Open-access Impacto de mídias sociais digitais na percepção de solidão e no isolamento social em idosos

Resumo

Objetivo:  sintetizar o conhecimento disponível sobre o impacto de mídias sociais na percepção de solidão e/ou no isolamento social em idosos.

Método:  revisão integrativa da literatura com estudos primários publicados na íntegra, em português, inglês e espanhol, entre setembro de 2014 e julho de 2020 nas bases de dados American Psychological Association Database, Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências de Saúde, Web of Science e PubMed.

Resultados:  foram incluídos 11 artigos categorizados com base nos tipos de tecnologias: “o uso da internet”, englobando sites de redes sociais, internet e aplicativos; “dispositivos de comunicação”, com uso de smartphones, tablets e iPads; e “tipos de comunicação”, incluindo meios de comunicação interpessoal na era digital, como videochamadas e e-mails. Houve resultados positivos (63,6%) sobre o uso de mídias sociais para minimizar a percepção de solidão e/ou o isolamento social dos idosos.

Conclusão:  as evidências científicas demonstraram que o uso de mídias sociais digitais pode reduzir a percepção de solidão e/ou o isolamento em idosos. Ademais, a internet pode favorecer maior contato entre idosos e famílias, servir como fonte de apoio e contribuir para maior senso de pertencimento em uma comunidade e redução da solidão.

Descritores: Isolamento Social; Solidão; Idoso; Internet; Mídias Sociais; Revisão

Abstract

Objective:   to synthesize knowledge about the use of social media and the perception of loneliness and/or social isolation in older adults.

Method:   integrative literature review with primary studies published in full, in Portuguese, English or Spanish, between September 2014 and July 2020 in the databases: American Psychological Association Database, Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature, Latin American and Caribbean Health Sciences Literature databases, Web of Science and PubMed.

Results:   11 articles were included, categorized based on the types of technologies: “the use of the Internet”, encompassing social networking sites, the internet and applications; “communication devices”, with the use of smartphones, tablets and iPads and “types of communication” covering the use of interpersonal means of communication in the digital age, such as video calls and emails. There were positive results (63.6%) regarding the use of social media to minimize the perception of loneliness and/or social isolation in the older adults.

Conclusion:   the scientific evidence shows that the use of digital social media can reduce the perception of loneliness and/or isolation in older adults. Furthermore, the internet can favor greater contact between the older adults and family members and can serve as a source of support, provide a greater sense of belonging in the community and reduce loneliness.

Descriptors: Social Isolation; Loneliness; Aged; Internet; Social Media; Review

Resumen

Objetivo:  sintetizar el conocimiento sobre el uso de medios de comunicación social en la percepción de la soledad y/o aislamiento social en personas mayores.

Método:  revisión integradora de la literatura, con estudios primarios publicados integralmente, en portugués e inglés, entre septiembre de 2014 y julio de 2020, en las bases de datos: American Psychological Association Database, Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature, Literatura Latino-Americana y del Caribe en Ciencias de la Salud, Web of Science y PubMed.

Resultados:  fueron incluidos 11 artículos categorizados con base en los tipos de tecnologías: “el uso de la Internet”, englobando las páginas electrónica de redes sociales, Internet y aplicativos; “dispositivos de comunicación”, con uso de smartphones, tablets e iPads; y, “tipos de comunicación” con uso de medios de comunicación interpersonal en la era digital, tales como, videollamadas y e-mails. Hubo resultados positivos (63,6%) sobre el uso de medios de comunicación social para minimizar la percepción de la soledad y/o el aislamiento social de las personas mayores.

Conclusión:  las evidencias científicas demostraron que el uso de medios de comunicación social digitales puede reducir la percepción de soledad y/o aislamiento en personas mayores. La Internet puede favorecer un mayor contacto entre personas mayores y sus familias, servir como fuente de apoyo, dar mayor sentido de pertenecer a una comunidad y reducir la soledad.

Descriptores: Aislamiento Social; Soledad; Anciano; Internet; Medios de Comunicación Sociales; Revisión

Destaques

(1) Mídias sociais podem reduzir solidão e isolamento social de idosos.

(2) Revisão Integrativa indica que a internet pode favorecer maior contato familiar.

(3) Considera-se a internet importante na diminuição das barreiras de isolamento social.

Introdução

O aumento da população idosa não é mais um fenômeno exclusivo das nações globalizadas e desenvolvidas, mas também dos países em processo de desenvolvimento, como o Brasil1. No ano de 2008, a população com 65 anos ou mais representava 6,53% da população total no Brasil, com estimativas de ultrapassar os 22,71% no ano de 2050. Para os mesmos anos, estima-se que a expectativa de vida passará de 72,78 anos para 81,29 anos2.

Com o aumento da população idosa é necessária a adoção de políticas e ações governamentais específicas para garantir o envelhecimento com danos mínimos1.

O fenômeno do envelhecimento populacional é crescente e influenciado por diferentes fatores. Está relacionado com desiguais e contraditórias formas de envelhecer, tendo a interação social como um marcador para a qualidade de vida3. A Organização Mundial da Saúde4 alerta que a não inclusão dos idosos em estratégias de desenvolvimento humano pode acarretar sofrimento e resultar em processos de exclusão e de abandono. Portanto, o processo de envelhecimento torna os idosos mais suscetíveis às situações que impactam a saúde mental5. Esses fatores são considerados de risco para a ocorrência da solidão e do isolamento social em idosos6.

A solidão pode ser definida como a percepção cognitiva de que os relacionamentos sociais existentes na vida são insuficientes ou inadequados, gerando uma reação afetiva de tristeza e vazio7. Nos idosos, está relacionada ao contato social inadequado e ao baixo nível socioeconômico, sendo preditora de morbimortalidade, declínio cognitivo e risco para sintomas depressivos8-9.

Há diferentes padrões de relacionamentos estabelecidos entre os seres humanos, haja vista que algumas pessoas preferem passar a maior parte do tempo sem a companhia de outras e com rede social reduzida, sem que se sintam sozinhas por isso. Tal fenômeno é caracterizado como isolamento ativo. A solidão diferencia-se destes padrões, pois implica discrepância entre as preferências pessoais de envolvimento social e a real rede social que a pessoa possui, sendo este caracterizado como isolamento passivo10.

O isolamento social é definido11 sob a perspectiva objetiva da separação, tipicamente física, entre as pessoas, tais como as que vivem sozinhas ou em ambientes isolados. Em um estudo de revisão3, identificou-se um conceito mais geral de isolamento social de pessoas idosas, vinculado, de forma objetiva, à escassez de relações humanas e contatos regulares com pessoas, quer sejam familiares, quer sejam amigos ou membros da comunidade. Nesses casos, a pessoa, no cotidiano de sua vida, interage com um número menor de pessoas do que gostaria, sua rede social é reduzida e conta com insuficiência de apoio social, emocional, informativo e instrumental. Relaciona-se com o histórico de vida e o contexto de organização social. Nessa perspectiva, o isolamento não se refere àqueles que se desconectaram voluntariamente, mas àqueles com possíveis barreiras que dificultam ou impedem a integração social.

Diante desse cenário, torna-se importante reconhecer as evidências científicas e realizar uma reflexão crítica sobre a temática, bem como buscar a sensibilização dos profissionais que atuam na atenção aos idosos para a utilização de recursos e estratégias que promovam a integração da sociedade10.

As novas tecnologias vêm transformando as práticas comunicacionais na contemporaneidade. É cada vez mais comum encontrar as pessoas acessando essas novas tecnologias e as mídias sociais12. Estudos de revisões da literatura recentes têm evidenciado que o uso de mídias sociais apresenta boa adesão entre os idosos, além de facilitar a comunicação, a troca de informações, o compartilhamento e o acesso a materiais de seu interesse13-15.

Mídias sociais podem ser descritas como locais que “permitem conversações”. Podem ser sites na internet construídos para interação social e compartilhamento de informações em vários formatos: fotos, mensagens, ícones, entre outros. Possuem, como principal característica, a participação ativa da comunidade de usuários na conexão e compartilhamento de informações. Portanto, chama-se de mídias sociais os sites de relacionamento entre pessoas12.

A inserção da população idosa no mundo digital possibilita a manutenção de seus papéis sociais, do exercício de cidadania, de autonomia e da participação ativa em uma sociedade complexa, o que, por sua vez, favorece a manutenção de uma vida mais ativa16. Atribui-se destaque positivo às relações de amizade e à integração social, tendo como consequência proporcionar um ambiente saudável de aprendizagem, bem-estar e a promoção de saúde na população idosa17-19.

Dessa forma, pontua-se a importância de investigar o atual cenário social transformado pelas mudanças tecnológicas digitais e a inclusão de idosos. Por esta razão, o presente estudo tem como objetivo sintetizar o conhecimento produzido sobre o impacto do uso de mídias sociais na percepção de solidão e/ou no isolamento social em idosos. Acredita-se que os resultados poderão fornecer subsídios para o planejamento da assistência interprofissional, contribuindo e somando esforços para a melhoria da assistência às pessoas idosas.

Método

Tipo do estudo

Revisão integrativa (RI) da literatura, desenvolvida em seis etapas, seguindo um modelo proposto20, sendo elas: (1) elaboração da questão da RI; (2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão dos estudos primários e busca na literatura; (3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos primários; (4) avaliação da qualidade metodológica dos estudos primários incluídos; (5) interpretação dos resultados; e (6) apresentação da revisão/síntese do conhecimento20.

Na primeira etapa formulou-se a pergunta de pesquisa, utilizando a estratégia PICO, em que a população (P) refere-se aos idosos, a intervenção (I) ao uso de mídias sociais e o desfecho (D) à solidão e/ou ao isolamento social. Com essas informações, elaborou-se a seguinte questão norteadora: “Qual é o conhecimento disponível sobre o uso de mídias sociais na percepção de solidão e/ou no isolamento social em idosos?”.

Cenário e critérios de seleção

Com a questão de pesquisa definida, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: estudos primários publicados na íntegra, nos idiomas português, inglês e espanhol, no período de 01 de setembro de 2014 a 31 julho de 2020; estudos com abordagem do tema uso de mídias sociais na percepção de solidão e/ou no isolamento social de idosos. Constituíram critérios de exclusão: estudos com dados secundários, cartas, editoriais, relatos de experiência, revisões, trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses, sem livre acesso, estudos que não se adequavam ao tema ou à população de estudo.

Os termos foram identificados após consulta nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual em Saúde e do Medical Subject Headings (MeSH/PubMed). As bases de dados eletrônicas consultadas foram: APA PsycNET (American Psychological Association Database), Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature (CINAHL), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências de Saúde), Web of Science e PubMed. O acesso às bases de dados para realizar a estratégia de busca ocorreu no dia 14 de agosto de 2020.

As estratégias utilizadas para busca estão apresentadas na Figura 1.

Figura 1
Estratégias de busca nas bases de dados. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2020

Após a realização da terceira etapa, os estudos foram exportados para o aplicativo Rayyan21, desenvolvido pelo QCRI (Qatar Computing Research Institute), e removidas as duplicatas. Três revisores participaram desta etapa do estudo: dois avaliaram de forma independente todos os títulos e resumos que atendiam aos critérios de seleção da revisão (R.M e I.L) e, mediante divergências, um terceiro revisor (M.D.) procedeu a avaliação. Assim, após a leitura de títulos e resumos foram selecionados os estudos elegíveis para leitura na íntegra, com base nos critérios de elegibilidade da revisão. Na Figura 2 apresenta-se o fluxograma de identificação e seleção dos estudos primários conforme as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA)22 (Figura 2).

Figura 2
Fluxograma de seleção dos estudos incluídos na revisão integrativa. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2020

Coleta de dados e instrumento

O desenvolvimento23 da coleta de dados dos estudos incluídos ocorreu por meio do registro em formulário contendo: ano de publicação, país de origem, periódico de publicação, objetivos, procedimentos metodológicos (tipo de estudo, características da amostra, presença de intervenção), resultados, conclusões e limitações da pesquisa. Destaca-se que a extração dos dados também foi realizada por dois revisores independentes (R.M e I.L) e as divergências resolvidas por um terceiro revisor (A.G).

Análise dos dados

Para a avaliação do rigor metodológico dos estudos incluídos, aplicou-se a ferramenta Critical Appraisal Skills Programme (Figura 3)24. A avaliação da qualidade metodológica dos estudos primários foi realizada por dois revisores de forma independente e, diante de divergências, houve a participação de um terceiro revisor.

Os estudos sobre o uso de mídias sociais na percepção de solidão e/ou no isolamento social em idosos foram agrupados em três categorias: uso da internet (sites de redes sociais, internet, aplicativos), dispositivos de comunicação (smartphone, tablet, iPad) e tipos de comunicação (videochamada, e-mail, sistema de computador).

Na sequência, houve a interpretação dos resultados e a síntese do conhecimento identificado para posterior discussão com a literatura.

Figura 3
Avaliação do rigor metodológico dos 11 artigos incluídos. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2020

Resultados

Os resultados desta RI correspondem à análise dos 11 artigos científicos publicados, todos na língua inglesa. Em relação às bases de dados, houve maior número de artigos publicados em periódicos indexados na base PubMed (n=6), seguida por PsycNET (n=2), CINAHL (n=2) e Web of Science (n=1). Quanto ao ano de publicação, dois artigos foram publicados em 2015, um em 2017, dois em 2018, cinco em 2019 e um em 2020. Com relação ao delineamento de pesquisa, foram identificados estudos primários com delineamento quantitativo (n=5), métodos mistos (n=3) e qualitativos (n=3). Não foram identificados estudos primários nacionais que respondessem à pergunta de pesquisa. Os estudos analisados foram desenvolvidos nos seguintes países: Estados Unidos da América (n=2), Reino Unido (n=2), China (n=2), Holanda (n=1), Suécia (n=1), África do Sul (n=1), Índia (n=1) e Canadá (n=1).

Analisou-se a qualidade dos 11 estudos conforme informações apresentadas na Figura 3. Quatro apresentaram resultados parciais na análise de rigor metodológico, sendo dois com metodologia parcialmente adequada para obtenção dos resultados, um com desenho de pesquisa parcialmente adequado para alcance dos objetivos propostos e outro com estratégia de recrutamento superficial. Contudo, todos apresentaram resultados condizentes com os objetivos propostos e, portanto, foram incluídos na revisão.

A Figura 4 apresenta as seguintes informações: autores e anos de publicação, objetivos, delineamentos dos estudos, principais resultados e conclusões dos artigos incluídos na RI.

Figura 4
Síntese dos estudos incluídos na revisão integrativa. Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2020

Diante dos resultados, foi possível identificar diferentes tipos de tecnologias utilizadas nos estudos. Para melhor compreensão, essas tecnologias foram divididas em três categorias: “o uso da internet”, englobando sites de redes sociais, internet e aplicativos, encontrado em quatro (4) estudos; “dispositivos de comunicação”, que reuniu informações referentes ao uso de smartphones, tablets e iPads, tendo sido incluídos nesta categoria quatro (4) estudos; e “tipos de comunicação”, que abrangeu os meios de comunicação interpessoal na era digital, tais como videochamadas, e-mails e programas computacionais, sendo incluídos três (3) estudos nesta categoria.

Sete (63,6%) estudos incluídos apresentaram resultados positivos sobre o uso de mídias sociais para minimizar a percepção de solidão e/ou o isolamento social dos idosos. Os estudos apontaram que uma abordagem simplificada e a capacitação prévia dos idosos para uso das TICs tiveram resultados positivos na interação com a família, na melhora na qualidade de vida, no acesso a informações e na maior participação social. Portanto, os resultados demonstram que o uso de mídias sociais tem impacto na redução da percepção de solidão e/ou no isolamento social dos idosos. Por outro lado, 36,3% (n=4) publicações destacaram a necessidade de desenvolvimento de estudos mais robustos, para melhor avaliação do impacto da baixa autoestima do idoso e da baixa participação da família e de suporte social como barreiras para o uso das tecnologias e internet.

Discussão

O conhecimento disponível na literatura evidenciou que o uso de mídias sociais tem o efeito de reduzir a percepção de solidão e/ou o isolamento social em idosos. Os estudos analisados na RI indicaram que o uso da internet pode favorecer um maior contato dos idosos com suas famílias e servir como fonte de apoio. Outros benefícios incluem a sensação de maior controle de suas vidas, melhor senso de pertencimento em uma comunidade e redução da solidão, sugerindo que o auxílio dos idosos no uso da internet tem valor considerável26-27,29-30,35.

Tais resultados vão ao encontro de uma pesquisa de base populacional realizada com 1.197 idosos residentes da área urbana de Florianópolis, no estado de Santa Catarina, a qual analisou o uso da internet nessa população e identificou mudanças em fatores sociodemográficos e de saúde associadas a este hábito durante quatro anos. Segundo os autores, o uso da internet para comunicação e informação está associado à melhoria do bem-estar mental, contribuindo para que o idoso tenha mais oportunidades de viver de forma independente36.

Contudo, alguns estudos desta RI não identificaram efeito positivo do uso de mídias sociais na solidão e/ou no isolamento social em idosos, a exemplo da pesquisa25 em que o uso de sites de redes sociais não demonstrou relação com a solidão e/ou saúde mental. Tal resultado indica que essa associação não pode ser automaticamente assumida em idosos residentes na comunidade25. Em outro estudo, também não houve melhora percebida em relação aos sintomas depressivos35. Assim, é necessário buscar estratégias de inclusão digital para idosos, além de enfatizar a identificação de sintomas relacionados a quadros de depressão, solidão e isolamento social, para que o uso das mídias sociais seja mais efetivo e eficaz, no sentido de possibilitar ao idoso melhores resultados em sua interação e participação social.

No Reino Unido, idosos que participaram de sessões de aprendizado computacional em grupo apresentaram maior tendência à redução da solidão quando comparados àqueles incluídos em sessões individuais26. Vale salientar que os idosos se sentiram mais seguros nas sessões com professores também idosos, de modo que houve reconhecimento e incentivo aos participantes do estudo26.

Dentre as tecnologias mais utilizadas e com melhores resultados, as videochamadas foram destacadas29, por permitirem contato visual. Esse fato também contribuiu para que fossem avaliadas como mais úteis para reduzir a solidão quando comparadas às chamadas telefônicas ou a correspondências escritas. A linguagem corporal interfere tanto na expressão quanto na receptividade das pistas sociais, reduzindo a distância social percebida. Essas expressões podem ser vistas como um sistema de engajamento social ativo capaz de reduzir a distância psicológica, favorecer a percepção no engajamento de outras pessoas e minimizar sentimentos de solidão e de isolamento social29,37. Especialmente na sociedade moderna, quando a comunicação face a face tem diminuído, torna-se necessário criar métodos alternativos para manter a comunicação satisfatória29.

No entanto, faz-se necessária atenção às particularidades da população idosa. No estudo28 que avaliou o uso de um sistema operacional de computador desenvolvido especialmente para idosos de forma simplificada, foram identificados resultados positivos, pois apresentava um design simples e claro, com fáceis comandos em uma tela maior. O sistema operacional chamado PRISM mantinha uma interface para acesso à internet (com links verificados para sites), a um guia de recursos com anotações, recursos para sala de aula, calendário, fotos, e-mail, jogos e ajuda on-line. Todos os participantes receberam capacitação para a utilização do sistema, além de um canal exclusivo para suporte. Além do impacto na diminuição da solidão e aumento do apoio social, os idosos relataram melhora no dia a dia, facilidade em lidar com situações e eficiência na realização de tarefas, dada a facilidade de manuseio do sistema.

Por outro lado, a pesquisa29 que utilizou um celular sobre uma estrutura com rodas apresentou críticas em virtude do design peculiar, sendo considerada uma barreira para o uso por idosos residentes em ILPI. Os pontos mais criticados foram: instabilidade de conexão com a internet, ansiedade em manusear uma tela com dimensões pequenas e desinteresse da equipe de cuidadores em auxiliar os idosos no manuseio do celular. Esses fatores contribuíram para a falta de interesse na participação da dinâmica de interação social dos idosos.

Como um meio de controle de situações como esta, pesquisadores36 sugerem a inclusão do assunto em cursos de formação para cuidadores, para potencializar o uso de tecnologias digitais na prevenção de agravos no envelhecimento. O elevado tempo dedicado aos cuidados dos idosos restringe o uso das tecnologias pelos cuidadores e, dessa forma, acabam deixando de atribuir a devida importância, influenciar e auxiliar o idoso no uso das tecnologias.

Embora o uso da internet possa beneficiar os idosos reduzindo o isolamento social, apenas uma minoria tem acesso a este recurso26,28. Muitos idosos são excluídos digitalmente por diversos motivos, como alto custo do acesso e falta de conhecimento sobre o uso, entre outros fatores que pioram com o aumento da idade. Os idosos com 80 anos ou mais são os menos propensos a adotar as tecnologias, permanecendo na exclusão digital28,36.

Não foram encontradas pesquisas brasileiras que respondessem à pergunta principal desta RI, o que pode evidenciar como se dá esse processo no cuidado aos idosos, assim como o baixo acesso e a escassez de capacitação e recursos tecnológicos para idosos. Importante destacar que ter acesso à tecnologia não é suficiente para que o idoso tenha, de fato, acesso à internet, visto que isso demanda mão de obra qualificada para capacitação e suporte, principalmente considerando a grande percentagem de idosos brasileiros analfabetos. Mesmo em estudos em países desenvolvidos, deve-se destacar que, embora a sociedade esteja cada vez mais tecnológica, é necessário ampliar o número de interfaces tecnológicas voltadas aos idosos (tais como sistemas operacionais de fácil acesso e design com letras maiores), tendo em vista a preferência desta parcela da população por televisão, até mesmo comparada ao telefone comum, dada a dificuldade de manuseio de smartphones, tablets e computadores. Assim, o oferecimento de capacitação e suporte aos idosos pode auxiliar na melhora das medidas de confiança e conhecimento do uso da internet, o que, por sua vez, pode levar ao aumento da sua utilização26.

A tecnologia e o uso da internet apresentam resultados importantes no combate ao isolamento social e à solidão, pois ampliam as oportunidades de conexão social. No entanto, estudos sobre a implementação e viabilidade de intervenções tecnológicas entre idosos ainda são escassos e devem ser desenvolvidos de forma criteriosa 32.

Estudo38 realizado no Brasil acompanhou 1.593 idosos e concluiu que relações sociais fortalecidas desempenham papel mediador na sobrevivência e, portanto, faz-se necessário adaptar medidas para o fortalecimento dessas relações. Sobretudo em um contexto de isolamento social, a internet e as mídias sociais podem ser grandes facilitadores de um maior convívio com familiares e amigos.

Embora a presente RI tenha sido desenvolvida com rigor científico, algumas limitações foram identificadas. A primeira delas se refere à inclusão somente dos artigos disponíveis gratuitamente, o que pode ter contribuído para a não inclusão de estudos relevantes para a síntese proposta. Uma segunda limitação se refere à elevada quantidade de conteúdo textual apresentada no quadro-síntese dos artigos, o que pode tornar a leitura cansativa; porém, pela natureza da temática e dos objetos de estudo, julgou-se relevante manter o conteúdo apresentado. A terceira limitação se refere aos artigos sobre a temática de interesse, mas que não atendiam aos critérios de seleção preestabelecidos, inclusive os desenvolvidos durante a pandemia da COVID-19, que podem ter sido excluídos automaticamente durante o processo de seleção. Ademais, não foram identificados estudos primários nacionais que respondessem à pergunta de pesquisa, o que caracteriza uma lacuna deste conhecimento na população brasileira.

Recomenda-se, assim, a realização de outras revisões incluindo os anos da pandemia, pois, provavelmente, apresentarão novas evidências que poderão ser complementadas para melhor compreensão dos resultados em situações de isolamento social com caráter obrigatório.

Dessa forma, situações de solidão e isolamento social do idoso devem ser avaliadas pela família e profissionais da área de saúde, cabendo aos responsáveis identificar as mídias sociais disponíveis para cada população e direcioná-las à sua situação. De modo geral, deve-se reconhecer que as mídias sociais já fazem parte do cotidiano da sociedade e, portanto, faz-se necessário assumir o compromisso de apoiar aqueles que necessitam de ajuda no seu dia a dia para acesso a essas tecnologias, uma vez que podem minimizar a percepção de solidão e o isolamento social.

Conclusão

Esta RI apresentou a síntese do conhecimento disponível acerca do impacto do uso de mídias sociais digitais na percepção de solidão e no isolamento social em idosos. As evidências demonstraram que a utilização destas mídias pode reduzir a percepção de solidão e/ou o isolamento social em idosos.

Diante de exposto, o enfermeiro e outros profissionais, no contexto da assistência gerontológica, devem estar preparados para identificar a presença da percepção de solidão e isolamento social entre os idosos. Tal condição contribuirá para o planejamento da assistência, neste caso integrada à implementação de estratégias com o uso de mídias sociais, com vistas a reduzir a percepção de solidão e o isolamento social e, consequentemente, promover melhora da saúde mental e física dos idosos.

Verificou-se que o uso da internet pode favorecer o contato entre idosos e seus familiares e outras pessoas, servir como fonte de apoio, contribuir para maior senso de controle de suas vidas, maior senso de pertencimento em uma comunidade e redução da solidão. Dessa forma, considera-se que o seu uso tem valor considerável para os idosos. O acesso à internet pode ser considerado importante na diminuição das barreiras de isolamento, além de estimular a maior participação social na comunidade.

Assim, as evidências científicas podem contribuir para o aprimoramento da assistência interprofissional, subsidiando a implementação de intervenções com o uso de mídias sociais, a fim de reduzir a solidão e o isolamento, bem como prevenir agravos e melhorar a qualidade de vida.

Referências

  • Errata
    Na página 1, onde se lia:
    “Artigo Original”
    Leia-se:
    “Artigo de Revisão”

Editado por

  • Editora Associada
    Sueli Aparecida Frari Galera

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    12 Ago 2021
  • Aceito
    16 Jan 2022
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