ciência e da tecnologia, bem como têm função para o planejamento de políticas e tomadas de decisões neste setor (Santos, 2004Santos, R. N. M. (2004). Produção científica: por que medir? O que medir? Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, 1(1), 22-38.).
Quanto à realização da revisão sistemática da literatura, Filippi et al. (2017)Filippi, A. C. G., Guarnieri, P., & Farias, J. S. (2017). Logística agroindustrial: uma revisão sistemática nos anais de congresso da SOBER. Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, 10(4), 1077-1112., com base em Cronin et al. (2008)Cronin, P., Ryan, F., & Coughlan, M. (2008). Undertaking a literature review: a step-by-step approach. British Journal of Nursing, 17(1), 38-43., complementam que quanto à técnica da pesquisa, são destacados dois tipos de revisão da literatura:
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Revisão narrativa - sintetiza a literatura, no entanto, não ficam evidenciadas as regras aplicadas na escolha das fontes.
• Revisão sistemática da literatura - possui procedimentos bem definidos para revisar a literatura, seguindo um protocolo de seleção e análise das fontes.
Filippi et al. (2017)Filippi, A. C. G., Guarnieri, P., & Farias, J. S. (2017). Logística agroindustrial: uma revisão sistemática nos anais de congresso da SOBER. Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, 10(4), 1077-1112. ainda descrevem o protocolo de revisão sistemática proposto por Cronin et al. (2008), oCronin, P., Ryan, F., & Coughlan, M. (2008). Undertaking a literature review: a step-by-step approach. British Journal of Nursing, 17(1), 38-43. qual envolve as seguintes etapas:
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Formulação das questões da pesquisa
Para a revisão sistemática de literatura, foi formulada a seguinte questão de pesquisa: Que tipos de inovações tecnológicas e/ou de processos têm sido desenvolvidos para a agricultura orgânica? No que tange à análise bibliométrica, o foco recaiu na identificação de autores e instituições, na literatura nacional e internacional, que estão pesquisando a temática inovações tecnológicas na agricultura orgânica, num recorte temporal de 2000 a 2020.
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Conjunto de critérios de inclusão e exclusão
Considerando que as bases de dados científicas atendem de forma multidisciplinar o tema e que este pode ser encontrado em periódicos de diversas áreas do conhecimento, utilizou-se os seguintes critérios de escolha: a revisão sistemática foi realizada na literatura internacional e nacional; o método utilizado para a revisão foi o Protocolo de Cronin, por se tratar de um método mais criterioso quanto à qualidade dos trabalhos, a base de dados, palavras-chave, operadores booleanos, período de publicação, idioma e tipos de documentos. Foi definido que a pesquisa seria realizada na base de dados Web of Science (WoS), por ser multidisciplinar e abranger artigos de periódicos com alto fator de impacto. Após definição da base, estabeleceu-se o período de publicação, que abrange os anos de 2000 a 2020 para as duas primeiras etapas do levantamento. As palavras-chave da primeira parte da busca foram “innovation”, “organic”. No que diz respeito aos operadores booleanos na pesquisa, utilizou-se o “AND” e “OR” para combinação das palavras-chave. Por se tratar de uma revisão de literatura internacional, selecionou-se a língua inglesa, a fim de buscar as palavras-chave em resumos (abstract) mesmo em trabalhos nacionais. Na segunda etapa da pesquisa, as palavras-chave foram “history”, “technology” e “agriculture”. No que concerne aos operadores booleanos na pesquisa, utilizou-se o “AND” e o “OR” quando se realizou a combinação dos descritores com o operador booleano AND, excluindo-se os operadores OR e NOT, considerando que os resultados pudessem refletir somente trabalhos com os descritores citados. Como refinamento, no período das publicações foi selecionado somente o ano de 2020 e o idioma português.
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Seleção e acesso da literatura
A base de dados definida para as buscas foi a Web of Science (WoS), como dito anteriormente. Para a primeira etapa do levantamento, utilizou-se a busca de tópicos com TS=(innovat*) para encontrar todos os trabalhos com palavras derivadas do radical em inglês. Foram identificados 274.772 artigos no período de publicação de 2000 a 2020. Foi realizada, então, uma segunda pesquisa, utilizando-se a busca por tópicos TS=(organic*). O resultado obtido foi de 813.725 artigos. Após a combinação dos descritores TS= (innovat* AND organic*), ao utilizar o operador booleano AND, teve-se como resultado um total de 5.300 artigos. Considerando este resultado, realizou-se mais um refinamento por data, como sendo somente o ano de 2020, encontrando-se 754 estudos. A partir deste resultado, por fim, ocorreu mais um refinamento por seleção de áreas do conhecimento (ligadas às áreas de economia rural, sustentabilidade, tecnologias verdes e negócios), chegando ao total de 280 artigos. Na segunda busca, pelos termos “history”, “technology” e “agriculture”, também na Web of Science (WoS), com período de pesquisa de 1945 a 2020, em artigos na língua portuguesa, foram encontrados 1.633 artigos. Com o refinamento por data, de 2019 a 2020, chegou-se a 228 artigos científicos. Foram utilizados os mesmos operadores booleanos AND e OR.
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Avaliação da qualidade da literatura incluída na revisão
A partir dos 280 artigos encontrados na primeira busca, foram selecionados 23 deles por título, sendo que os demais 257 foram excluídos da revisão por não se enquadrarem adequadamente no tema de estudo. Considerando os 23 trabalhos encontrados, houve a etapa de seleção por resumo, sendo excluídos 03 estudos, por não estarem de acordo com o tema. Após essa etapa de seleção, a verificação pelo Qualis2 junto à plataforma Sucupira gerou a exclusão de mais um trabalho. Assim, um total de 19 artigos seguiu para análise e síntese. Na segunda etapa, a partir dos 228 artigos, foi feita seleção por título, sendo escolhidos 11 deles. Na etapa de resumos, permaneceram os mesmos 11 artigos. Na etapa de qualificação por Qualis, todos tinham a classificação adequada (A1, A2, B1, B2) para seguirem para a fase de análise e síntese.
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Análise, síntese e disseminação dos resultados da RSL
Esta fase abrangeu a análise detalhada de cada um dos 29 artigos selecionados em duas buscas na base de dados. Foram elaboradas tabelas com os principais critérios utilizados e respectivos autores das obras selecionadas. Assim, os resultados foram analisados, possibilitando a discussão apresentada na próxima seção e a identificação de lacunas na literatura.
Com base no protocolo de Cronin, a Figura 1 apresenta uma síntese dos estudos analisados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com vistas a responder ao problema de pesquisa, o passo seguinte foi a realização da análise bibliométrica dos dados, a fim de identificar quais autores na literatura nacional e internacional estão pesquisando sobre as inovações tecnológicas na agricultura orgânica, bem como levantar as instituições às quais os autores pertencem, quais periódicos estão publicando sobre o tema e os anos de publicação. Assim, no Quadro 1 são apresentados os artigos selecionados.
Com base na análise do portfólio de artigos selecionados, foi possível classificar três tipos de estudo, quais sejam: teóricos, empíricos ou teórico-empíricos.
O Quadro 2, a seguir, especifica as principais características metodológicas encontradas nos artigos teórico-empíricos.
4.1 Tipos de estudos
Para o autor Demo (2000, pDemo, P. (2000). Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas.. 20), a pesquisa teórica trata-se da pesquisa que é “dedicada a reconstruir teoria, conceitos, ideias, ideologias, polêmicas, tendo em vista, em termos imediatos, aprimorar fundamentos teóricos”. A pesquisa empírica é uma abordagem de pesquisa que busca comprovar algo por meio de experimentos ou observação de determinado contexto para coleta de dados em campo. É também chamada de pesquisa de campo. Ela é amplamente aceita na comunidade científica e pode ser utilizada em diversas áreas do conhecimento para contribuir para o progresso do conhecimento humano (Matias-Pereira, 2019Matias-Pereira, J. (2019). Manual de metodologia da pesquisa cientifica (4. ed.). São Paulo: Atlas.).
Como resultado da análise realizada nos 29 artigos selecionados, constatou-se que 09 trabalhos são estudos teóricos, 15 são empíricos e 05 foram avaliados como estudos teórico-empíricos.
No que concerne à natureza, observou-se a predominância de estudos quali- quantitativos. Em relação ao setor da economia e área de atuação, destacaram-se os setores primário e secundário.
Entre os instrumentos de coleta de dados destacam-se a entrevista, a pesquisa documental e o questionário, sendo que as técnicas de análise de dados mais empregadas foram a análise estatística descritiva, seguida da análise de conteúdo.
4.2 Análise Bibliométrica
Segundo Pimenta et al. (2017), aPimenta, A. A., Portela, A. R. M. R, Oliveira, C. B., & Ribeiro, R. M. (2017). A bibliometria nas pesquisas acadêmicas. SCIENTIA: Revista de Ensino, Pesquisa e Extensão, 4(7), 1-13. bibliometria tem como objetivo compreender e avaliar as atividades de produção científica de conhecimento, além de contribuir para o reconhecimento de autores e estudiosos por meio da divulgação da literatura existente. Além disso, a bibliometria é capaz de fomentar o desenvolvimento de novas formas de conhecimento.
Junto com a análise bibliométrica, foi realizada a análise de rede, ou seja, a institucionalização da rede de autores, instituições e suas publicações.
Para tanto, foi utilizado o CiteSpace, um software que utiliza algoritmos computacionais e visualizações interativas para aliviar algumas das sobrecargas de trabalho tradicionais dos pesquisadores, permitindo que eles se concentrem em resolver problemas e encontrar a verdade em determinada área do conhecimento. De acordo com Chen (2014), oChen, C. (2014). The CiteSpace manual. Recuperado em 14 de julho de 2023, de http://cluster.cis.drexel.edu/~cchen/citespace/
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papel do CiteSpace é explorar a rede de modelagem e visualização da área de estudo, respondendo às perguntas dos pesquisadores e ajudando-os a atingir seus objetivos.
Com base nos dados apresentados no Quadro 1, foi realizada uma análise gráfica dos principais anos de publicação dos artigos selecionados. Os resultados mostraram que a maioria dos artigos, representando 76% do total, foram publicados no ano de 2020. Em segundo lugar, com 14% das publicações, ficou o ano de 2019, seguido por 4% em 2018 e 3% para os anos de 2017 e 2011. Esses dados indicam um forte interesse pela temática por parte da comunidade acadêmica, o que é confirmado pela Figura 2 apresentada na análise gráfica.
A Figura 3 mostra quais autores estão pesquisando sobre o tema das inovações tecnológicas na agricultura orgânica. Entre os 29 artigos selecionados para a pesquisa, as autoras Leila Amaral Gontijo (UFSC), Larissa Maas (UFSC) e Rosane Malvestiti (UFSC) são as que mais aparecem na lista, com dois artigos cada. Os demais autores têm apenas um artigo cada.
Por sua vez, a Figura 4 apresenta as redes sociais entre os autores e as instituições às quais eles pertencem. A análise da figura mostra que não há relação entre as instituições, o que indica falta ou ausência de troca de informações institucionais para a produção de conhecimentos sobre o referido tema de pesquisa.
A Figura 5 mostra os periódicos de maior publicação sobre o tema inovações tecnológicas na agricultura orgânica. O periódico que mais aparece na lista é o “Sustainability”, com 8 publicações. Os três periódicos seguintes possuem duas publicações cada um: “Agronomy Basel”, “Holos” e “Renewable Agriculture and Food Systems”. Os demais possuem uma publicação cada.
Corroborando a ideia da institucionalização entre os principais periódicos, nota-se na Figura 6 a centralidade do periódico “Sustainability”.
Com base na RSL foi possível identificar 04 artigos que abordaram a temática inovação tecnológica na agricultura com foco em processos, acentuando a importância de mecanismos de ações coletivas e colaborativas para a gestão da cadeia de conhecimentos da agricultura orgânica e destacando a disseminação e o compartilhamento de conhecimento como estratégias para potencializar as inovações e transformações no âmbito da agricultura orgânica, conforme sistematizado abaixo, no Quadro 3.
Em suma, os achados dos estudos apresentados no Quadro 3 demonstram que a inovação em agricultura orgânica está baseada na cooperação entre os atores, sejam eles intra ou inter propriedades agrícolas, além da necessidade de participação de instituições governamentais.
Mais especificamente, a pesquisa conduzida por Chaminade & Randelli (2020)Chaminade, C., & Randelli, F. (2020). The role of territorially embedded innovation ecosystems accelerating sustainability transformations: a case study of the transformation to organic wine production in Tuscany (Italy). Sustainability, 12(11), 4621. http://dx.doi.org/10.3390/su12114621.
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evidenciou que o compartilhamento de conhecimentos sobre a transição para a agricultura orgânica em Panzano (Itália) foi essencial para a maior agilidade das transformações pretendidas.
As universidades funcionaram como fonte de conhecimentos para os agricultores convencionais, e os resultados apontaram que os ecossistemas de inovação podem ser construídos por meio de uma densa rede de relações, que auxilia no desenvolvimento e difusão do conhecimento aliado a um forte senso de territorialidade.
Tais achados trazem implicações importantes para as políticas, acentuando a importância da territorialidade como aspecto que pode acelerar as transformações da sustentabilidade.
Tendo sido as ações coletivas destacadas na maioria dos trabalhos como ações modernizadoras e inovadoras na agricultura orgânica, verifica-se que a cooperação, processos sustentáveis e inserção dos atores na cadeia do conhecimento são fundamentais para esse tipo de inovação.
5 CONCLUSÕES
A agricultura tem se beneficiado da tecnologia e da inovação, o que tem revolucionado a produção de alimentos no Brasil e no mundo. A agricultura orgânica também poderia se beneficiar dessas inovações e tecnologias.
Os resultados da pesquisa bibliométrica mostram que embora haja produção científica realizada por autores e instituições brasileiras sobre o tema, os trabalhos não foram publicados na língua portuguesa (Pimenta et al., 2017Pimenta, A. A., Portela, A. R. M. R, Oliveira, C. B., & Ribeiro, R. M. (2017). A bibliometria nas pesquisas acadêmicas. SCIENTIA: Revista de Ensino, Pesquisa e Extensão, 4(7), 1-13.).
A análise bibliométrica mostrou que Leila Amaral Gontijo, Larissa Maas e Rosane Malvestiti, todas da UFSC, são as autoras que mais publicaram entre os 29 artigos relacionados à pesquisa, com dois artigos cada. Os demais autores possuem um artigo cada. O periódico que mais publicou sobre o tema das inovações tecnológicas na agricultura orgânica foi o “Sustainability”, com 8 publicações. Os três periódicos seguintes tiveram duas publicações cada: “Agronomy Basel”, “Holos” e “Renewable Agriculture and Food Systems”. Os demais possuem uma publicação cada.
Ainda por meio da análise bibliométrica, fica evidenciado que 76% dos trabalhos foram publicados no ano de 2020, 14% das publicações ocorreram no ano de 2019, seguidas de 4% no ano de 2018 e 3% para o ano de 2017, o que sugere que houve um interesse crescente pela temática por parte da comunidade acadêmica. A análise de rede social evidenciou que não há parceria em pesquisas do tema inovação em agricultura orgânica entre as instituições ou os pesquisadores.
Os resultados da RSL mostram que a inovação em agricultura orgânica está baseada no agenciamento humano, visto que as ações coletivas foram citadas como ações modernizadoras e inovadoras no campo. Exemplo de ação coletiva são as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSAs), hoje muito presentes nas regiões periurbanas das cidades.
Uma proposta para estudos futuros foi desvelada a partir da análise do portfólio de estudos aqui investigados e destaca a importância de uma maior articulação e integração entre as universidades e pesquisadores, unindo temas inter-relacionados às inovações tecnológicas, de processo, de conhecimento e social e que sejam de interesse mútuo em prol da agricultura orgânica e da inovação (Ferreira et al., 2018Ferreira, M. A. M., Marinho, A. B., Costa, J. C., & Silva, E. F. (2018). Análise das inovações tecnológicas na agricultura familiar: uma revisão sistemática. Revista de Agricultura Neotropical, 5(2), 30-42.).
Por fim, sugerem-se maiores esforços de pesquisa para a identificação das razões pelas quais as pesquisas empreendidas na área de inovação tecnológica para a agricultura orgânica não foram publicadas em periódicos nacionais, principalmente considerando que o Brasil se destaca na produção de alimentos e possui credibilidade perante grande parte dos países no contexto do agronegócio.
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Como citar: Oliveira, M. A., Machado, G. A., Pereira, M. S., & Pantoja, M. J. (2024). Inovações na agricultura orgânica: revisão sistemática e bibliométrica de literatura. Revista de Economia e Sociologia Rural, 62(2), e269069. https://doi.org/10.1590/1806-9479.2022.269069
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JEL Classification: O13, Q13, Q55.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
22 Set 2023 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
27 Out 2022 -
Aceito
20 Maio 2023