Resumo
O consumo do metilfenidato vem atingindo níveis elevados no Brasil. Além do aumento significativo do diagnóstico de TDAH, transtorno cujo tratamento é realizado com metilfenidato, há indícios que este incremento se deu pela automedicação. Sabe-se que informações da internet, mais especificamente do Facebook, exercem forte influência em padrões de uso, apontando importantes desdobramentos do processo de farmaceuticalização da sociedade. Os objetivos deste artigo são introduzir a metodologia de pesquisa digital, mais especificamente, a aplicação de softwares de extração de dados de redes sociais (Facebook), e por meio dela mapear as informações sobre o uso deste medicamento nessas redes. O conteúdo, de acesso público, foi analisado e categorizado mediante ancoragem da literatura sobre o tema da farmaceuticalização. O mapeamento permitiu observar que o Facebook oferece importantes espaços virtuais para a circulação de informações, com um alcance de aproximadamente 600.000 pessoas. Os espaços representam fóruns de discussões onde as principais controvérsias sobre os usos do metilfenidato são colocadas: diagnóstico, identidade TDAH, resistência ao uso do medicamento, aquisição. Considerando os principais pontos suscitados por este mapeamento, é possível afirmar que, no caso do consumo do metilfenidato, seu uso apresenta aspectos da farmaceuticalização da vida cotidiana.
Palavras-chave: farmaceuticalização; redes sociais; transtorno de déficit de atenção; metilfenidato
Abstract
In the last five years, Brazil has presented a significant increase in ADHD diagnosis. Methylphenidate is the drug of choice for treatment and consumption has reached high levels. There is evidence that this increase is due to self-medication. It is known that information from the internet, specifically from Facebook, exerts a strong influence on use patterns, reflecting important developments in the process of pharmaceuticalization. The objectives of this article are to map information on the use of this medicine in virtual networks, by first introducing the digital research methodology, specifically the application of social networking data extraction software (Facebook). The publicly accessed content was analyzed and categorized using anchoring about pharmaceuticalization, provided by the literature. Facebook provides an important virtual environment for the circulation of information on methylphenidate consumption, with a range of about 600,000 people. The virtual discussion forums address the main controversies about methylphenidate use, which are diagnosis, ADHD identity, resistance to the use of the drug and acquisition. This form of information dissemination permits the identification and characterization of non-therapeutic uses of methylphenidate.
Keywords: pharmaceuticalization; social networks; attention deficit hyperactivity disorder; methylphenidate
Introdução
O termo medicalização (medicalization) surge no início na década de 1960, no campo de sociologia da saúde, e rapidamente se consolida como um importante tema de interesse e desenvolvimento de pesquisas. Segundo Conrad (1992), este fenômeno ocorre quando um problema passa a ser definido em termos médicos, descrito a partir da linguagem específica, entendido através de uma racionalidade própria e tratado por diversas intervenções médicas que podem, ou não, incluir consumo de um medicamento. O conceito de ”farmaceuticalização” (pharmaceuticalization) surge quando o medicamento passa a dominar o fenômeno, denotando a transformação ou tradução de condições, recursos e capacidades humanas em oportunidades de intervenção farmacêutica (WILLIAMS et al., 2011).
Um dos aspectos fundamentais da farmaceuticalização da sociedade é o papel exercido pelos meios de comunicação na sua propagação. Alguns autores vêm estudando a forma como se dá a construção social de enfermidades, em várias situações, por meio de massivas campanhas de divulgação de sintomas que levam à rápida ‘necessidade’ de diagnóstico e de uso de medicamentos (KROLL‐SMITH, 2003; WOLOSHIN; SCHWARTZ, 2006).
Ainda que os meios tradicionais de comunicação tenham recebido (e ainda recebam) atenção dos estudiosos, atualmente, as chamadas “novas mídias”, meios de comunicação que têm como base de troca de informações a internet, têm despertado o interesse de pesquisadores (LIANG; MACKEY, 2009)
Essas “novas mídias”, representadas por blogs, redes profissionais, redes acadêmicas, destacando-se as redes sociais, constituem importantes canais de observação dos desdobramentos do processo de farmaceuticalização, que se dá tanto pela facilitação ao acesso à informação, como ao ‘produto’ medicamento, sem mediadores, deixando de lado a tradicional relação médico-paciente. Muito dos temas e tendências observados na farmaceuticalização ganham nova dinâmica através das interações presentes em redes sociais, sendo o Facebook a mais difundida (MACKEY et al., 2013).
Enquanto os usuários de redes sociais compartilham um conteúdo, escrevem uma mensagem para um amigo ou alteram os dados de seu perfil, eles, ao mesmo tempo, visitam páginas, engajam-se em grupos de discussões, debates, fornecendo uma grande quantidade de dados que são armazenados pelo provedor da rede social. O grande sucesso alcançado pela rede social Facebook, por exemplo, impulsionou, nos últimos anos, o desenvolvimento de diversas ferramentas analíticas de extração e de visualização do conteúdo produzido. Essas ferramentas possibilitam traçar o conjunto de relações estabelecido por um determinado ponto da rede, que tenha como foco qualquer tema específico. No cenário da farmaceuticalização, pode-se focar uma enfermidade ou o uso de medicamento.
O metilfenidato foi patenteado em 1954, e comercializado como um psicoestimulante leve. A partir dos anos 1970, a indicação para transtornos hipercinéticos - dificuldades em manter a atenção, com ou sem hiperatividade - pareceu constituir uma justificativa “cientificamente convincente” para a sua aplicação (BRANT; CARVALHO, 2012). O medicamento chegou ao Brasil somente em 1998 (WEBER, 1999). Atualmente, o principal emprego terapêutico do metilfenidato se faz para o tratamento de crianças e jovens com Transtorno de Déficit de Atenção, com ou sem Hiperatividade - TDA/H, considerado, por parte do meio acadêmico, o diagnóstico psiquiátrico mais comum na infância, caracterizando-se por três categorias principais de sintomas: desatenção, impulsividade e hiperatividade (VASCONCELOS et al., 2003). Além disso, o medicamento tem sido usado para melhoria de funções cognitivas em pessoas saudáveis, o que constituiria uso não terapêutico (BRANT; CARVALHO, 2012).
O uso do metilfenidato tem sido objeto de frequentes debates tanto na literatura científica, como na leiga. As principais controvérsias incluem: os critérios para diagnóstico e indicação do medicamento no tratamento de diferentes transtornos relacionados à aprendizagem; a idade para iniciar o tratamento; a sua utilização para melhora do desempenho cognitivo em qualquer idade; e o uso concomitante com outras substâncias, licitas ou ilícitas.
Os objetivos deste trabalho são produzir um mapeamento das informações sobre metilfenidato que circulam nos espaços virtuais disponibilizados pelo Facebook, apresentando uma introdução à metodologia de pesquisa digital, mais especificamente, a utilização de softwares de extração e visualização de dados em redes sociais.
Metodologia
Entre as ferramentas disponibilizadas para levantamento dos dados produzidos a partir das interações no Facebook, estão os softwares Netvizz e Gephi. O Netvizz é um software de extração de dados que é disponibilizado em forma de aplicativo, e que acessa diretamente o conjunto de rotinas e padrões estabelecidos (API) pelo Facebook para a utilização de suas funcionalidades. O aplicativo pode ser facilmente encontrado no motor de busca da rede social, sendo necessário somente um perfil cadastrado na plataforma para acessá-lo. É uma ferramenta complementar para as estatísticas tradicionais, que busca, por meio do pensamento visual, com interfaces interativas, facilitar o raciocínio (RIEDER, 2013). Outro software, denominado Gephi, auxilia na visualização das informações extraídas pelo Netvizz, a partir da rede de contatos do Facebook, e as transforma em um grafo tridimensional que demonstra quem são as sub-redes dentro de uma rede, de forma visual e clara, permitindo explorar o fluxo das informações, contatos, interesses e motivos que agrupam pessoas.
A primeira funcionalidade do aplicativo permite que se faça um mapeamento quantitativo em todos os espaços virtuais do Facebook a partir de uma determinada palavra-chave. A funcionalidade “search” permite identificar o Número de páginas, grupos, eventos, link e lugares que apresentam a mesma palavra-chave.
Atualmente, após ajustes relacionados à confidencialidade dos usuários, o Netvizz extrai dados de duas diferentes seções da plataforma do Facebook: dos grupos (“groups”) e das páginas (“pages”). Nos ‘grupos’ (que reúnem no máximo 5.000 pessoas), é possível gerar um gráfico unidirecional no qual os ‘amigos’ são os “nós” da rede, enquanto as “arestas” (conexões) constituem o elo que leva de um ponto a outro (informações e pessoas). Além disso, o aplicativo gera um gráfico que apresenta como acontece a interação entre os participantes dos grupos, comentários e paginas “curtidas” pelos participantes. Nesse caso, é necessário que o pesquisador faça parte do grupo e que este seja aberto ao público. Nas ‘páginas’, é possível gerar uma rede bipartida, onde tanto as postagens, quanto os usuários são “nós”. Se um usuário comenta ou “curte” um post, automaticamente um laço é criado entre este usuário e a postagem em questão. O Netvizz permite, ainda, que seja feito um levantamento nas últimas 500 postagens da página para saber qual foi a postagem mais curtida, comentada e compartilhada. A função “page like network” gera uma rede com todas as ‘páginas’ curtidas por um determinado perfil. A última opção do Netvizz explorada traz um levantamento dos “links”, ou seja, das notícias de jornais digitais, blogs ou qualquer outro meio de comunicação on-line, que são compartilhadas nos diferentes espaços virtuais do Facebook, como páginas, grupos e perfis pessoais. Esta função gera dados estatísticos sobre o desempenho de um determinado link no Facebook, tomando como medida o número de curtidas, compartilhamento e comentários. O Netvizz só permite extrair dados de grupos abertos.
A busca, realizada no dia 19/1/2016, no aplicativo Netvizz foi feita utilizando-se as palavras-chave: ‘metilfenidato’ (o nome do fármaco), ‘Ritalina®’ (o nome comercial do medicamento mais vendido contendo metilfenidato) e ‘TDA/H’ (o nome do transtorno para o qual a substância é utilizada). Tendo como pressuposto básico que número de “curtidas” corresponderia ao número de pessoas que tiveram acesso ao espaço virtual, observa-se a distribuição das informações sobre o metilfenidato entre as ‘páginas’ e ‘grupos’ públicos do Facebook. Como o Netvizz tem seus comandos em língua inglesa, apresentaremos as funções nos resultados com os seus nomes originais “search”, “group”, “page”, “page like network” e “link”.
Os resultados da busca foram organizados, categorizados e analisados tomando como base as palavras-chave selecionadas e dependentes da funcionalidade. Na função “search”, os dados obtidos foram organizados a partir das categorias: palavras-chave, número de páginas, número de curtidas e o número de grupos abertos ou fechados. Os resultados gerados a partir da funcionalidade “page” apresentam as cinco postagens mais curtidas das páginas mais acessadas de cada palavra-chave. Tendo em vista uma melhor categorização do conteúdo das postagens, optou-se em apresentar o texto na íntegra seguido do seu número de curtidas e comentários feitos. A partir desta categorização, foi possível identificar o conteúdo dos principais temas debatidos nesses espaços virtuais, apontando as postagens e textos que tiveram o maior alcance. Os dados produzidos pela função “page like network” exigem aplicação do Gephi, apresentando o grau de afinidade entre páginas no Facebook. Nesta funcionalidade, gráficos foram produzidos para representar o grau de afinidade dessas páginas.
O Netvizz pretende manter o sigilo das pessoas cujas interações e ações serão transformadas em dado. Para tanto, utiliza um extenso número fictício para não identificar o usuário em questão (User_1294332455573444). O principal objetivo desta “anomização” do usuário é impedir visualização das redes de amizades e interesses de um único usuário.
Este artigo é parte integrante do projeto de pesquisa “Usos e Abusos do Metilfenidato: caminhos percorridos nas redes de consumo” (CAAE 44972015.6.0000.5240), aprovado no Comitê de Ética da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (CEP/ENSP)/Fiocruz
Resultados
Ao mapear os espaços virtuais de circulação de informação sobre o metilfenidato no Facebook, chamou a atenção a diversidade de páginas e grupos de discussão sobre o tema. Partindo das quatro palavras-chaves previamente selecionadas por resumir de forma sintética as problemáticas em torno deste consumo, observou-se que estas páginas e grupos tem o alcance de mais de 610 mil perfis. Utilizando a funcionalidade “ search ” do Netvizz constatou-se uma grande disparidade na distribuição dos espaços virtuais de acordo com as palavras-chave. Enquanto “Ritalina”, “metilfenidato” e “medicalização” juntos possuem 52 páginas e 20 grupos, a palavra-chave TDA/H possui 532 páginas e 169 grupos, respectivamente. Não houve grupos com a palavra metilfenidato (tabela 1).
Mapeamento de páginas e grupos encontrados com as palavras-chave utilizadas, Netvizz/Facebook
A funcionalidade “group” indica que em todas as palavras-chave, exceto “medicalização”, há uma predominância de grupos fechados em relação aos abertos. Por tratar de trocas de experiências pessoais sobre o TDA/H e seu diagnóstico, incluindo informações sobre utilização de medicamentos controlados, fracassos nos estudos e em atividades laborais e comorbidades, as mensagens sobre o metilfenidato passam por um moderador que seleciona o que deve ou não ser publicado. No caso da palavra-chave “medicalização”, observa-se equivalência entre os grupos abertos e fechados e publicações com características informativas e institucionais que encontram no Facebook um excelente espaço para difusão.
Partindo da palavra-chave “medicalização”, a página com o maior número de curtidas foi a do “Fórum sobre Medicalização da Educação e Sociedade”. De acordo com a descrição pública em seu perfil no Facebook, a principal finalidade da organização é “articular entidades, grupos e pessoas para o enfrentamento e a superação do fenômeno da medicalização, bem como mobilizar a sociedade para a crítica à medicalização da aprendizagem e do comportamento”. Sua página tem 16.781 curtidas, é de São Paulo, mas com atuação em todas as regiões do país por meio de seus núcleos.
Ao utilizar a palavra-chave “TDA/H”, observa-se que a página com maior número de ‘curtidas’ é a da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), que tem sua sede física no município do Rio de Janeiro. Tendo em vista o número de ‘curtidas’, o espaço virtual da ABDA é um dos mais importantes fóruns de discussão sobre o TDA/H e seus tratamentos. De acordo com a descrição presente nesse espaço nas redes sociais, “é uma associação de pacientes, sem fins lucrativos, fundada em 1999, com o objetivo de disseminar informações corretas, baseadas em pesquisas científicas, sobre o Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDA/H)”. Sua página teve 141.836 ‘curtidas’.
A partir da palavra-chave “Ritalina”, obteve-se a terceira página mais ‘curtida’, a Ritalina - TDA/H, que recebeu 6.458 curtidas. Devido a denúncias de venda de medicamento, a página permaneceu por um período sem novas postagens. Encontra-se esta mensagem no campo “definição”: “Página informativa, não temos informações de como e onde comprar o produto de forma ilegal, perguntas desse tipo não serão respondidas.”
Tomando como base as últimas postagens (compartilhamentos e comentários que mais repercutiram entre os seguidores da página), foi possível a divisão em dois grandes grupos temáticos: informações e experiências. A tabela 2 apresenta as palavras-chave utilizadas na busca, as páginas encontradas, as publicações que mais repercutiram, o número de curtidas e comentários, no período analisado.
Textos publicados em postagens nos espaços virtuais mapeados, por palavra-chave. Netvizz, Facebook.
A partir da função “page like network” é possível observar a afinidade entre páginas no Facebook. Aplicando esta função na página do Fórum sobre Medicalização da Educação e Sociedade, observa-se uma estreita ligação deste com outros espaços virtuais que combatem a excessiva medicalização da vida. O Fórum sobre Medicalização da Educação e Sociedade é um espaço virtual institucional que se relaciona com outras páginas institucionais que possuem a comum característica de fazer resistência ao uso do metilfenidato ou ao fenômeno da medicalização, como, por exemplo, Rede Humanizada do SUS, Fórum de Despatologização da Sociedade, Tarja Branca, Diferentes Modos de Aprender, Michel Foucault. O Grafico 1 apresenta a rede composta pelos perfis que ‘curtiram’ a página do Fórum sobre Medicalização da Educação e Sociedade:
Rede de afinidade com o Fórum sobre Medicalização da Educação e Sociedade, Netvizz/Facebook(19 de agosto de 2015)
Já a página da ABDA, por ser um espaço virtual de uma instituição formal que objetiva informar e dar suporte a pessoas com TDA/H e a seus familiares, mostra a relação da instituição com associações científicas ou de profissionais.
As redes formadas pelas páginas que mantêm relação com a da ABDA indicam que os espaços virtuais institucionais sobre o transtorno de déficit de atenção possuem certo nível de proximidade temática, como a página da Sociedade Brasileira de Neurociência, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria.
Por último, a rede formada pela página “Ritalina-TDA/H” traz uma importante particularidade. Como o nome da página sugere, nesse espaço virtual há uma direta relação entre o transtorno de atenção e o consumo de metilfenidato. Além desta relação, muitos são as postagens direcionadas ao chamado “melhoramento cognitivo”, ou seja, quando o medicamento é utilizado para potencializar uma performance. Na rede formada a partir dessa página, observa-se a proximidade entre diversos tipos de “melhorias”, como a sexual (“Casal Sem Vergonha”, “Psicopata sexual”), física (testosterona, mundo acadêmica) e cognitiva (“Concurseiro Dedicado”, “Concursos de A a Z”).
Rede composta pelas páginas curtidas pelas pessoas que curtiram a página da “Ritalina-TDA/H”
O último recurso explorado neste artigo é o levantamento dos links mais compartilhados. A reportagem do blog “Outras Palavras”, denominada “Ritalina, a droga legal que ameaça o futuro” (AMADO, 2013), foi o link mais acessado do Facebook com as palavras-chave utilizadas na busca (Ritalina e TDA/H). Com as demais não houve resultado. O link foi compartilhado 131.442 vezes, comentado por mais de 500.000 pessoas e seu alcance total foi maior que 1 milhão de perfis.
O link mais comentado nos espaços virtuais (páginas e grupos) disponibilizados pelo Facebook está relacionado com o principal questionamento que envolve o consumo de metilfenidato: seria esta substância realmente eficaz no tratamento do TDA/H? No texto do blog citado acima surge uma forma de manifesto de resistência ao uso do metilfenidato, apontando o uso indiscriminado deste medicamento.
Discussão
Perante o já publicado na literatura, este foi o primeiro mapeamento em redes sociais sobre usos do metilfenidato no Brasil. O estudo evidenciou, por meio do mapeamento nas redes sociais, alguns temas relacionados a diagnóstico, aquisição, utilização e compartilhamento de informações que ensejam debate. Ainda que não haja parâmetro de comparação com relação ao número de espaços virtuais dedicados a este tema, diante de outros temas, a diversidade de informações e o alcance das informações postadas merecem destaque.
A disputa que acontece no campo acadêmico, sobre o diagnóstico do TDA/H, aparece da mesma forma nas publicações com instituições representadas por páginas, grupos e seus seguidores. De um lado, há a defesa da importância do diagnóstico que é realizado por meio de avaliação clínica, estudos psicométricos e que poucas vezes, por sua fragilidade, utiliza marcadores de base biológica. Esses diagnósticos que têm como base critérios estabelecidos no DSM (Diagnostic and Statistical Manual/ Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) da Associação Psiquiátrica Americana buscam caracterizar a trinca sintomática básica: desatenção, hiperatividade e impulsividade. De outro lado, há uma defesa de que o modelo atual busca transformar características pessoais em transtorno. Do ponto de vista da psicanálise, a classificação de crianças e jovens como “portadores” de síndromes e transtornos os impede de serem sujeitos de sua própria história, e seus sintomas, considerados “desajustes”, passam a “necessitar” de cuidados especiais (LIMA, 2005; GARCIA, 2011). Simões Marino (MARINO, 2013) ressalta o perigo de silenciar a subjetividade desses indivíduos com o uso dos psicofármacos.
Segundo Dias et al. (2013), a etiologia do TDA/H não foi ainda completamente elucidada. Dados atuais indicam fatores de risco genéticos, incluindo variantes de genes que expressariam substâncias dopaminérgicas, noradrenérgicas, serotoninérgicas. Variáveis psicossociais e ambientais também são associadas como tendo papel importante para desenvolvimento do Transtorno (BIEDERMAN, 2005; LIMA, 2005). Caliman (2010), ao construir uma cartografia dos discursos históricos do diagnóstico de TDA/H, afirma que a diversidade histórica do transtorno é pouco discutida e que o predomínio apenas da versão oriunda do campo biológico garante uma legitimidade científica pela neurologia e pelas tecnologias de imagem cerebral. Timimi (2004) argumenta que o crescimento no número de casos de TDA/H deve ser compreendido a partir de uma perspectiva cultural. Na cultura ocidental moderna, fatores adversos têm marcado a saúde mental de crianças e suas famílias. Individualidade, competitividade e independência marcam uma vida familiar “ocupada e hiperativa”.
É fato que mesmo os clínicos lutam contra as incertezas em torno dos diagnósticos de transtornos como o TDA/H (RAFALOVICH, 2005). Ainda não existem marcadores biológicos precisos para alterações da neuroquímica cerebral (RAFALOVICH, 2005). Diagnósticos de diversos transtornos comportamentais, de desatenção e/ou hiperatividade e de ansiedade têm tido tendência crescente. Por outro lado, Conrad (2005) cita, entre os fatores promotores do aumento da prevalência de diagnóstico do TDA/H, os avanços da neurociência - no estabelecimento de causalidade biológica, interesses corporativos da indústria farmacêutica e o estabelecimento de padrões cada vez mais rígidos, predeterminados e culturalmente aceitáveis em um sistema educacional competitivo.
O estabelecimento de um diagnóstico aparece como uma condição importante para a reconstrução de uma identidade, desta vez mais positiva. A construção desta “bioidentidade” altera de forma sutil a experiência de "portar" o transtorno e dá ênfase ao fato de o indivíduo “ser” um TDA/H (LIMA, 2005). É no espaço virtual que várias formas de defesa desta nova identidade, representada por associações profissionais, pais, profissionais de saúde e da educação, encontram-se. Artigos de jornais, vídeos motivacionais e montagens utilizando fotos de celebridades que buscam evidenciar sintomas de criatividade, intuição, liderança, bom humor são frequentemente publicados e compartilhados como formas de combate ao estigma de características como desatenção, inquietude, agitação, movimentação corporal excessiva. O diagnóstico estabelecido por médicos especialistas é utilizado ainda como instrumento para garantir mais tempo e local tranquilo para a realização de provas, fundamentais para uma pessoa com TDA/H.
Um último elemento evidenciado no mapeamento das redes é o aumento da circulação sobre diversos usos do metilfenidato. A partir da função “page like network” foi possível observar que na página em que é feita a associação direta entre o metilfenidato e o TDA/H existe uma afinidade com outras páginas que difundem informações sobre a utilização de fármacos como forma de melhoramento (cognitivo, sexual, físico, emocional). Segundo Williams et al. (2011), esta é outra característica do fenômeno da farmaceuticalização, ou seja, a utilização de fármacos para fins não terapêuticos responsáveis pela criação de um novo mercado consumidor.
Ainda que tenha havido um aumento significativo na divulgação da doença e do número de pessoas com diagnóstico, a Anvisa alerta que alguns dados apontam para o crescimento do consumo não racional do metilfenidato (ANVISA, 2012). Este medicamento faz parte da lista de substâncias controladas pela Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998 (BRASIL, 1999; 2016), vendido somente com prescrição elaborada por profissional registrado no Conselho Regional de Medicina. Nos estabelecimentos comerciais onde há venda do medicamento, a prescrição é retida e os dados sobre consumo são controlados pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) (ref. BOLETIM SNGPC, 2012). O crescente aumento do consumo do metilfenidato coloca em dúvida o estudo de Carlini (2003), que aponta que a exigência de prescrição em receita amarela cria preconceitos e amedronta pacientes, tornando a adesão ao tratamento mais difícil.
O uso não terapêutico do metilfenidato pode ser compreendido como a busca dos indivíduos para superar seus limites ou, muitas vezes, simplesmente se adaptar à sociedade, o que torna esse medicamento um “fetiche” (BRANT; CARVALHO, 2012). Este uso se faz, em grande parte, por universitários, empresários e até por militares, como forma de otimizar a atenção (CALIMAN, 2008). A autora ressalta que, assim como o metilfenidato, há outras “drogas cosméticas que buscam melhorar a performance cerebral” (CALIMAN, 2008, p. 564) e que, embora haja controvérsias acerca dessa utilização, substanciada por evidências muitas vezes frágeis, elas contribuem para a construção de posturas mais responsáveis sobre o tratamento e diagnóstico do TDA/H, assim como para refletir sobre as estratégias tecnológicas de otimização da atenção.
Considerando os principais pontos suscitados por este mapeamento, é possível afirmar que, no caso do consumo do metilfenidato, seu uso contemporâneo está ajustado ao conceito de farmaceuticalização, ou mais precisamente, de “psicofarmaceuticalização da vida”. Blum (2007), por meio de entrevistas com mães responsáveis pela criação de crianças com necessidades especiais de pouca visibilidade, evidencia que o uso do metilfenidato pode ter relação com a naturalização do uso de psicofármacos na família. As crianças, segundo uma das mães entrevistadas, estariam expostas a um comportamento medicalizante, prevalente nos Estados Unidos, ao qual se refere como a “Prozac Nation” (Nação Prozac). Ainda segundo a autora, a opção pelo uso do metilfenidato no tratamento de muitas crianças e adolescentes com TDA/H é uma opção mais aceitável porque legitimaria o discurso apoiado nas explicações neuroquímicas, ao mesmo tempo que desculpabilizaria as atitudes maternas, por afastar-se das explicações apoiadas nos aspectos sociais e psicológicos, muitas vezes características do funcionamento da família. Além disso, é uma opção de menor custo diante de outras, e com uma rápida resolução para o problema de comportamento da criança. É importante ressaltar que a opção não farmacológica demandaria diferentes especialistas, na maioria das vezes com um custo alto e inacessível para muitas famílias.
Este processo é consequência direta de um movimento muito mais amplo, que vem transformando todo o mal-estar mental em doença (LIMA, 2005), fato correlato a uma grande valorização da concepção biológica do sofrimento psíquico, que, fundamentado na neurologia e na genética, incentiva o tratamento baseado essencialmente em recursos químicos. Impulsionado pela publicação do DSM III, psicofármacos são desenvolvidos na contramão das necessidades terapêuticas, não para atender a indicações existentes, mas para criar novas indicações ao organizar sintomas antes “dispersos e inespecíficos” em novos quadros nosográficos, para os quais o novo fármaco é indicado como tratamento (ANGEL, 2007; CORDEIRO, 1985). Nesse movimento, o saber psiquiátrico vem definindo novas rotulações diagnósticas e novas formas de tratamento do sofrimento psíquico, cunhando termos e definições terapêuticas que se tornaram parte da linguagem cotidiana. Assim, é comum perceber que o uso de outros psicotrópicos (benzodiazepínicos e anorexígenos) vai modular estilo de vida, atuar no mal-estar, nos sofrimentos e nas insatisfações vivenciadas subjetivamente pelos sujeitos. De acordo com Aguiar, é na aliança entre indústria farmacêutica e medicina que ocorre um esforço “para estabilizar na sociedade um discurso biológico e o conceito das doenças, fazendo com que a população aprenda a reconhecer em suas experiências de vida os critérios de diagnóstico...” (AGUIAR, 2003).
A pesquisa qualitativa digital tem como um de seus principais objetivos construir “padrões de informação” a partir de um vasto universo de arquivos digitais que devem ser mensurados, tratados e analisados. No presente artigo, o mapeamento dos espaços virtuais no Facebook foi o primeiro passo na busca de construir estes padrões de informação sobre o consumo do metilfenidato, assinalando as principais questões, conflitos, diálogos ou quaisquer outros tipos de interação que se tenham se desenvolvido nesses espaços. Porém, é preciso ressaltar que dificilmente este tipo de análise proposta indicará algum nexo causal entre popularização da informação sobre este medicamento e aumento do consumo do metilfenidato.
Um dos grandes desafios da pesquisa qualitativa virtual é criar mecanismos metodológicos que aproximem as informações compartilhadas nesses espaços virtuais com o comportamento das pessoas na prática, como entrevistas, depoimentos ou narrativas pessoais. É, todavia, difícil estabelecer relação direta entre a frequência de comentários e curtidas e o consumo, neste caso, de metilfenidato. No entanto, o Facebook é apontado como a rede social que mais se aproxima das relações face a face, pois possui mecanismos de algoritmos que dificultam o anonimato ou o uso de identidades fictícias(MIKAMI, 2010; SUBRAHMANYAM et al., 2008; CAERS et al., 2013).
Ainda que o Netvizz se apresente como uma prática ferramenta para os pesquisadores que desejam trabalhar com dados extraídos de redes sociais, este software possui algumas limitações que devem ser explicitadas. A primeira diz respeito aos desdobramentos éticos do seu uso nas redes sociais. Desde o ano de 2015, o Netvizz torna anônimos todos os atores de uma rede, sendo impossível identificar a posição e o grau de proximidade entre os pontos de uma rede. O Netvizz não permite o acesso a grupos fechados ou secretos, restando como única opção trabalhar com grupos abertos. Para trabalhar com este software, é necessário que o pesquisador cadastre uma conta no Facebook, cujas informações de perfil serão compartilhadas com os demais integrantes da rede social. Além da habilidade em manusear e conhecer os espaços virtuais disponibilizados pelo Facebook, o pesquisador deve ainda estar familiarizado com outros softwares que visualizam os resultados extraídos pelo Netvizz, como o Gephi e o Excel. Por tratar-se de uma plataforma muito dinâmica, é necessário que o pesquisador armazene os dados do momento selecionado para a pesquisa, salvando-os, pois, em um futuro próximo, esse espaço virtual pode não mais existir.
Williams et al. (2011) afirmam que a farmaceuticalização tem como uma de suas características estabelecer um novo tipo de relação entre pacientes, consumidores e vida cotidiana, criando novas identidades e mobilizando pacientes e consumidores em torno de um fármaco. Este artigo buscou demonstrar importantes espaços virtuais de circulação de informações sobre o metilfenidato, mapeados por softwares disponíveis para pesquisadores, evidenciando os desdobramentos do processo de farmaceuticalização, que marcam os usos atuais do metilfenidato.1
Referências
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Nota
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Jul-Sep 2017
Histórico
-
Recebido
29 Jul 2016 -
Aceito
24 Abr 2017