Open-access Estratégias educativas para prevenção de infecções femininas no presídio: revisão de escopo

Estrategias educativas para la prevención de infecciones femeninas en cárceles: revisión de alcance

Resumo

Objetivo  Identificar e mapear as principais estratégias educativas para prevenção de infecções do trato reprodutor feminino no sistema prisional.

Métodos  Revisão de escopo, realizada conforme a recomendações do Joanna Briggs Institute, com pesquisa nas bases de dados MEDLINE (PubMed), Cochrane Library, LILACS, SCOPUS, Science Direct, Embase; Google Scholar e Proquest, durante o período de 23 a 29 de maio de 2023. Utilizou-se o instrumento Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR) para o fluxograma de busca e seleção dos artigos da revisão. Foram incluídos todos os títulos que seguiram a estratégia PCC:

População  mulheres com idade a partir dos 18 anos.

Conceito  uso de estratégias educativas para prevenção de ITR feminino.

Contexto  sistema prisional, com cumprimento de pena em regime fechado. Foram excluídos aqueles que contemplaram estratégia educativa realizada para homens cisgênero ou com mulheres que já possuíam o diagnóstico de ITR.

Resultados  Foram selecionados 13 estudos publicados entre 1995 e 2023, com predomínio de estratégias educativas voltadas para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, principalmente causadas pelo Vírus da Imunodeficiência Humana. As estratégias educativas priorizaram ações educativas grupais, estratégia de dramatização e técnica da abordagem comportamental, utilizando os seguintes recursos educativos: panfletos, cartilhas, cartazes, livro de desenhos animados, simuladores de órgãos genitais, vídeos e jogos.

Conclusão  As sessões educativas coletivas foram as mais evidenciadas na literatura para prevenção de infecções, predominantemente, sexualmente transmissíveis, com escassos estudos de prevenção de vaginites ou vaginoses.

Educação em saúde; Mulheres; Infecções sexualmente transmissíveis/prevenção & controle; Prisões

Resumen

Objetivo  Identificar y mapear las principales estrategias educativas para la prevención de infecciones del tracto reproductor (ITR) femenino en el sistema penitenciario.

Métodos  Revisión de alcance, realizada de acuerdo con las recomendaciones del Joanna Briggs Institute, con búsqueda en las bases de datos: MEDLINE (PubMed), Cochrane Library, LILACS, SCOPUS, Science Direct, Embase; Google Scholar y Proquest, durante el período del 23 al 29 de mayo de 2023. Se utilizó el instrumento Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR) para el diagrama de flujo de búsqueda y selección de los artículos de la revisión. Se incluyeron todos los títulos que siguieron la estrategia PCC.

Población  mujeres a partir de 18 años.

Concepto  uso de estrategias educativas para la prevención de ITR femenino.

Contexto  sistema penitenciario, con cumplimiento de condena en régimen cerrado. Se excluyeron aquellos que contemplaron estrategias educativas para hombres cisgénero o con mujeres que ya tenían el diagnóstico de ITR.

Resultados  Se seleccionaron 13 estudios publicados entre 1995 y 2023, con un predominio de estrategias educativas orientadas a la prevención de infecciones de transmisión sexual, principalmente causadas por el Virus de la Inmunodeficiencia Humana. Las estrategias educativas priorizaron acciones educativas grupales, estrategias de dramatización y técnicas de enfoque conductual, mediante la utilización de los siguientes recursos educativos: folletos, cartillas, carteles, libros de historietas, simuladores de órganos genitales, videos y juegos.

Conclusión  Las sesiones educativas colectivas fueron las más destacadas en la literatura para la prevención de infecciones, predominantemente de transmisión sexual, con escasos estudios de prevención de vaginitis o vaginosis.

Educación en salud; Mujeres; Enfermedades de transmisión sexual/ prevención & control; Prisones

Abstract

Objective  To identify and map the main educational strategies for preventing infections of the female reproductive tract in the prison system.

Methods  This is a scoping review, carried out in accordance with JBI recommendations, with research in the databases MEDLINE (PubMed), Cochrane Library, LILACS, Scopus, Science Direct, Embase, Google Scholar and Proquest, from May 23 to 29, 2023. The Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR) for the search and selection flowchart of review articles was used. All titles that followed the PCC strategy were included:

Population  Women aged 18 and older.

Concept  Use of educational strategies to prevent female RTI.

Context  Prison system, with sentences served in a closed regime. Those who included an educational strategy carried out for cisgender men or women who already had an RTI diagnosis were excluded.

Results  A total of 13 studies published between 1995 and 2023 were selected, with a predominance of educational strategies aimed at preventing sexually transmitted infections, mainly caused by the Human Immunodeficiency Virus. Educational strategies prioritized group educational actions, dramatization strategy and behavioral approach technique, using pamphlets, booklets, posters, cartoon books, genital organ simulators, videos and games.

Conclusion  Collective educational sessions were the most evidenced in the literature for infection prevention, predominantly sexually transmitted, with few studies on vaginitis or vaginosis prevention.

Health education; Women; Sexually transmitted diseases/ prevention & control; Prisons

Introdução

As infecções do trato reprodutivo (ITR) feminino são prevalentes nos atendimentos de ginecologia e impactam negativamente na qualidade de vida da mulher.1,2 Elas são classificadas em três tipos: endógenas (vaginites e vaginoses), infecções iatrogênicas (infecções pós-aborto, pós-parto) e as infecções sexualmente transmissíveis (IST), que inclui o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).3

No contexto do sistema prisional feminino, a prevenção de infecções do trato reprodutor deve ser priorizada devido às condições insalubres que, muitas vezes, as mulheres estão expostas, como a limitação do tamanho das celas, superlotação, sucateamento estrutural, falhas no saneamento básico, oferta nutricional insuficiente, maior exposição a violências, deficiência no acesso a rede de atenção à saúde, fragilidade de acesso aos itens de higiene pessoal e de roupas íntimas, dentre outros fatores.4-6

Estratégias educativas em saúde podem contribuir para o conhecimento e mudança de atitudes em mulheres, sensibilizando-as para adoção de melhores hábitos de higiene, de práticas sexuais e de saúde que auxiliam na prevenção de ITR feminino, uma vez que estas, geralmente, estão relacionadas à manutenção de hábitos comportamentais evitáveis, que podem ser amenizados por meio de um processo educativo eficaz, além da oferta de acesso a serviços de saúde de qualidade.7-9

Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar e mapear as principais estratégias educativas para prevenção de infecções do trato reprodutor feminino no sistema prisional.

Pretende-se, desse modo, sanar uma lacuna do conhecimento acerca da busca de estratégias educativas bem planejadas e direcionadas à prevenção de ITR feminino no contexto do sistema prisional. Em buscas feitas nas plataformas International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO) e Open Science Framework (OSF), não foram encontrados registros de revisões sistemáticas e/ou de escopo sobre a temática. O resultado dessa revisão tem o potencial de fornecer subsídios para a implantação de propostas educativas eficazes para a prevenção de ITR, o que beneficiaria a prática de enfermagem, que tem como uma de suas frentes de atuação a busca de redução de vulnerabilidades e a promoção da saúde, por medidas de ações de educação em saúde, pautadas na comunicação, criação de vínculos, na troca de conhecimentos e na escuta ativa.10

Métodos

Trata-se de uma revisão de escopo elaborada conforme o Instituto Joanna Briggs (JBI),11-13e as recomendações do checklist para reportar revisões de escopo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR).12-14

A questão de pesquisa seguiu a estratégia PCC: População (P) - mulheres com idade a partir de 18 anos; Conceito (C) - uso de estratégias educativas para prevenção de ITR feminino; Contexto (C) - sistema prisional, com cumprimento de pena em regime fechado. Assim, obteve-se o seguinte questionamento: que estratégias educativas são evidenciadas na literatura para a prevenção de infecções do trato reprodutivo em mulheres do sistema prisional?

Realizou-se busca em bases de dados, por meio do portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), via acesso remoto institucional, durante o período de 23 a 29 de maio de 2023, contemplando as seguintes: MEDLINE (PubMed), LILACS (Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud), SCOPUS, Cochrane library, Embase. Ainda, realizou-se busca em outras bibliotecas eletrônicas, como Google Scholar e Proquest. Essa pesquisa foi realizada no dia 23 de maio e, em 29 de maio de 2023, foi realizada busca reversa nas referências do artigo de revisão identificado previamente. Não foram aplicadas restrições de linguagem, tempo ou tipo de estudo. Os critérios de inclusão também seguiram a estratégia PCC: População: mulheres com idade a partir dos 18 anos. Conceito: uso de estratégias educativas para prevenção de ITR feminino. Contexto: sistema prisional, com cumprimento de pena em regime fechado. Foram excluídos os estudos que contemplaram estratégia educativa realizada para homens cisgênero ou com mulheres que já possuíam o diagnóstico de ITR.

Para a busca, utilizou-se as combinações de palavras-chave e descritores do DECs e MESH e seus sinônimos, conforme quadro 1. Os descritores foram combinados por meio dos operadores booleanos “AND” e “OR”. Inicialmente, a estratégia de busca foi desenvolvida no Medline, via PubMed, sendo posteriormente adaptada para as demais bases de dados e biblioteca eletrônica. A estratégia de pesquisa utilizada encontra-se apresentada no quadro 1. A seleção dos estudos foi realizada com auxílio do software Rayyan QCR. Os títulos e resumos foram analisados por dois pesquisadores independentes com a finalidade de identificar os artigos potencialmente elegíveis. Títulos selecionados foram lidos na íntegra e as discordâncias foram sanadas por consenso entre os pesquisadores.

Quadro 1
Combinação de Palavras-chave e descritores utilizados para busca em bases de dados e bibliotecas eletrônicas de acesso aberto.

Realizou-se extração independente dos dados, em duplicata, utilizando uma planilha criada pelos autores e adaptada às recomendações da JBI. Ela foi testada por dois pesquisadores, em teste piloto, extraindo dados de dois artigos inclusos na análise. A amostra final e os processos de seleção realizados são apresentados com base no modelo PRISMA (Figura 1).

Figura 1
Seleção dos artigos, conforme PRISMA-ScR.

A planilha de extração buscou: identificação do estudo base de dados de extração, título do estudo, autoria, país de identificação do estudo, idioma e ano de publicação; característica do estudo, objetivo(s), tipo do estudo, população e estratégia/tecnologia educativa identificada, Tipo de ITR abordado na ação educativa e principais resultados. Como resultados, foi apresentado um quadro síntese dos estudos selecionados (Quadro 2).

Quadro 2
Apresentação dos artigos incluídos na revisão

Resultados

Os artigos foram publicados entre os anos de 1995 e 2023, no Brasil (n=6) e nos Estados Unidos da América (n=7). Quanto ao tipo de estudo, quatro configuram-se como trabalhos metodológicos, de construção e validação de tecnologia educativa13,14e de adaptação de estratégia educativa anteriormente validada e aplicada ao contexto do ambiente carcerário feminino.15,16 Quatro são estudos experimentais, do tipo ensaio clínico controlado e randomizado.17-20 Três relatos de experiência da aplicação de uma estratégia educativa com mulheres do sistema prisional.21-23 Uma revisão integrativa da literatura e um estudo quase-experimental, do tipo coorte.24,25

A maioria dos estudos selecionados (n=12) contemplou estratégias educativas realizadas para prevenção de IST, em geral. Dentre essas, três não especificaram o tipo de infecção,22-24 e quatro trabalharam com a temática de IST, mas priorizando a prevenção contra a infecção pelo HIV.13,15,16,19 Quatro focaram exclusivamente na prevenção do HIV17,18,20,25 e um trabalhou com a prevenção de uma IST específica, a sífilis.14 Somente um estudo abordou a prevenção de corrimentos vaginais, por meio de boas práticas de higiene íntima.21 A leitura desse último permitiu concluir que se tratava da prevenção de vaginites e/ou vaginoses, apesar desses termos não constarem diretamente no texto.

A maioria das estratégias educativas identificadas (n=11) focava na realização de sessões educativas coletivas, com uso de metodologias ativas e espaço de fala entre os participantes. Algumas dessas com uso de vídeos,15,19,23,25 ligações telefônicas,15,18,19 dinâmicas grupais educativas,21,22dramatização,22 materiais impressos,13,22,24 jogos educativos,14,24simuladores de órgãos genitais24 e outros objetos educativos, como o “kit do sexo seguro”, contendo preservativos masculinos e femininos, folhetos informativos sobre como usá-los, kits de higiene, cortador de unhas, apito como chaveiro, mini lubrificantes, barragens dentárias e um livreto revisando informações sobre sexo seguro e recursos comunitários16 e materiais educativos, como: Fotos de doenças sexualmente transmissíveis IST/HIV; métodos anticoncepcionais; simulador de autoexame das mamas; simulador de como usar preservativo feminino/masculino que foram utilizados como auxílio no processo de formação.23

Um dos estudos avaliou a eficácia do uso de entrevista motivacional de cunho individual e personalizada, de acordo com a realidade da mulher presa, associado ao uso de uma ação educativa tradicional de cunho comportamental.20

O uso da abordagem de intervenções de cunho comportamental com objetivo de produzir mudanças de comportamentos de risco para prevenção de doenças também foi identificado nos estudos.15-17,20,25 Estratégias com uso de treinamento de habilidades específicas para uso de preservativos, uso de materiais para consumo de drogas injetáveis, importância do tratamento medicamentoso, performance de negociação com o parceiro ou para manejo de situações em casos de violência foram realizadas em alguns estudos selecionados.16,20,23,25 Os resultados dos estudos evidenciaram resultados positivos acerca dos direitos sexuais e reprodutivos às mulheres encarceradas23 visando a redução de comportamentos de risco entre as mulheres reclusas prática sexual sem uso de preservativos, uso de substâncias psicoativas, número elevado de parcerias sexuais,13,15-20,20,24,25 aumento significativo de conhecimento sobre o HIV, redução de barreiras para uso de preservativo, enfrentamento do abuso conjugal e gerenciamento de conflitos16,19 e melhoria da autoestima e confiança entre as mulheres,22 além de efeito positivo entre os facilitadores das ações educativas, com aumento do conhecimento acerca das vulnerabilidades vivenciadas por esse grupo e quebra de preconceitos e medos relacionados ao contexto prisional.21,22As principais características dos estudos incluídos estão no quadro 2.

Discussão

Apesar das vaginites e vaginoses estarem entre as queixas mais comuns de ITR1,2 os estudos selecionados evidenciaram maior prevalência de ações educativas voltadas para a prevenção de IST, com foco no HIV e na Aids. Somente um estudo abordou uma estratégia educativa para prevenção de vaginites e vaginoses, por meio de educação sobre higiene íntima.21

A prevalência do HIV nas prisões ainda é maior que na comunidade configurando-se como um desafio para o sistema de saúde como para o judiciário.27,28 Estudos revelam altas taxas de infecções pelo vírus do HIV, Sífilis, das hepatites virais e da tuberculose entre a população no sistema prisional.28-30 Não foram identificados estudos sobre a prevalência de vaginites e vaginoses na população carcerária.

A alta prevalência do HIV em mulheres encarceradas está relacionada ao uso de drogas, relações sexuais desprotegidas, risco de transmissibilidade de mãe para filho durante a prisão. Ainda, a condição pode ser agravada devido ao acesso limitado aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, condições de pobreza, discriminação, marginalização, preconceito social e interrupção dos serviços de saúde necessários durante a privação de liberdade.4-6

A sífilis também é uma realidade entre as mulheres presas. A prevalência de sífilis foi menor entre as mulheres que receberam preservativos na escola, revelando relação positiva entre a presença de ações preventivas de saúde reprodutiva e a menor presença de sífilis entre as mulheres presas.31

É imperativo que o ambiente prisional esteja dotado de um serviço de saúde voltado para atendimento das demandas específicas da população feminina, incluindo inserção de medidas diagnósticas, preventivas, por meio de ações educativas efetivas, além de medidas de ordem terapêutica para controle do avanço de IST e outras ITR.5,6,32

Nas estratégias educativas evidenciadas na literatura, percebeu-se o predomínio da realização de ações grupais. Estudos que avaliaram a eficácia de estratégias educativas grupais, por meio de ensaio clínico randomizado, referiram que essas estratégias foram mais benéficas na mudança de comportamentos de riscos para prevenção de IST.17-19 Algumas evidenciaram o uso de ferramentas educativas para a condução das ações, como o uso de materiais impressos (Exemplo: panfletos, cartilhas, cartazes e livros de desenhos animados). Identificou-se, ainda, o uso de simuladores de órgãos genitais e outros objetos educativos, vídeos, jogos, dinâmicas educativas e uso da estratégia da dramatização.

A prevenção de IST e de outras infecções do trato reprodutivo de mulheres do sistema prisional deve valorizar uma abordagem educacional com foco ampliado de saúde, contemplando discussões sobre o uso de drogas, questões de gênero e poder nas relações, violência física e sexual por parceiro íntimo, manejo dos comportamentos sexuais de risco, planejamento familiar, além de contemplar questões na ordem de saúde mental e de projetos de reinserção social.15, 18,19,23,25

Contudo, apesar de discussões recentes acerca dos direitos das pessoas privadas de liberdade, a educação em saúde nesse meio ainda é vista, por vezes, como uma certa regalia oferecida ao preso, pela cultura de preconceito e estigmatização que, socialmente, existe com essa população. No entanto, a oferta de ações educativas nesse ambiente é uma das ferramentas de garantia do direito de educação para todos, sem exceção, além de que permite que o encarceramento funcione como uma oportunidade para as pessoas cuidarem de sua saúde.5,32,33

É preciso considerar o preso como um ser integral, com necessidades específicas que precisam ser atendidas para garantia de efetividade na mudança de comportamentos e práticas.33 As patologias prevalentes e as condições de vida dos detentos devem direcionar as missões de saúde para ações de educação e sua promoção.34

Nos estudos incluídos nesta revisão, evidenciou-se o uso de metodologias ativas no processo de ensino-aprendizagem, proporcionando maior interação entre os participantes, maior reflexão crítica e a criatividade. Ademais, evidenciou-se o uso de abordagens educativas comportamentais, prática de habilidades aprendidas no campo teórico, com foco na assimilação do conteúdo e mudança de comportamentos de risco como forma de prevenção de ITR.

Como limitação, constatou-se a ausência de descrição detalhada das estratégias educativas utilizadas acerca de ITR nos sistemas prisionais, dificultando a reprodução da metodologia utilizada na ação. Ainda, pelo fato de a revisão apresentar títulos publicados entre os anos de 1995 e maio de 2023, é possível induzir que, pelo fato do amplo espectro temporal, tenham ocorrido mudanças nas recomendações e práticas clínicas relacionadas à prevenção de ITR feminino ao longo dos anos. Com isso, aponta-se também esse ponto como limitação, uma vez que as estratégias educativas descritas podem não refletir necessariamente as práticas mais atualizadas e eficazes.

Por fim, considera-se, ainda, como limitação a inclusão de estudos com mulheres encarceradas em regime fechado, haja vista que mulheres em regime semiaberto podem ter mais oportunidades de acesso as informações de educação em saúde, enquanto aquelas em regime fechado podem enfrentar desafios adicionais devido à restrição de liberdade e à falta de recursos disponíveis. No entanto, essas observações poderão ser exploradas nas futuras pesquisas e intervenções para garantir a eficácia das estratégias educativas, bem como na promoção da saúde das mulheres no contexto prisional.

Conclusão

As evidências científicas elucidaram que há um número reduzido de estudos publicados sobre estratégias educativas para prevenção de ITR feminino no sistema prisional. Os estudos focam na prevenção de IST, com escassez de material sobre a prevenção de outras infecções, que não estão ligadas necessariamente à prática do sexo desprotegido. As estratégias educativas evidenciadas priorizaram a realização de sessões grupais, com uso de tecnologias que facilitam o processo de ensino-aprendizagem, com uso de materiais impressos, simuladores de órgãos genitais e outros objetos educativos, vídeos, jogos e uso da estratégia da dramatização. A técnica da abordagem comportamental e de prática de habilidades também estiveram presentes em vários estudos. Em termos de lacuna do conhecimento, evidenciou-se maior prevalência de estratégias educativas voltadas para IST e HIV, outras precisam ser planejadas, executadas e publicadas na literatura para a prevenção das ITR, não necessariamente sexualmente transmissíveis, mas relacionadas às condições precárias de vida do ambiente prisional.

Agradecimentos

Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará pela disponibilização de acesso aos periódicos em bases científicas por meio do Portal Capes. A pesquisa não recebeu financiamento para a sua realização.

Referências

  • 1 Saco GM, Moya JM. Update on vaginal infections: aerobic vaginitis and other vaginal abnormalities. Prog Obstet Ginecol. 2019;62(1):72-8.
  • 2 Linhares IM, Amaral RL, Robial R, Eleutério Junior J. Vaginites e vaginoses: protocolo Febrasgo Ginecologia. São Paulo: Febrasgo; 2018;24:24.
  • 3 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis - IST. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2022.
  • 4 Mhlanga-Gunda R, Kewley S, Chivandikwa N, Van Hout MC. Prison conditions and standards of health care for women and their children incarcerated in Zimbabwean prisons. Int J Prison Health. 2020;16(3):319-36.
  • 5 Paynter M, Heggie C, McKibbon S, Martin-Misener R, Iftene A, Murphy GT. Sexual and Reproductive Health Outcomes among Incarcerated Women in Canada: a Scoping Review. Can J Nurs Res. 2022;54(1):72-86. Review.
  • 6 Pillay N, Chimbga D, Van Hout MC. Gender Inequality, Health Rights, and HIV/AIDS among Women Prisoners in Zimbabwe. Health Hum Rights. 2021;23(1):225-36.
  • 7 Chen Y, Bruning E, Rubino J, Eder SE. Role of female intimate hygiene in vulvovaginal health: Global hygiene practices and product usage. Womens Health (Lond). 2017;13(3):58-67.
  • 8 Interaminense IN, Oliveira SC, Leal LP, Linhares FM, Pontes CM. Educational technologies to promote vaccination against Human papillomavirus: integrative literature review. Texto Contexto Enferm. 2016; 25(2):e2300015. Review.
  • 9 Gomes LS, Holanda VR, Barros MB. Identificação de infecções do trato reprodutivo em mulheres atendidas na Atenção Primária à Saúde. Rev APS. 2019;22(4):870-80.
  • 10 Costa DA, Cabral KB, Teixeira CC, Rosa RR, Mendes JL, Cabral FD. Enfermagem e a educação em saúde. Rev Cient Esc Estadual Saúde Pública Goiás "Candido Santiago". 2020;6(3):e6000012.
  • 11 Peters MD, Godfrey C, McInerney P, Munn Z, Tricco AC, Khalil, H. Chapter 11: Scoping Reviews (2020 version). In: Aromataris E, Munn Z, editors. JBI Manual for Evidence Synthesis. Australia: JBI; 2020 [cite 2023 Sep 24]. Available from: https://synthesismanual.jbi.globa
    » https://synthesismanual.jbi.globa
  • 12 Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O'Brien KK, Colquhoun H, Levac D, et al. PRISMA Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR): Checklist and Explanation. Ann Intern Med. 2018;169(7):467-73.
  • 13 Borges AV, Matos MA, Souza JH, Freire KR, Sousa FR, Florentino VD. Construção e validação de tecnologia educacional para prevenção do hiv/aids em mulheres privadas de liberdade. Cogitare Enferm. 2023;28:e84636.
  • 14 Nascimento VA. Jogo de tabuleiro para prevenção e controle da sífilis em mulheres privadas de liberdade (dissertação). Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 2022.
  • 15 Fasula AM, Fogel CI, Gelaude D, Carry M, Gaiter J, Parker S. Project power: Adapting an evidence-based HIV/STI prevention intervention for incarcerated women. AIDS Educ Prev. 2013;25(3):203-15.
  • 16 Johnson JE, Peabody ME, Wechsberg WM, Rosen RK, Fernandes K, Zlotnick C. Feasibility of an HIV/STI Risk-Reduction Program for Incarcerated Women Who Have Experienced Interpersonal Violence. J Interpers Violence. 2015;30(18):3244-66.
  • 17 Magura S, Kang SY, Shapiro JL, O'Day J. Evaluation of an AIDS education model for women drug users in jail. Int J Addict. 1995;30(3):259-73.
  • 18 Knudsen HK, Staton-Tindall M, Oser CB, Havens JR, Leukefeld CG. Reducing risky relationships: a multisite randomized trial of a prison-based intervention for reducing HIV sexual risk behaviors among women with a history of drug use. AIDS Care. 2014;26(9):1071-9.
  • 19 Fogel CI, Crandell JL, Neevel AM, Parker SD, Carry M, White BL, et al. Efficacy of an adapted HIV and sexually transmitted infection prevention intervention for incarcerated women: a randomized controlled trial. Am J Public Health. 2015;105(4):802-9.
  • 20 Staton M, Strickland J, Webster JM, Leukefeld C, Oser C, Pike E. HIV prevention in rural Appalachian jails: Implications for reentry risk reduction among women who use drugs. AIDS Behav. 2018;22(12):4009-18.
  • 21 Vieira MC, Almeida CL, Lima KD, Barbosa KM, Costa AQ, Andrade GG, et al. A utilização de metodologias ativas no processo ensino-aprendizagem: relato de experiência no contexto prisional. Rev Educ Universidade Federal Do Vale Do São Francisco. 2020;10(21):468-86.
  • 22 Lessa PR, Ribeiro SG, Lima DJ, Nicolau AI, Damasceno AK, Pinheiro AK. Presença de lesões interepiteliais de alto grau em mulheres internadas de l intraepitelial de alto grau: estudo documental. Rev Lat Am Enfermagem. 2012;20(2):354-61.
  • 23 Guedes TG, Linhares FM, Morais SC, Ferreira IF, Mendonça TG, Silva FV, et al. Health education: strategy for sexual and reproductive care for women in custody. Procedia. 2015; 174:821-5
  • 24 Carvalho IS, Guedes TG, Bezerra SM, Alves FA, Leal LP, Linhares FM. Educational Technologies on sexually transmitted infections for incarcerated women. Rev Lat Am Enfermagem. 2020;28:e3392.
  • 25 Lawrence J, Eldridge GD, Shelby MC, Little CE, Brasfeld TL, O'Bannon RE. HIV risk reduction for incarcerated women: a comparison of brief interventions based on two theoretical models. J Consult Clin Psychol. 1997;65(3):504-9.
  • 26 Shain RN, Piper JM, Newton ER, Perdue ST, Ramos R, Champion JD, et al. A randomized, controlled trial of a behavioral intervention to prevent sexually transmitted disease among minority women. N Engl J Med. 1999;14(340):93-100.
  • 27 Golrokhi R, Farhoudi B, Taj L, Pahlaviani FG, Mazaheri-Tehrani E, Cossarizza A, et al. HIV Prevalence and Correlations in Prisons in Different Regions of the World. Open AIDS J. 2018; 31(12):81-92. Review.
  • 28 Singh GP, Lata S, Swu AK, Virk NS, Singh J, Thakkar S. A retrospective study to find the prevalence of HIV, HCV and dual HIVHCV infection in the prison inmates. J Family Med Prim Care. 2022;11:6250-4.
  • 29 Wali A, Khan D, Safdar N, Shawani Z, Fatima R, Yaqoob A, et al. Prevalence of tuberculosis, HIV/AIDS, and hepatitis; in a prison of Balochistan: a cross-sectional survey. BMC Public Health. 2019;19(1631):1-8.
  • 30 Nom NA, Kyaw KW, Kumar AM, Hone S, Thida T, Nwe TW, et al. HIV Care Cascade among Prisoners of the Mandalay Central Prison in Myanmar: 2011-2018. Trop Med Infect Dis. 2020;15(1):4.
  • 31 da Silva Santana R, Kerr L, Mota RS, Kendall C, Rutherford G, McFarland W. Lifetime Syphilis Prevalence and Associated Risk Factors Among Female Prisoners in Brazil. Sex Transm Dis. 2020;47(2):105-10.
  • 32 Braga GD, Tavares DH, Herreira LF, Jardim VM, Franchini B. Condição de saúde das mulheres no sistema carcerário brasileiro: uma revisão de literatura. Sanare. 2021;20(1):115-30. Review.
  • 33 Rodrigues VE, Olveira RC. A metodologia ativa como possibilidade na prática da Educação em direitos humanos no contexto prisional. Rev Aproximação. 2020;2(3):70-80.
  • 34 Jarry A, Quinveros K, Walquan N, Terrien H, Larode A. L'infirmière, en première ligne de la demande de soins en milieu carcéral. La revue de l'infirmière. 2018;246:19-21.
  • Open Science Framework: doi 10.17605/osf.io/nwsz5

Editado por

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Out 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    4 Dez 2023
  • Aceito
    6 Maio 2024
location_on
Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: actapaulista@unifesp.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro