Resumos
A atuação dos anti-helmínticos à base de ivermectin (0,2mg/kg), levamisole (10mg/kg), closantel (10mg/kg) e albendazole (10mg/kg), foi avaliada em 65 rebanhos ovinos do estado de Santa Catarina, Brasil. As avaliações foram executadas quando o rebanho apresentava-se com o lote controle acima de 500 ovos por grama de fezes (OPG) da ordem Strongylida, acompanhado do cultivo de larvas. Foram aleatoriamente formados quatro grupos de 10 animais, identificados e tratados com os respectivos anti-helmínticos. Sete a 10 dias após, foram coletadas amostras de fezes dos animais de cada grupo para a verificação do OPG e identificação das larvas e os resultados comparados com o do lote controle. Considerou-se resistência quando a eficácia da droga foi menor do que 95% e o intervalo de confiança, menor do que 90%. Dos 65 rebanhos avaliados, a resistência ao ivermectin esteve presente em 77%, sendo somente identificadas larvas de Haemonchus (100%), ao albendazole em 65%, sendo Haemonchus (74%), Ostertagia (15%) e Trichostrongylus (11%), ao closantel em 13%, sendo Haemonchus (100%) e em 15% ao levamisole sendo Trichostrongylus (44%), Ostertagia (39%) e Haemonchus (17%). Conclui-se que a multi-resistência está presente na maioria do rebanho ovino catarinense.
anti-helmínticos; nematóides; resistência; ovinos
Sixty-five sheep flocks were studied in Santa Catarina State to determine parasites resistance to anthelmintics based on ivermectin (0.2mg/kg), levamisole (10mg/kg), closantel (10mg/kg) and albendazole (10 mg/kg). The evaluation was carryed out when a particular sheep flock showed a control group with EPG (eggs per gram) level above 500. Larvae culture was also performed to allow the parasite identification. Four randomized groups of 10 animals were formed and treated with one of the four anthelmintic products. Faecal samples were collected of each group seven to ten days after the treatment, aiming to perform the eggs count and larvae identification. These results were compared with results of the control group. The anthelmintics were considered to present evidence of parasite resistance when the efficacy of the product was lower than 95%. From the total of 65 sheep flock studied, seventy-seven percent presented parasite resistance to ivermectin, with Haemonchus larvae only (100%); sixty-five percent to albendazole, with Haemonchus (74%), Ostertagia (15%) and Trichostrongylus (11%); thirteen percent to closantel, with Haemonchus (100%); and fifteen percent to levamisole, with Thichostrongylus (44%), Ostertagia (39%) and Haemonchus (17%). The results detected the presence of a multi-resistance to anthelminthics in the great majority of the sheep flocks of Santa Catarina State.
anthelmintics; nematodes; resistance; sheep
RESISTÊNCIA DE PARASITOS GASTRINTESTINAIS DE OVINOS A ALGUNS ANTI-HELMÍNTICOS NO ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL
GASTRO-INTESTINAL PARASITES RESISTANCE IN SHEEP TO SOME ANTHELMINTICS IN SANTA CATARINA STATE, BRAZIL
César Itaqui Ramos1 Valdomiro Bellato2 Volney Silveira de Ávila1 Guilherme Caldeira Coutinho1 Antonio Pereira de Souza2
RESUMO
A atuação dos anti-helmínticos à base de ivermectin (0,2mg/kg), levamisole (10mg/kg), closantel (10mg/kg) e albendazole (10mg/kg), foi avaliada em 65 rebanhos ovinos do estado de Santa Catarina, Brasil. As avaliações foram executadas quando o rebanho apresentava-se com o lote controle acima de 500 ovos por grama de fezes (OPG) da ordem Strongylida, acompanhado do cultivo de larvas. Foram aleatoriamente formados quatro grupos de 10 animais, identificados e tratados com os respectivos anti-helmínticos. Sete a 10 dias após, foram coletadas amostras de fezes dos animais de cada grupo para a verificação do OPG e identificação das larvas e os resultados comparados com o do lote controle. Considerou-se resistência quando a eficácia da droga foi menor do que 95% e o intervalo de confiança, menor do que 90%. Dos 65 rebanhos avaliados, a resistência ao ivermectin esteve presente em 77%, sendo somente identificadas larvas de Haemonchus (100%), ao albendazole em 65%, sendo Haemonchus (74%), Ostertagia (15%) e Trichostrongylus (11%), ao closantel em 13%, sendo Haemonchus (100%) e em 15% ao levamisole sendo Trichostrongylus (44%), Ostertagia (39%) e Haemonchus (17%). Conclui-se que a multi-resistência está presente na maioria do rebanho ovino catarinense.
Palavras-chave:anti-helmínticos, nematóides, resistência, ovinos.
SUMMARY
Sixty-five sheep flocks were studied in Santa Catarina State to determine parasites resistance to anthelmintics based on ivermectin (0.2mg/kg), levamisole (10mg/kg), closantel (10mg/kg) and albendazole (10 mg/kg). The evaluation was carryed out when a particular sheep flock showed a control group with EPG (eggs per gram) level above 500. Larvae culture was also performed to allow the parasite identification. Four randomized groups of 10 animals were formed and treated with one of the four anthelmintic products. Faecal samples were collected of each group seven to ten days after the treatment, aiming to perform the eggs count and larvae identification. These results were compared with results of the control group. The anthelmintics were considered to present evidence of parasite resistance when the efficacy of the product was lower than 95%. From the total of 65 sheep flock studied, seventy-seven percent presented parasite resistance to ivermectin, with Haemonchus larvae only (100%); sixty-five percent to albendazole, with Haemonchus (74%), Ostertagia (15%) and Trichostrongylus (11%); thirteen percent to closantel, with Haemonchus (100%); and fifteen percent to levamisole, with Thichostrongylus (44%), Ostertagia (39%) and Haemonchus (17%). The results detected the presence of a multi-resistance to anthelminthics in the great majority of the sheep flocks of Santa Catarina State.
Key words : anthelmintics, nematodes, resistance, sheep.
INTRODUÇÃO
A ovinocultura, em Santa Catarina, está presente em grande parte do Estado, principalmente em pequenas propriedades, com rebanhos na grande maioria abaixo de 50 animais, totalizando 250.000 ovinos (IBGE, 1997). No aspecto de saúde, as helmintoses gastrintestinais são os principais problemas. O uso intensivo de anti-helmínticos, muitas vezes, em subdoses, aliado a problemas de manejo, tem selecionado estirpes resistentes a vários produtos, principalmente Haemonchus spp., Trichostrongylus spp. e Ostertagia spp. de origem ovina.
Na região Sul do Brasil, no Rio Grande do Sul, DOS SANTOS & FRANCO (1967) e DOS SANTOS & GONÇALVES (1967/1968) relataram a ocorrência de estirpes de H. contortusresistentes ao thiabendazole. Posteriormente, SANTIAGO & COSTA (1979) constataram resistência deste parasita ao levamisole. Estirpes de T. colubriformis resistente ao levamisole e ao tetramisole foram também relatadas (SANTIAGO et al., 1977 e 1978; SANTIAGO & COSTA, 1979). Uma estirpe de O. circumcincta, isolada no campo, resistente a doses de 7,5mg/kg de levamisole também foi descrita por SANTIAGO et al. (1979).
Na década de 80 foi lançado no Brasil um terceiro grupo anti-helmíntico, as ivermectinas. Esta família apresentava como característica principal a alta eficácia contra a maioria dos helmintos gastrintestinais e até contra alguns parasitos externos, porém esta droga também não resistiu ao uso freqüente.
ECHEVARRIA & TRINDADE (1989) verificaram que, em um rebanho ovino, medicado a cada vez que o exame de fezes apresentava em média 500 OPG, o H. contortus tornou-se resistente ao ivermectin depois de 4,5 anos. Sobre a prevalência de resistência anti-helmíntica no Brasil, ECHEVARRIA & PINHEIRO (1989) examinaram 31 rebanhos no município de Bagé-RS. Baseados em testes de redução de OPG e cultura de larvas conduzidos nos dias 0 e 7 pós-tratamento com thiabendazole ou tetramisole, esses autores encontraram 38,7% dos rebanhos com helmintos resistentes aos benzimidazóis, 25,8% ao tetramisole e 19,4% com resistência múltipla; somente 16,1% dos rebanhos examinados apresentaram helmintos sensíveis a ambas as drogas. Larvas que sobreviveram ao tratamento com thiabendazole eram principalmente Haemonchus spp enquanto aquelas sobreviventes ao tratamento com tetramisole eram Trichostrongylus spp. e Ostertagia spp.
No Paraná, SOUZA et al. (1997) verificaram em 25 rebanhos ovinos que a resistência anti-helmíntica estava presente em 92,3% dos rebanhos testados para oxfendazol, em 80% para levamisole, em 85,7% para o tetramisol, em 91,3% para o ivermectin, em 30,8% para o moxidectin, em 85,8% para o closantel e em 87,5% para as associações tetramisol + disofenol e oxfendazol + closantel. CUNHA FILHO et al. (1999) avaliaram 10 rebanhos ovinos na região de Londrina, verificando que o fenômeno de resistência ocorreu em todas as propriedades com percentual de 100%, 80% e 20% respectivamente para o albendazole, ivermectin e moxidectin. O gênero Haemonchus spp. foi o mais freqüente.
Em Santa Catarina, VICENTINI et al. (1993) testando a eficácia de alguns anti-helmínticos em quatro propriedades do município de Lages, por OPG mais percentagem larval, relataram que possivelmente ocorreu resistência de Haemonchus spp ao albendazole, oxfendazole e closantel em duas propriedades e ao ivermectin em uma e os gêneros Ostertagia spp e Trichostrongylus spp ao albendazole e oxibendazole em uma das propriedades. SOUZA et al. (1996) relataram a resistência do Haemonchus contortus ao ivermectin.
A comercialização de ovinos facilita a propagação da resistência de uma região para outra. Exemplo disto é o relato de VIEIRA et al. (1992), no Ceará, os quais observaram a presença de H. contortus resistentes ao ivermectin e ao netobimin em ovinos provenientes do Paraná e Rio Grande do Sul.
Com objetivo de verificar a situação da resistência de helmintos gastrintestinais de ovinos a anti-helmínticos, no estado de Santa Catarina, realizou-se o presente trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi avaliada a atuação dos anti-helmínticos a base de ivermectin (0,2mg/kg), levamisole (10mg/kg), closantel (10mg/kg) e albendazole (10mg/kg), todos por via oral, em 65 rebanhos ovinos do estado de Santa Catarina. O trabalho foi realizado de outubro de 1997 a maio de 2000. A área de abrangência das avaliações foi em todas as regiões do estado de Santa Catarina, que têm produção ovina (Planalto Sul, Planalto Norte, Meio Oeste e Alto Vale do Itajaí). A escolha das propriedades foi feita por técnicos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - S/A EPAGRI e da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola do Estado de Santa Catarina CIDASC.
Foram realizadas duas visitas para cada propriedade. Na primeira, foram coletadas 10 amostras de fezes, avaliado o número de ovos por grama de fezes, OPG, (GORDON & WHITLOCK, 1939) e preenchido um questionário, relacionado aos controles parasitários e à população ovina por propriedade. Quando a média atingiu acima de 500 OPG, este grupo era considerado controle e executava-se então o cultivo (ROBERTS & O'SULLIVAN, 1950) e identificação de larvas. A seguir, foram aleatoriamente formados quatro grupos de 10 animais, identificados com tintas de diferentes cores, recebendo cada grupo, um tratamento anti-helmíntico conforme descrito acima. Na segunda visita, sete a 10 dias após os tratamentos, foram coletadas amostras de fezes dos animais de cada grupo, para a realização de OPG, cultivo e posterior identificações de larvas. Os resultados destes exames foram comparados com os do lote controle, para verificar a redução da média do OPG de nematóides gastrintestinais. Considerou-se como resistência, quando a eficácia da droga foi menor do que 95% e o intervalo de confiança inferior, menor que 90%; baixa resistência, quando a eficácia foi superior a 95% com intervalo de confiança menor que 90% e sensível, quando a eficácia foi superior a 95% com intervalo de confiança superior a 90% (VIZARD & WALLACE, 1987).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De outubro de 1997 a maio de 2000, foram executadas as avaliações do teste de resistência de helmintos aos anti-helmínticos em 7.529 ovinos de 65 propriedades, representando 3% da população ovina, em 22 municípios localizados nas regiões do Planalto Serrano, Planalto Norte, Alto Vale do Itajaí e Centro Oeste do estado de Santa Catarina.
A resistência deHaemonchus spp. ao ivermectin (0,2mg/kg), foi verificada em 77% das 65 propriedades (Figuras 1 e 2), principalmente naquelas que utilizavam de 8 a 12 medicações ao ano. ECHEVARRIA & TRINDADE (1989) no Rio Grande do Sul, VIEIRA et al. (1992), no Ceará e SOUZA et al. (1996), em Santa Catarina, comprovaram resultados semelhantes. No Paraná, SOUZA et al. (1997) verificaram em 25 rebanhos resistência ao ivermectin, no entanto os autores não citaram os gêneros ou as espécies resistentes. CUNHA FILHO et al. (1997), neste mesmo Estado, observaram resultados semelhantes na região de Londrina onde o gênero mais prevalente foi Haemonchus spp.
Resistência de helmintos ao levamisole (10 mg/kg), foi observada em 15% das propriedades e baixa resistência em outras 15% (Figura 1). Os gêneros mais prevalentes foram Trichostrongylus spp. (44%) e Ostertagia spp. (39%), concordando com os achados de SANTIAGO & COSTA (1979) e SANTIAGO et al. (1979) para T. colubriformis e O. circumcincta respectivamente, no Rio Grande do Sul. Da mesma forma, ECHEVARRIA & PINHEIRO (1989) verificaram também resistência de Trichostrongylus spp. e de Ostertagia spp. em 25,8% dos rebanhos ao tratamento com tetramisole. A literatura mundial concorda que, para o levamisole, é mais comum observar a resistência de T. colubriformis(MARTIN et al., 1990 e WALLER et al., 1995).
Considerando que o closantel tem suas limitações no controle de alguns helmintos, tais como Trichostrongylus spp. e Ostertagia spp., foram considerados como resistência somente os rebanhos em que houve predominância de Haemonchus spp., nos quais se verificou 13% de casos (Figura 2). No Rio Grande do Sul, COSTA et al. (1997) e, em Santa Catarina, VICENTINI et al.. (1993) comprovaram a resistência do Haemonchus spp. ao closantel, da mesma forma que os achados do presente trabalho.
A resistência, principalmente de H. contortus para o grupo dos benzimidazóis em ovinos, foi verificada na maioria dos países que se dedicam a ovinocultura. Exemplo destes são os trabalhos de LE JAMBRE (1978), LE JAMBRE et al. (1979), na Austrália, de THEODORÍDES et al. (1970) e ANDERSEN & CHRISTOFFERSON (1973), no Texas. Em Santa Catarina, foi detectada também resistência de Haemonchus spp. ao albendazole em 74% das propriedades avaliadas (Figuras 1 e 2), em acordo com os trabalhos de DOS SANTOS & FRANCO, (1967) e DOS SANTOS & GONÇALVES (1967/68) utilizando-se tiabendazole em ovinos, no Rio Grande do Sul. CUNHA FILHO et al. (1997) verificaram 100% de resistência ao albendazole em 10 rebanhos no Paraná, com predominância do gênero Haemonchus spp. Com relação a Ostertagia spp. e Trichostrongylus spp., 15% e 11% das propriedades respectivamente apresentavam ovinos com helmintos resistentes (Figura 1) para o albendazole. Dados semelhantes foram observados por HONG et al. (1996), na Inglaterra com relação a O. circumcincta.
CONCLUSÕES
Com base nestes resultados de avaliações de 65 rebanhos ovinos em Santa Catarina, pode-se concluir que a multirresistência estava presente na maioria dos rebanhos, dos quais 77% apresentavam-se comHaemonchus spp. resistentes ao ivermectin. Quanto ao albendazole, em 65% dos rebanhos verificou-se também a predominância deHaemonchusspp. resistente (74%). O closantel encontrava-se em 13% das propriedades com resistência ao Haemonchus spp. Verificou-se 15% de propriedades com resistência ao levamisol, predominando Trichostrongylus spp. (44%) e Ostertagia spp. (39%).
Ciência Rural, v. 32, n. 3, 2002.
2Médico Veterinário, Professor, PhD, Universidade do Estado de Santa Catarina Centro de Ciências Agroveterinárias Universidade do Estado de Santa Catarina.
Recebido para publicação em 29.12.00. Aprovado em 18.07.01
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
03 Nov 2003 -
Data do Fascículo
Jun 2002
Histórico
-
Aceito
18 Jul 2001 -
Recebido
29 Dez 2000