Resumo
Esta pesquisa qualitativa objetivou identificar as repercussões da pandemia de Covid-19 na saúde mental de pessoas LGBTQIA+ brasileiras. O estudo foi conduzido em nível nacional pelas redes sociais, a partir do compartilhamento de um questionário semiestruturado disponibilizado no Google Docs. A investigação ocorreu entre os meses de junho a novembro de 2021, e a população foi composta por pessoas LGBTQIA+ maiores de 18 anos. Utilizou-se a técnica snowball para localização dos participantes e a análise foi a partir da técnica do Discurso do Sujeito Coletivo, a qual originou três discursos: (1) Os impactos não vistos da “pandemia de estresse e medo”: o sofrimento emocional; (2) “Uma epidemia paralela” de distúrbios e transtornos mentais e (3) “O escape da realidade”: abuso de drogas lícitas. Os dados desvelaram como a saúde mental da população LGBTQIA+ foi impactada pela pandemia da Covid-19 e suas medidas de mitigação. Os achados apontam que houve produção e potencialização do sofrimento emocional; dos transtornos mentais; o aumento do uso de substâncias e drogas lícitas, além do surgimento de distúrbios alimentares. Dado esse cenário, é urgente que o Estado institucionalize políticas públicas com vistas à redução dos impactos e à promoção da saúde mental desses sujeitos.
Palavras-chave: Minorias sexuais e de gênero; Pandemia; Covid-19; Saúde mental; Enfermagem
Abstract
This qualitative research aimed to identify the repercussions of the COVID-19 pandemic on the mental health of Brazilian LGBTQIA+ people. This nationwide study was conducted by social networks by sharing a semi-structured questionnaire made available on Google Docs. The investigation took place between June and November 2021 and the population consisted of LGBTQIA+ people over 18 years of age. The Snowball technique was used to locate the participants. The analysis was based on the Collective Subject Discourse technique, which gave rise to three discourses: (1) The unseen impacts of the “pandemic of stress and fear”: emotional distress; (2) “A parallel epidemic” of mental disorders and disorders; and (3) “Escape from reality”: abuse of licit drugs. The data revealed how the COVID-19 pandemic impacted the mental health of the LGBTI+ population. The findings indicate that there was the production and potentiation of emotional suffering; mental disorders; the increase in the use of licit substances and drugs, besides the emergence of eating disorders. Given this scenario, the State must institutionalize public policies intending to reduce the impacts and promote the mental health of these subjects.
Keywords: Sexual and Gender Minorities; Pandemic; COVID-19; Mental health
Introdução
Na notícia “Quais os impactos da pandemia para a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexos e Assexuais (LGBTQIA+) no Brasil?”,1 publicada no site Nexo e escrita pela jornalista Juliana Domingos de Lima, é possível identificar relatos nos quais se destacam os efeitos que a pandemia de Covid-19 causou na população LGBTQIA+ brasileira, em especial na saúde mental. Na matéria, destacam-se as três maiores repercussões vivenciadas por esse público: a) piora na saúde mental; b) afastamento das redes de apoio; e c) ausência de fonte de renda. No contexto científico, o agravamento dos transtornos mentais como ansiedade, depressão e crise de pânico é relatado internacionalmente como as maiores dificuldades experienciadas por esse público no atual contexto (Moore et al., 2021).
No cenário nacional, a notícia acima revela que diversos indivíduos LGBTQIA+ buscaram apoio psicológico com profissionais da área da saúde mental, destacando que as vulnerabilidades experienciadas por esses sujeitos já existiam. No entanto, a pandemia trouxe o entendimento de que houve um aprofundamento e realce das desigualdades, ganhando relevo questões estruturais que se relacionam com os contextos vulnerabilizantes experimentados por pessoas LGBTQIA+. Sabe-se que baixa escolaridade, baixo nível socioeconômico, violência e dificuldades de acesso aos serviços de saúde estão intimamente relacionados às experiências de vida de grupos vulnerabilizados, de forma geral, e às pessoas LGBTQIA+, em específico (Santana et al., 2019). Além desses aspectos, as repercussões resultantes das medidas do isolamento social para mitigação da pandemia do coronavírus se refletiram na intensificação de aspectos que, até então, pouco se discutiam: o agravamento da saúde mental e o aumento das pessoas LGBTQIA+ psicologicamente afetadas pela “pandemia de medo e estresse” (Ornell et al., 2020).
É nesse cenário que a pandemia de Covid-19, causada pelo vírus Sars-CoV-2, configura-se como um dos principais assuntos da atualidade e que demanda um empreendimento teórico e empírico para a análise dos diferentes impactos (sociais e de saúde) nos diversos grupos sociais. Em termos epidemiológicos, a Covid-19 foi caracterizada como pandemia em 11 de março de 2020, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e acendeu um alerta para autoridades científicas epidemiológicas e das diversas áreas do conhecimento. No Brasil, o primeiro caso identificado ocorreu em 26 de fevereiro daquele mesmo ano. Atualmente são mais de 270 milhões de casos e mais de 5,3 milhões de mortes confirmadas no mundo. O Brasil segue com 37.796.956 casos confirmados e mais de 705 mil óbitos (Brasil, 2023).
Embora esses dados sejam relevantes e alarmantes, no Brasil ainda não há evidências empíricas que permitam compreender a dimensão do impacto proporcionado pela Covid-19 na realidade das pessoas LGBTQIA+, em especial, na saúde mental destas. Tal contexto conclama um esforço teórico e empírico de investigadores das diversas áreas do conhecimento - e em especial da Enfermagem e Saúde Coletiva -, para que seja possível descortinar a realidade duplamente experienciada por tais sujeitos: a) o não mapeamento de dados sobre o acometimento e as repercussões da Covid-19 no âmbito da saúde mental, considerando, inclusive, pertencimentos de gênero, orientação sexual, raça e classe; e b) a escassez de políticas públicas direcionadas ao enfrentamento da Covid-19 por esse grupo social, dado o contexto histórico e social que essa população vivencia no país.
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi construir o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) sobre as repercussões da pandemia da Covid-19 na saúde mental de pessoas LGBTQIA+ brasileiras.
Percurso metodológico
Esta pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco sob o parecer número 4.475.715 e foi conduzida seguindo os regulamentos das pesquisas que envolvem seres humanos, através da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Quanto ao delineamento do estudo, este é de cunho transversal, descritivo e de abordagem qualitativa. Nesse contexto de pesquisa, segundo Minayo (2011), é possível identificar elementos produzidos entre a intersubjetividade e subjetividade do indivíduo e sua relação com a sociedade.
A pesquisa foi realizada nacionalmente, com o compartilhamento de um questionário semiestruturado construído pelos pesquisadores e disponibilizado no Google Docs. Vale ressaltar que foram realizados cinco testes-piloto com o questionário, visando aperfeiçoar as perguntas elaboradas. Os testes foram excluídos da análise final. Dessa forma, a produção dos dados empíricos ocorreu entre os meses de julho a novembro de 2021. O compartilhamento do questionário foi realizado através das principais redes sociais (Facebook®, Instagram®, WhatsApp®, Twitter® e Telegram®) dos pesquisadores, almejando maior engajamento e participação do público-alvo. Além disso, realizamos publicações com o link e uma breve explicação da pesquisa em alguns portais, sites da internet e grupos do WhatsApp direcionados ao público-alvo em questão.
Ressaltamos que, apesar de esse método ter sido utilizado na produção dos dados empíricos, ele foi, por vezes, limitante. No entanto, o método possibilitou maior produtividade em termos de acesso e alcance dos participantes, considerando o contexto pandêmico vivenciado mundialmente, além da versatilidade, baixo custo e garantia do anonimato.
Quanto ao fato de a pesquisa ter tido como campo de investigação o meio on-line, Pereira et al. (2012) afirmam que a internet vem ganhando cada vez mais espaço em nossa sociedade e tem se revelado bastante vantajosa nos principais aspectos avaliados no contexto pandêmico, auxiliando, inclusive, na agilidade de aplicação dos questionários; na flexibilidade e diversidade relacionadas à elaboração de questões, além do baixo custo de implementação (Pereira et al., 2012).
A população do estudo foi composta por pessoas LGBTQIA+ maiores de 18 anos. Utilizou-se a técnica snowball para localização de participantes em cadeia, visto que esta é uma técnica não probabilística e que permite localizar indivíduos de uma mesma rede útil de sociabilidade, além de ser uma técnica de pesquisa amplamente utilizada no campo da saúde (Baldin; Munhoz, 2011). Foram estabelecidos os seguintes critérios de elegibilidade: se autoidentificar como pessoa LGBTQIA+; com identidade de gênero cisgênero ou transgênero (incluindo pessoas não binárias); alfabetizados; com orientação afetivo-sexual homoafetiva (gays, lésbicas); bissexual, pansexual e/ou assexual; pessoas intersexos e brasileiros/brasileiras nacionalizados ou naturalizados. Foram excluídos da pesquisa LGBTQIA+ que estavam em território nacional, mas que não eram naturais ou nacionalizados no país. Apesar de pessoas intersexos integrarem o grupo de participantes, não houve localização/participação desses sujeitos na pesquisa.
O questionário da investigação foi composto por um formulário de caracterização de pertencimento social que incluía idade, raça, estado civil, escolaridade e religião, além de perguntas relacionadas à temática do estudo: a) “como você percebe as repercussões da pandemia de Covid-19 na sua saúde mental?”; b) “como o isolamento social causado pela pandemia da Covid-19 impactou sua saúde mental?”; c) “considerando o contexto de isolamento/distanciamento social, o que você fez para lidar com essa situação?”. Foi disponibilizado um link on-line no qual os participantes tiveram acesso para responder às perguntas da pesquisa. Além disso, foi disponibilizado para leitura o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) on-line, o qual foi pré-requisito necessário para participação dos sujeitos no estudo o aceite no formulário. No formulário, havia informações de contato dos principais pesquisadores para retirada de dúvidas ou questionamentos. Nenhuma pessoa entrou em contato. Responderam ao questionário 366 participantes, no entanto, quatro interlocutores foram excluídos por não contemplarem os critérios de inclusão - pessoas não LGBTQIA+ e por respostas em branco. A amostra final foi composta por 362 LGBTQIA+.
Para a análise do material, utilizou-se o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), técnica que permite o resgate das representações significativas presentes na sociedade e na cultura de um determinado universo (Alvântara; Vesce, 2008). Este método permitiu simbolizar a coletividade, ou seja, as respostas formuladas tiveram um tom de manifestação pessoal das pessoas LGBTQIA+. Ressaltamos, ainda, que o DSC permite estabelecer um processo de organização dos depoimentos provenientes de pesquisas sociais, possibilitando a construção dos discursos coletivos.
Os discursos foram construídos a partir dos seguintes passos: (1) definição das expressões chaves a partir das falas dos participantes que resumiam as ideias propostas para a temática; (2) identificação das ideias centrais e semelhantes e, a partir delas, divisão em três classes distintas; (3) a Ancoragem, que possibilitou descrever os valores presentes nos depoimentos dos participantes; e por fim, (4) o próprio Discurso do Sujeito Coletivo, dando-lhes a forma de frases encadeadas. A partir desses passos foram construídos discursos na primeira pessoa do plural representando a fala da coletividade através de um discurso único (Lefèvre; Lefèvre, 2014).
Destaca-se que foi realizado um movimento de afunilamento com os diversos discursos coletivos que emergiram da identificação das ideias centrais e semelhantes, a qual permitiu identificar e construir três discursos centrais para este estudo. Para confiabilidade e validade da pesquisa, foram empregados: a) longo período na produção dos dados; b) descrições detalhadas em um caderno de campo - no qual foram anotadas informações sobre a quantidade de respostas e melhores horários de engajamento e acesso ao formulário; e c) discussão dos achados com pesquisadores que possuem larga experiência na temática de gênero e sexualidade da área da Saúde Coletiva.
Resultados
A amostra total de participantes foi composta por 362 pessoas que, além de aceitarem participar da pesquisa através da leitura e aceite do TCLE on-line, atenderam aos critérios de inclusão. Os participantes são residentes das cinco regiões do Brasil, com maior prevalência da Região Nordeste (64,3%), seguido, respectivamente, da Sudeste (18%), Sul (7,5%), Norte (6,1%) e Centro-Oeste (4,2%). A idade variou de 18 a 60 anos e em relação à orientação sexual, houve prevalência de gays (49,9%) e bissexuais (23,8%), seguidos de lésbicas (14,7%), pansexuais (6,1%), assexuais (3,9%) e (1,7%) heterossexuais. Já em relação à identidade de gênero, houve predominância de homens cisgênero (60,4%), mulheres cisgênero (30,5%) seguidos de pessoas não binárias (5,3%); homens trans/transmasculinos (1,9%) e mulheres trans e travestis (1,9%).
Quanto à raça/cor, (39,3%) se autodeclaram brancos; seguidos de pardos (37,7%), pretos (20,5%) - totalizando (58,2%) de participantes negros; amarelos (1,7%) e indígenas (0,8%). E por último a renda,2 que segundo os dados desta pesquisa, revelam (19,9%) dos participantes não possuíam nenhuma renda mensal no momento da pesquisa; (37,4%) recebiam até 1 salário; (32,7%) possuíam renda de 2 a 3 salários e (10%) com 4 ou mais salários mínimos. A maioria informou que trabalhava na data da pesquisa (60,9%) e deste percentual tinham ocupação formal (36,0%) e informal (24,9%).
Mediante a análise empregada do DSC, foi possível construir três discursos centrais, denominados: (1) Os impactos não vistos da “pandemia de estresse e medo”: o sofrimento emocional; (2) “Uma epidemia paralela” de distúrbios e transtornos mentais e (3) “O escape da realidade”: abuso de drogas lícitas. O conteúdo êmico de cada categoria está descrito a seguir.
DSC 1 - Os impactos não vistos da “pandemia de estresse e medo”: o sofrimento emocional
Passamos muito tempo dentro de casa isolados e isso implicou não poder sair para relaxar, socializar com amigos, trabalhar e ter uma renda, além de realizar atividades que amenizam a ansiedade e melhoram o bem-estar psíquico, evitando a solidão, tristeza, saudade, depressão, inquietação, desconforto e o próprio sentimento de enclausuramento. Além disso, o distanciamento potencializou os conflitos intrafamiliares resultantes da carência afetiva, dos conflitos de gênero e da pressão de não ter uma renda fixa. Foi agonizante ficar em casa! O isolamento social impediu que encontrássemos os poucos amigos LGBTQIA+ que temos, bem como a frequentar ambientes onde nos sentimos melhor e mais acolhidos, além de diminuir nossa autoestima. O distanciamento social nos deixou cada vez mais sozinhos, com várias preocupações, demandas reprimidas e medo do que nos espera no futuro.
DSC 2 - “Uma epidemia paralela” de distúrbios e transtornos mentais
Nossa saúde mental foi totalmente desestruturada! Por estes e outros motivos passamos a desenvolver ou acentuar transtornos mentais, principalmente a ansiedade que sempre esteve presente nas nossas vidas. Depressão, ataques de pânico, sentimentos negativos de desânimos, angústia, transtornos de autoimagem e impotência também são realidades no nosso cotidiano, ou seja, tudo isso vem nos impedindo de realizar atividades diárias básicas como estudar, trabalhar e até concentrar-se em atividades que antes proporcionavam prazer e qualidade de vida. Achamos importante destacar o aumento do sofrimento psicológico, dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais que estamos percebendo nos nossos amigos LGBTQIA+. Dentre vários outros problemas sociais e psíquicos desenvolvidos devido ao distanciamento social, há os distúrbios alimentares, como: aumento ou diminuição do apetite; compulsão por comida; falta de desejo para alimentar-se; anorexia e bulimia. Esses transtornos têm um impacto muito grande na nossa saúde mental, pois são problemas que antes não existiam, porém, com a pandemia e o distanciamento social passaram a existir.
DSC 3 - “O escape da realidade”: abuso de drogas lícitas
Nem sempre as atividades rotineiras possíveis dentro do contexto pandêmico nos proporcionavam prazer ou nos livravam de sentimentos angustiantes. Em alguns momentos insustentáveis de ansiedade, ou ataques do pânico, recorreremos ao uso de drogas lícitas como o álcool e o uso de medicamentos de forma indiscriminada. Tomamos ou aumentamos as doses de remédios controlados para poder lidar com todos esses transtornos, no entanto, com o acompanhamento de profissionais especializados várias dessas questões puderam ser controladas e amenizadas. O efeito sedativo e analgésico que essas drogas proporcionam a euforia de forma rápida e é exatamente isso que buscávamos nesse momento tão desafiador que estamos vivendo, algo que eleve o nosso alto astral de forma rápida e intensa.
Discussão
Desde o fim de 2019, no mundo, e início de 2020, no Brasil, enfrentamos as consequências da pandemia da Covid-19 em nossas vidas. Nesse contexto, devido à magnitude e até então ineditismo do agravo - dado como interesse internacional de saúde pública - medidas não farmacológicas como distanciamento social e a quarentena foram adotadas como estratégias eficazes para combater a disseminação do vírus e suas possíveis complicações (Ribeiro et al., 2020). Em nível mundial, a Covid-19 vem provocando uma série de mudanças comportamentais que, somada às desigualdades sociais e econômicas, potencializou o que podemos chamar de “uma nova epidemia paralela” (Brasil, 2020), evidenciada pelo agravamento e/ou aumento do sofrimento psíquico em decorrência das medidas adotadas para a mitigação do Sars-CoV-2.
Apesar de a pandemia de Covid-19 ser uma situação de crise global cujos efeitos são vivenciados por toda a população, há grupos sociais que, por apresentarem um contexto de vulnerabilidade histórica e social, há uma forte tendência de que as repercussões da referida pandemia se somem às iniquidades sociais vivenciadas por determinados grupos. É nesse contexto que se insere a comunidade LGBTQIA+ brasileira, visto que, no cenário pandêmico, houve a exacerbação das desigualdades e inequidades sociais já conhecidas na realidade desse grupo, como a violação de direitos humanos; violência; discriminação; insuficientes oportunidades de renda e trabalho; estigma, entre outros (Organização das Nações Unidas, 2020; Santana; Melo, 2020). Assim, ainda que as repercussões da pandemia da Covid-19 se situem em nível social, econômico e cultural, a saúde mental tem ganhado destaque, dada sua magnitude e consequências no cotidiano das pessoas, em especial, de indivíduos LGBTQIA+.
No DSC 1, “Os impactos não vistos da pandemia de estresse e medo: o sofrimento emocional”, é possível identificar como o distanciamento social, apesar de ser uma medida necessária no contexto da Covid-19, ganha outras configurações e tons na realidade de nossos participantes. O discurso de “fique em casa!” deve ser relacionado às questões estruturais mais amplas vivenciadas por esse grupo social, como a violência intrafamiliar e as frágeis redes de apoio, em especial de pessoas trans (ONUSIDA, 2020). O medo, a desesperança, a angústia e a solidão foram intensificadas durante o período de isolamento e são o maior ponto de preocupação e um dos mais críticos que nossos participantes destacaram nos relatos, visto que, à medida que se isolavam de suas redes de apoio e atividades de vida diárias, sentimentos de não pertencimento e exclusão emergiam. As repercussões na saúde mental destacadas a partir dessa ruptura apontam uma realidade devastadora, especialmente por afetar o bem-estar psicológico desses indivíduos.
Sabemos que o aumento dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais durante a pandemia estão relacionados a diversas causas (Brasil, 2020). No entanto, um dos destaques para o agravamento na saúde mental dos participantes foi a convivência intrafamiliar durante o período de isolamento. O ambiente social, profissional e principalmente familiar é demasiadamente hostil com indivíduos que rejeitam a cis-heteronormatividade, reverberando em contextos que potencializam agravos, vulnerabilidades e adoecimentos como o “menor apoio social, maior incidência de ansiedade, depressão e ideação suicida” nesses sujeitos (Santana; Melo, 2020, p.9).
Um levantamento internacional realizado pelo aplicativo de relacionamento Hornet revelou que homens gays, bissexuais e transexuais não se sentem seguros dentro de casa com suas respectivas famílias (Greenhalgh, 2020). Nossos dados corroboram essa informação, ganhando destaque o termo “agonizante” nos discursos dos participantes, quando da necessidade de dividir a casa com familiares LGBTQIfóbicos, ou seja, ainda que ficar em casa represente maior chance de prevenção contra a Covid-19, ainda há outras dimensões que não devem ser ignoradas, como a LGBTQIfobia praticada por familiares no ambiente intrafamiliar. A LGBTQIfobia, nesse cenário, é qualquer forma de intolerância, recusa, ódio, discriminação e ou aversão contra pessoas que não se reconhecem e/ou se identificam como heterossexuais e/ou cisgêneras, tendo como consequência danos psicológicos, físicos, sociais, etc. (Rosa, 2017).
É importante enfatizar que entre os homicídios por LGBTQIfobia no Brasil, a casa da vítima é o segundo local de maior ocorrência de assassinatos, sendo pessoas transexuais e travestis principais alvos deste tipo de violência, seguidos de lésbicas e homens gays (Mendes; Silva, 2020; Pinto et al., 2020). Ademais, o aumento do convívio com familiares LGBTIfóbicos é uma das principais causas para o aumento da violência desta população, como aponta o relatório da OutRight Action (2020), no qual os participantes relataram estarem mais susceptíveis a sofrerem violência e abusos por familiares no ambiente intrafamiliar (ONUSIDA, 2020). Portanto, é imprescindível instituir políticas públicas que fortaleçam os direitos humanos como resposta à pandemia, considerando as realidades vivenciadas por pessoas LGBTQIA+ brasileiras, seja no cenário familiar, social, educacional, institucional, entre outras.
A vida social desempenha papel fundamental na vida de pessoas LGBTQIA+, visto que estas são muitas vezes rejeitadas pelo núcleo familiar. Além disso, é um importante mecanismo de resistência e sobrevivência para esses sujeitos, dado que são estabelecidos vínculos com outros atores sociais que compartilham as mesmas experiências e pertencimentos sociais: de raça, de gênero, de orientação sexual, classe e outros (VoteLGBT, 2021). O DSC I evidencia a relevância que o convívio social ativo e presencial com seus afetos proporciona às pessoas LGBTQIA+. A ausência e/ou rompimento desses vínculos comprometeram as relações e atuaram como manutenção dos danos à saúde mental, dada a obrigatoriedade de voltar, ainda que momentaneamente, a morar com familiares.
As consequências do distanciamento social agravaram as dificuldades enfrentadas pelas pessoas LGBTQIA+, em especial quando diz respeito à pobreza, ao desemprego e à perda ou diminuição da renda (VoteLGBT, 2021). É importante lembrar, nesse aspecto, que grande parte da população LGBTQIA+ brasileira obtém sua principal renda a partir de trabalhos informais e que esse cenário foi aprofundado durante a pandemia da Covid-19 (Azevedo et al., 2020). Os dados desta pesquisa confirmam esse cenário, pois 19,9% dos entrevistados não possuíam nenhum tipo de renda no período do estudo, e 37,4% recebiam até um salário mínimo. Esses achados demonstram que diferentes aspectos impactam e atuam como forma de desestruturar a saúde mental dos participantes, e a renda, por exemplo, é uma delas.
A pandemia tem causado uma retração histórica em nível econômico nas maiores potências mundiais, e no Brasil esse cenário - que já vinha em uma escalada pré-pandemia em decorrência das ações neoliberais e de destituição de direitos sociais por parte do governo federal (Santos, 2020), alcançou proporções inimagináveis: o país enfrentou a maior crise socioeconômica dos últimos 15 anos, com uma inflação superando dois dígitos, com cerca de 14 milhões de desempregados (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2021). Esse cenário acentuou a precarização dos vínculos empregatícios, impactando a situação econômica de populações historicamente marginalizadas, além de agravar o cenário econômico enfrentado pelo país.
Assim, a vulnerabilidade financeira se destaca como um dos pilares que contribuem para a desestruturação da saúde mental dos nossos participantes, exigindo do Estado políticas de assistência eficazes para a manutenção da sobrevivência desses sujeitos, bem como assistência à saúde - mental, especialmente (ABRASCO, 2020). Dados da Associação Brasileira de Travestis e Transexuais (ANTRA) demonstram que 90% da população trans obtêm suas rendas a partir do trabalho sexual e que, devido ao distanciamento social e à própria pandemia, esse meio de subsistência foi severamente impactado, tendo as ONGs desempenhado papel fundamental na manutenção da sobrevida dessas pessoas no período mais agudo da pandemia (ANTRA, 2020). Ganha relevo o papel do Estado nesse cenário que, reiteradamente, negligencia aquilo que a própria Constituição Federal de 1988 institui e preconiza: o direito à vida, à saúde e ao bem-estar (Brasil, 1988). Em um contexto que se trata de vidas LGBTQIA+, essa realidade ganha contornos ainda mais dramáticos.
Apesar de termos uma participação tímida de pessoas trans (9,1%) se comparada à de pessoas LGBI cisgênero (89,9%), neste estudo consideramos pertinente chamar a atenção para a realidade duplamente experienciada por pessoas trans e que, igualmente, foi aprofundada pela pandemia da Covid-19: a) a transfobia naturalizada nos serviços, espaços sociais e nas relações familiares - que impactam de forma incomensurável a saúde mental dessa população, bem como as insuficientes oportunidades de emprego e renda; e b) a desestruturação da saúde mental para além da pandemia de Covid-19, dadas as circunstâncias sociais e a realidade estigmatizante e discriminatória que essas pessoas vivenciam cotidianamente no Brasil (Associação Brasileira de Travestis e Transexuais, 2020). Essas múltiplas realidades desencadeiam e potencializam uma série de sintomas situados no aspecto psicossocial e que demandam articulações e estratégias eficientes por parte do Estado para seu enfrentamento, visto que uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), e da própria Política de Saúde Integral de LGBT+, é a oferta de assistência à saúde de forma integral e equânime aos sujeitos (Brasil, 2012; 2013; 1988).
No contexto emocional, o sofrimento pode ser produzido por uma série de fatores na realidade de pessoas LGBTQIA+: a) não apoio familiar; b) dificuldades de acesso aos serviços de saúde; c) estereótipo; d) estigma; e) insuficientes oportunidades de trabalho; f) rejeição da sociedade; e g) violências e discriminação (OutRight, 2020). É possível afirmar, considerando os dados obtidos, que durante a pandemia da Covid- 19, até mesmo as estratégias de prevenção intensificaram os problemas mencionados acima, protagonizando uma produção/potencialização do sofrimento emocional, caracterizado aqui como o medo, ansiedade, estresse, pânico, angústia, entre outros.
É fundamental destacar que os problemas de saúde mental preexistentes da população LGBTQIA+ foram ampliados e tiveram seus impactos psicológicos intensificados no período da pandemia, como destacam os dados oficiais do “Diagnóstico LGBT+ na pandemia” (ONUSIDA, 2020; OutRight, 2020). Esse documento revela que 55,19% dos participantes declararam que sua saúde mental em 2021 estava pior de que em 2020; além disso, 30% das pessoas já haviam recebido diagnóstico de depressão e 47,59%, de ansiedade. Dentre as pessoas da referida pesquisa acima, 54,92% foram classificadas com o risco de depressão no nível mais grave, quase 8% a mais que na pesquisa de 2020 (ONUSIDA, 2020; OutRight, 2020). Ou seja, pessoas LGBTQIA+ tiveram sua saúde mental e o bem-estar psíquico impactados de modo desproporcional pela Covid-19. Nossos achados convergem com os dados apresentados, descortinando a realidade de agravamento da depressão, dos ataques de pânico, dos sentimentos negativos, da angústia e dos transtornos de autoimagem em LGBTQIA+ investigados.
Esse contexto se assemelha aos dados apresentados pelo coletivo #VoteLGBT (2021), que afirmam que houve um aumento de 42,72% nos problemas de saúde mental nesse público, consolidando-se como uma das maiores repercussões decorrentes da pandemia para a população LGBTQIA+. Em nível internacional, estudos identificam que pessoas LGBTQIA+ enfrentam não só um agravamento da saúde mental em taxas superiores, quando comparadas a pessoas não LGBTQIA+ no contexto pandêmico, como também experienciam os impactos negativos da pandemia de forma desproporcional, indicando que as consequências desses impactos podem ampliar as desigualdades e transtornos mentais, incluindo aumento da prevalência de depressão e suicídio (Jenkis et al., 2022; Slemon et al., 2022).
Moore et al. (2021) destacam que a severidade dos sintomas de depressão e ansiedade foi consideravelmente maior entre grupos de minorias sexuais que experienciam a LGBTQIfobia do que em pessoas cis heterossexuais (Moore et al., 2021). Esses transtornos, evidenciados nos DSC II, foram os responsáveis por deixar nossos interlocutores sem disposição para realizar atividades de vida diária, como estudar, trabalhar, e atividades que proporcionam prazer. Além disso, muitos desses transtornos, a exemplo do alimentar, surgiram à medida que o distanciamento social era implementado, bem como as dúvidas e incertezas sobre o futuro que se desenhava para suas vidas.
É possível afirmar, portanto, que a implementação do distanciamento social - apesar de ser uma medida eficiente e necessária no contexto de prevenção e diminuição da transmissão da Covid-19 - potencializou impactos negativos no bem-estar, nas interações sociais, na questão econômica, no uso de substâncias, no consumo de álcool e nos hábitos alimentares da comunidade LGBTQIA+. No cenário alimentar, os efeitos psicológicos do isolamento foram relacionados a uma desorganização dos comportamentos alimentares, levando muitas vezes ao aumento da restrição alimentar, dos episódios de compulsão alimentar e dos comportamentos compensatórios (Brown et al., 2021; Philipou et al., 2020; Suen, 2020).
Esses são dados de extrema relevância para a visibilização das consequências do distanciamento social no aspecto alimentar, como aumento ou diminuição do apetite; compulsão por comida; falta de desejo para alimentar-se; anorexia e bulimia. Nossos achados corroboram essas informações, chamando a atenção para uma temática que merece destaque quando se discute saúde mental. Além disso, tal achado se mostra fundamental para fomentar e estimular o debate científico que envolve outras áreas do conhecimento, como a Nutrição e Educação Física, bem como possibilitar a aperfeiçoamento dessas áreas do saber nas políticas públicas direcionadas para esse fenômeno na comunidade LGBTQIA+.
Estudo de Malta e Gracie (2020) afirma que as implicações referentes às mudanças no estilo de vida são refletidas no aumento dos comportamentos de risco à saúde dos sujeitos. Os dados do nosso estudo apontam o aumento do consumo de drogas lícitas no período pandêmico, como álcool, cigarro e medicamentos usados de forma indiscriminada. Tal prática é justificada, segundo o discurso de nossos participantes, como forma de analgesia e refúgio aos problemas emocionais, psicológicos, sociais, econômicos e familiares enfrentados durante a pandemia. Assim, consideramos que o período pandêmico está se configurando como uma construção social representada pelas mudanças comportamentais e psicológicas dos sujeitos, sobretudo na população LGBTQIA+.
O uso excessivo de drogas lícitas tem sido tema de intensas discussões entre os principais órgãos de saúde, em especial a OMS, que emitiu um alerta sobre as vendas de bebidas alcoólicas durante a pandemia da Covid-19 (OMS, 2020). Além disso, segundo o Relatório Mundial sobre Drogas publicado em 2021, o impacto social da pandemia provocou o aumento da desigualdade, da pobreza e das condições de saúde mental, sobretudo entre populações que vivenciam contextos vulneráveis, o que pode potencializar os fatores e circunstâncias que levam as pessoas a fazerem uso de substâncias lícitas e ilícitas (UNODC, 2021).
No cenário nacional, conforme a pesquisa da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas relata (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, 2020), houve aumento de 38% nas vendas em distribuidoras de bebida e de 27% nas lojas de conveniência desde o início da pandemia no país. No cenário dessa investigação, o aumento do uso de substâncias lícitas como álcool, cigarro e medicações de forma indiscriminada sugere que seu uso pode ter alguma relação com as experiências emocionais negativas e o desenvolvimento e/ou agravamento dos distúrbios psicológicos, seja pela associação das drogas com os fármacos; seja pelo uso indiscriminado como forma de “válvula de escape” objetivando alterar a percepção real da realidade; seja almejando “fugir” do contexto pandêmico atual. Como comparação, em um estudo realizado nos EUA, Czeisler (2020) destaca que entre os jovens adultos com idades entre 18 e 24 anos, 27,4% relataram iniciar ou aumentar o uso de substâncias para lidar com o estresse ou as emoções relacionadas à pandemia (Czeisler, 2020).
Sabe-se que as consequências das restrições impostas pelo distanciamento social vão muito além das questões psíquicas, o que pode favorecer no aumento do consumo de drogas lícitas e ilícitas (Czeisler, 2020). São notórias as repercussões negativas na saúde mental proporcionadas pelas medidas de distanciamento repentinas, em especial nas populações que não possuem uma rede de apoio sólida e estabelecida. Assim, consideramos necessário implementar algumas estratégias que possam ser utilizadas como forma de mitigar ações prejudiciais à saúde mental: a) fortalecimento das redes de apoio; b) cultivar os laços afetivos seja a partir de chamadas on-line, ou a partir de encontros em locais abertos em que todos estejam devidamente vacinados contra a Covid-19 e com uso de máscaras eficazes; c) realizar atividades relaxantes e que possam proporcionar prazer; e d) buscar ajuda profissional de psicólogos e psiquiatras - há serviços ofertados mesmo à distância e que consideram o contexto social dos sujeitos envolvidos.
É importante salientar, ainda, a importância dos centros de acolhimento que integram de forma voluntária equipes multidisciplinares e especializadas em prol da promoção da cidadania de pessoas LGBTQIA+. Neste estudo observamos, através dos discursos coletivos, a importância do apoio profissional especializado no período do distanciamento, pois a partir desse amparo “puderam controlar e amenizar questões que envolviam o sofrimento psíquico e o abuso de drogas lícitas” reafirmando a importância desses serviços frente à instabilidade emocional e falta de apoio ou suporte social (Usher et al., 2020). No entanto, ações e políticas públicas direcionadas à promoção da saúde mental desses sujeitos se fazem urgentes, não só pelas questões sociais e estruturais, mas igualmente pelas realidades que aqui estão sendo descortinadas e pelo próprio papel do Estado que consta na Constituição Federal de 1988.
Igualmente, destaca-se que a população negra já vivenciava contextos de exclusão, discriminação, pouco ou nenhum acesso aos recursos básicos, além de possuírem menos condições socioeconômicas, piores índices de qualidade de vida e acesso aos serviços de saúde, foi “empurrada ainda mais à margem da sociedade” (Associação Brasileira de Saúde Coletiva, 2020, p.1; Santos et al., 2020). Essa realidade se agrava quanto é análise a realidade das pessoas negras que se declaram LGBTI+, as quais perpassam por desafios sociais, econômicos e de saúde pública (Pereira, 2020). Em termos de vulnerabilidades de saúde, é importante destacar que a população negra também é um dos grupos sociais mais atingidos pela pandemia da Covid-19, ganhando relevo os reflexos do racismo com a chegada de “uma das maiores crises sanitárias do mundo” (ABRASCO, 2020, p.1). Ademais, apesar de não se ter utilizado variáveis e testes estatísticos que possam afirmar e ou relacionar a frequência e a significância do impacto da Covid-19 na saúde mental da população negra LGBTI+, considera-se interessante a discussão desse aspecto, o que, em termos investigativos, pode-se relevar alternativas para outros estudos.
Ademais, é importante destacar que dentro das realidades vivenciadas pelos grupos sociais, há especificidades que demandam um empreendimento investigativo, considerando a abordagem do fenômeno social em tela (impactos na saúde mental) a partir de uma perspectiva intersecional, que analise pertencimentos sociais contextualizados e relacionados com os agravos discutidos, como é o caso da população negra do nosso estudo. É notório que a Covid-19 e suas medidas de mitigação pôs em destaque importantes inequidades sociais, mas que foram aprofundadas pela pandemia. Souza e Souza (2020) observou que “no mar brasileiro agitado pela Covid-19, não estamos todos no mesmo barco” destacando as múltiplas realidades vivenciadas por diversos grupos sociais, como pessoas negras, LGBTI+, pessoas com deficiência, entre outros.
Considerações finais
Foi possível identificar três Discursos do Sujeito Coletivo a partir dos dados empíricos obtidos: a) os impactos não vistos da “pandemia de estresse e medo”: o sofrimento emocional; b) “uma epidemia paralela” de distúrbios e transtornos mentais; e c) “o escape da realidade”: abuso de drogas lícitas. Tais discursos revelaram que a saúde mental das pessoas LGBTQIA+ brasileiras investigadas foi fortemente impactada pela pandemia de Covid-19, sendo descortinadas realidades desproporcionais nas formas de experienciar o isolamento/distanciamento social.
É possível pontuar que houve aumento do sofrimento emocional (sentimentos negativos, medo, angústia, solidão, tristeza) decorrente do não convívio com afetos e ou redes de apoio; potencialização de distúrbios e transtornos mentais (depressão, ansiedade, ataque do pânico, transtorno de autoimagem), além do surgimento de outros distúrbios, como o alimentar, cenários que nos relevam o intenso sofrimento psicológico vivenciado por esses sujeitos no contexto pandêmico. Igualmente, foi possível identificar, no grupo investigado, o aumento do uso de substâncias e drogas lícitas como álcool, cigarro e medicamentos de forma indiscriminada, como forma de “dissociar” a realidade sofrida e angustiante vivenciada por nossos interlocutores.
As consequências do distanciamento social e da pandemia de Covid-19 na saúde mental não se restringem apenas às pessoas LGBTQIA+ brasileiras, mas a toda a sociedade. Assim, os dados relevaram apenas uma das múltiplas realidades presentes em um país com dimensões continentais, em especial, das pessoas LGBTQIA+ participantes.
Ademais, as consequências do distanciamento social agravaram as dificuldades históricas enfrentadas pelas pessoas interlocutoras, em especial no que diz respeito à pobreza, ao desemprego e à perda ou diminuição da renda. O impacto social da pandemia deixa explícitas as desigualdades e as frágeis condições de saúde mental das pessoas interlocutoras. Os dados deste estudo reafirmam, ainda, as consequências referentes às principais mudanças no estilo de vida da população LGBTQIA+ que, frente às perdas emocionais, financeiras e comportamentais, vivenciaram impactos incomensuráveis em suas vidas.
Como limitações do estudo, podemos mencionar as implicações contidas no compartilhamento do questionário on-line, pois reconhecemos a alta taxa de não respostas durante a coleta dos dados. Além disso, há uma barreira de acesso que deve ser considerada em estudos realizados na internet, especialmente, quando investigamos grupos sociais historicamente marginalizados e excluídos. Mencionamos, também, a alta concentração de respostas (64,3%) da Região Nordeste, que pode ser associada ao fato de os pesquisadores que conduziram o estudo serem desta região, ocasionando maior intensidade das respostas devido a suas respectivas redes de sociabilidade.
Por fim, faz-se necessário realizar mais estudos empíricos com delineamentos metodológicos robustos que possam descortinar realidades de pessoas LGBTQIA+ e não LGBTQIA+ em diversos contextos. Além disso, identificamos como lacunas neste estudo: a) as repercussões sociais e de saúde da pandemia em grupos específicos dentro da comunidade LGBTQIA+, como pessoas trans, em especial travestis e mulheres trans; pessoas intersexos e homens trans, a partir de um olhar interseccional que considere raça, classe e região; b) a identificação das estratégias de enfrentamento das pessoas LGBTQIA+ brasileiras frente à pandemia de Covid-19; e c) o desvelamento de como a pandemia da Covid-19 tem impactado crianças, adolescentes e idosos LGBTQIA+ brasileiros, visto que, neste estudo, trabalhamos com um perfil heterogêneo de sujeitos maiores de idade e com participação na pesquisa de sujeitos de até 60 anos.3
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
04 Out 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
16 Ago 2023 -
Revisado
05 Dez 2023 -
Aceito
04 Fev 2024