Resumo
Objetivo Analisar o enfrentamento do estresse vivenciado por enfermeiras-líderes no ambiente de trabalho, bem como identificar situações estressoras e estratégias de enfrentamento.
Métodos Estudo misto, fundamentado no método de estudo de caso, desenvolvido em um hospital privado. Na etapa quantitativa, participaram 23 enfermeiras líderes, com aplicação de questionário para caracterização sociodemográfica e profissional e do Inventário de Estresse em Enfermeiros. Na etapa qualitativa, 21 enfermeiras líderes respoderam a entrevista narrativa. Os dados foram analisados estatisticamente de forma descritiva com medidas de tendência central e dispersão, por meio de análise univariada com uso do programa Stata SE 12. Os qualitativos, tratados conforme a análise de conteúdo e auxílio do software NVIVO® versão 11. Adotou-se o referencial teórico de Christophe Dejours.
Resultados Identificou-se score global entre 55 a 134, média de estresse de 93,65±20,33. As participantes não apresentaram elevados níveis de estresse. Situações como maior fonte de estresse no ambiente laboral foram: ter um prazo curto para cumprir ordens (43,8%), executar tarefas distintas simultaneamente (39,1%) e trabalhar com pessoas despreparadas (39,1%). Nas entrevistas, evidenciou-se sobrecarga emocional, distúrbios do sono, compulsão alimentar, episódios de esquecimento e ansiedade. Utilização de estratégias defensivas individuais e coletivas para enfrentamento do estresse e adoção de coping.
Conclusão Mesmo não apresentando níveis elevados de estresse, as participantes vivenciam em seu cotidiano situações estressoras e adotam estratégias para seu enfrentamento.
Enfermeira e Enfermeiros; Liderança; Estresse ocupacional; Gerenciamento da prática profissional
Resumen
Objetivo Analizar el afrontamiento del estrés vivido por enfermeras líderes en el ambiente de trabajo, así como identificar situaciones estresantes y estrategias de afrontamiento.
Métodos Estudio mixto, basado en el método de estudio de casos, desarrollado en un hospital privado. En la etapa cuantitativa participaron 23 enfermeras líderes, con aplicación de un cuestionario para caracterización sociodemográfica y profesional y del Inventario de Estrés en Enfermeros. En la etapa cualitativa, 21 enfermeras líderes respondieron una entrevista narrativa. Los datos fueron analizados estadísticamente de forma descriptiva con medidas de tendencia central y dispersión, a través de análisis univariado con uso del programa Stata SE 12. Los cualitativos fueron tratados según el análisis de contenido y auxilio del software NVIVO® versión 11. Se adoptó el marco referencial teórico de Christophe Dejours.
Resultados Se identificó puntuación global entre 55 y 134, promedio de estrés de 93,65±20,33. Las participantes no presentaron niveles de estrés elevados. Situaciones identificadas como mayor fuente de estrés en el ambiente laboral fueron: tener plazos cortos para cumplir órdenes (43,8%), ejecutar distintas tareas simultáneamente (39,1%) y trabajar con personas no preparadas (39,1%). En las entrevistas, se observó sobrecarga emocional, trastornos del sueño, compulsión alimentaria, episodios de olvidos y ansiedad. Utilización de estrategias defensivas individuales y colectivas para afrontamiento del estrés y adopción de coping.
Conclusión Aunque no presentaron niveles de estrés elevados, las participantes viven en su día a día situaciones estresantes y adoptan estrategias para afrontarlas.
Enfermeras y Enfermeros; Liderazgo; Estrés laboral; Gestión de la práctica profesional
Abstract
Objective To analyze coping with stress experienced by leading nurses in the workplace, as well as identify stressful situations and coping strategies.
Methods A mixed study based on the case study method and developed in a private hospital. 23 leading nurses participated in the qualitative phase by applying a questionnaire for sociodemographic and professional characterization and the Nurses’ Stress Inventory (Inventário de Estresse em Enfermeiros). In the qualitative stage, 21 leading nurses answered the narrative interview. Data were statistically analyzed descriptively with measures of central tendency and dispersion by univariate analysis using the Stata SE 12 software. The qualitative ones, treated according to the content analysis and aid of the NVIVO® software version 11. Christophe Dejours’ theoretical framework was adopted.
Results An overall score between 55 and 134 was identified, with a mean stress of 93.65 ± 20.33. Participants did not show high stress levels. Situations as the major source of stress in the workplace were: having a short time to fulfill orders (43.8%), performing different tasks simultaneously (39.1%) and working with unprepared people (39.1%). In the interviews, emotional overload, sleep disturbance, binge eating, episodes of forgetfulness and anxiety were evidenced. Using individual and collective defensive strategies to cope with stress and adopt coping.
Conclusion Even without presenting high levels of stress, participants experience stressful situations in their daily lives and adopt strategies for coping with them.
Nurses; Leadership; Occupational stress; Practice management
Introdução
O processo de trabalho da enfermeira compõe dinâmica complexa que envolve não somente assistência ao paciente, tomada de decisões, como trabalho em grupo, mediação de conflitos, realização de atividades gerenciais e exercício da liderança. Necessita direcionar condutas e ações, com intuito de alcançar objetivos, cabendo-lhe supervisão e responsabilidade legal acerca de atividades da equipe de enfermagem.
Tais atribuições podem desencadear sofrimento nas enfermeiras em virtude do convívio com situações estressoras no ambiente laboral. Sob a perspectiva da psicopatologia do trabalho essa relação nunca ocorre de forma neutra, tendo em vista reflexos na saúde mental, tanto na construção da saúde quanto no desenvolvimento de patologias.1
Estudos nacionais sugerem que fatores estressores estão presentes na atividade laboral e inferem maior suscetibilidade aos profissionais com maior tempo de experiência, devido à responsabilidade com a equipe e realidade institucional. Evidencia-se possibilidade de realização de atividades de maneira rotineira com predisposição ao surgimento de estresse e insatisfação profissional.2,3
Respostas desencadeadas pelo estresse, consideradas reação a uma adaptação, podem causar sintomas físicos, psicológicos e comportamentais ao passo que utilizar estratégias de enfrentamento possa equalizá-las. No entanto, o não alcance dessas habilidades pode desencadear transtornos psicológicos à medida que exposições ao estresse permanecem e as estratégias falham resultando em adoecimento físico e mental.4
Estratégias defensivas podem ser classificadas em individual e coletiva diante de aspectos relacionados à natureza e organização do trabalho, dos quais se destacam questões sociais, culturais e econômicas que repercutem na vida dos trabalhadores, com possíveis impactos na saúde física e mental.5
Estudos6-9 apontam a complexidade do estresse como fenômeno que compreende interação do indivíduo com ambiente interno e externo; ao passo que o coping que se denomina, o enfrentamento, sofrerá influência do ambiente que o profissional está inserido, bem como a vivências de situações estressoras anteriores. Ocorrem influências sociodemográficas e funcionais diante da estratégia de enfrentamento utilizada; isto posto são necessários esforços individuais atrelados a condições organizacionais relacionados ao estresse laboral e instrumentalização profissional sobre coping, para entendimento e utilização de maneira mais efetiva.
A escolha pelo gênero feminino como referência ao decorrer do estudo se dá pela maioria das trabalhadoras nesse campo profissional serem mulheres. As participantes desta pesquisa foram por unanimidade do gênero feminino, devido a não ter nenhum enfermeiro em cargos gerenciais na população estudada.
Diante da relevância sobre exposições a situações estressoras e possíveis desfechos a saúde do trabalhador construiu-se a seguinte questão norteadora: como a enfermeira-líder enfrenta situações estressoras vivenciadas no ambiente de trabalho? E como objetivo: analisar o enfrentamento do estresse vivenciado por enfermeiras-líderes no ambiente de trabalho, bem como identificar situações estressoras e estratégias de enfrentamento.
Métodos
Trata-se de estudo misto com abordagem quantitativa transversal e qualitativa por meio de análise de conteúdo, do tipo pesquisa de campo, com delineamento metodológico fundamentado em estudo de caso único,10realizado em um hospital privado, geral, de grande porte da cidade de Salvador- Bahia, com atendimentos a pacientes neonatos, pediátricos e adultos. O presente estudo foi realizado com 23 enfermeiras que assumem cargos gerenciais incluindo líderes de unidades, coordenadoras e supervisoras, as quais respectivamente assumem posições hierárquicas crescentes. Adotou-se critério de inclusão exercer cargos de gestão por no mínimo seis meses e critério de exclusão afastamento por motivo de doença, licença maternidade ou encontrar-se em gozo de férias no período da coleta de dados.
A coleta ocorreu entre agosto a dezembro de 2018. Os dados quantitativos foram extraídos através de questionário contendo informações sociodemográficas e profissionais, seguido da aplicação do Inventário de Estresse em Enfermeiros (IEE), construído e validado no Brasil, composto por 38 itens, respondidos por meio de uma escala tipo likert classificando respostas entre nunca (1) à sempre (5) para vivências de situações no ambiente laboral consideradas fontes de tensão e estresse nos últimos seis meses. Com pontuações que variam entre 38 à 190, as variáveis são agrupadas em três domínios: papéis estressores da carreira, composto por onze itens; relações interpessoais, composto por 17 itens e fatores intrínsecos ao trabalho, com 10 itens.11
Adotou-se como referência vivência da situação no ambiente laboral referida como fonte de tensão e estresse, onde respostas com marcação de score menor que 3 foram consideradas como hipóteses baixas e acima de 3 como hipóteses altas.9,12
Os dados quantitativos foram transpostos para base de dados (Microsoft Excel) e analisados estatisticamente de forma descritiva, univariada, apresentadas por média (χ) e desvio padrão (DP) para as variáveis contínuas e porcentagens para as variáveis categóricas com uso do programa Stata SE 12.
Após aplicação do inventário, as enfermeiras foram convidadas para a segunda etapa da pesquisa. Das 23 enfermeiras-líderes incluídas inicialmente, 21 aceitaram participar da etapa qualitativa, realizada por meio de Entrevistas Narrativas, com base na questão norteadora: fale-me sobre como você enfrenta situações estressoras vivenciadas no ambiente de trabalho? Os dados foram analisados baseados na análise de conteúdo de Bauer e Aarts13 e auxílio do software NVIVO® versão 11.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia, sob o protocolo nº 2.795.163. As informações fornecidas pelos participantes da pesquisa foram transcritas e publicadas, mediante autorização após preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram obedecidas às normas éticas previstas na Resolução 466/12, que dispõem dos aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, atendendo aos fundamentos éticos e científicos pertinentes.
Com intuito de preservar a identidade das participantes atribuiu-se a sigla E, no sentido de correlacionar a palavra enfermeira para identificá-las, seguido da numeração ordinal adotadas na etapa quantitativa.
Resultados
As 23 enfermeiras que compuseram a amostra eram do sexo feminino, com média de idade 47,0 anos, variações entre 31 a 59 anos. Referente ao tempo de formação relataram média de 23,3 anos, mínimo de 8 anos e máximo 37 anos. No que concerne à titulação 95,6% das participantes referiram ter pós-graduação lato sensu, em diversas áreas incluindo gestão e administração, destas, 8,7% na modalidade residência e 4,3% na modalidade stricto sensu. Relativo ao tempo de trabalho no hospital obteve-se média de 18,7 anos, com variações entre 5 a 30 anos. Dentre as participantes, 22 apresentam um único vínculo empregatício, com carga horária variando entre 42 a 44 horas semanais e total de 74 horas semanais para a enfermeira que possui mais de um vínculo.
Os scores globais neste estudo obtiveram média de estresse de 93,65±20,33 e variações de 55 a 134, revelando baixos níveis de estresse. Cabe ressaltar que o domínio papéis estressores da carreira obteve mais situações apontadas como fontes de tensão e estresse as profissionais desta investigação.
Os itens apontados como situações estressoras no ambiente laboral, com scores 4 e 5 na escala tipo likert com respectivas frequências foram: ter um prazo curto para cumprir ordens (43,8%), executar tarefas distintas simultaneamente (39,1%) e trabalhar com pessoas despreparadas (39,1%), conforme evidenciado na tabela 1.
Na entrevista narrativa, duas categorias emergiram: situações estressoras e estratégias de enfrentamento do estresse no ambiente de trabalho.
São vivenciadas situações estressoras face as demandas, atribuições laborais, aspectos relacionados à sobrecarga, conflitos entre equipe, cobranças, como também questões relativas absenteísmo, como desvelados a seguir:
“...funcionário para remanejar …. para ver escala e aí vem taquicardia[...]vários sintomas associados a isso...” (E.3)
Quero dar conta de tudo […]não estava conseguindo fazer um trabalho ...como eu queria, isso estava me fazendo muito mal psicologicamente e até fisicamente.[...] já passei noites sem dormir[...] comendo horrores, engordando ,ansiedade extrema.”(E.4)
“... tive problemas com ele com comportamento, para mim isso é extremamente estressante [...] aquele tipo de funcionário que você quer abordar e não pode porque é agressivo...” (E.7)
“...Muito trabalho, pouco tempo... muita responsabilidade e muita cobrança...” (E.23)
As participantes do estudo enfrentam situações estressoras no ambiente laboral, utilizando estratégias defensivas individuais e coletivas, atuando desta forma com coping. Conforme achados, busca de autocontrole, resolubilidade, utilização de comunicação horizontal e espiritualidade foram estratégias de enfrentamento do estresse laboral neste estudo:
“...não sinto muita dificuldade em lidar com situações de conflito [...]acho que um bom diálogo permeia qualquer relação interpessoal[...] (E.14)
[...]eu tento respirar [...]sei que às vezes não tem como solucionar aquilo, então eu tento ajudar (E.16).
Oração [..]eu faço muito, quando eu coloco o pé no hospital já começo a rezar; durante uma intercorrência faço oração (E.17).
“[...] eu procuro hoje separar bem as coisas, ou seja, tentar resolver no ambiente de trabalho da melhor forma possível, sem absorver muito, porque a gente leva muita coisa no ambiente de trabalho para nossa vida...” (E.22)
Discussão
Situações estressoras estão presentes no trabalho da enfermeira, como foi evidenciado neste estudo por meio de aplicação do IEE e Entrevistas Narrativas. É possível atribuir tais achados ao ritmo imposto as enfermeiras em cargos de liderança, bem como por cobranças da política institucional, das quais estão inseridas estas profissionais.
Convém mencionar resultados semelhantes relacionados a situações laborais, cargas físicas e psíquicas como: alta responsabilidade, limitação da autonomia profissional, ritmos, tempos e exigências, principalmente na organização da rede privada.14-16
Vivências de situações estressoras no trabalho relatadas pelas participantes desencadeiam distúrbios do sono, compulsão alimentar e ansiedade. Corroborando com esses resultados, estudos apontam estressores ocupacionais ligados à elevada exigência e falta de apoio de supervisão, repercutindo no bem-estar e característica de trabalho dos enfermeiros; é possível que haja limitação na busca do profissional em adequar suas necessidades pessoais às organizacionais diante da sua forma de trabalho.13,15,17 Além disso, estresse e desgastes inerentes ao ambiente hospitalar contribuem ao desencadeamento de ansiedade e tensão aos funcionários.16
Na perspectiva da psicodinâmica do trabalho, a ansiedade pode estar associada a situações que envolvem medo acerca do ritmo laboral, em resposta ao risco do não acompanhamento a esta imposição ou das relações existentes, a despeito da hierarquia e reflexos da ansiedade vivenciada nas relações humanas na organização do trabalho.5
O medo torna-se instrumento de controle social e se mostra de maneira conscientemente instrumentalizada, em prol da pressão sob os trabalhadores para fazê-los trabalhar.5 Na presente pesquisa denota-se a cobrança, que provavelmente pode estar associada ao medo imbuído nas questões que permeiam o trabalho e responsabilidades a cumprir.
Questões relacionadas à liderança e sofrimento psíquico consideram dimensão psicológica do indivíduo, emoções e sentimentos. O exercício do cargo ocupado se associa a responsabilidade do cumprimento de metas, gestão de pessoas e outras relações, que atrelados a forma com que os profissionais enfrentam o estresse podem propiciar repercussões para sofrimento e relação com cargas de trabalho.18,19 Tais resultados se assemelham ao estudo em questão ao atribuir o estresse à situações vivenciadas no exercício da liderança e nível de cobrança, curto prazo para execução de tarefas, não conformidades e demais questões atribuídas ao cargo.
O gênero pode ser fator contribuinte para aumento dos níveis de estresse, devido necessidade em conciliar demandas familiares às atividades laborais, o que torna imperioso olhar para as estratégias de enfrentamento.
Vale destacar que o score 3 foi evidenciado diversas vezes pelas participantes. Convergem com investigação realizada em São Paulo que não revelou altos níveis de estresse ocupacional em uma amostra de enfermeiros de unidade de terapia intensiva que ocupavam cargos assistenciais e coordenação, frente à aplicação do IEE.20
Diferentes resultados na literatura quanto aos níveis de estresse em enfermeiros, a exemplo de pesquisa realizada no Sul do país identificou baixa intensidade de estresse para uma população enfermeiros em unidades críticas e semicríticas.13 Outro estudo realizado também na região Sul com enfermeiros e técnicos de enfermagem de um Centro de referência a assistência a queimados destacou altos níveis de estresse laboral, que pode ser atribuído ao setor de atuação e cargas de trabalho.2 Desvelam-se diferentes resultados dessas vivências no ambiente laboral peculiares a cada setor e região, porém convergem para a presença do estresse ocupacional.
Por meio dos resultados quantitativos deste estudo não foram identificados altos níveis de estresse laboral nas enfermeiras líderes. As situações que corresponderam ao menor score de estresse foram: falta de material necessário ao trabalho, trabalhar em instalações físicas inadequadas e prestar assistência ao paciente. Tais aspectos podem ser atribuídos como menor fonte de estresse, pelo contexto da rede privada e possibilidade que sejam considerados baixos níveis de estresse para as enfermeiras, por não condizer com a realidade laboral.
Investigações apontam que falta de estrutura física, recursos materiais e condições inapropriadas no ambiente laboral se configuram fatores desestabilizadores e são fatores de desgaste emocional.20,21 Esses fatores se contrapõem as condições das instalações do lócus do presente estudo.
A prestação de assistência pelas enfermeiras líderes pode ser atribuída com baixos índices de fonte de estresse pela menor frequência em demandas assistenciais ou por meio da utilização de estratégias de defesa sob a luz da psicodinâmica do trabalho.5
Com base nos resultados obtidos estratégias de coping, tanto de maneira individual como coletivas, são utilizadas pelas participantes do estudo. Estudo realizado em instituição privada do Sul do país evidenciou fator autocontrole com maior média das estratégias de enfrentamento utilizadas para o estresse laboral. Desta maneira evitam-se atitudes precipitadas, tomadas por impulso e possibilita decisão na resolução da situação estressora ou do evento com potencial estressor.22
Tais resultados convergem com esta investigação ao qual foi apreendido com maior destaque buscar manter o equilíbrio, paciência e calma diante de situações estressoras, com vistas a melhor resolução de problemas e entendimento do cenário.
Investigações realizadas nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, revelaram predomínio de intensidade de estresse em enfermeiros por meio de instrumentos validados para mensuração. Diante de aplicação de Escala de Coping Ocupacional (ECO) o fator controle foi a estratégia mais utilizada pela população em ambos estudos, o que denota à utilização de estratégias focadas na resolução dos problemas como mais efetivas, prevalecendo ações e atitudes onde profissionais buscam alternativas para resolver situações diante do estresse no cotidiano laboral.13,23
Também emergiu neste estudo, o uso das habilidades relacionais por meio do diálogo como estratégia de enfrentamento. A resolução de conflitos constitui-se parte intrínseca das competências gerenciais da enfermeira, com utilização de aspectos relacionais por meio de atitudes imparciais e escuta, com vistas a buscar aprimoramento de habilidades, competências e liderança.
A defesa coletiva sob a perspectiva de Dejours é formulada pelo grupo diante da relação entre risco e perigo, nos quais se ponderam as habilidades, os conhecimentos e experiências; com vistas a escapar das sensações existentes diante do medo nas relações laborais.5
Uma relação horizontalizada entre líder e colaboradores, é um dos pressupostos da liderança baseada no diálogo, emergindo como estratégia fundamental no exercício dessa competência, contrapondo-se a condutas verticalizadas, onde decisões partem da gerência sem valorizar a autonomia dos trabalhadores e a equipe muitas vezes não é ouvida quanto a suas opiniões e sugestões.24
Espiritualidade emergiu como estratégia que minimiza situações estressoras. Resultado semelhante foi sinalizado em estudo no qual enfermeiras de um hospital público na Região Centro-Oeste, a encontraram como estratégia em situações de sofrimento.25 É possível inferir que se utilize a espiritualidade como estratégia defensiva individual na tentativa de minimizar efeitos patológicos a não transformação do sofrimento, os quais auxiliarão no enfrentamento do estresse no ambiente de trabalho.
Conclusão
O presente estudo permitiu analisar o enfrentamento do estresse vivenciado por enfermeiras-líderes no ambiente de trabalho, bem como identificar situações estressoras e estratégias de enfrentamento. As enfermeiras-líderes vivenciam situações estressoras, porém foi observado que não apresentam elevados níveis de estresse. Na análise de situações estressoras que prevaleceram como maior fonte de estresse no ambiente laboral obteve-se: ter um prazo curto para cumprir ordens, executar tarefas distintas simultaneamente e trabalhar com pessoas despreparadas. É possível inferir que estas situações sejam fonte de estresse devido ao perfil do ambiente de trabalho, com características de produtividade associada a indicadores de qualidade que podem desencadear sensações de tensão e sofrimento em meio ao não cumprimento de demandas, cobranças e exigências institucionais. As situações estressoras com maior destaque são sobrecarga emocional diante da menção de acúmulo de atividades e sensação em não conseguir resolver demandas em tempo hábil aos prazos, como adversidades inerentes aos relacionamentos interpessoais e gerenciamento de conflitos. Foram apontadas consequências como distúrbio do sono, compulsão alimentar e ansiedade. Ademais situações envolvendo remanejamento de funcionários emergiram como fonte de tensão e estresse por conta do absenteísmo e desfalques de funcionários em serviço. Mesmo frente a limitações por constituição de amostra reduzida estes, convergem com resultados apontados pela literatura e inferem presença de estresse ocupacional no cotidiano do trabalho da enfermeira, bem como necessidade de adotar estratégias de enfrentamento e reflexões sobre prevenção ao adoecimento mental, sabendo-se que o estresse consiste em gatilho e exposição por tempo prolongado ameaça a saúde do trabalhador. Isto posto denota-se relevância do objeto mesmo como fenômeno conhecido, por apresentar formas variadas em diferentes populações o que merece atenção da comunidade científica e realizações de mais investigações para melhor compreensão quanto ao acometimento e possíveis repercussões.
Agradecimentos
À Universidade Federal da Bahia pelo financiamento ao macroprojeto, no qual este estudo está vinculado, contemplado no Programa de Apoio a Jovens Professores Doutores (PROPESQ), que permitiu a aquisição do software N vivo 11, para análise dos dados qualitativos.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
11 Maio 2020 -
Data do Fascículo
2020
Histórico
-
Recebido
29 Abr 2019 -
Aceito
19 Ago 2019