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Confiabilidade da eficiência mastigatória com beads e correlação com a atividade muscular

Resumos

TEMA: a avaliação da eficiência mastigatória pela análise colorimétrica com beads, pode ser um método promissor, mas não há relatos sobre a sua confiabilidade. OBJETIVO: investigar a confiabiabilidade das beads para teste de eficiência mastigatória e a correlação com a atividade eletromiográfica dos músculos masseter e temporal anterior. MÉTODO: participaram dezenove sujeitos adultos jovens, nove do gênero masculino e dez do feminino com idades entre dezoito e vinte-oito anos, com dentição completa, sem histórico de desordem temporomandibular, trauma, cirurgia na região de cabeça e pescoço, tratamento ortodôntico ou fonoaudiológico. O teste de eficiência mastigatória foi realizado com beads nas condições: mastigação habitual, mastigação unilateral direita e esquerda, com duração de 20 segundos. Simultaneamente, foi realizada a eletromiografia. A atividade em máxima intercuspidação habitual dos dentes também foi registrada. A quantidade de fucsina liberada após a mastigação foi medida usando o espectrofotômetro Beckman DU-7 UV-Visible (Beckman Inc., Palo Alto, CA, USA). RESULTADOS: houve alta confiabilidade do teste de eficiência mastigatória (r = 0,86, p < 0,01) e correlação significante com a atividade eletromiográfica (r = 0,76, p < 0,01). Também houve correlações positivas quando as provas foram analisadas separadamente. CONCLUSÃO: o teste de eficiência mastigatória realizado com beads mostrou-se um método confiável e correlacionado positivamente à atividade eletromiográfica dos músculos temporal anterior e músculos masseter.

Mastigação; Eficiência; Eletromiografia; Músculos Mastigatórios


BACKGROUND: the use of the colorimetric method with beads to evaluate mastigatory efficiency may be promising, however no report is found about its reliability. AIM: to investigate the reliability of the beads to test masticatory efficiency and its correlation with the electromyographic activities of the anterior temporal and masseter muscles. METHODS: participants of this study were nineteen young adults, nine males and ten females, aged eighteen to twenty-eight years, with full dentition, Angle class I, with no history of temporomandibular disorder, neurological or cognitive deficit, previous or current tumors or traumas in the head and neck region, and orthodontic treatment or orofacial myofunctional therapy. The masticatory efficiency test was performed using beads, fuchsine-containing granules, in the folowing conditions: habitual chewing, right and left unilateral chewing, for 20 seconds. Electromyographic recordings were obtained simultaneously. Also, the maximal clenching was registered. The amount of fuchsin released upon chewing was measured using a Beckman DU-7 UV-Visible Spectrophotometer (Beckman Inc., Palo Alto, CA, USA). RESULTS: high reliability was observed for the masticatory efficiency test (r = 0.86, p < 0.01) and correlation with the electromyographic activities (r = 0.76, p < 0.01). Also, positive and significant correlations were observed when the conditions were separately analyzed. CONCLUSION: the masticatory efficiency test performed with beads proved to be a reliable method and positively correlated to the electromyographic activities of the anterior temporal and masseter muscles.

Mastication; Efficiency; Electromyography; Masticatory Muscles


ARTIGOS ORIGINAIS DE PESQUISA

Confiabilidade da eficiência mastigatória com beads e correlação com a atividade muscular* * Trabalho Realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Cláudia Maria de FelícioI,1 1 Endereço para correspondência: Av. Bandeirantes, 3900 - Ribeirão Preto - SP - CEP 14049-900 ( cfelicio@fmrp.usp.br) ; Gisele Aparecida do CoutoII; Cláudia Lúcia Pimenta FerreiraIII; Wilson Mestriner JuniorIV

IFonoaudióloga. Professora Doutora do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

IIFonoaudióloga

IIIFonoaudióloga. Doutoranda em Ciências Médicas pelo Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

IVCirurgião-Dentista. Professor Associado do Departamento de Clínica Infantil, Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

RESUMO

TEMA: a avaliação da eficiência mastigatória pela análise colorimétrica com beads, pode ser um método promissor, mas não há relatos sobre a sua confiabilidade.

OBJETIVO: investigar a confiabiabilidade das beads para teste de eficiência mastigatória e a correlação com a atividade eletromiográfica dos músculos masseter e temporal anterior.

MÉTODO: participaram dezenove sujeitos adultos jovens, nove do gênero masculino e dez do feminino com idades entre dezoito e vinte-oito anos, com dentição completa, sem histórico de desordem temporomandibular, trauma, cirurgia na região de cabeça e pescoço, tratamento ortodôntico ou fonoaudiológico. O teste de eficiência mastigatória foi realizado com beads nas condições: mastigação habitual, mastigação unilateral direita e esquerda, com duração de 20 segundos. Simultaneamente, foi realizada a eletromiografia. A atividade em máxima intercuspidação habitual dos dentes também foi registrada. A quantidade de fucsina liberada após a mastigação foi medida usando o espectrofotômetro Beckman DU-7 UV-Visible (Beckman Inc., Palo Alto, CA, USA).

RESULTADOS: houve alta confiabilidade do teste de eficiência mastigatória (r = 0,86, p < 0,01) e correlação significante com a atividade eletromiográfica (r = 0,76, p < 0,01). Também houve correlações positivas quando as provas foram analisadas separadamente.

CONCLUSÃO: o teste de eficiência mastigatória realizado com beads mostrou-se um método confiável e correlacionado positivamente à atividade eletromiográfica dos músculos temporal anterior e músculos masseter.

Palavras-Chave: Mastigação; Eficiência; Eletromiografia; Músculos Mastigatórios.

Introdução

A mastigação é de interesse para profissionais da saúde, por ser um estímulo para o crescimento, desenvolvimento e manutenção da saúde do sistema estomatognático; pelo fato de que muitos pacientes apresentam distúrbio mastigatório e, ainda, porque pode ser utilizada como estratégia terapêutica em distúrbios miofuncionais orofaciais.

Diversos métodos para análise da mastigação são utilizados em pesquisas, dentre eles, os testes de eficiência mastigatória (EM) e a eletromiografia (EMG). Conceitualmente, a EM corresponde à capacidade de degradação, ao grau de trituração do alimento. Tradicionalmente, no teste de EM são empregados alimentos naturais e o produto final resultante da trituração é analisado com o auxílio de tamises1. Os inconvenientes são variações próprias do alimento e perda de parte deste 2-3.

A EM também pode ser determinada por método colorimétrico4, empregando material de teste artificial, cuja padronização permite maior fidedignidade dos resultados5-6, dentre os quais estão as beads, desenvolvidas no Brasil7, contudo a confiabilidade e correlação com outro método ainda não foi testada.

A EMG tem sido amplamente utilizada em pesquisa e é reconhecida como um método válido para avaliação da função dos músculos da mastigação8-14 e tem sido correlacionada à eficiência mastigatória15-17.

O objetivo da presente pesquisa foi analisar a confiabilidade da EM, verificada por meio do método colorimétrico com beads, e a correlação com a atividade EMG dos músculos masseter e temporal anterior.

Método

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo número 709/2007), e os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Participaram 19 adultos jovens, 9 do gênero masculino e 10 do feminino com idades entre 18 e 28 anos (média 22,6 anos), selecionados a partir de exame clínico e anamnese.

Critérios de inclusão: apresentar no exame clínico dentição natural completa ou apenas ausência dos terceiros molares, ausência de cáries e oclusão classe I de Angle.

Critérios de exclusão: apresentar deformidade dentofacial, respiração oral, histórico de cirurgia ou trauma na região de cabeça e pescoço, tratamento ortodôntico, fonoaudiológico ou sintomatologia de desordem temporomandibular, de acordo com protocolo previamente testado18.

Teste de eficiência mastigatória

Foram utilizadas para o teste de EM as beads, obtidas por geleificação ionotrópica de dispersão aquosa de pectina a 2%, contendo 50% de sólidos e fucsina, em solução de cloreto de cálcio 1,0M. Após a preparação, as beads foram revestidas com solução de Eudragit 5% (Eudragit E100) em uma mistura de solventes de acetona 10% em etanol absoluto. Depois, 250mg de beads foram embaladas em cápsulas de polivinil acetato, medindo 0,67mm de espessura das paredes, diâmetro interno de 7,6mm e diâmetro externo de 8,95mm, e selados7.

Os sujeitos foram instruídos a mastigar as beads de modo habitual, livre. Após 20 segundos a prova era interrompida e as beads recolhidas em um recipiente, com número de identificação do sujeito e da prova. Posteriormente, foram realizadas as provas de mastigação à direita e à esquerda, seguindo os mesmos procedimentos. Simultaneamente foi realizada a análise EMG da musculatura.

Após a mastigação da cápsula, seu conteúdo foi dissolvido em 5ml de água, mexendo-se constantemente por 30 segundos. Em seguida, essa solução foi filtrada com papel filtro qualitativo, e o corante extraído quantificado em nanômetros (nm) por espectrofotômetro UV Visível (Backman DU-640). Com isso, foi possível determinar a EM, a partir da concentração extraída de fucsina. As análises foram realizadas no Laboratório de Farmacotécnica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Análise eletromiográfica

A atividade EMG foi registrada usando-se um instrumento computadorizado (EMG1000 - Lynx Tecnologia Eletrônica); de oito canais. A pele foi limpa com álcool 70º GL, para reduzir a impedância entre a pele e o eletrodo. Eletrodos duplos de superfície descartáveis (Ag/AgCl, 42mm, Hal Indústria e Comércio Ltda) foram posicionados nos músculos masseteres e temporais anteriores de ambos os lados, seguindo a orientação das fibras musculares. Um eletrodo de referência (terra) foi aplicado ao braço.

Os dados foram registrados com uma freqüência de amostragem de 1KHz. Utilizando o programa Aqdados (Lynx Tecnologia Eletrônica), o sinal EMG analógico foi amplificado e filtrado digitalmente para eliminar ruídos comuns interferentes. Os sinais EMG foram gravados e, posteriormente, com o auxílio do programa AqAnalysis, calculados como a atividade muscular avaliada como a root mean square (RMS), da amplitude (µV).

A avaliação da atividade EMG foi realizada durante as seguintes condições clínicas:

. máximo apertamento em intercuspidação habitual (MIH) - foi solicitado que o sujeito mordesse tão forte quanto possível durante 5 segundos;

. mastigação livre das beads;

. mastigação das beads à direita;

. mastigação das beads à esquerda (20 segundos cada).

Para cada condição clínica foram realizadas duas tentativas e calculada a média de atividade para cada músculo avaliado. Durante o registro EMG, o ambiente encontrava-se calmo, silencioso e com baixa luminosidade. O sujeito permaneceu sentado em uma cadeira, com postura ereta, com os pés apoiadas no solo e os braços apoiados nas pernas. A cabeça foi posicionada de forma ereta, tendo o plano de Frankfourt como parâmetro de posicionamento.

Análise dos dados

A amostra foi analisada de forma descritiva por meio de médias e desvios-padrão quanto à EM e a atividade EMG dos músculos masseteres e temporais anteriores. A confiabilidade do método foi analisada pelo teste Split-half reliability, considerando como primeira lista de variáveis as provas de EM mastigatória (beads livre, beads à direita e à esquerda) e como segunda, as provas de EMG (mastigação das beads e MIH).

As correlações entre a atividade EMG e a EM nas provas correspondentes, bem como a EMG em MIH e as provas de EM foram calculadas pelo teste de correlação produto-momento de Pearson. Foi empregado o programa Statistica e o nível de significância adotado foi p < 0,05.

Resultados

A confiabilidade da EM em relação à EMG, considerando todas as provas em conjunto, foi igual a 0,86 e a correlação total de 0,76. São apresentados na Tabela 1 os resultados da EM de cada sujeito, com base na análise colorimétrica, as médias e desvios-padrão da amostra. Na Tabela 2 estão as médias e os desvios-padrão da atividade EMG dos músculos estudados.

Houve correlações positivas e significantes entre a EM e a atividade EMG durante a mastigação de beads livre, beads à direita, beads à esquerda e em MIH. Os valores de r de Pearson e níveis de significância estão na Tabela 3.

Discussão

O desempenho mastigatório é determinado por diversos fatores, como a oclusão, a força de mordida, a atividade muscular e a coordenação entre os músculos mastigatórios10,19. O tipo de alimento e sua interação com a saliva, dentes e o sistema biomecânico também pode influenciar a mastigação8,20.

Uma grande variedade de alimentos tem sido empregada para a análise da EM, dentre eles, alimentos naturais1,3,8,17 e materiais artificiais à base de silicone20-21. Após a trituração, o sujeito é orientado a não engoli-lo, e o material é recolhido, passado por tamises graduadas e pesado. Quanto maior a quantidade de alimento que passa através da tamise mais fina, maior a EM1,6.

Recentemente, foram desenvolvidos no Brasil materiais para o teste de EM que não envolvem perda de partes do alimento por deglutição ou variações típicas de alimentos naturais, são eles: as cápsulas de PVC contendo grânulos de violeta de fucsina6 e as beads7. O grau de fragmentação das mesmas é avaliado pela liberação de fucsina por meio de análise colorimétrica. Para ambos os materiais foram realizados testes laboratoriais de resistência, absorvância e reprodutibilidade6-7.

Não foram encontrados estudos que verificassem a correlação da EM usando as beads e outro método já aceito como válido para a análise do desempenho da função mastigatória.

A EMG foi escolhida no presente estudo para as análises de correlação entre o teste de EM com beads e a confiabilidade entre os métodos, por ser um exame amplamente utilizado e aceito para a investigação da função dos músculos mastigatórios8-9, que permite a caracterização dos problemas funcionais, direcionando os trabalhos de prevenção e reabilitação no âmbito fonoaudiológico22 e odontológico10-11,13, bem como propiciando a análise dos resultados de tratamentos12,14.

De acordo com os resultados houve correlações positivas entre EM e a atividade EMG registrada durante a mastigação e em MIH. A análise das provas em conjunto evidenciou alta confiabilidade e correlação entre os dois métodos. Portanto, há uma relação direta entre a atividade produzida pelos músculos e a fragmentação das beads.

Esta constatação sustenta a confiabilidade do método para a análise da EM, que poderá ser utilizado como um método complementar ou alternativo para analisar o desempenho na trituração, o qual reflete a capacidade dos músculos de produzir energia durante a função mastigatória.

Os resultados do presente estudo estão de acordo com achados anteriores de que a EM e a atividade EMG foram correlacionadas, quando empregado outros alimentos artificiais15-16 e naturais17 .

As beads, que têm baixo custo, poderão num futuro próximo, ser produzidas em larga escala pela indústria farmacêutica, permitindo a utilização clínica7. É recomendável que a confiabilidade do método seja testada em outras amostras e também em relação a outros métodos.

Conclusão

Com base nos resultados foi possível concluir que o método colorimétrico com beads é confiável para verificar a eficiência mastigatória e apresenta alta correlação com a atividade muscular registrada por eletromiografia.

Recebido em 23.05.2008.

Revisado em 02.08.2008; 23.08.2008; 03.10.2008.

Aceito para Publicação em 21.10.2008.

Artigo Original de Pesquisa

Artigo Submetido a Avaliação por Pares

Conflito de Interesse: não

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  • *
    Trabalho Realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
  • 1
    Endereço para correspondência: Av. Bandeirantes, 3900 - Ribeirão Preto - SP - CEP 14049-900 (
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Dez 2008
    • Data do Fascículo
      Dez 2008

    Histórico

    • Aceito
      21 Out 2008
    • Revisado
      02 Ago 2008
    • Recebido
      23 Maio 2008
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