Open-access REIMPLANTAÇÃO DE URETER ECTÓPICO EM CADELA

ECTOPIC URETER REIMPLANTATION IN A BITCH

Resumos

RESUMO Relata-se um caso de ectopia uretral esquerda em cadela. Descreve-se os sintomas, diagnóstico radiológico e cirúrgico, anastomose vesicouretral com reimplante do ureter no trígono vesical e exame radiográfico pós-operatório através de urografia excretora para avaliação da função renal e ureteral.

ureter; urografia excretora; cirurgia; canino


SUMMARY A case of an ectopic left ureter in a bitch is reported. The clinical symptoms, radiological and surgical diagnostic, ureterovesical anastomosis with ureter reimplantation at the vesical trigon and post surgical evaluation through an excretory urography objecting to demonstrate the ureteral function are described.

ureter; excretory urography; surgery; canine


REIMPLANTAÇÃO DE URETER ECTÓPICO EM CADELA1

ECTOPIC URETER REIMPLANTATION IN A BITCH

Beatriz Guilhembernard Kosachenco2 Carmen Lice Buchmann de Godoy3 Izabela Schmitt2 Luiz Carlos de Pellegrini4 Rui Afonso Vieira Campello5

- RELATO DE CASO -

RESUMO

Relata-se um caso de ectopia uretral esquerda em cadela. Descreve-se os sintomas, diagnóstico radiológico e cirúrgico, anastomose vesicouretral com reimplante do ureter no trígono vesical e exame radiográfico pós-operatório através de urografia excretora para avaliação da função renal e ureteral.

Palavras-chave: ureter, urografia excretora, cirurgia, canino.

SUMMARY

A case of an ectopic left ureter in a bitch is reported. The clinical symptoms, radiological and surgical diagnostic, ureterovesical anastomosis with ureter reimplantation at the vesical trigon and post surgical evaluation through an excretory urography objecting to demonstrate the ureteral function are described.

Key words: ureter, excretory urography, surgery, canine.

INTRODUÇÃO

O ureter ectópico é uma anomalia congênita, cirurgicamente corrigível. Os sinais clínicos incluem incontinência urinária desde o nascimento, dermatose vulvar crônica, cistite ou pielonefrite (ARCHIBALD & OWEN, 1974; OSBORNE et al., 1984; RAWLINGS, 1986). Ureteres ectópicos são geralmente encontrados em fêmeas, com uma relação fêmea:macho de 25:1 (OSBORNE et al., 1972; RAWLINGS, 1986). As raças mais acometidas são Husky Siberiano, Terrier branco, FoxTerrier, PoodleeWest Highland (OSBORNE et al., 1984; RAWLINGS, 1986). A anomalia pode ser uni ou bilateral (OSBORNE et al., 1972; ARCHIBALD & OWEN, 1974; OSBORNE et al., 1984; RAWLINGS, 1986).

O diagnóstico pré-operatório do ureter ectópico é feito por exame radiográfico. Através de urografia excretora pode ser verificada a presença de anomalia e o local de esvaziamento do ureter. Nas fêmeas esta avaliação radiográfica frequentemente, demonstra o esvaziamento do ureter ectópico na uretra, útero ou vagina (OSBORNE et al. 1972; ARCHIBALD & OWEN, 1974; OSBORNE et al., 1984; RAWLINGS, 1986). Segundo OSBORNE et al. (1984) em 70% dos casos a inserção do ureter ocorre na vagina. Conforme OSBORNE et al. (1972) e RAWLINGS (1986) o sítio preciso da implantação ureteral pode ser de difícil identificação ao exame radiográfico contrastado.

Para a realização da urografia excretora deve ser administrado por via venosa, contraste tri-iodado na dose de 850mg/kg de peso, não excedento 35g. Há necessidade de adequado preparo prévio do paciente com a administração de laxantes e jejum de alimentação sólida por 24 horas, para melhor visualização do sistema urinário. O exame contrastado deve ser precedido de exame radiológico simples (KEALY, 1979).

Megaureter e pelve renal dilatada numa cadela incontinente geralmente são produzidos por ureter ectópico (OSBORNE et al., 1972), mas também podem ocorrer devido à infecção do trato urinário superior (RAWLINGS, 1986). Deve ser realizada laparotomia exploratória e, se necessária, cistotomia exploratória com a finalidade de determinar a presença ou ausência de terminação ureteral anatomicamente correia. Pode ocorrer que o ureter penetre na camada serosa ou muscular da bexiga a nível do trígono vesical e que corra caudalemente dentro da parede vesical (ARCHIBALD & OWEN, 1974; RAWLINGS, 1986).

O tratamento cirúrgico consta do reimplante ou do desvio intravesical. A nefrectomia deve ser realizada apenas em casos de comprometimento renal e quando o rim contralateral tiver plena capacidade funcional (OSBORNE et al., 1984; RAWLINGS, 1986).

Ureteres ectópicos frequentemente estão associados com outras anomalias congênitas do sistema urinário e com doenças adquiridas que se desenvolvem como uma sequela da ectopia ureteral (OSBORNE et al., 1972/1984). Muitos cães com ureter ectópico continuam a ser incontinentes após a correção cirúrgica, provavelmente devido a fatores iatrogênicos do colo da bexiga ou esfíncter vesicoureteral, por defeito a nível de vestíbulo e vagina, que permitam o acúmulo de urina durante a micção e posterior eliminação (ARCHIBALD & OWEN, 1974) ou displasia neuromuscular da uretra (RAWLINGS, 1986).

RELATO DO CASO

Foi encaminhado ao setor de Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais do Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal de Santa Maria um canino, fêmea, sem raça definida, com quatro meses de idade, o qual apresentava incontinência urinária desde o nascimento. A história clínica relatava tratamento medicamentoso ineficaz para cistite, diagnosticada por exame comum de urina. Foi realizado exame radiológico simples seguido de urografia excretora, pois havia suspeita de ureter ectópico.

A urografia excretora foi realizada após preparo prévio com laxantes e jejum sólido de 24 horas.

Foi administrado composto de diatrizoato de meglumina a 76% em solução estérila, por via venosa, após sedação e anestesia. A imagem radiográfica obtida 10 minutos após a injeção do contraste, com incidência látero-lateral, revelou que um dos ureteres inseria-se diretamente na vagina, com o contraste acumulando-se na mesma (Figura 1).


Procedeu-se laparotomia exploratória para confirmação do ureter ectópico e correção da anomalia através de reimplante. Foi diagnosticada a ectopia do ureter esquerdo que se inseria na camada serosa da bexiga, após o trígono vesical, seguindo em direção à uretra. O ureter anômalo foi ligado duplamente e seccionado próximo ao trígono. Através de cistotomia dorsal foi exposta a inserção do ureter direito e na mesma região, no lado oposto, foi removido um pequeno segmento circular da parede vesical. O ureter esquerdo foi tracionado através deste orifício para o interior da bexiga e a extremidade foi suturada às bordas da mucosa vesical em padrão simples isolado. Para verificar possível torção ou obstrução do ureter implantado foi passado, por sua luz, um estilete rombo. A parede da bexiga foi suturada em padrão invaginante. Para todas as suturas foi utilizado categute cromado 3-0 agulhadob. Promoveu-se, então, a síntese da cavidade abdominal conforme rotina.

A vesícula urinária permaneceu sondada durante os primeiros quatro dias do pós-operatório. Foi realizado tratamento medicamentoso com sulfameto-xazol-trimetoprimc durante a primeira semana após a cirurgia, em virtude do exame comum de urina acusar cistite e ter sido observado, no transoperatório, parede vesical espessada e mucosa congesta.

Repetiu-se urografia excretora aos 15 dias e aos quatro meses após a cirurgia, sendo evidenciado rins e ureteres funcionais (Figura 2). O animal apresentava incontinência urinária em menor grau, comparativamente ao apresentado antes da correção cirúrgica, sendo evidente quando o paciente apresentava-se em decúbito ou sentado.


DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Os sinais clínicos de ectopia ureteral como incontinência urinária desde o nascimento, dermatose vulvar e cistite foram facilmente detectados no canino examinado, concordando com os sintomas relatados por ARCHIBALD & OWEN (1974), OSBORNE et al. (1984) e RAWLINGS (1986).

Concorda-se com KEALY (1979) quando afirmou ser necessário preparo prévio do cão, com adminstração de laxantes e jejum, para uma boa imagem do trato urinário através da urografia excretora.

Radiograficamente observou-se a implantação do ureter ectópico na vagina e com a laparotomia exploratória pode-se verificar que o ureter penetrava na serosa da bexiga, dirigindo-se caudalmente, o que confirma a citação de ARCHIBALD & OWEN (1974) e RAWLINGS (1986) de ser necessária a realização de laparotomia exploratória para a confirmação da existência e do trajeto do ureter anômalo.

No caso relatado o ureter apresentava terminação na vagina e conforme OSBORNE et al. (1984) 70% dos casos apresentam este sítio de terminação.

Optou-se pelo reimplante, devido ao rim esquerdo não apresentar indício de comprometimento funcional. OSBORNE et al. (1984) e RAWLINGS (1986) citaram ser necessária a nefrectomia caso o rim se apresente sem sua capacidade de função normal.

Corroborando com as afirmações de ARCHIBALD & OWEN (1974), OSBORNE, et al. (1974), OSBORNE et al. (1984) e RAWLINGS (1986) conclui-se que o ureter ectópico é uma anomalia congênita que pode ser corrigida cirurgicamente, sendo o reimplante de ureter uma cirurgia de fácil execução.

Após a correção cirúrgica o cão apresentou incontinência urinária em menor grau e em determinados posicionamentos, indo ao encontro das afirmações de ARCHIBALD & OWEN (1984) e RAWLINGS (1986).

FONTES DE AQUISIÇÃO

a - Hypaque M - 76%: Wintrop Products Inc. New York, N.Y., USA.

b - Categute cromado 3-0, Ethicon: Johnson & Johnson. Rodovia Presidente Dutra, km 157. São José dos Campos, SP.

c - Bactrim suspensão: Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A. Estrada dos Bandeirantes, 2020. Rio de Janeiro, RJ.

2Médico Veterinário, pós-graduando no Curso de Mestrado em Medicina Veterinária, área de cirurgia, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 97119-900 - Santa Maria, RS.

3Médico Veterinário, Mestre, Professor Assistente do Departamento de Clínica de Grandes Animais da UFSM.

4Médico Veterinário, Professor Adjunto do Departamento de Clínica de Grandes Animais da UFSM.

5Médico Veterinário, Doutor, Professor Titular do Departamento de Clínica de Pequenos Animais, UFSM.

Referências bibliográficas

  • ARCHIBALD, J., OWEN, R. Urinary system. In: ARCHIBALD, J. Canine surgery 2.ed. Santa Barbara: American Veterinary Publications, 1974. cap. 15. p. 629-696.
  • KEALY, J.K. Diagnostic radiology of lhe dog and cat Philadelphia: Saunders, 1979. cap. 2: abdomen: p. 9-144.
  • OSBORNE, C.A., LOW, D.G., FINCO, D.R. Canine and feline urology Philadelphia: Saunders, 1972. cap. 35: Diseases of the ureter: p. 330-334.
  • OSBORNE, C.A., OLIVER, J.E., POLZIN, D.E. Distúrbios genitourinários: incontinência urinária não neurogênica. In: KIRK, R. Atualização terapêutica veterinária São Paulo: Manole, 1984. cap. 12. p. 1258-1268.
  • RAWLINGS, C.A. Bexiga urinária e ureter: reparo do ureter ectópico. In: BOJRAB, M.J. Cirurgia dos pequenos animais 2. ed. São Paulo: Roca, 1986. cap. 23. p.338-341.
  • 1
    Trabalho apresentado na Jornada de Pesquisa da UFSM, 1992.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Set 2014
    • Data do Fascículo
      1994

    Histórico

    • Aceito
      11 Ago 1993
    • Recebido
      19 Maio 1993
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