Resumos
Objetivo identificar na literatura científica as tecnologias desenvolvidas para a educação em saúde de idosos na comunidade.
Método revisão integrativa que incluiu artigos originais indexados nas bases de dados Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, Scopus, Web of Science, Science Direct e Cochrane, sem restrição de tempo e idioma. A análise dos resultados ocorreu na forma descritiva, em cinco categorias analíticas.
Resultados foram selecionados 15 artigos, publicados em revistas nacionais e internacionais, com predomínio de estudos experimentais que testaram os efeitos das tecnologias. Os tipos de tecnologia educacional desenvolvidos foram material impresso, software e vídeo, além de maquete e suporte telefônico. O tema mais abordado foi a queda. Os estudos mostraram que os tipos de tecnologia encontrados são viáveis para a educação em saúde de idosos na comunidade.
Conclusão as tecnologias desenvolvidas para a educação em saúde de idosos foram múltiplas e mostraram-se eficazes para serem utilizadas em intervenções na comunidade.
Idoso; Saúde do Idoso; Tecnologia Educacional; Educação em Saúde; Materiais de Ensino; Revisão
Objective to identify in the scientific literature the technologies developed to promote health education for the community elderly.
Method integrative review that included original articles indexed by Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, Scopus, Web of Science, Science Direct, and Cochrane databases, without restriction of time and language. Results were analyzed descriptively, in five analytical categories.
Results Fifteen articles published on national and international journals were selected, with predominance of experimental studies that tested the effects of such technologies. The types of educational technology developed were printed materials, software and video, as well as mock-up and telephone support. Falls in the elderly were the most discussed theme. The studies have shown that the types of technology found are feasible to promote health education for the community elderly.
Conclusion The technologies developed to promote health education for the elderly were multiple and proved effective for use in community interventions.
Aged; Health of the Elderly; Educational Technology; Health Education; Teaching Materials; Review
Objetivo identificar en la literatura científica las tecnologías que fueron desarrolladas para la educación en salud de ancianos en la comunidad.
Método revisión integrativa que incluyó artículos originales indexados en las bases de datos Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, Scopus, Web of Science, Science Direct y Cochrane, sin restricción de tiempo e idioma. El análisis de los resultados ocurrió de manera descriptiva, en cinco categorías que son analíticas.
Resultados fueron seleccionados 15 artículos, que fueron publicados en revistas nacionales e internacionales, con predominio de estudios experimentales que probaron los efectos de las tecnologías. Los tipos de tecnología educativa que fueron desarrollados fueron los materiales impresos, como también programa y vídeo, además de maqueta y soporte telefónico. El tema que fue más abordado fue la caída. Los estudios mostraron que los tipos de tecnología que fueron encontrados son viables para la educación en salud de ancianos en la comunidad.
Conclusión las tecnologías que fueron desarrolladas para la educación en salud de ancianos fueron múltiples y se mostraron eficaces para ser utilizadas en intervenciones en la comunidad.
Anciano; Salud del Anciano; Tecnología Educacional; Educación en Salud; Materiales de Enseñanza; Revisión
Introdução
A ampliação do número de idosos observada no mundo é um marco no processo de revolução da longevidade e emerge das mudanças no comportamento das taxas de fertilidade e mortalidade. Mundialmente, esse segmento demográfico representa 12,3% da população, com taxa de crescimento de 3% ao ano. Projeções globais apontam aumento do quantitativo de pessoas acima de 60 anos de idade de 1,4 bilhão em 2030 para 2,1 bilhões em 2050, um incremento de 50% em 20 anos. Todavia, os declínios na capacidade física e mental, associados sobretudo a condições crônicas de saúde, acompanham as alterações demográfica e epidemiológica no perfil da população1.
Nesse cenário, aumentam também as demandas dos serviços de saúde, principalmente ao considerar as múltiplas dimensões da vida e a heterogeneidade dos idosos que residem na comunidade2. Assim, torna-se desafio importante para a saúde do idoso a implementação de ações que considerem a integralidade e promovam o envelhecimento ativo. Logo, os profissionais de saúde devem otimizar estratégias para promoção da saúde, que potencializem a participação social do idoso e respeitem sua autonomia3-4.
Para tanto, destaca-se a educação em saúde como ferramenta necessária à promoção da saúde do idoso, por proporcionar conhecimento para a prevenção e redução de agravos, tornar a pessoa ativa na transformação de vida e incentivar o autocuidado e busca de autonomia. No tocante à Enfermagem Gerontológica, a educação em saúde é parte integrante da prática clínica do enfermeiro e permite criatividade e multiplicidade de escolhas. No entanto, torna-se indispensável considerar a singularidade do idoso para, assim, desencadear mudanças no comportamento individual5-6.
Nesse contexto, o avanço técnico-científico possibilitou o surgimento das tecnologias educacionais, que são resultado de processos concretizados a partir de experiências cotidianas voltados para o desenvolvimento metódico de conhecimentos e saberes a serem utilizados com finalidade prática específica. Logo, compreende-se que o uso de tecnologias educacionais potencializa a orientação de cuidados para idosos na comunidade7-8.
Ante essa realidade, aponta-se o desenvolvimento de tecnologias educacionais nas modalidades táteis e auditivas, expositivas e dialogais, impressas e audiovisuais, como estratégias metodológicas para o processo de educação em saúde do idoso9. Entende-se, portanto, que a introdução de tais tecnologias contribui para a construção do conhecimento e empoderamento dos idosos para o autocuidado.
Contudo, ressalta-se que, em ampla busca na literatura nacional e internacional, não foram encontrados estudos de revisão que apresentassem as tecnologias já desenvolvidas para a educação em saúde de idosos na comunidade. Nessa perspectiva, este estudo surge da necessidade de preencher essa lacuna de conhecimento.
Portanto, pretende-se contribuir com a Prática Baseada em Evidências (PBE), a fim de potencializar processo de translação do conhecimento e tomada de decisão dos profissionais de saúde, sobretudo os enfermeiros, na escolha da melhor evidência para instrumentalizar o cuidado educativo a idosos.
Em vista disso, este estudo teve por objetivo identificar na literatura científica as tecnologias desenvolvidas para a educação em saúde de idosos na comunidade.
Método
Trata-se de revisão integrativa, estruturada em seis etapas distintas: 1) elaboração da questão de pesquisa; 2) definição das bases de dados e critérios para inclusão e exclusão de estudos; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) avaliação dos estudos incluídos na revisão; 5) interpretação dos resultados; 6) apresentação da revisão/síntese do conhecimento10.
O estudo foi norteado por protocolo elaborado pelos pesquisadores. A questão de pesquisa foi elaborada de acordo com a estratégia População Interesse Contexto (PICo)11. Considerou-se, assim, a seguinte estrutura: P – idosos; I – tecnologia educacional; Co – educação em saúde. Dessa forma, elaborou-se a seguinte questão: Quais são as tecnologias desenvolvidas para a educação em saúde de idosos da comunidade disponíveis na literatura?
O levantamento bibliográfico foi realizado em agosto de 2018, mediante acesso virtual às bases de dados: Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), por meio da consulta à Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), acessada por meio do portal PubMed; Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) via Coleção Principal (Thomson Reuters); Scopus (Elsevier); Web of Science; Science Direct e Cochrane. Ademais, também foi empregada busca manual por meio da leitura das referências dos estudos primários incluídos.
Adotaram-se como critérios de inclusão: artigos primários que apresentassem tecnologia educacional desenvolvida para pessoas com 60 anos ou mais que morassem na comunidade, publicados até agosto de 2018, em qualquer idioma. Os critérios de exclusão foram: editoriais, teses, dissertações, artigos de revisão, os já selecionados na busca em outra base de dados e que não respondessem à questão da pesquisa.
Para a busca nas bases de dados, foram selecionados descritores presentes nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e seus equivalentes no idioma inglês no Medical Subject Headings (MeSH) e Títulos CINAHL, assim como descritores não controlados, estabelecidos de acordo com sinônimos dos controlados, e por meio de leituras prévias sobre o tópico de interesse. Para sistematizar a coleta da amostra, utilizou-se o formulário de busca avançada, respeitando peculiaridades e características distintas de cada base de dados. Os descritores foram combinados entre si com o conector booleano OR, dentro de cada conjunto de termos da estratégia PICo, e, em seguida, cruzados com o conector booleano AND, conforme apresentado na Figura 1.
– Descritores controlados e não controlados empregados na estratégia de busca para população, intervenção e resultados. Teresina, PI, Brasil, 2018
A busca foi realizada por dois pesquisadores independentes, de forma simultânea, os quais padronizaram a sequência de utilização dos descritores e dos cruzamentos em cada base de dados e, em seguida, compararam os resultados obtidos. Para garantir a busca ampla, os papers, em sua totalidade, foram acessados por meio do portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em área com Internet Protocol (IP) reconhecida na Universidade Federal do Piauí.
Os estudos encontrados foram importados no software de gerenciamento de referências bibliográficas Endnote Web, disponibilizado na base Web of Science, com intuito de ordenar os estudos encontrados e identificar os duplicados nas diferentes bases. Esse software leva em consideração a ordem de exportação das bases e criação das respectivas pastas no gerenciador, de forma que seleciona como duplicado o estudo incluído mais recente. Cabe ressaltar que a exportação dos artigos priorizou as bases específicas de enfermagem (CINAHL) e saúde (MEDLINE/Pubmed; LILACS; Cochrane), seguidas das inespecíficas (Web of Science; Science direct; Scopus).
Para a extração e síntese das informações dos estudos selecionados, utilizou-se instrumento adaptado do formulário da Red de Enfermería en Salud Ocupacional (RedENSO Internacional)12. Foram extraídas as seguintes informações: ano da publicação, país, periódico, categoria profissional dos autores, desenho do estudo, referencial teórico utilizado, objetivo do estudo, tecnologia educacional e desfecho.
O nível de evidência foi determinado segundo esta classificação: nível I – metanálise de estudos controlados e randomizados; nível II – estudo experimental; nível III – estudo quase experimental; nível IV – estudo descritivo/não experimental ou com abordagem qualitativa; nível V – relato de caso ou experiência; nível VI – consenso e opinião de especialistas13.
Identificaram-se 6.750 publicações, das quais, após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados para a amostra desta revisão 15 artigos. Não foram incluídos outros estudos após o processo de busca manual. Para seleção das publicações, seguiram-se as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA)14, conforme apresentado na Figura 2.
– Fluxograma de seleção dos estudos primários, elaborado a partir da recomendação PRISMA*(14). Teresina, PI, Brasil, 2018
A análise crítica e síntese qualitativa dos estudos selecionados foram realizadas na forma descritiva, em cinco categorias analíticas, segundo os tipos de tecnologias educacionais identificados: “software”; “vídeo”; “material impresso”; “maquete”; e “suporte telefônico”.
Por tratar-se de revisão integrativa, a pesquisa não foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa, porém foram mantidas as ideias dos autores das publicações utilizadas no desenvolvimento deste estudo.
Resultados
Nesta revisão foram selecionados 15 artigos, dos quais um (6,7%) foi identificado na MEDLINE/Pubmed, oito (53,3%) na CINAHL, um (6,7%) na Web of Science e cinco (33,3%) na Cochrane. Desses, seis (40,0%) tinham sido publicados em periódicos de enfermagem, seis (40,0%) em revistas interdisciplinares de saúde e três (20,0%) em revistas de outras áreas da saúde (psicologia, medicina e terapia ocupacional).
Todos os textos incluídos foram escritos na língua inglesa. Em relação à categoria profissional dos autores, quatro (26,6%) artigos foram redigidos apenas por médicos, três (20,0%) por médicos em parceria com enfermeiros, dois (13,3%) apenas por enfermeiros, um (6,7%) apenas por arquitetos, um (6,7%) apenas por psicólogos, um (6,7%) por designers de comunicação em parceria com enfermeiros e um (6,7%) por nutricionista em parceria com tecnólogos da informação. Em duas (13,3%) publicações não foi possível identificar essa informação.
No que tange ao desenho dos estudos, oito (60,0%) eram experimentos, três (20,0%) estudos metodológicos, dois (13,3%) quase experimentais e um (6,7%) com abordagem qualitativa. Quanto ao nível de evidência, nove (60,0%) publicações foram classificadas com nível II, quatro (26,7%) como nível IV e duas (13,3%) como nível III.
Em relação aos temas abordados pelas tecnologias educacionais, observou-se que a queda foi contemplada em cinco (33,3%) estudos e o tratamento medicamentoso em dois (13,3%). Carga cognitiva, autogestão de problemas de saúde, comunicação de idosos surdos, fim da vida, educação nutricional, cuidado ao estomizado, diabetes mellitus e HIV/AIDS foram abordados em um estudo cada.
Dos 15 estudos primários incluídos, apenas cinco (33,3%) fundamentaram a construção/desenvolvimento da tecnologia educacional em diferentes referenciais teóricos: teoria cognitiva da aprendizagem multimídia; modelo de crença em saúde; teoria da aprendizagem situada; teoria da complexidade; e abordagem cognitiva comportamental.
Os estudos foram divididos em cinco categorias, de acordo com o tipo de tecnologia educacional desenvolvida. Todavia, dois deles enquadraram-se em mais de uma categoria, por tratar-se de pesquisas que testaram os efeitos de diferentes tecnologias.
A Figura 3 apresenta os tipos de tecnologias educacionais desenvolvidas para a promoção da educação em saúde de idosos da comunidade, além dos objetivos e desfecho de cada estudo.
– Síntese dos artigos da revisão, segundo objetivo do estudo, tecnologia educacional e desfecho. Teresina, PI, Brasil, 2018
A seguir, apresentam-se as características do desenvolvimento das tecnologias e das intervenções implementadas nos estudos.
Na primeira categoria tem-se o software, o qual, nos estudos, consistiu na manipulação da tecnologia em computadores e equipamento touch screen, pelos idosos15-18. Dentre os estudos pertencentes a essa categoria, dois testaram individualmente seus efeitos, por meio da comparação com intervenções-padrão ou com o uso de folheto e tiveram seus efeitos avaliados após seguimento de duas semanas15-16. De outro modo, estudo primário comparou os efeitos da tecnologia entre idosos e adultos jovens17. O processo de construção do software e avaliação pelos idosos foi descrito em apenas um estudo primário18.
Os resultados dos estudos incluídos nessa categoria demonstraram efeitos positivos, no que diz respeito à melhoria dos desfechos testados. No entanto, os autores salientaram que as intervenções apresentadas exigiram treinamento prévio dos idosos para uso dos equipamentos, além de certo grau de escolaridade para manipulação.
A segunda categoria consiste na utilização do vídeo em intervenções individuais19-22. Entre os estudos, três utilizaram essa tecnologia de formas distintas, a saber: série de curta-metragem19, como componente de programa educacional21 ou associada à estratégia motivacional22. No tocante ao dispositivo utilizado para armazenamento, apenas dois apresentaram essa informação, de forma que em um utilizaram-se fitas de vídeo19 e em outro DVD20. Com exceção de um estudo20, as demais pesquisas verificaram os efeitos da aplicação do vídeo em diferentes períodos de seguimento: dois avaliaram o desfecho após um mês da intervenção21-22 e outro após seis meses19.
Os resultados demonstraram que esse tipo de tecnologia educacional apresentou efetividade na melhoria do aprendizado de diferentes temas por idosos da comunidade.
Na terceira categoria, material impresso, os sete estudos incluídos desenvolveram e/ou aplicaram tecnologia educacional nas modalidades folheto, cartilha, livreto e manual, os quais produzem informação por meio de texto escrito e gravuras16,21,23-27. Entre esses, observaram-se três investigações primárias que tiveram como objetivo a construção e validação da tecnologia24,26-27. Os demais avaliaram efeitos do uso do material em pesquisas de intervenção, com diferentes períodos de seguimento antes e após a leitura do material pelo idoso, a saber: duas semanas16, três semanas25, um mês21 e três meses23.
Dos quatro estudos de intervenção incluídos nessa categoria, apenas um mostrou maior efetividade no uso do material impresso, de forma isolada. Cabe destacar que essa intervenção consistiu no uso do livreto pelos idosos, com reforço semanal antes da avaliação do desfecho25.
Na quarta categoria, a maquete apresentou-se como uma representação, em escala reduzida, de determinada estrutura. Apenas um estudo de intervenção contemplou o uso dessa tecnologia, que foi utilizada em atividade educativa em grupo em apenas um momento. Os efeitos individuais foram avaliados em 12 e 52 semanas após a apresentação da maquete. Os pesquisadores identificaram que houve melhoria progressiva do desfecho estudado28.
A quinta categoria contemplou o suporte telefônico, utilizado em pesquisa que realizou o acompanhamento da saúde de idosos por meio de 16 ligações telefônicas, com conteúdo educativo, durante quatro meses. Os resultados indicaram melhoria dos desfechos estudados, após esse período29.
Discussão
Esta revisão da literatura revelou que as tecnologias desenvolvidas para a educação em saúde de idosos na comunidade foram, principalmente, softwares, vídeos e materiais impressos, mas identificaram-se ainda outros tipos de tecnologia. Com isso, percebe-se que o reconhecimento do rápido crescimento da população idosa em todo o mundo, têm incitado pesquisadores a produzirem múltiplas tecnologias para promoção da educação em saúde dessa população. Contudo, são necessários mais investimentos na construção e avaliação desses materiais, com vistas a ampliar as possibilidades de intervenção para a prática clínica.
Identificou-se que, entre os artigos incluídos nesta revisão, a criação da primeira tecnologia para a educação em saúde de idosos da comunidade foi no ano de 198815. Todavia, observou-se que no século XXI a produção de tais tecnologias tem crescido gradativamente, sobretudo entre os anos de 2012 e 201718,27. Acredita-se que a ampliação do conhecimento e divulgação dos métodos de construção e validação de materiais educativos têm contribuído com a inovação tecnológica na área da gerontologia. Logo, nessa perspectiva, espera-se a adição de novas produções científicas nos próximos anos.
Verifica-se que os artigos encontrados foram desenvolvidos em diferentes países, com destaque para os Estados Unidos, Holanda e Brasil. No entanto, nota-se a ausência de produção científica sobre o objeto deste estudo em países do continente africano, apesar de ser o segundo mais populoso do mundo e com acentuado envelhecimento populacional30. No Brasil, esta produção pode ser justificada, devido à saúde do idoso ser prioridade definida na Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, apoiada pela Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, a qual traz o desenvolvimento de gerontotecnologias como estratégia para a saúde31-32.
Os periódicos de enfermagem foram as principais fontes de divulgação do conhecimento produzido sobre as tecnologias educacionais para idosos, conquanto os autores fossem de diversas áreas. Entende-se que esses resultados vão ao encontro do papel da enfermagem na promoção da saúde por meio de ações educativas.
A análise dos artigos permite apontar uma lacuna do conhecimento no desenvolvimento de tecnologias educacionais que contemplem os múltiplos aspectos gerontológicos. Não obstante, compreende-se o investimento dos pesquisadores no desenvolvimento de tecnologias para prevenção de quedas, uma vez que se trata de problema de saúde pública mundial que repercute diretamente no setor saúde33. Na Espanha, 13,9% dos idosos que sofreram queda precisaram procurar serviço de saúde34; no Canadá, essa prevalência foi de 5,8%35; e no Brasil de 7,8%36. A magnitude desse problema vai além da frequência, pois as consequências podem levar à incapacidade funcional. Entretanto, existem outras importantes demandas de saúde para essa população, tornando necessário o desenvolvimento de tecnologias educacionais que considerem a multidimensionalidade do idoso.
A predominância dos ensaios randomizados como desenhos dos estudos demonstra o rigor metodológico no desenvolvimento das tecnologias para a educação em saúde do idoso. Estudos dessa natureza são relevantes para os sistemas de saúde e a prática clínica da enfermagem, pois têm o potencial de explicar causa e efeito de diferentes intervenções. Esse resultado demonstra o interesse na produção de evidências científicas consistentes e respalda o uso na prática das tecnologias aqui apresentadas, na perspectiva da PBE.
O desenvolvimento de tecnologias educacionais, norteado por referenciais teóricos, possibilita a utilização de conceitos e princípios que potencializam o alcance do objetivo educacional esperado37. A análise dos estudos primários, incluídos nesta revisão, aponta fragilidade no embasamento teórico de pesquisas que desenvolveram e avaliaram os efeitos das tecnologias educacionais em idosos da comunidade, uma vez que apenas um terço dos estudos utilizou de teorias para fundamentar esse processo. Torna-se, assim, necessário que os pesquisadores divulguem e expliquem os fundamentos teóricos que embasam a construção e/ou aplicação de tecnologia que visa contribuir com a prática.
Ademais, entre os estudos que mencionaram o referencial teórico, observou-se o embasamento em teorias de áreas distintas do conhecimento. Isso se deve, possivelmente, ao fato de que a interdisciplinaridade do cuidar em saúde amplia os campos de fundamentação teórica nas pesquisas, especialmente na gerontologia. Destacam-se, assim, perspectivas de contribuição e valorização à ciência da enfermagem, por meio do reconhecimento e aplicação das suas teorias na construção de tecnologias educacionais para idosos.
Todos os estudos incluídos nesta revisão utilizaram ao menos um tipo de tecnologia educacional como instrumento para o processo de cuidado educativo com idosos da comunidade, com vistas a contribuir para o aprendizado em saúde significativo.
Entre eles, observa-se que a tecnologia do tipo software contribui com a educação em saúde, pois, por meio de estímulos visuais, táteis e auditivos, exercita a memória e auxilia na retenção de informações38. Contudo, para a ampliação da efetividade de intervenções com esse tipo de tecnologia educacional, é importante destacar que se devem ponderar as diferenças no perfil educacional dos idosos residentes em países desenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil, pois o baixo nível de alfabetização de idosos ainda é uma realidade que deve ser considerada no planejamento de novas tecnologias para a educação em saúde dessa população39. Diante disso, torna-se um desafio para a utilização desse tipo de tecnologia treinamento prévio e supervisão do uso correto.
O despertar para o uso de softwares por idosos favorece a ruptura do paradigma da exclusão digital dessa população por meio do envolvimento ativo desse público na manipulação de tais tecnologias e construção autônoma da aprendizagem. Igualmente, a realização de intervenções individuais incentiva o autocuidado e favorece a adoção de comportamentos que promovem o envelhecimento ativo e saudável e coadunam com a educação em saúde.
Outra tecnologia presente nos estudos foi o vídeo, que permite a utilização de diversos recursos simultâneos e lúdicos e favorece a construção de imagens mentais ou associação visual, possibilitando aprendizado, memorização e construção de habilidades específicas40. Todas as pesquisas incluídas nesta revisão que utilizaram esse tipo de tecnologia apontaram a efetividade na intervenção19-22. Dentre elas, percebeu-se, ainda, a utilização de vídeos associada a outras estratégias de ensino21. Outros estudos encontraram efeitos positivos no ensino mediado pelo vídeo de diferentes temas para outras populações41-43. Dessa forma, verifica-se a adequabilidade desse tipo de tecnologia educacional como estratégia de educação em saúde, isolada ou associada a outras tecnologias.
Apesar da compreensão das vantagens do vídeo para a educação em saúde, nota-se ainda que poucos estudos desenvolveram esse material para idosos. É imperativo, portanto, que haja investimentos de pesquisadores da gerontologia na construção, validação e avaliação dos efeitos de vídeos educativos para idosos.
O material impresso apresentou-se como tipo de tecnologia educacional mais desenvolvido para idosos da comunidade. Além disso, observou-se que um mesmo estudo pode ter se enquadrado em mais de uma categoria analítica, uma vez que dois, incluídos nas demais categorias, compararam a efetividade daquelas tecnologias com um material impresso (folheto)16,21. No entanto, percebe-se que, entre aqueles que testaram os efeitos desse tipo de tecnologia isoladamente, apenas um, que utilizou o livreto em estratégia educativa com reforço semanal, alcançou os resultados esperados25.
Percebeu-se ainda que três estudos apresentaram a construção e validação de cartilhas e manual24,26-27. Reconhece-se, portanto, a importância de disponibilizar esse tipo de material para uso nos serviços de saúde. Contudo, enfatiza-se, a necessidade de testar o efeito do uso de tais materiais por idosos da comunidade, por meio de estudos randomizados e controlados.
Esse tipo de tecnologia oferece ao idoso a oportunidade de autonomia para estudo, com a possibilidade de reforço e rápido acesso, sobre determinado tema e incentiva a autorresponsabilização sobre a própria saúde. Para tanto, considera-se o Letramento Funcional em Saúde (LFS) um caminho que favorece a promoção da saúde para idosos, pois significa a capacidade de obter, processar e compreender as informações, com vistas a autogestão em saúde44.
No Brasil, estudo que avaliou as condições de LFS de idosos diabéticos encontrou que 73,7% deles apresentaram baixo LFS, o que foi associado com a escolaridade45. Entende-se, portanto, que materiais educativos no formato impresso para idosos devem ser utilizados com cautela e precisam levar em conta a linguagem simples e objetiva, que favoreça a compreensão correta das informações.
Outra tecnologia encontrada nos estudos primários foi a maquete, que se apresentou eficaz para orientar uma compreensão realista das modificações dos fatores de risco domiciliares para queda em uma população japonesa. Ademais, observou-se que houve retenção do conhecimento após diferentes períodos de acompanhamento28.
No tocante à educação em saúde, o uso da maquete parece proporcionar uma prática interativa, fazendo da observação realística tridimensional e da manipulação um momento terapêutico para o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos para a tomada de decisão com efeitos prolongados. A maquete torna-se, portanto, uma nova possibilidade de interação das informações teóricas com a prática, potencializando o cuidado educativo. Aponta-se, no entanto, a necessidade de maior investigação científica dos efeitos na implementação dessa tecnologia em outros desfechos para a aplicação na geriatria.
No que diz respeito ao suporte telefônico, a sua utilização surge como tecnologia educacional para viabilizar a expansão da comunicação e contribuir com o cuidado. Esse tipo de tecnologia se apresenta como opção para intervenções de saúde, de forma complementar ao cuidado padrão.
A incorporação do suporte telefônico aos cuidados de saúde é inovadora e oferece ao profissional a oportunidade de maior aproximação e acompanhamento das decisões de saúde tomadas pelo idoso. Além disso, no que diz respeito os idosos da comunidade, torna-se uma estratégia eficaz para atender maior número de pessoas que apresentem dificuldades de acesso aos serviços de saúde, sejam elas geográficas ou financeiras46.
Resultados de revisão integrativa da literatura apontaram para efeitos positivos no ensino da população adulta após o uso de suporte telefônico47. Logo, deve-se agregar valor positivo aos aconselhamentos profissionais por telefone para idosos na comunidade, pois, isso favorece a relação terapêutica e de confiança entre profissional e usuário do serviço.
Acrescenta-se ainda que o acompanhamento por telefone é intervenção de enfermagem estabelecida pela Nursing Interventions Classifications (NIC)48. Assim, diante dessa intervenção de enfermagem e da sua efetividade para contribuir para os cuidados em saúde, aponta-se a relevância no desenvolvimento de outros estudos que utilizem essa tecnologia para a educação em saúde do idoso.
Após análise das cinco categorias, observaram-se os diferentes tipos de tecnologias educacionais apresentadas pelos estudos incluídos nesta revisão e percebe-se o interesse dos pesquisadores em incorporar estratégias para facilitar a retenção de informações que oportunizem a melhoria de diferentes aspectos da saúde dos idosos.
O desenvolvimento dessas tecnologias para idosos da comunidade deve respeitar suas necessidades educativas, além de buscar corresponder às expectativas desse público. Para isso, deve-se considerar o cuidado transcultural e a educação popular, uma vez que o modo de pensar e agir do idoso parte do contexto em que vive49. Isso promove maior interesse no uso da tecnologia educacional e envolvimento no processo de educação em saúde.
Constatou-se que entre os estudos experimentais incluídos nesta revisão, a efetividade das tecnologias foi testada em diferentes contextos e intervalos de tempo entre a intervenção e avaliação do desfecho. Desse modo, novos estudos podem ser desenvolvidos com a aplicação e medição dos efeitos do uso desses materiais em diferentes momentos e desfechos.
No que diz respeito à abordagem utilizada pelos pesquisadores para avaliar os efeitos da aplicação das tecnologias, sobressaiu a apresentação individual dos materiais, em detrimento da intervenção em grupo, encontrada apenas em um estudo28. Identifica-se, assim, que o uso de tais tecnologias em grupos de idosos deve ser testado em novos estudos, pois essa é a principal abordagem utilizada nas ações educativas em saúde pública e potencializa autonomia e empoderamento por meio do estreitamento de vínculos terapêuticos e troca de conhecimentos entre os atores envolvidos50.
Cabe ressaltar que cada tecnologia tem a sua importância no contexto da educação em saúde e compete ao profissional da enfermagem, em parceria com pacientes e demais envolvidos no processo do cuidar, escolher as que mais se adequam à realidade social dos idosos da comunidade. Além disso, a utilização da tecnologia educacional não deve reduzir os procedimentos assistenciais a simples técnicas, mas estreitar relações, facilitar o diálogo, humanizar o cuidado e efetivamente promover saúde.
Aponta-se, como limitação desta revisão, a inclusão apenas de estudos que desenvolveram tecnologias educacionais para idosos da comunidade, não contemplando assim, tecnologias para idosos institucionalizados, o que restringe os resultados para o uso de tais tecnologias nesse público.
Conclusão
Identificou-se, nesta revisão integrativa, que as tecnologias desenvolvidas para a educação em saúde de idosos na comunidade foram variadas, predominando os materiais impressos, softwares e vídeos, mas também foram encontrados maquete e suporte telefônico. O tema mais abordado pelos estudos foi a prevenção de quedas e a maioria deles realizou experimento e comprovou a efetividade no uso individual das tecnologias educacionais para a educação em saúde de idosos na comunidade.
Apontam-se como lacunas do conhecimento a abordagem de poucos temas da área da saúde do idoso pelas tecnologias educacionais, o frágil embasamento teórico nos estudos para o desenvolvimento das tecnologias, a ausência de pesquisas sobre o objeto desta revisão no continente africano, a limitada quantidade de estudos que combinaram o uso de diferentes tecnologias educacionais e que testaram a utilização em grupos de idosos. Sugere-se, portanto, a realização de outros estudos que desenvolvam tecnologias educacionais para idosos sobre diferentes temas da gerontologia e que, além disso, testem seus efeitos na educação em saúde com diferentes abordagens, por meio de experimentos na perspectiva longitudinal, para avaliação dos efeitos a longo prazo.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
14 Out 2019 -
Data do Fascículo
2019
Histórico
-
Recebido
08 Jan 2019 -
Aceito
26 Maio 2019