Open-access Amazônia

Amazônia, mudanças climáticas, aspectos da filosofia de Hans Jonas e, uma vez mais, eleições municipais em São Paulo constituem o temário do número 112 de Estudos Avançados.

O dossiê Amazônia contra o Antropoceno compreende um conjunto de estudos e ensaios que evidenciam a complexidade das relações entre natureza e cultura e destacam as vozes daqueles frequentemente silenciados em narrativas coloniais e oficiais. Um primeiro ensaio introduz uma revisão sobre os múltiplos significados que o conceito veio adquirindo, sobretudo à luz da história passada e presente da Amazônia. Tudo indica serem extremamente contrastantes os modos como ameríndios e agentes coloniais, tanto do passado quanto do presente, se relacionam com a floresta. Cenários recorrentes de espoliação territorial dos povos indígenas, quilombolas, dos povos e comunidades tradicionais têm estimulado a busca de uma identidade política comum e a implementação de ações voltadas para a conservação ambiental e para a defesa dos direitos coletivos do território, o que leva à formulação de uma arqueologia de resistência no Antropoceno.

Nessa mesma linha, procura-se demonstrar que a Amazônia se constitui numa teia de interações socioecológicas, baseada em profundo conhecimento local que respeita não humanos e que implica domesticação de paisagens e de populações de espécies. Essas práticas apontam no sentido de que é possível a produção de alimentos a despeito dos efeitos do Antropoceno. Ilustrativo desse argumento é a destacada diversidade dos modos de processamento e de consumo de vegetais pelos povos tradicionais da Amazônia. As conexões entre essas técnicas, acumuladas no tempo, e as cosmologias e ritos associados ao cultivo, à coleta e à agricultura convergiram na direção de uma cosmotécnica. Justamente, os artigos que se seguem tratam em grande medida das relações entre territórios, comunidades e suas cosmologias. Os temas abordados exploram as relações de respeito recíproco e interdependência entre natureza, ação humana e cultura. Cuidam também do protagonismo e valorização de histórias centenárias cujas bases fomentam a construção de arqueologias próprias aos povos da floresta. Como desfecho de análises, dados paleoecológicos indicam as etapas de formação do Antropoceno na Amazônia e contribuem para explicar o longo e cumulativo processo de produção de impactos destrutivos ao ambiente desde a era colonial.

Resultados de sólidas investigações científicas vêm subtraindo argumentos dos que não reconhecem que mudanças climáticas estejam em curso. Este número de Estudos Avançados reúne artigos cuja atualidade dessas mudanças é inegável. Descrição minudente das condições climáticas que propiciaram as chuvas e inundações no estado do Rio Grande do Sul, entre os meses de maio e junho de 2024, sugere que a avaliação objetiva de riscos e de reforço à infraestrutura urbana constitui-se em requisito para uma adequada governança. Por sua vez, na Amazônia, a combinação de rápidas mudanças climáticas, extenso desmatamento e baixos níveis de tolerância a tais mudanças têm estimulado migrações para áreas de macrorrefúgios climáticos, ocasionando perdas à biodiversidade. No mesmo sentido, impactos do aquecimento global, mudanças nos usos da terra, secas extremas e incêndios florestais têm afetado a possibilidade de fortalecer a sociobioeconomia da região amazônica.

O número aborda ainda a atualidade do pensamento do filósofo Hans Jonas para a compreensão de nossa contemporaneidade, em especial os efeitos causados pela crise niilista e pelos avanços tecnológicos compulsivos, entre os quais suas consequências para o sistema agroalimentar atual. O volume conclui com dossiê iniciado no volume anterior,1 a respeito das eleições municipais em São Paulo, com foco em educação e cultura, a par de um interessante guia para que eleitores possam avaliar os candidatos.

Referência

Nota

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Nov 2024
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2024
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