RESUMOS DE TESES E DISSERTAÇÕES
Relações raciais em livros didáticos de Língua Portuguesa
Paulo Vinicius Baptista da Silva
RESUMO
A tese efetuou análise dos discursos sobre os segmentos raciais negros e brancos em livros didáticos de Língua Portuguesa para a quarta série do ensino fundamental, publicados entre 1975 e 2004. A análise foi produzida nos contextos interpretativos da teoria da ideologia (J.B.Thompson, 1995) e dos estudos contemporâneos sobre discursos racistas. Além disso, manteve como foco os possíveis impactos da movimentação em torno do tema na produção de discurso racista em livros didáticos de Língua Portuguesa, procurando apreender permanências e mudanças dos discursos no período considerado, adotando, para tanto, uma perspectiva diacrônica. Foi adotada a proposta metodológica de Hermenêutica de Profundidade/HP (J.B.Thompson, 1995), envolvendo três etapas. A primeira foi a análise sócio-histórica, tendo como objetivo analisar os contextos específicos e socialmente estruturados nos quais as formas simbólicas foram produzidas e reproduzidas. A segunda, a análise formal ou discursiva, consistiu na análise interna às próprias formas simbólicas, na qual buscou-se integrar técnicas de análise de conteúdo, baseadas em Laurence Bardin (1985) e Fúlvia Rosemberg (1981). A terceira, a interpretação/reinterpretação da ideologia, operação de síntese que buscou articular os resultados das fases anteriores. Para a análise quantitativa foi analisada amostra de 252 unidades de leitura, retiradas de 33 livros didáticos de Língua Portuguesa para a 4ª série do ensino fundamental, nas quais foram observados 1.372 personagens nos textos e 650 personagens nas ilustrações. Foram também analisados 120 personagens observados nas ilustrações das capas dos 33 livros. A análise do contexto de produção dos livros didáticos de Língua Portuguesa e a análise formal permitiram desenvolver a tese que, a despeito de toda a movimentação no campo de produção dos livros didáticos, do tema racismo nos livros didáticos ter participado na agenda das políticas educacionais brasileiras, das avaliações promovidas pelo Ministério da Educação/MEC, o livro didático continuou produzindo e veiculando discurso racista. Os livros didáticos de Língua Portuguesa apresentaram modificações após o início do ciclo de avaliações do Programa Nacional do Livro Didático/PNLD, mas continuaram produzindo e veiculando discurso que universaliza a condição do branco, tratando-o como representante da espécie, naturaliza a dominação branca e estabelece os personagens brancos como interlocutores potenciais dos textos, estigmatiza o personagem negro, o situando como out-group, mantendo-o circunscrito a determinadas temáticas e espaços sociais e há uma tendência à passifização dos personagens negros, mantidos como dependentes, sem acesso à fala e com menor possibilidade de ação nas tramas. Na conclusão, refletimos sobre as limitadas possibilidades de mudanças no discurso veiculado pelos livros didáticos de Língua Portuguesa, que amiúde reproduz discurso racista produzido em outros meios, particularmente na literatura infanto-juvenil, na literatura e na mídia escrita.
Palavras-chave: relações raciais, livros didáticos, discurso racista, negros.
ORIENTADORA: Profª Drª Fúlvia Maria de Barros Mott Rosemberg
NÍVEL: Doutorado em Psicologia
INSTITUIÇÃO: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
ANO DA DEFESA: 2005
A cultura jovem e suas relações com a Educação Física Escolar
Rosicler Terezinha Goedert
RESUMO
O objetivo principal desta pesquisa foi verificar como se enredam as práticas culturais juvenis às práticas escolares de Educação Física em determinado processo de escolarização, focalizando o significado da cultura jovem na constituição da Educação Física como disciplina escolar. Para tanto, foram observadas as práticas de professores de Educação Física em conjunto com as experiências vividas pelos jovens do Ensino Médio de uma escola pública da cidade de Curitiba, Paraná, Brasil. A análise destas práticas partiu da compreensão da juventude como categoria sóciohistórica e cultural bem como do pressuposto de que a inserção do jovem no contexto escolar promove a constituição do "sujeito jovem escolar" (EDWARDS, 1997; CHARLOT, 2000), permitindo o reconhecimento de sua "condição de jovem" (BOURDIEU, 1980; MARGULIS, 2000) diante das práticas escolares na constituição do "código disciplinar" da Educação Física (FERNÁNDEZ CUESTA, 1998). Além do material empírico produzido em observações participantes - que configuram esta pesquisa como um estudo de caso com características etnográficas -, foram analisados documentos e entrevistas com sujeitos envolvidos nas práticas relacionadas à Educação Física. Para a análise deste conjunto de dados (práticas, entrevistas e documentos), partiu-se do pressuposto de que a escola pública é um espaço da experiência social (DUBET, 1994) que, como tal, estabelece formas de desenvolver determinadas ações e põe em prática certas estratégias pedagógicas articuladas com a cultura juvenil. Na realização destas ações, destacam-se o fato de a juventude viver a sua cultura via prática esportiva, especificamente o futebol, e a receptividade que os docentes e a própria cultura da escola têm deste esporte, o qual é caracterizado na história da Educação Física como um dos elementos forjadores das políticas para a juventude e também constitutivo do "código disciplinar" da Educação Física no Brasil. Esta pesquisa concluiu que o enredamento da prática esportiva do "sujeito jovem escolar" às práticas escolares se dá pela identificação entre ambas, de modo que a cultura juvenil é assumida como natural pelos sujeitos escolares, produzindo determinadas práticas de Educação Física, quais sejam, a adoção do futebol como conteúdo principal das aulas de Educação Física e a ligação entre estas aulas e os Jogos Intercolegiais do Bairro (JIBA). Convém assinalar que os JIBA têm forte matiz política. Desta forma, estas práticas geradas pelo enredamento constituem e movimentam a cultura da escola, reproduzindo certos mecanismos próprios de uma cultura política de matiz conservador.
Palavras-chave: cultura juvenil, educação física, escolarização.
ORIENTADORA: Profª Drª Maria Auxiliadora Schmidt
NÍVEL: Doutorado em Educação
INSTITUIÇÃO: Universidade Federal do Paraná
ANO DA DEFESA: 2005
Criança e adolescente em situação de rua - políticas e práticas sociopedagógicas do poder público em Curitiba
Sônia Guariza Miranda
RESUMO
A proposta que orienta este estudo é investigar como, na área de políticas públicas e respectivas práticas sociopedagógicas para a criança e o adolescente em situação de rua no Brasil, o Estado Capitalista tem lidado com as estratégias de resistência e oposição da sociedade civil. A concepção teórico-metodológica de suporte do estudo foi o materialismo histórico e dialético, tomando-se como categorias metodológicas a totalidade e a contradição, e como categorias de conteúdo, a hegemonia do capitalismo exercida pelo poder público, a subalternidade e a identidade social de crianças e adolescentes em situação de rua. O estudo envolveu uma perspectiva histórica de análise, cobrindo desde o Brasil Colônia até o emergir do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990. Na pesquisa de campo, desenvolvida em Curitiba, foi considerado o período imediatamente posterior à promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, até o ano de 2004, objetivando: a) a análise das dinâmicas de discussões entre o poder público e da sociedade civil como componentes do COMTIBA - Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente de Curitiba, e respectivas políticas públicas formuladas, expressas nas atas de suas reuniões desde sua criação em 1992 até 2003; b) a apreensão e análise das práticas sociopedagógicas presentes em programas sob a responsabilidade do poder público municipal de Curitiba, em 2003 e 2004, destinados a crianças e adolescentes em situação de rua, a partir de depoimentos de gerentes, coordenadores e educadores sociais que atuam nestes programas. Na análise dos dados foi possível estabelecer a unidade dialética constituída pela hegemonia exercida pelo poder público e a subalternidade dos educandos e, em muitos momentos, das coordenações e educadores sociais. Também se objetivou, neste estudo, a busca de subsídios para a proposição de uma pedagogia voltada para a área da criança e do adolescente em situação de rua e de risco social e pessoal, tendo-se como resultante a proposição da Sócio-Pedagogia, fundamentada na Pedagogia Socialista e na Psicologia Social latino-americana.
Palavras-chave: criança e adolescente, políticas públicas, sociopedagogia, pedagogia socialista, psicologia social.
ORIENTADORA: Profª Drª Maria de Fátima Quintal de Freitas
NÍVEL: Doutorado em Educação
INSTITUIÇÃO: Universidade Federal do Paraná
ANO DA DEFESA: 2005
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
08 Set 2014 -
Data do Fascículo
Dez 2005