Open-access Editorial

Esse editorial trata da reorganização dos trabalhos no comitê editorial da Revista de Sociologia e Política. Com ele tornamos pública a criação da empresa Lucas Massimo Editor de Periódicos LTDA – ME, e apresentaremos o novo integrante do nosso comitê editorial, o colega Paulo Franz.

Como é de conhecimento público, o programa SciELO possui três linhas de ação elementares: a internacionalização, a profissionalização e a sustentabilidade. Essas linhas de ação afetam diretamente as atividades de quem administra os periódicos que integram a coleção, mas recentemente um novo protocolo tem afetado em particular os autores dos manuscritos. A novidade são as plataformas de gerenciamento de submissões online, sejam elas versões adaptadas do Open Journal System (OJS), que operam segundo os princípios do Public Knowledge Project (PKP), seja a plataforma ScholarOne®, uma ferramenta (paga) produzida pela Thompson Reuters, cujo acesso é franqueado gratuitamente para as revistas da coleção SciELO Brasil.

O emprego dessas ferramentas tem pelo menos duas consequências para a comunidade de autores: em primeiro lugar todos sabemos que a submissão se tornou mais laboriosa, e ela toma mais tempo de quem gostaria de ter seu artigo avaliado pelas revistas da coleção. Além disso, graças a essas plataformas é possível acompanhar a evolução do artigo no processo de submissão, e saber, por exemplo, se o manuscrito foi ou não enviado para avaliação anônima sem acionar os editores. Em março de 2014, quando inauguramos o ScholarOne® na Revista de Sociologia e Política, dizíamos não estar seguros “para afirmar se o que está em curso é a profissionalização do autor ou a burocratização da submissão. Na verdade, talvez haja um pouco de ambas, mas é inegável que tudo o que se perde com o tempo de normalização é ganho em termos de impessoalidade e agilidade do processo de avaliação (…) Portanto, parece que estamos caminhando para a efetiva racionalização das rotinas editoriais.” (Editorial 2014, p.2)

O uso de sistemas para gerenciamento online das submissões é uma dimensão prática sobre como as linhas de ação da SciELO afetam toda a comunidade envolvida na publicação de textos acadêmicos. Nesse contexto a profissionalização das rotinas editoriais é um movimento incontornável, haja vista a expansão na quantidade de pesquisadores interessados em tornar públicos os resultados de suas investigações. Ademais, recentemente apareceram novas ferramentas para aperfeiçoar a comunicação científica. Diante disso não é razoável imaginar que conduziremos o trabalho nas revistas em 2020 da mesma maneira que fazíamos em 2010.

Uma maneira simples de observar a aceleração do fluxo de submissões é mensurar a quantidade de artigos recebidos anualmente. Normalmente os periódicos fazem essa conta demonstrando o total de artigos submetidos no curso de doze meses (no editorial de junho de 2017 nós apresentaremos esse dado), mas essa medida pode ser obtida em qualquer época do ano. Esse editorial está sendo escrito em 01 de março de 2017, e decorridos 59 dias desse ano, já recebemos 37 submissões. A Tabela 1 faz essa comparação com os anos anteriores.

Tabela 1
Comparação do tempo decorrido entre o primeiro dia do ano até a data da trigésima sétima submissão na Revista de Sociologia e Política (2014 a 2017)

A Tabela 1 contém duas informações relevantes. Logo de saída percebe-se a expansão contínua na quantidade de submissões espontâneas, pois o tempo decorrido até a chegada da trigésima sétima submissão sempre tem sido inferior em relação ao ano anterior. Isso significa que o fluxo de tarefas se acelerou, e deve tomar mais energia do comitê editorial. Em 2014, quando todos os artigos submetidos para nossa avaliação chegaram via ScholarOne®, o tempo decorrido até a 37ª submissão foi de 132 dias, mais do que o dobro dos 59 dias observados em 2017 (a razão, em termos percentuais, é de 223,7%).

Por outro lado, se é verdade que as submissões espontâneas vêm aumentando ao longo dos anos, também se pode observar uma pequena desaceleração dessa expansão. Fixando a submissão de número 37 como base para comparação, observamos que a aceleração nas submissões espontâneas se reduziu se compararmos os biênios 2014-2015 e 2015-2016 (quando o aumento estava na faixa de 133%), com o com o biênio 2016-2017 (quando o aumento foi de 125,4%). Ainda que sutis, essas ligeiras variações podem1 ser um termômetro para o planejamento do nosso trabalho. Com base nesses valores esperamos uma elevação na quantidade de artigos que serão recebidos nos próximos anos, mas ainda não sabemos qual será o patamar2 em que se deve estabilizar o total de artigos enviados para o nosso periódico anualmente.

Essa comparação é importante para afastar qualquer especulação em relação a um eventual “desestímulo” para submissões por parte dos autores. Havia, naturalmente, um receio sobre como a comunidade receberia o ScholarOne® na Revista de Sociologia e Política, mas com o passar dos anos o aumento nas submissões espontâneas realizadas pela plataforma revela que esse receio não possuía fundamentos.

O levantamento dessas informações pelas revistas é o efeito prático da profissionalização das rotinas editoriais, e o tempo sempre será a melhor medida da qualidade da gestão editorial – é importante frisar, isso não se refere à qualidade dos manuscritos que são publicados, mas apenas e tão somente ao processo de avaliação. Isso significa que todos os procedimentos que se repetem na comunicação entre autores, pareceristas e editores precisam ser controlados, ou seja, eles devem ser padronizados e mensurados sistematicamente. É assim que podemos oferecer a todos os autores um monitoramento em tempo real de suas submissões por meio de nossa plataforma: nosso periódico contém uma legenda que explica com pormenores como interpretar as informações que aparecem no campo “status” da submissão. Ademais, em posse de tais informações, os editores podem montar estratégias realistas de ação, vale dizer, com base em um retrato mais ou menos verossímil acerca da relação que se estabelece, por meio da Revista, com a comunidade de autores e leitores que faz a nossa publicação persistir. Como se vê, não basta ter acesso às plataformas de avaliação, mas é preciso utilizar elas tendo por base valores como transparência e agilidade na comunicação científica. Do nosso ponto de vista é isso que significa a profissionalização da gestão editorial.

Via de regra a contratação de profissionais especializados para trabalhar em revistas acadêmicas ocorre na fase de finalização dos manuscritos aprovados para a publicação. A profissionalização da editoração dos periódicos é diferente, pois ela se refere a uma etapa anterior, que é a arbitragem dos artigos submetidos para avaliação. Essa distinção é tão clara na Revista de Sociologia e Política que decidimos dar a ela um caráter formal, e isso foi feito por meio da constituição de uma empresa especializada na gestão do nosso fluxo de tarefas, a Lucas Massimo Editor de Periódicos LTDA-ME, que a partir de 2017 passa a ser o nosso Publisher.

A função do Publisher ainda é pouco conhecida no Brasil. Normalmente essa palavra é utilizada para designar grandes organizações que fazem a gestão dos periódicos de altíssimo impacto na comunidade internacional. São grandes corporações que, supomos, oferecem uma carteira bastante diversificada de serviços aos editores das revistas científicas. No Brasil há empresas bastante consolidadas no ramo da composição, diagramação, além daqueles profissionais especializados na marcação em linguagem XML. Também existem empresas que estão oferecendo serviços de assessoramento técnico na gestão do fluxo de avaliação. A maior parte dessas empresas oferece uma customização das plataformas de avaliação (lembrando que o código fonte de sistemas OJS é aberto) a partir das demandas dos editores das revistas3, mas a função específica dos editores ainda continua sendo exercida por professores universitários (alguns poucos com redução de sua carga horária em atividades docentes), ou por bolsistas de pós-graduação (que, ao final de suas dissertações ou teses, se desvinculam das revistas, não raro quando aprendem a trabalhar nelas).

A profissionalização da editoração científica deve portanto presumir a constituição de um corpo técnico permanente e especializado na avaliação dos manuscritos pelo sistema duplo cego. Anunciamos nesse editorial, a constituição de um dos primeiros Publishers brasileiros, e esperamos com isso continuar consolidando a profissionalização da gestão do nosso fluxo de tarefas.

Nos próximos dias quem acessar a página do nosso corpo editorial perceberá uma alteração no modo como informamos a divisão das tarefas dentro do comitê. Os professores Adriano Nervo Codato, Paulo Roberto Neves Costa e Renato Monseff Perissinotto serão listados como os editores fundadores da Revista de Sociologia e Política. A função de editor executivo é exercida por Lucas Massimo, e além disso listamos dois editores associados: Adriano Codato é o editor associado sênior, e Bruno Bolognesi é o editor associado júnior. Procuramos com isso explicitar a diferença no tempo em que cada editor associado trabalha no periódico. Os editores associados e o editor executivo são os responsáveis pela condução da avaliação em análise preliminar, o processo que também é conhecido como análise em desk review.

Finalmente, anunciamos a entrada de mais um colaborador em nosso corpo técnico. A partir de 2017 o colega Paulo Franz vai trabalhar na Revista de Sociologia e Política. Os autores que submeterão artigos para nosso periódico nos últimos dois anos já estão familiarizados com Karolina Mattos Roeder. Karolina é a responsável por fazer a primeira análise de todos manuscritos que recebemos pela plataforma ScholarOne®. Cabe a ela verificar se os autores anexaram corretamente o formulário de resumo estruturado, fazer o controle das citações que podem revelar a autoria no interior da mancha gráfica, e além disso, observar se todos os elementos flutuantes foram discutidos no documento. É um trabalho minucioso, que deve ser feito para cada submissão, e se situa na primeira ponta do processo de arbitragem. Paulo Franz trabalhará na outra extremidade da linha de produção, se detendo apenas sobre os manuscritos que já foram aprovados: caberá a ele a função de normalização dos elementos flutuantes, e, além disso, ele vai coordenar o processo de provas junto aos autores dos manuscritos já diagramados, uma das últimas tarefas que precede a publicação eletrônica. Seguindo a regra do tempo de participação no comitê, Karolina será a secretaria executiva sênior, e Paulo será o secretário executivo júnior. A revisão dos nossos manuscritos continua sendo realizada por Fernando Leite (responsável pela Libido Sciendi). A composição dos PDFs e a marcação em XML dos manuscritos segue sob a direção de Carlos Mores (responsável pela Arquivo Digital Assessoria em Documentação Eletrônica LTDA).

Gostaríamos de agradecer aos nossos apoiadores e financiadores pelos recursos aprovados para arcar com as despesas do periódico em 2016. Nosso reconhecimento público ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo “Programa de Apoio a Publicações Científicas”. Gostaríamos de agradecer também ao patrocínio do Curso de Especialização pago em Sociologia Política da UFPR pelo aporte constante de recursos ao longo de todos esses anos, recursos sem os quais a Revista de Sociologia e Política não mais existiria.

Lucas Massimo

  • 1
    Essa é uma mensuração instantânea da aceleração das submissões espontâneas, e por isso está sujeita à variações sazonais importantes, como feriados, o calendário de eventos acadêmicos, o período de defesas de teses, entre muitos outros fatores que podem influenciar esse indicador.
  • 2
    Quando esses valores oscilarem próximos a 1 (ou 100%) nas mesmas épocas do ano saberemos qual é o nosso patamar.
  • 3
    Foi exatamente esse trabalho que realizamos na Revista de Sociologia e Política em 2013, quando configuramos o nosso ScholarOne®.

Referência

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Mar 2017
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